29 de setembro de 2005

”Absolon” por Nuno Reis


Num presente alternativo, o mundo começaria a ser infectado com um vírus mortífero, resultado da destruição irracional das florestas tropicais. Em 2008 iria ser descoberta uma vacina que ainda conseguiria salvar a humanidade, depois de cinco mil milhões de mortes. O pai dessa vacina é o Doutor Reyna, um brilhante cientista que oito anos depois dessa brilhante descoberta é morto sem razão aparente. Cabe ao detective Scot resolver esse complicado caso, mas quando é acusado de ter morto agentes do Departamento de Justiça Mundial fica com problemas bem mais graves, e ajudado por uma cientista terá de fugir para viver e para salvar a derradeira cura que Reyna tinha escondido.
A combinação de diversas ideias vulgares e personagens estereotipadas num filme com Christopher Lambert não parece um motivo válido para ir ao cinema. Especialmente um filme que não fala tanto como devia da questão ambiental, um filme de acção que a cada dez minutos tem uma piada desnecessária e com tantos buracos no argumento que poderiam ser tapados com uma média metragem. Ainda não referi que algumas das situações vividas pelas personagens são totalmente irreais e que os termos científicos utilizados dão vontade de rir.
É um mau trabalho de David Barto mas comparativamente a bastantes outros filmes é fácil de ver. Barto, que trabalhou (mas não realizou) em filmes como “Blade 2” e “Dagon”, utiliza este filme como promoção de trabalhos anteriores (numa cena atrás de Lambert vê-se um cartaz de “Torrente 2”) em vez de se dedicar a fazer um filme apelativo. Lambert volta a esforçar-se num mau filme onde é secundado por Kelly Brook, uma novata com pouca experiência mas que ainda se safa, e Lou Diamond Philips, um vilão que a cada minuto se torna menos convincente. Pior que eles está Ron Perlman que sentado numa cadeira domina o mundo por vídeo-conferência curiosamente no mesmo ano em que fez “Looney Tunes: Back in Action”.
No geral é um filme que falha como ficção científica e é menos mau como filme de acção. O atraso na estreia (é um filme de 2003) faz com que esteja deslocado temporalmente pois o vírus foi libertado nesse ano. E convém referir que mesmo em 2003 foi directo para vídeo, só em Portugal se pensa que é melhor um mau filme americano do que um bom filme de qualquer outro país.





Título Original: "Absolon" (Canadá, Reino Unido, 2003)
Realizador: David Barto
Intérpretes: Christopher Lambert, Kelly Brook, Lou Diamond Philips, Ron Perlman
Argumento: Brad Mirman
Fotografia: Unax Mendia
Música: Gary Koftinoff
Género: Acção, Ficção Científica
Duração: 96 min
Sítio Oficial: http://www.hannibalpictures.com/page/absolon.html

26 de setembro de 2005

Francis Ford Coppola está de volta



A notícia do momento no meio cinematográfico é o regresso de Francis Ford Coppola à cadeira de realização. Cinco anos depois do último filme (oito se considerarmos apenas aqueles em que surge nos créditos), um dos últimos históricos do cinema ainda em stand by decidiu voltar ao trabalho. O filme que conseguiu esse feito foi “Youth Without Youth”, baseado no livro homónimo de Mircea Eliade. Esse livro retrata as aventuras de um professor que é perseguido nos anos que precederam a Segunda Guerra Mundial. Bruno Ganz, Alexandra Maria Lara e Marcel Iures são os protagonistas. Coppola afirmou que este filme reflecte os ideais e valores que seguiu enquanto estudante.
Coppola ao longo dos últimos anos tem sido produtor de diversos trabalhos em que se incluem os filmes da filha e várias séries televisivas. Para o futuro ainda produzirá em 2007 um filme de Walter Salles e já no próximo ano “The Good Sheperd” de Robert de Niro onde o actor contracenará com Matt Damon, Angelina Jolie, Joe Pesci, John Turturro, Billy Crudup, Michael Gambon e várias outras estrelas.

23 de setembro de 2005

”I Heart Huckabee’s” por Nuno Reis


Um mês depois da estreia “I Heart Huckabees” apenas está em exibição numa sala. Quase todos os anos um filme com um elenco formidável é pouco divulgado. Por questões relacionadas com a pouca vontade de o exibir ou por saberem que não é para o público geral, esses filmes são distribuídos, projectados e arquivados sem que a campanha de promoção seja tão imponente que um mês antes da estreia já sabemos tudo sobre o filme e não gostamos dele. É exactamente o que se passa com “I Heart Huckabees”, um filme muito bom mas demasiado invulgar e filosófico para o público.
Albert (Jason Schwartzman) é um homem com dúvidas existenciais que contrata uns detectives para tentarem descobrir porque se cruzou três vezes com o mesmo homem. Esses estranhos detectives (Dustin Hoffman e Lily Tomlin) levam-no numa viagem filosófica pelo mundo e pela mente em que Albert quase enlouquece. Por isso Al em simultâneo opta pela curso de Caterine (Isabelle Huppert), uma rival deles, onde se irá descobrir e conhecer o mundo que o rodeia. O seu companheiro de curso com Caterine é Tommy (Mark Whalberg), um bombeiro também muito problemático e com um comportamento violento. O problema de Albert é Brad (Jude Law), que tem entre mãos um problema bem grave, todas essas introspecções fazem com que Dawn (Naomi Watts), a modelo que representa a Huckabee’s, decida mudar a sua vida o que pode destruir a imagem da empresa e causar o despedimento de Brad. Enquanto isso a Huchabee’s precisa de Brad para fazer avançar um projecto de um novo centro comercial que por causa do seu impacto está a ser boicotado por Albert.
Tendo por base este conflito de interesses e os diversos problemas de cada personagem, várias situações são propícias para reflectir. Perseguidos por três detectives que seguem duas filosofias diferentes e contraditórias, Albert e Brad irão redefinir-se e adaptar-se ao mundo em que vivem e em que nunca realmente pensaram, um mundo a que todos os outros parecem estar ajustados mas que na realidade se ajusta a todos, como um lençol.
Eu raramente disse que um filme era genial e que devia ser visto por toda a gente, mas digo com convicção que este, mesmo não sendo genial, deve ser visto por quem se ache capaz de o compreender.



Título Original: "I Heart Huckabee’s" (Alemanha e EUA, 2004)
Realizador: David O. Russell
Intérpretes: Jason Schwartzman, Jude lAw, Naomi Watts, Dustin Hoffman, Isabelle Huppert, Mark Wahlberg, Lily Tomlin
Argumento: David O. Russell e Jeff Baena
Fotografia: Peter Deming
Música: Jon Brion
Género: Comédia Existencial
Duração: 106 min
Sítio Oficial: http://www.foxsearchlight.com/huckabees/

8 de setembro de 2005

”The Final Cut” por Nuno Reis


Num futuro não muito distante será possível associar o sistema óptico de um indivíduo a um circuito interno que grave tudo que os olhos viram. Esse filme seria um perfeito relato da vida do seu proprietário, pode não gravar pensamentos mas de resto é mais fiável que um diário. Depois de ter visto Freeze Frame esperava que fosse o derradeiro álibi, um ficheiro secreto que serviria de álibi a cada indivíduo de forma inabalável, mas afinal, a utilização dada a esse filme é algo mais inacreditável do que seria esperado

Alan Hakman (Robin Williams) é um editor, aliás, é o melhor dos editores. O seu trabalho e manipular as milhares de horas de gravação de cada recém-falecido de forma a criar o filme da vida de uma pessoa, uma pequena peça que será exibida em simultâneo com o funeral. Esses filmes são desejados por um ex-editor, interpretado por Jim Caviezel, para provar a culpabilidade de alguns dos homens influentes que em vida estavam acima de qualquer acusação. Cabe a Alan esquivar-se dessas tentativas e tentar fazer o seu trabalho o melhor possível, enquanto a mulher que ama lhe causa enormes problemas e um pequeno detalhe do passado lhe destrói o presente e coloca o futuro em risco.

Partindo de uma boa ideia-base, com uma temática suficientemente delicada para ser apelativa sem ser polémica, e com uma das maiores estrelas da actualidade tinha tudo para suceder. Infelizmente pouco mais no filme merece tantos elogios e portanto este trabalho, como muito anteriores, é um one man show de Robin Williams. O actor desta vez não está ao seu melhor mas é suficientemente brilhante para ofuscar os restantes actores e esconder os detalhes menos bons do filme.


Título Original: "The Final Cut" (Alemanha, Canadá, 2004)
Realizador: Omar Naim
Intérpretes: Robin Williams, Jim Caviezel, Mira Sorvino e Mimi Kuzik
Argumento: Omar Naim
Fotografia: Tak Fujimoto
Música: Brian Tyler
Género: Ficção Científica, Thriller
Duração: 95 min
Sítio Oficial: http://www.finalcutfilm.com/