9 de junho de 2005

"Sin City" por Nuno Reis

O nome indicado na tabuleta limítrofe era Basin City mas diversas balas nas primeiras letras tornam mais fácil ler apenas Sin City, assim será esse o nome usado para referir a cidade em que apenas os mais duros sobrevivem e onde a corrupção é a moeda. Na parte velha as regras são diferentes, as prostitutas governam-se sem ajuda e a única coisa que os homens podem lá ir fazer é comprar prazer, mas essa trégua está restes a ser quebrada.
Três histórias cruzam-se em tons de cinzento, um polícia tenta salvar uma criança de um assassino perverso, um monstro tenta vingar uma morte e um assassino tenta evitar uma guerra no meio da cidade. Numa homenagem aos velhos filmes de detectives a narração é feita pelo protagonista e apenas o sangue vermelho, um cabelo dourado, uns olhos azuis e um diabo amarelo destacam no cinzento. Ocasionalmente alguns faróis brilham nessa escuridão. Não há diferença entre a noite e o dia.
Um filme fiel à banda desenhada como forma de expressão que utiliza a animação em alguns momentos breves. Algo de diferente numa arte que cada vez é mais igual a si própria e onde ser diferente costuma ser um risco. Esse risco foi assumido por pessoas poderosas, Frank Miller é um dos mestres da BD, Rodriguez (apesar da asneira que foi prosseguir com a saga “Spy-Kids”) é um realizador aclamado e Tarantino, depois de tudo que deu ao cinema, pode fazer os filmes como lhe apetecer que ninguém tem coragem de dizer mal. Obra conjunta de três realizadores e com um dos melhores elencos que o dinheiro pode comprar não se poderia esperar nada abaixo da obra-prima. Depois de ver todo o filme e encaixar os pedaços é isso que sobra.
O filme pretende atrair um público masculino, os heróis são duros e impiedosos, as mulheres andam muito despidas, tem mortes e explosões quanto bastem. Para Mickey Rourke foi o melhor papel da vida e para Nick Stahl foi mais um passo para a fama, para Clive Owen foi mais uma confirmação de talento e para Bruce Willis foi mais um convite para estar entre os grandes actores da década. Benicio del Toro está genial, tanto vivo como morto. Outras estrelas têm um papel mais reduzido (Elijah Wood, Michael Madsen e Josh Hartnett por exemplo) num filme de duas horas não poderiam dar tempo a todos. O elenco feminino é bastante prejudicado, Rosário Dawson tem um bom papel e o mesmo digo de quase todas as suas colegas mas se Jaime King desapareceu demasiado cedo, Carla Gugino quase só aparece nua e Brittany Murphy, mesmo não aparecendo nua, merecia mais tempo de ecrã. Alexis Bledel volta a mostrar os seus belos olhos e Devon Aoki volta a ter como personagem uma asiática implacável mas bem melhor que em “2 Fast 2 Furious”.
O humor negro implícito torna-se explícito nos momentos que o drama ameaça tornar-se cansativo, um homem atravessado por uma seta totalmente calmo a perguntar o que deve fazer é um dos exemplos. Também tive um bom momento de diversão quando apareceu Elijah Wood que pela forma como estava vestido me fez lembrar Harry Potter. No género de humor nota-se semelhanças com “Hellboy” e a série animada “Hellsing” outras das obras Dark Horse que saíram do papel. Destaco ainda os momentos de glória das personagens sobreviventes e as sublimes saídas de cena dos menos felizardos, o filme consegue transmitir violência de forma convincente e gratuita mas com arte.








Título Original: "Sin City" (EUA 2005)
Realizador: Frank Miller, Robert Rodriguez, Quentin Tarantino
Intérpretes: Bruce Willis, Mickey Rourke, Jessica Alba, Clive Owen, Nick Stahl, Rosario Dawson, Benicio Del Toro, Jaime King, Devon Aoki, Alexis Bledel e muitos outros
Argumento: Frank Miller
Fotografia: Robert Rodriguez
Música: John Debney, Graeme Revell, Robert Rodriguez
Género: Acção/Crime/Drama/Thriller
Duração: 124 min.
Sítio Oficial: http://www.sincitythemovie.com

1 comentários:

Anónimo disse...

Fraquinho, muito fraquinho. A adaptação da BD à grande tela é perfeita (é, aliás, a única coisa positiva nesta grande confusão), o sacrifício do "filme" em prole dos "quadradinhos" lamentável (tudo não passa de uma revista do Frank Miller com os desenhos ligeiramente animados... não admira que tenha agradado tanto aos puristas da BD). A voz off insistente aborrece, a duração excessiva agonia. Uma pena... algo me diz que ficarei muito, muito mais satisfeito com o "Batman Begins".