31 de julho de 2004

"Harry Potter and the Prisioner of Azkaban" por Nuno Reis




A par de "Fahrenheit 9/11" a estreia mais mediática da semana é o terceiro episódio da saga Harry Potter. Várias semanas depois da estreia no resto do mundo chegou finalmente a Portugal a obra mais recente de Alfonso Cuarón ("Y tu Mamá También"). Terá sido o mexicano capaz de manter a imagem dada por Chris Columbus nos dois primeiros filmes? Não.
Como quase toda a gente sabe, a cada livro corresponderá um filme. Este terceiro livro que retrata o terceiro ano de Harry Potter em Hogwrts é o elo de ligação entre os títulos mais ligeiros e os mais pesados. Enquanto nos primeiros dois Harry era corajoso e invencível e a história era apropriada a crianças, nos quarto e quinto livros a história fica bastante mais negra e muita gente morre, perdendo por isso a sua beleza mas ganhando muito em emoção. O terceiro livro faz a ligação levando para Hogwarts um assassino e várias criaturas sugadoras de vida e de felicidade, o que vai em parte contra os iniciais em que eles "apenas" encontravam criaturas mortíferas. A haver mudança de realizador foi feita na altura certa, quando a saga deixa de ser infantil, só é pena que Cuarón não se mantenha por mais anos à frente da saga.
Cuarón fez um grande filme que tenta ser fiel ao livro mas que peca por defeito, retirando a importância da fotografia e dos belos cenários. Analisando o filme, está bem ligado aos anteriores e várias passagens inúteis do livro foram retiradas, a actuação é bem disfrutada e o argumento é suficientemente divertido para os expectadores mais novos. Penso que o filme ficaria excelente se tivesse mais quinze minutos para explicar quem são Moony, Wormtail, Padfoot e Prongs (os autores do mapa), facto que conhecia por ter lido o livro mas que nem desconfiaria apenas com o filme. Outros lapsos deste género acontecem um pouco por todo o filme mas são detalhes insignificantes, considero este o único com interesse.
É um dos grande filmes do ano onde os efeitos especiais abundam, reduziram os voos de vassoura mas os de hipogrifo são uma grande melhoria, especialmente o inicial sobre as águas. Já não se passa tanto tempo a ver as maravilhas do castelo, mas em termos de fotografia também as paisagens descobertas estão belas.
O filme é ideal para os fãs do livro e não desilude ninguém que conheça a história. Para aqueles infelizes pais que nunca se deram ao trabalho de ler os livros e vão apenas acompanhar os filhos, disfrutem do filme e depois peçam explicações aos pequenos, de certeza que eles não se importam de passar algumas horas a explicar a história toda.

29 de julho de 2004

28 de julho de 2004

"Fahrenheit 9/11" por Ricardo Clara


Estreia esta semana o filme choque deste ano, o polémico "Fahrenheit 9/11" de Michael Moore. Palma de Ouro em Cannes, o filme vinha já à nascença rotulado com grandes expectativas: toda a novela da distribuição do filme, ao próprio carisma do documentarista já eram um aperitivo suficiente para este ser um dos filmes mais esperados do ano. O enredo, sobejamente conhecido de todos: um filme de propaganda anti-Bush, que procura que George W. Bush, presidente norte-americano, não seja reeleito nas eleições presidenciais de 2 de Novembro próximo. Ataca violenta e ironicamente o presidente norte-americano e a sua administração, fazendo referências explícitas a ligações económicas entre a família Bush e a família Bin Laden, ao modo de recrutamento de inúmeros militares que se encontram no Iraque, bem como parodia umas prolongadas férias que Bush gozou no período pré 11 de Setembro.
Enquanto peça de cinema, o documentário é claramente de qualidade. Michael Moore, já em "Bowling for Columbine" já tinha dado provas de ser um realizador com boas ideias no campo da montagem e da produção. Mas enquanto conteúdo, as conclusões ficam para quem vir o filme. Há, obviamente, uma clara manipulação dos factos, mas Moore também não esconde o grande motivo deste filme: impedir a reeleição de Bush. E o que me choca mais neste sentido, é a utilização, no meu entender abusiva, do Cinema enquanto Arte como meio de atacar uma pessoa, um ideal ou uma política. E afirmo isto completamente pondo de parte a minha análise pessoal (que não interessa aqui referir) do presidente norte-americano ou das suas políticas exageradamente bélicas. Porque também acabou por oferecer um novo conceito ao Cinema: a própria Palma de Ouro de Cannes também ficou politizada (talvez influenciada pelo presidente do júri, Quentin tarantino), o que revela a influência que neste momento a política imprime ao cinema, este enquanto veículo de propagação de mensagens, quase ao estilo de Leni Riefenstahl (com as devidas proporções) e os seus documentários-propaganda realizados na campanha Hitleriana que marcou o séc. XX.
Já o tom do próprio Moore mantém-se inalterável. O estilo provocador e interventivo do cineasta, perseguindo senadores norte-americanos para lhes propôr que eles enviem os seus filhos para o Iraque, é um modus operandi que Moore utiliza, com vista a divertir e chocar a população, como já havia feito em "Bowling for Columbine", com a entrevista pessoal a Charlton Heston, enquanto presidente da National Rifle Association. Será, de qualquer modo, um produto para seguir com bastante atenção.


15 de julho de 2004

"Pieces of April" por Nuno Reis


Curioso pelo elevado número de nomeações que Patricia Clarkson arrebatou por este papel, mal tive uma oportunidade fui vê-lo. Esta primeira realização de Peter Hedges, argumentista que adaptou "What's Eating Gilbert Grape?" e "About a Boy", é feita com base numa história original do próprio. O conto narra as peripécias de uma família com diversos problemas, ao longo do Dia de Acção de Graças, o mais importante feriado americano.
Enquanto April (Katie Holmes), a filha menos apreciada, tenta fazer tudo para ter uma primeira e única refeição perfeita com a família, o seu pai (Oliver Platt) tem de levar até ela a mãe (Patricia Clarkson), os irmãos mais novos (Alison Pill e John Gallagher Jr.) e a avó (Alice Drummond) mas a ouvir a esposa todo o tempo contra a decisão e a filha mais nova a ser realmente insuportável.

Com uns movimentos de câmara invulgares que nos primeiros instantes me fizeram arrepender de ter ido ver um filme independente, o filme em 3 minutos resume a situação: um pai preocupado, uma filha nervosa, um filho dedicado e uma mãe com algum problema. Quando conhecemos April vemos o contrário daquilo que ouviremos a família dizer, ela é uma rapariga simpática e esforçada e com a ajuda do seu namorado (Derek Luke) vai dar o melhor almoço possível à família.
As interpretações são boas e as personagens simples sendo Patricia Clarkson uma excepção clara que merece claramente tudo o que foi dito. Não é que se tenha transcendido mas a personagem é realmente difícil, sofre de um cancro terminal e de muito mais além dos vómitos constantes que presenciamos.

O filme é aliviado com alguns momentos de humor e a avó, dos melhores papéis que Drummond já teve, dá duras lições à filha que se recusa a reconhecer. Platt sofre muito por ver a família incompreensiva em relação à primogénita e diz coisas que no fundo nem ele acredita serem possíveis. Enquanto isso April sofre muito. Ele tem de lutar sozinha contra tudo e todos e vencer várias adversidades incríveis para salvar uma família e, com a ajuda das pessoas mais improváveis, vai provar a todos que é uma filha merecedora do afecto dos seus pais e passar, após vários anos, finalmente um bom momento com a mãe que ambas possam recordar até ao fim das suas vidas. Como as recordações são um ponto fulcral do argumento as filmagens são complementadas com fotografias, um detalhe muito bom que torna o final do filme algo quase genial.

Vagas no Quarteto fechadas



Apesar de os rumores indicarem Elisha Cuthbert ou Rachael McAdams para ser a Invisible Girl no futuro filme "Fantastic Four", a escolha final foi Jessica Alba.
Esta actriz começou a sua carreira em "Camp Nowhere" (dá ocasionalmente no Canal Disney) em que o maior nome do elenco é Peter Scolari (Wayne Szalinski da série "Honey, I Shrunk the Kids"). Foi revelada em "Flipper" onde tem um dos papeis mais importantes no início da série (Maya, para quem se lembrar, saiu ao fim de dois anos) e apesar de ter estado um pouco inactiva após essa série, em 1999 faz três filmes, incluindo "Never Been Kissed", e em 2000 ganha o papel principal na série "Dark Angel", actualmente exibida em Portugal. Voltando ao cinema teve o protagonismo num dos piores filmes dos últimos tempos, "Honey", mas está a filmar o muito aguardado "Sin City".
Com Ioan Gruffudd, Michael Chiklis e Chris Evans será o Quarteto Fantástico, o filme está previsto ser filmado entre Agosto e Fevereiro (Fox, Marvel e Universal produzem), conflitos com a rodagem de "Sin City" (Dimension Films) poderão alterar as datas.

12 de julho de 2004

Sharon Stone voltará a ser fatal



Depois de vários meses em conflito legal com os produtores, Sharon Stone voltará a ser Catherine Tramell. para quem não reconheça o nome, é a personagem que faz o mítico descruzar de pernas em "Basic Instinct" e a sequela, apesar de ainda não ter datas definidas, deverá começar a ser rodada ainda este ano. Não está indicado mais nenhum nome do filme original mas deverão começar a ser anunciados agora que a situação mais grave (o salário de Stone) está resolvida.

9 de julho de 2004

Os polícias voltam à estrada



Depois de dez anos achavamos que era o fim dos filmes "Police Academy" mas não é isso que pensam os produtores que estão à procura de um novo argumento para recuperar as personagens.
"Police Academy" estreou em 1984, "Police Academy 2: Their First Assignment", "Police Academy 3: Back in Training", "Police Academy 4: Citizens on Patrol", "Police Academy 5: Assignment: Miami Beach" e "Police Academy 6: City Under Siege" foram saindo um por ano. "Police Academy 7: Mission to Moscow" em 1994 foi o seu último apesar de em 1993 ter estreado uma série em desenhos animados e em 1997 outra em imagem real.

Entre o elenco dos filmes poucos nomes mudaram e entre os participantes ocasionais estão Kim Katrall no primeiro filme como Karen Thompson, Sharon Stone no terceiro fez de Claire Mattson, no sétimo Christopher Lee foi o Comandante Rakov, Ron Perlman foi o inimigo Konstantine Konali (que reapareceu em "Looney Tunes: Back in Action") e Claire Forlani foi revelada ao mundo.

Os filmes no seu conjunto fizeram 300 milhões, este regresso poderá levar a que os outros sete títulos sejam mais uma vez comprados pelas televisões, alugados nos video-clubes ou mesmo comprados. Pode não ser um grande filme, mas vai ser sem dúvida um grande negócio.

Um trio para o Quarteto



O elenco para a próximo adaptação Marvel, "Fantastic Four", está quase completo. O primeiro nome a ser anunciado foi Michael Chiklis (vencedor de um Golden Globe e de um Emmy pelo papel principal na série "The Shield") para fazer de Thing. A ele juntam-se agora Chris Evans ("Not Another Teen Movie", "The Perfect Score") para ser Human Torch, e Ioan Gruffudd (secundário em "Titanic" e "Black Hawk Down", estrela em "102 Dalmatians" e Lancelot no novíssimo "King Arthur") para Mr. Fantastic. Para o papel de Invisible Girl a escolha provavelmente será entre Elisha Cuthbert ("24" "Love Actually") e Rachael McAdams ("The Hot Chick", "Mean Girls").
A história conta as aventuras do Quarteto Fantástico, quatro astronautas que voltam à Terra depois de banhados com radiação cósmica que lhe confere super-poderes. Esses poderes, como em todos os outros filmes do género, serão usados para defender os humanos das diversas ameaças incríveis que ninguém sabia existirem antes de haver super-heróis. É o filme mais aguardado dos baseados em comics, excepto, é claro, "Spider-Man" e "X-Men".

4 de julho de 2004

O tempo da vergonha


Não tenho tido tempo disponível para falar de cinema, devido a imperativos de trabalho, mas não posso, como faço por vezes aqui, de deixar de exprimir o meu espanto e revolta quando vejo que a nossa televisão bateu definitivamente no fundo: como é que é possível, em televisão, e ainda por cima naquela paga pelos contribuintes (sim, a RTP), termos um brasileiro a cantar o hino português ao som de uma guitarra tocada pelo filho, ou então assistir a um um "jornalista" que compara, em plena baixa lisboeta, um grupo de 3 mil gregos a fazer compras e a afogarem-se em cerveja, com a festividade vivida no 25 de Abril de 1974. Acho que basta, que chega de idiotice e de idiotas pagos pelos contribuintes. Se a intenção era encerrar o canal do Estado, que o fizessem, porque com exemplos destes é que o País não chega a lado nenhum.


3 de julho de 2004

Morte de Marlon Brando



No passado dia 1 deixou-nos aquele que é considerado por muitos o melhor actor da sua geração e de sempre. Depois de ter atravessado uma fase em que não pretendia viver e que planeava o seu funeral, no seu atol, aceitou aparecer num filme sobre ele próprio e parecia estar mais animado para os anos vindouros, mas uma fibrose pulmonar levou-o três meses depois de completar os 80 anos.
Se alguém não o conhece(!) digo apenas que era tal a sua fama que por ter interpretado Jor-El, o pai do Super-Homem, durante 10 minutos no primeiro "Super-Man", teve um salário dezasseis vezes superior ao de Christopher Reeve pelo filme todo.

Revelado ao mundo como Stanley Kowalski na peça teatral "A Streetcar Named Desire" numa interpretação inesquecível que Elia Kazan passou para filme. Kazan também o dirigiu em "Viva Zapata!" e em "On the Waterfront", outros dois títulos incontornáveis na sua grande carreira. Entre os quarenta filmes que fez, estão personagens únicas do cinema mundial como os já referidos Stan e Zapata, Marco António no "Julius Caesar" de Joseph Mankiewicz ("Cleopatra"). Depois de alguns papeis "menores" (apenas por comparação com a sua brilhante obra, pois incluo neste lote "Sayonara"), volta em grande nos anos setenta. Em 1972 surge um novo Marlon Brando como Paul em "Ultimo Tango a Parigi", no mesmo ano faz aquele que é de longe o seu papel mais conhecido, Don Vito Corleone, "The Godfather". Coppola só o dirigiu em mais um filme e esse também dispensa apresentações, é "Apocalypse Now" onde faz de Coronel Kurtz.

Muitos mais grande filmes aparecem no seu currículo. Referirei alguns mais recentes onde este (grande entre os grandes) actor foi visto. Tentou curar Johnny Depp em "Don Juan DeMarco" (1995), transformou animais em humanos em "The Island of Dr. Moreau" (1996), contratou De Niro em "The Score" (2001) e ia agora interpretar Marlon Brando em "Brando and Brando", um filme que a tunisina Ridha Behi pretendia fazer para homenagear a carreira, se não for cancelado será agora para homenagear o homem.

Passemos aos números, venceu 4 em 7 nomeações para os BAFTA, venceu 2 em 8 nomeações para os Oscars (quando da cerimónia de entrega do segundo, recusou recebê-lo por o governo discriminar os índios e só o aceitou por lhe ter sido roubado o primeiro), 5 das 9 nomeações para Golden Globes, um Emmy pela única série que fez, e venceu Cannes no segundo ano do festival.

2 de julho de 2004

"Plots With a View" por Nuno Reis


Ano e meio depois da ante-estreia nacional no Fantasporto, chega agora ao circuito comercial "Plots With a View", uma comédia negra com Alfred Molina, Christopher Walken e Naomi Watts entre outros.
A acção do filme desenrola-se na pacata aldeia de Wrottin-Powys, no País de Gales, onde Boris Plots (Molina), o dono da agência funerária, vê surgir concorrência americana. Enquanto que na Plotz Funeral Homes os enterros seguem os rituais religiosos como manda a tradição, na agência de Frank Featherbed (Walken) os enterros são bastante mais divertidos proporcionando espanto aos espectadores do funeral e riso aos espectadores do filme.
Para complicar ainda mais a situação, Boris desde sempre amou Betty (Brenda Blethyn) que por imposição dos pais acabou casada com Hugh Rhys-Jones (Robert Pugh), o actual presidente da câmara. Quando morre a mãe do presidente é Betty quem tem de preparar o funeral pois o seu marido só pensa na secretária (Watts) e portanto dirige-se à Plots. A proximidade causada pela infeliz situação faz com que a chama reacenda e eles acabam por planear fugir, tendo para isso de enganar a (ainda) conservadora aldeia. O modo de Frank ensinar Delbert (Lee Evans está muito bem), os pensamentos de Boris, e os planos loucos destes dois profissionais, superam de longe as expectativas.
Brenda Blethyn está em grande e volta a mostrar o seu lado romântico num filme e num papel que parecem demasiado pequenos depois de "Secret & Lies" de Mike Leigh, "Little Voice" de Mark Herman e "Saving Grace" de Nigel Cole a terem feito vencer o troféu de interpretação em Cannes, ter duas nomeações nos BAFTA, outras tantas para os Oscars, e três nomeações para os Golden Globes entre muitos outros (além de Cannes venceu um Globe e um BAFTA).
Christopher Walken tem um papel que fico tentado a considerar o mais divertido da sua carreira recente e como sempre não desilude. Molina com o seu ar triste imediatamente trocado por um de apaixonado, e a mudança entre dedicação ao trabalho e dedicação ao seu único amor, fazem com que goste do seu papel mais pela personagem que pela interpretação.
Os restantes actores são bastante secundários e não merecem destaque exceptuando Naomi Watts que fez aqui o único papel entre o filme que a revelou, "Mulholland Drive", e o que a lançou para a fama, "The Ring".
Não é a estreia da semana por competir com "Shrek 2" e "My Life Without Me", dois dos melhores filmes actualmente em exibição.

Título Original: "Plots Woth a View" (Reino Unido, 2004)
Realizador: Nick Hurran
Intérpretes: Alfred Molina, Brenda Blethyn, Christopher Walken, Naomi Watts
Argumento: Frederick Ponzlov
Fotografia: James Welland
Música: Rupert Gregson-Williams
Género: Romance/Comédia Negra
Duração: 94 min
Sítio Oficial: http://www.plotswithaview.com