31 de dezembro de 2005

"The Descent" por Ricardo Clara

Um grupo de jovens mulheres decide passar um fim de semana de aventura nas montanhas escocesas, de modo a ajudar Sarah (Shauna Macdonald) a esquecer a terrível experiência de ter perdido o marido e a filha. Organizada por Juno (Natalie Mendoza), a expedição segue para umas cavernas diferentes das que o grupo pensava ir - nunca ninguém teria lá estado. Mas umas estranhas criaturas que lá habitam prometem tornar a viagem inesquecível...
Já em 2003 o público português conheceu o realizador Neil Marshall, autor de "Dog Soldiers", e que fez parte da selecção oficial do Fantasporto 2003. Nessa altura, já o auditório portuense se havia capacitado que estava ali um nome interessante para seguir com atenção, no que ao cinema de terror concerne. E "The Descent" / "A Descida" não desilude. De facto, e tendo em conta que "Land of the Dead" não foi nenhuma surpresa (os aficionados do género há muito que se consciencializaram de que George Romero é um génio do terror), este filme foi uma surpresa muito agradável. Com um ritmo, argumento e claustrofobia que não experienciava há imenso tempo, afastamo-nos finalmente (nem por uma vez que seja) do filme de terror adolescente, com uma casa ou mansão assombrada, e com um qualquer grupo de putos mimados aos berros durante 90 minutos. Marshall monta aqui um belo momento de terror, num argumento original da sua autoria, com muito sangue, criaturas horrendas, tripas e cérebros de fora, e que prende o espectador na cerca de hora e meia que acompanhamos os acontecimentos. Vencedor do prémio de melhor realizador e melhor edição nos British Independent Film Awards, "The Descent" / "A Descida" segue regras muito específicas: um começo lento, que relaxa o cinéfilo, subindo paulatinamente de tom, atingindo momentos em que a tensão e claustrofobia se apodera dos que assistem. Tudo belissimamente envolvido numa fotografia muito bem estruturada (a qual ficou a cargo de Sam McCurdy, o mesmo de "Dog Soldiers") e de uma banda sonora que alterna entre momentos de um quase som ambiente, até explosões de orquestra montados com mestria (composta por David Julyan - "Memento", 2000). Um filme que encerra o último grupo de estreias de 2005, e que não deverá ser esquecido por ninguém, especialmente pelos amantes do género, merecendo sem dúvida uma visita ao cinema.




Título Original: “The Descent" (Reino Unido, 2005)
Realização: Neil Marshall
Intérpretes: Shauna Macdonald, Natalie Mendoza e Alex Reid
Argumento: Neil Marshall
Fotografia: Sam McCurdy
Música: David Julyan
Género: Terror
Duração: 99 min.
Sítio Oficial: http://www.thedescentthemovie.com

30 de dezembro de 2005

Os Melhores de 2005 para...


Filipe Lopes


1º) MILLION DOLLAR BABY de Clint Eastwood


2º) CRASH de Paul Haggis


3º) CORPSE BRIDE de Tim Burton


4º) SIN CITY de Robert Rodriguez


5º) DONNIE DARKO DIRECTOR'S CUT de Richard Kelly


6º) OLD BOY de Chanwook Park


7º) TARNATION de Jonathan Caouette


8º) DER UNTERGANG de Oliver Hirschbiegel


9º) WALLACE & GROMIT IN THE CURSE OF THE WERE-RABBIT de Nick Park


10º) KING KONG de Peter Jackson


26 de dezembro de 2005

Prémios Lumière 2005





Como sucedeu o ano passado, o Antestreia junta-se a mais 30 blogs falados na língua de Camões, para atribuír os Lumière (melhores de 2005 no campo do cinema). Os seguintes blogs serão o júri...:


Á Deriva
A Origem do Amor
Afixe
Antestreia
Atrium
Blackspot
Blogotinha
Blog dos Marretas
Cineblog
Coexist
Cineasia
Duas Rosas
Dvd
Ensaio Geral
Filho do 25 de Abril
Gonn1000
Gatas QB
Hollywood
Miguel Galrinho
Mise en Abyme
Movies Universe
Mas Certamente Que Sim
Memória Virtual
Os Intocaveis
O Vilacondense
Pipoca Rasca
Pasmos Filtrados
O Panteonesco
Royale With Cheese
Troll Urbano

... e atribuírão os seguintes galardões:


Melhor Filme
Melhor Realizador
Melhor Actor
Melhor Actriz
Melhor Actor Secundário
Melhor Actriz Secundária
Melhor Argumento
Jovem Promessa Masculina
Jovem Promessa Feminina
Melhor Filme Animado
Melhor Banda Sonora
Melhor Fotografia
Melhor Montagem


Resta esperar até dia 28 de Janeiro de 2006 para conhecer quem sucederá "Eternal Sunshine of the Spotless Mind" como grande vencedor.


24 de dezembro de 2005

100 Mais do Cinema Fantástico


Acabamos hoje a publicação dos 100 melhores filmes do cinema fantástico, na opinião do conceituado António Pascoalinho, a quem agradeço mais uma vez a disponibilidade de nos mostrar este elenco de filmes, esperando sempre uma continuação futura de publicação dos seus textos. Aos leitores obrigado pelos comentários, quer na respectiva caixa para o efeito, quer por email.


"Os 100 Mais do Cinema Fantástico" por António Pascoalinho


10 - 1


1.O Gabinete do Dr. Caligari
tít. orig.- Das Kabinett des Doktors Caligari (Alemanha 1919)
real.- Robert Wiene

Numa cidade imaginária, um sonâmbulo é exibido como espectáculo de feira. Na mesma noite, um homem é assassinado e uma rapariga raptada. Será possível controlar uma mente e levá-la a praticar o Mal? Robert Wiene construiu em 1919 o expoente máximo do chamado Expressionismo Alemão. As sombras, o preto e branco, os cenários inclinados e a representação plena de esgares e gestos excessivos, nunca foram igualadas. E transformaram este filme num dos mais imperdíveis clássicos do início da Sétima Arte.

2.Nosferatu, o Vampiro
tít. orig.- Nosferatu, eine Symphonie des Grauens (Alemanha 1922)
real.- Friedrich Wilhelm Murnau

Primeira adaptação (que eu conheça) ao Cinema da novela de Bram Stoker. Um genial exercício de terror e sombras, num dos máximos expoentes do Expressionismo Alemão. Quem não recorda as unhas afiadas de Max Schreck ou a invasão do porto pelos ratos que trazem a peste? Podem ainda referir-se a morte do vampiro com o nascer da aurora e o cantar do galo, a casa em ruínas para onde o nosso Conde se muda, a ele mais aos caixões, ou a viagem à Transilvânia com a carruagem fantasma. O problema é que, neste filme, tudo é bom e não há adjectivos que cheguem para o descrever. A obra foi colorizada e sonorizada à posteriori, o que lhe concede uma nova dimensão. Mas seja qual for a versão, apetece sempre (re)descobrir os prazeres deste vampiro.

3.Metropolis
tít. orig.- Metropolis (Alemanha 1926)
real.- Fritz Lang

O mais perfeito dos filmes de Ficção Científica foi realizado numa época onde ainda nem se ouvia falar em efeitos especiais. O expressionismo da cenografia, a simetria dos planos e o grafismo da cidade do futuro, fizeram desta obra um must absoluto. Quem não relembra com saudade o trabalho mecânico dos operários na fábrica, o mundo dos ricos e o submundo onde se vegeta, ou o robot com a cara da bela Maria, encarregue de levar os trabalhadores à revolta? A versão colorizada com música de Giorgio Moroder fez furor nos anos 80 mas, sinceramente, o efeito que o original provocou nas plateias da época é muito mais interessante!

4.Frankenstein
tít. orig.- Frankenstein (USA 1931)
real.- James Whale

Henry Frankenstein, assistido pelo corcunda Fritz, trabalha secretamente na criação de vida artificial. À noite, desenterram cadáveres do cemitério e viram coleccionadores de pedaços humanos, com os quais pretendem dar vida a um monstro. Por azar, Fritz rouba o cérebro de um assassino e, o que poderia ser um grande passo para a Humanidade, transforma-se num caminho para o Horror. Boris Karloff é um monstro inesquecível. E a Universal construiu um dos mais míticos filmes que o Fantástico jamais nos ofereceu.

5.O Médico e o Monstro
tít. orig.- Dr.Jeckyll and Mr. Hyde (USA 1932)
real.- Rouben Mamoulian

A mais conseguida adaptação fílmica da obra de Robert Louis Stevenson é, quanto a mim, esta versão de 1932. Mesmo contando com a de 1944, onde Spencer Tracy e Ingrid Bergman pontificaram. Aqui, tudo é mais negro, como no romance, desde a sequência inicial em câmara subjectiva (processo raro na época), até às aparições do perverso Hyde. Fredric March compõe como ninguém a dualidade do seu personagem, da elegância do Dr. Jeckyll que corteja a bela Muriel, à viscosidade do Mr. Hyde que passa as noites com Ivy, a prostituta. E a ideia da morte como redenção para uma experiência científica falhada, não deixa o espectador indiferente.

6.O Malvado Zaroff
tít. orig.- The Most Dangerous Game (USA 1932)
real.- Ernest B. Schoedsack e Irving Pichel

O Conde Zaroff, proprietário de uma sinistra ilha nas Caraíbas, diverte-se a praticar nos seus domínios o mais raro e perigoso de todos os "desportos": a caça ao homem. Para isso, coloca falsas bóias de sinalização, de modo a provocar o naufrágio dos navios que por ali passam. E em seguida, persegue os náufragos até ao amanhecer. Até ao dia em que um dos caçados decide tornar-se caçador, e o algoz se torna presa. Rodado nos mesmos cenários de King Kong, com um realizador e uma actriz em comum, este filme é um dos grandes clássicos da aventura em estado puro. Fay Wray só tinha que mudar de peruca entre os dois filmes. E Leslie Banks compõe o vilão com mais tiques de que há memória na História do Cinema.

7.Vampyr
(Alemanha 1932)
real.- Carl T. Dreyer

David Gray é um jovem viajante que se alberga numa pequena pensão do Norte de França. Durante a noite, um velho mendigo vem pedir-lhe ajuda. David segue-o até um castelo misterioso e vê o velhote morrer à sua frente. No seu quarto, encontra uns relatórios sobre os poderes dos vampiros e a forma de os contrariar. E decide pô-los em prática. Um filme muito estranho, repleto de enigmas, sombras e medos inexplicáveis. Como se o poder dos vampiros não passasse de um medo instalado na alma dos incautos. Bastante inovador, sobretudo atendendo à época em que foi feito.

8.Parada de Monstros
tít. orig.- Freaks (USA 1932)
real.- Tod Browning

Num circo sempre em digressão, um grupo de deformados, inválidos e verdadeiras aberrações semi-humanas, vive tentando sobreviver como família, num Mundo que não tem lugar para tamanha fealdade. Mas, como em todos os Mundos, o amor e a solidariedade vivem paredes-meias com o engano e a traição. E isso vai conduzir à terrível vingança dos monstros. Este é um filme estranhíssimo, que a MGM ofereceu a Tod Browning depois dos enormes sucessos de Dracula e Frankenstein, e a quem deu total liberdade de realização e montagem. O mais curioso é que Browning decidiu escolher para actores, verdadeiros anormais, o que confere à obra o ar de verdade possível que ainda hoje ostenta. Realmente notável!

9.King Kong
tít. orig.- King Kong (USA 1933)
real. e prod.- Merian C.Cooper e Ernest B.Schoedsack

"A 8ª Maravilha do Mundo". Um rei no seu universo, transportado para os meandros da civilização. E por isso perdido. Por amor de uma mulher. É a primeira incursão do Cinema pelo tema ancestral da Bela e o Monstro. E talvez uma das mais conseguidas. Em 1933 a técnica era ainda rudimentar, sobretudo nos campos do sonoro e efeitos especiais visuais. Mas o resultado final atingido é deveras assombroso: o altar de sacrifícios na ilha, os duelos com o brontossauro e o pterodáctilo ou a famosa escalada e morte no Empire State Building são sequências de verdadeira antologia. Um gorila que inspira o pânico. O amor como causa de perdição. E um filme imprescindível que não perdeu nada da frescura original e se devora nos dias de hoje com igual agrado.

10.O Homem Invisível
tít. orig.- The Invisible Man (USA 1933)
real.- James Whale

Os habitantes de uma pequena pensão andam intrigados com um novo inquilino. Ele anda sempre de luvas, usa óculos escuros com lentes grossíssimas e tem a cara permanentemente envolta em ligaduras. Como quem não entende o desconhecido, costuma temê-lo, os demais moradores decidem alertar a polícia. E esta obriga o misterioso homem a revelar-se, que é como quem diz, a desaparecer à frente dos seus olhos, já que se tratava de um cientista acabado de descobrir o soro da invisibilidade. É histórica a sequência em que o homem tira as ligaduras, bem como a perseguição final, num campo nevado onde só se vêem as pegadas. E é mais um grande clássico do mestre James Whale.


22 de dezembro de 2005

”The Corpse Bride” por Nuno Reis


A vasta maioria dos realizadores de renome teve uma fase em que se dedicou ao cinema fantástico. Com o passar dos anos acabaram por o abandonar e abraçar vertentes mais lucrativas e argumentos menos complicados. Mas nem todos! Tim Burton tem já 30 anos de carreira dedicados ao fantástico e apesar de alguns filmes menos conseguidos é um mestre incontestável do género.
Uma só pessoa não faz muito, mas Burton tem a sorte de ter um magnífico leque de amigos disponíveis. Desde “Vincent” em 1982 até este Verão em “Charlie and the Chocolate Factory” foi criado amizades e cativando talentos. Para esta animação pôde contar com as vozes de Johnny Depp, Albert Finney, Helena Bonham Carter, Michael Gough e Cristopher Lee entre muitos outros. A música, como não poderia deixar de ser, é de Danny Elfman, um dos maiores artistas musicais que o cinema já teve.

The Corpse Bride” conta a história do jovem Victor, filho de novos-ricos, na véspera do seu casamento com a filha de uns pobres nobres. Victor depois de um acidentado ensaio de casamento, foge para o bosque onde, por distracção, coloca a aliança numa noiva já morta. Transportado para o mundo dos mortos irá tentar voltar para a sua noiva original, enquanto a sua actual noiva o quer manter para sempre onde a morte já não os pode separar. Entretanto a noiva viva está preocupada com o sucedido e, para complicar mais a sua situação, quando começava a gostar do noivo é forçada a casar com um (outro) estranho e Victor volta com todos os mortos para celebrar oficialmente o seu casamento! Bem, com tanta confusão ou o filme é impossível de perceber, ou é imperdoável perder. Aqui aplica-se claramente o segundo caso.
Personagens deliciosas, músicas espectaculares, animação de qualidade assombrosa, resumindo, uma maravilha! Depois de “The Nightmare Before Christmas” poucos foram os filmes com esqueletos que me impressionaram. Este regresso de Burton ao mundo subterrâneo não lhe é superior, mas também não deve nada ao antecessor.






Título Original: “The Corpse Bride" (EUA, Reino Unido, 2005)
Realização: Mike Johnson, Tim Burton
Intérpretes (vozes): Johnny Depp, Helena Bonham Carter, Emily Watson, Tracey Ullman, Albert Finney, Christopher Lee, Michael Gough
Argumento: John August, Pamela Pettler, Caroline Thompson
Fotografia: Pete Kozachik
Música: Danny Elfman
Género: Animação, Comédia, Drama, Fantasia, Musical, Romance
Duração: 76 min.
Sítio Oficial: http://www.corpsebridemovie.com/

”The Family Stone” por Nuno Reis



Estão aí os filmes de Natal. Entre vários dramas e comédias, surge esta jóia. Este trabalho de Bezucha conta as aventuras natalícias da família Stone.
Everett leva a namorada para o Natal dos Stone, ele pretende pedir à mãe o anel de noivado que vem casando a família há duas gerações. A mãe, como quase toda a família, não simpatiza com Meredith e demonstra-o. Só que ela tem uma razão suplementar para esse desagrado: é o seu último Natal e quer ter a certeza que a família será feliz. Meredith, pelo contrário, fica tão infeliz que obriga a irmã a vir a esta festa.
O filme fala de amor e das relações interpessoais. Nos dias que antecedem o Natal ocorrem várias situações que vão pôr à prova a união familiar e ameaçar a alegria festiva. É polémico, sem dúvida. Uma mãe a comentar a primeira vez da filha não acontece em muitos filmes. Um dos casais é homossexual, eles são de raças diferentes e um deles é deficiente auditivo. Mais polémico só se fossem adoptar… e por acaso vão.
A nível de interpretações é daqueles filmes que por ter tantas estrelas quase não tem nenhuma em destaque. A vantagem é que assim ninguém tem tempo para fazer más interpretações.
O argumento é totalmente previsível, e acaba por nunca surpreender. Tem momentos divertidos mas nem por isso as gargalhadas ouvidas na sala serão efusivas. No geral posso dizer que toda a história – amores antigos reencontrados, uma pessoa em fase terminal, conflitos entre irmãos - faz lembrar “The Royal Tenembaums” apesar de ser bastante mais fraco. É Natal por isso perdoa-se.






Título Original: “The Family Stone" (EUA, 2005)
Realização: Thomas Bezucha
Intérpretes: Diane Keaton, Craig T. Nelson, Rachel McAdams, Sarah Jessica Parker, Claire Danes, Luke Wilson, Tyrone Giordano, Dermot Mulroney
Argumento: Thomas Bezucha
Fotografia: Jonathan Brown
Música: Michael Giacchino
Género: Comédia, Drama, Romance
Duração: 102 min.
Sítio Oficial: http://www.thefamilystonemovie.com/

21 de dezembro de 2005

"Os 100 Mais do Cinema Fantástico" por António Pascoalinho


20 - 11


11.A Noiva de Frankenstein
tít. orig.- Bride of Frankenstein (USA 1935)
real.- James Whale

James Whale, instigado pelo sucesso do seu primeiro filme com o monstro do Barão Frankenstein, decidiu dar-lhe uma companheira. As experiências de laboratório continuaram assim. Mary Shelley conta ao marido e a Lord Byron que, afinal, nem o monstro nem o seu criador sucumbiram ao incêndio do primeiro opus. E as condições estavam criadas para que se desse origem a um daqueles raros casos fílmicos em que a sequela não é inferior ao original. Boris Karloff abrigado na casa de um cego, a aparição da noiva Elsa Lanchester e as teorias sobre a utilização da luz na criação da vida, fizeram desta obra mais um êxito retumbante. Nem que fosse preciso que Boris Karloff perdesse 10 quilos num mês de rodagem, devido ao esforço em carregar com um fato e umas botas que pesavam, no seu conjunto, 32 quilos.

12.A Marca do Vampiro
tít. orig.- Mark of the Vampire (USA 1935)
real.- Tod Browning

Este filme ficou célebre pelo seu final: depois de uma sucessão de crimes horripilantes onde as vítimas eram encontradas sem pinga de sangue, as pistas parecem indicar tratar-se do trabalho de um pérfido vampiro. Afinal, tudo passava de uma brincadeira, ou melhor ainda, de uma peça de teatro, o que só descobrimos na última sequência, quando Bela Lugosi (ele próprio) arruma a capa num baú e profere a célebre frase: "Vamos para casa, por hoje já chega!". Farto do terror dito sério que ele mesmo ajudara a lançar, Tod Browning como que desmistifica aqui o seu Drácula. E abre caminho, pela primeira vez, para a possível ligação futuramente explorada, entre o Terror e a Comédia.

13.As Mãos de Orlac
tít. orig.- Mad Love (USA 1935)
real.- Karl Freund

Até onde chega o amor? Recusado pela mulher que ama, um médico dedica-se a misteriosas experiências de revitalização com uma boneca em miniatura da sua amada. Eis senão quando, o marido pianista da senhora vê as mãos decepadas num acidente de comboio, e ela não tem outro remédio senão recorrer aos serviços do clínico. Este implanta-lhe um novo par de mãos, mas são mãos arrancadas ao cadáver de um assassino. E quando elas parecem ganhar vida própria, não estão lá muito dispostas a tocar piano. Este é um filme estranhíssimo, com uma notável prestação de Peter Lorre no papel do médico dilacerado por um amor perdido. E que, não fosse só por ele, merece toda a nossa estima e consideração.

14.A Boneca do Diabo
tít. orig.- The Devil Doll (USA 1936)
real.- Tod Browning

Evadido de uma prisão onde fôra injustamente encarcerado, um banqueiro decide vingar-se dos seus antigos amigos. Um seu companheiro de cela, alquimista, descobre a fórmula para miniaturizar animais e torná-los escravos do Homem. E está quase a chegar à solução sobre como fazer o mesmo com seres humanos. À hora da morte, revela o seu segredo, e o nosso banqueiro vai aproveitar-se da situação. Esta obra é um prodígio de imaginação, mesclada de enorme suspense. Lionel Barrymore é insuperável. Ou não fosse ele um dos maiores actores actores da sua época. E este mais um filme de Tod Browning.

15.O Ladrão de Badgad
tít. orig.- Thief of Bagdad (Inglaterra 1940)
real.- Michael Powell e Ludwig Berger

Deposto do trono pelo seu grão-vizir, o hediondo Jafar, Ahmad, o califa de Bagdad, está preso. Abu, um pequeno ladrão, vai ajudá-lo a fugir. Como está apaixonadíssimo pela filha do Sultão, Ahmad declara-lhe o seu amor. Mas Jafar tem intenções parecidas, e chega a oferecer ao Sultão um cavalo alado em troca da filha. Ahmad e Abu embarcam assim em mil aventuras, até ao castigo dos vilões e à vitória do amor. Com cenários esplendorosos e um technicolor de eleição, esta obra é aventura em estado puro. Deixando no ar a pena de que as noites de Scheherazade sejam apenas 1001. A rever sempre com muito agrado!

16.A Pantera
tít. orig.- Cat People (USA 1942)
real.- Jacques Tourneur

Irena Dubrovna, estilista em Nova York, vive persuadida de que pertence a uma estranha raça de mulheres que, ao perderem a virgindade, se transformam em panteras. Aceita casar-se, apesar de tudo, com um homem loucamente apaixonado por ela, mas recusa-se a consumar a sua união. Apesar da ajuda de um psicanalista, a mutação inevitável vai mesmo ter lugar, conduzindo Irena à perdição. Este é um dos filmes que melhor interligou o universo da sexualidade com o Horror, o desejo carnal com o medo do monstro. E por isso não perdeu nada do seu enorme fascínio, mais que tudo proveniente da inegável beleza da sua protagonista, Simone Simon.

17.Les Visiteurs du Soir
(França 1942)
real.- Marcel Carné

Fortemente aborrecido no início da Primavera, o Diabo envia à Terra dois dos seus acólitos, para desesperar os Homens. Gilles e Dominique, sob a aparência de trovadores, chegam então ao castelo do Barão Hughes, prestes a celebrar o casamento da sua filha Anne com um cavaleiro. E tentam, através de sortilégios, impedir tal união. O Diabo chega mesmo a intervir mas nada consegue, já que, afinal, o Amor é mais forte do que a Morte. Poético, refinado e com os fabulosos diálogos de Jacques Prévert, este filme é ainda hoje um dos Clássicos mais unanimemente reconhecidos do Cinema Francês.

18.O Retrato de Dorian Gray
tít. orig.- The Picture of Dorian Gray (USA 1945)
real. Albert Lewin

Em finais dos século XIX, um pintor faz o retrato do jovem Dorian Gray. Apaixonado por uma cantora de segunda, o belo herói não resiste às convenções da época e renuncia ao seu amor. Chegando a casa, encontra o seu próprio retrato com uma expressão endurecida. Resolve pedir a moça em casamento, mas ela entretanto envenenara-se. Solução: passar a viver uma vida depravada, e deixar o retrato envelhecer, enquanto ele se conserva eternamente jovem. Este filme é uma reinvenção do mito da "fonte da juventude", levada ao extremo da beleza plástica. Até ao drama final, com o incêndio do quadro.

19.A Bela e o Monstro
tít. orig.- La Belle et la Bête (França 1946)
real.- Jean Cocteau

Um rico comerciante descobre que está arruinado. Parte para a floresta, mas o nevoeiro fâ-lo perder o Norte e parar junto de um castelo misterioso. No dia seguinte, colhe uma rosa do jardim, para dar a uma das suas 3 filhas. Mas é interrompido por um monstro com forma humana, mãos e cara cobertos por abundantes pêlos. A fera ameaça-o de morte, mas decide perdoar-lhe, se uma das 3 filhas do nosso herói aceitar ir viver com ele. Esta é talvez a versão mais conseguida desta história clássica, mesmo contando com a brilhante tentativa, animada pelos estúdios da Disney. Jean Marais está fantástico. E a poesia com que o tema é tratado nunca foi igualada pelos outros filmes que trataram este tema clássico.

20.O Fantasma Apaixonado
tít. orig.- The Ghost and Mrs.Muir (USA 1947)
real.- Joseph L. Mankiewicz

Uma jovem viúva resolve fugir de uma família asfixiante e instalar-se numa bela mansão à beira-mar. Pouco a pouco, começa a sentir-se observada e acaba por conhecer o fantasma de um cativante Capitão de Marinha, antigo proprietário da casa, que não está nada contente por ver os seus domínios assim invadidos. A rudeza do Capitão opõe-se à singeleza da senhora, possibilitando a evolução para uma história de amor platónico, onde aquela alma etérea leva a "piquena" a ver o nascer so Sol e nela implanta uma nova vontade de viver. E de amar. É Cinema Fantástico. Mas também uma das mais belas histórias de amor jamais contadas. E Gene Tierney nunca esteve tão bela!


20 de dezembro de 2005

"King Kong" por António Reis


O fim da macacada

Rui Veloso cantava “nunca voltes ao lugar onde já foste feliz ainda que o coração mande não faças o que ele diz”. Peter Jackson quis voltar a esse ligar mítico que é o cinema da Universal dos gloriosos anos 30 ou eventualmente à remake de Dino de Laurentis. O resultado está aquém das expectativas que um fã declarado de Jackson como sou teria. Isto porque a remake é uma mera transposição literal desse original embrulhado em tecnologia digital de alta qualidade mas que sabe a pouco. O mesmo não se pode dizer do filme que com a sua duração exagerada reafirma que Jackson não tem noção da contenção temporal nem do efeito das elipses na narrativa.
Esperava-se talvez que a obsessão por esse sonho de criança finalmente concretizado não eliminasse a capacidade do realizador de fazer alguma inovação na narrativa. Não é o caso. Faz uma brilhante reconstituição da Grande Maçã dos anos 30, delicia-se com efeitos especiais de enorme impacto visual, mas oscila num humor moralista e às vezes cínico e numa exposição de Naomi Watts que parece ter deixado o realizador pelo beicinho. Assim sendo este “King Kong” pouco acrescenta ao imaginário do fantástico em que se inspira, apesar de, nesse vale perdido, o gorila coabitar com dino e outros sáurios, aranhas gigantes e demais bicharada em tamanho gigante para satisfação de públicos mais adolescentes. Apesar da duração o filme apresenta lapsos incompreensíveis no argumento e soluções nem sempre ajustadas. Jackson não está no seu melhor, o macaco já teve melhores dias, as remakes já não são tão apelativas como os originais e o fantástico está a precisar de guionistas inspirados. Perdoa-se a Jackson este desvario para agradar aos americanos, mas espera-se que o genuíno cineasta de “Braindead” ou “Forgotten Silver” regresse na próxima produção. Este “King Kong” foi apenas um sorvedouro de dinheiro e mesmo que o box-office (como parece ser o caso) esteja a compensar, para a história do cinema este Kong não vai ser King.






Título Original: “King Kong” (Nova Zelândia, EUA, 2005)
Realização: Peter Jackson
Intérpretes: Naomi Watts, Jack Black, Adrien Brody, Andy Serkis
Argumento: Fran Walsh, Philippa Boyens e Peter Jackson (baseados na história de Merian C. Cooper e Edgar Wallace)
Fotografia: Andrew Lesnie
Música: James Newton Howard e Mel Wesson
Género: Acção, Aventura, Drama, Fantasia, Ficção-Científica, Thriller
Duração: 187 min.
Sítio Oficial: http://www.kingkongmovie.com/

17 de dezembro de 2005

"Os 100 Mais do Cinema Fantástico" por António Pascoalinho


30 - 21


21.Uma Questão de Vida ou de Morte
tít. orig.- A Matter of Life and Death (Inglaterra 1947)
real.- Michael Powell e Emeric Pressburger

Piloto de caças, o Inglês Peter Carter é abatido em pleno voo pelo inimigo. Enquanto o avião se despenha, lança um último pedido de alerta, que é ouvido por uma operadora de rádio Americana. Peter fica apaixonado por aquela voz. Entre a vida e a morte, é operado por uma equipa de cirurgiões enquanto, à entrada do Céu, deve defender-se em tribunal sobre se merece ou não mais uns anos de vida. E decide invocar o seu novo amor! Powell e Pressburger construiram aqui um dos filmes mais belos e sensíveis jamais realizado. Pena que as Televisões o Video não o difundam com regularidade!

22.No Dia em que a Terra Parou
tít. orig.- The Day the Earth Stood Still (USA 1951)
real.- Robert Wise

O meu filme de Ficção Científica favorito. Uma raça extra-terrestre decide dar um exemplo à raça humana, demasiado envolvida em guerras para prevenir o seu futuro. Para tal, envia até nós um disco-voador, onde um ser de forma humana e um robot viajaram anos a fio. O aviso é claro: ou os humanos param com as hostilidades e rumam à coexistência pacífica, ou os aliens terão de tomar medidas. E, para provar o seu poder, os relógios da Terra param ao meio-dia, deixando todos os humanos em suspenso. Serão os dirigentes da Terra capazes de assimilar a mensagem?

23.Os Contos da Lua Vaga
tít. orig.- Ugetsu Monogatari (Japão 1953)
real.- Kenji Mizoguchi

Durante as Guerras Civis no Japão do século XVI, um oleiro (Genjuro) e o seu cunhado (Tobei) habitam as margens do lago Biwa. Tobei sonha tornar-se samurai, Genjuro em ser rico, para agradarem às respectivas mulheres. Mas, com a sua pequena aldeia ameaçada por guerreiros, eles vão ter de fugir. E entram no mundo do maravilhoso, onde Tobei vê realizado o seu sonho de guerreiro e Genjuro descobre os prazeres carnais com uma bela cortesã. Mas o "regresso à Terra" vai ser cheio de amargura. Mizoguchi conseguiu aqui o mais poético dos seus "filmes de samurais". E que só por má vontade não deverá ser elevado à categoria de obra-prima.

24.20.000 Léguas Submarinas
tít. orig.- 20 Thousand Leagues Under the Sea (USA 1955)
real.- Richard Fleischer

Para destruir um monstro marinho que ameaça as águas do Pacífico, a Marinha Americana prepara uma expedição que leva a bordo o arpoador Ned Land e o professor Aronnax, especialista em biologia marítima. A quando do ataque, descobre-se que o famoso monstro é afinal um submarino, o Nautilus. Aos comandos, o Capitão Nemo… Desta adaptação da obra de Jules Verne, ressaltam as belas imagens de fotografia subaquática, a luta de Kirk Douglas com o polvo e o enorme espírito de aventura. Um filme imortal, para gente de todas as idades!

25.O Sétimo Selo
tít. orig.- Det Sjunde Insiglet (Suécia 1956)
real.- Ingmar Bergman

No século XIV, uma epidemia de peste assola a Suécia. Um cavaleiro e o seu escudeiro, de regresso das Cruzadas, encontram a Morte numa praia deserta. O cavaleiro propõe à "Ceifeira" uma partida de xadrez, como forma de passar o tempo e buscar a unidade do Universo. Não temendo a Morte, o nosso herói apenas busca a resposta para as suas dúvidas metafísicas. Mas, quando a encontra, assina a sua própria perdição. Fiel aos seus princípios de austeridade fílmica, Ingmar Bergman assina aqui a sua obra mais aclamada. Num preto-e-branco de eleição, entre o fundamentalismo da religião e a esperança inata ao ser humano. Uma das obras mais citadas em todas as escolhas como melhor filme!

26.O Sentenciado
tít. orig.- The Incredible Shrinking Man (USA 1957)
real.- Jack Arnold

Envolto por uma estranha nuvem e vítima de raios solares misteriosos, um homem vai diminuindo de tamanho até se reduzir à forma atómica. Pelo caminho, vai vivendo numa casa de bonecas, combatendo aranhas com alfinetes e fugindo primeiro do gato e depois das moscas, que para ele surgem como monstros horrendos, dado o seu tamanho diminuto. Para dar ao espectador a ilusão do encolhimento do protagonista, foram construídos 14 décors de diferentes tamanhos, elevando-se ou baixando à medida que o herói é suposto diminuir. Por outro lado, a cave onde o herói cai, mero armazém de tralha inútil durante toda uma vida, revela-se um universo terrífico, bem mais povoado que a própria selva Amazónica. Por tudo isto, este filme é obrigatório!

27.A Noite do Demónio
tít. orig.- Night of the Demon (USA 1957)
real.- Jacques Tourneur

O cientista Americano John Holden anda preocupado com a morte violenta de um seu colega, o professor Harrington. Decide investigar, e as pistas conduzem-no ao Dr. Karswell, também ele cientista e suspeito de Demonologia. Fascinado pelas investigações de Karswell, Holden nem suspeita que é ele o próximo nome na lista de vítimas de um demónio que o perverso Dr. se habituara a adorar e a invocar qundo necessário. Dana Andrews está fabuloso no seu underacting habitual, e as sequências de transmissão do pergaminho são do mais puro suspense que jamais vi. Para quem não conhece esta obra, eis um must absoluto!

28.A Múmia
tít. orig.- The Mummy (Inglaterra 1959)
real.- Terence Fisher

Nos tempos do Egipto ancestral, o sacerdote Kharis tenta por todos os meios reviver a sua amada morta, a princesa Ananka, graças aos poderes de um papiro mágico. Condenado à morte por tamanho sacrilégio, acaba mumificado vivo e sepultado junto à sua princesa, de modo a guardá-la por toda a Eternidade. 4000 anos mais tarde, arqueólogos quebram o selo do sarcófago e enviam-no para Londres. Kharis acorda…É o início de mais um reino de terror, com o professor (Peter Cushing) em combate contra o terrível sacerdote (Christopher Lee). O filme não é um remake da versão de Karl Freund, realizada em 1932 com Boris Karloff, mas parece-me a mais conseguida das dezenas de adaptações da história da múmia assassina realizadas até hoje.

29.Os Olhos sem Rosto
tít. orig.- Les Yeux sans Visage (França 1959)
real.- Georges Franju

Neuro-cirurgião de renome, o doutor Génessier vai à morgue identificar o corpo da filha, morta num acidente. Só que, na verdade, a filha sobreviveu, ficou foi desfigurada. O objectivo do médico é então conseguir retirar a máscara dérmica de uma bonita rapariga, para poder implantá-la na filha através da cirurgia plástica, e assim devolver-lhe o rosto perdido. Quando a operação corre mal, a solução é continuar a matar mais belas jovens, até lograr atingir os objectivos. Filme estranho e rebuscado, mas perturbantemente fascinante.

30.Viagem ao Centro da Terra
tít. orig.- Journey to the Center of the Earth (USA 1959)
real.- Henry Levin

Nova adaptação de um livro de Jules Verne ao Cinema. Acompanhamos uma expedição de sábios e aventureiros à procura de um hipotético centro da Terra. De uma montanha na Islândia onde entram no subsolo, até à cratera de um vulcão Siciliano, por onde são de novo cuspidos para a superfície. Pelo meio, cenários gigantescos, monstros pré-históricos, correntes de lava e rios de corrente fortíssima. Mas também entreajuda, amor e teorias científicas. Uma mescla de ficção e aventura, num filme bem conseguido.


15 de dezembro de 2005

”Shopgirl” por Nuno Reis



Steve Martin é um dos rostos mais conhecidos do cinema actual e costuma ser associado à comédia apesar de ter filmes de diversos géneros. Na sua estreia literária Martin apresenta-nos “Shopgirl”, a história de uma rapariga com muitos sonhos para quem a realidade era irónica… até a sorte lhe bater à porta.
Mirabelle é a “rapariguinha do shopping”, trabalha na secção das luvas de uma grande loja onde se alternam momentos de pasmaceira e clientes desagradáveis. Na lavandaria conhece Jeremy, um jovem simpático e tresloucado que mete conversa com ela e acaba por a convidar para sair. No início a relação é um pouco estranha pois Jeremy em si é uma pessoa estranha, mas Mirabelle simpatiza com ele e poderiam até continuar juntos se ela não tivesse arranjado um melhor partido. Ray é um milionário que, sem nenhuma razão aparente, mete conversa com ela. Muito rapidamente consegue convidá-la para sair e as diferenças entre Ray e Jeremy são tão óbvias que ela imediatamente descarta o seu anterior namorado.
Enquanto Mirabelle tem com Ray uma relação que parece de sonho e que parece ir ficar dradoura, Ray tem com Mirabelle um simples caso que serve para “passar o tempo”. O terceiro elemento deste triângulo amoroso parte em viagem com uma banda que, não pelas suas músicas mas pelas suas personalidades e atitudes perante o mundo, o transformará num homem melhor.
O assunto deste trabalho de Anand Tucker é deveras delicado. O amor acaba por ser secundário num filme que deveria ser centrado no sentimento. O momento em que Mirabelle adoece deveria ter causado uma viragem efectiva na história mas a única mudança é afectiva e temporária. As interpretações realístas e dramáticas de Claire Danes e Steve Martin, aliadas à personagem de Jason Schwartzman, invulgar como sempre, tornam este trabalho interessante. Peca por tratar um tema tão belo e delicado como o amor de forma tão leve, a narrativa feita por Steve Martin é bastante mais intensa contudo é demasiado pesada para o filme. Um melhor equilíbrio podia ter sido atingido se os sentimentos/pensamentos fossem mais trabalhados, a parte mais importante da mensagem que pretende transmitir não fica escrita com letra suficientemente forte e acaba por se apagar.






Título Original: “Shopgirl" (EUA, 2005)
Realização: Anand Tucker
Intérpretes: Steve Martin, Claire Danes, Jason Schwartzman
Argumento: Steve Martin
Fotografia: Peter Suschitzky
Música: Barrington Pheloung
Género: Comédia, Drama, Romance
Duração: 104 min.
Sítio Oficial: http://shopgirl.movies.go.com/

14 de dezembro de 2005

Golden Globes 2006


Já saiu a lista de nomeações dos Golden Globes, um preview importante para o que se poderá passar nos Óscares.


MELHOR FILME DRAMA

Brokeback Mountain
The Constant Gardener
Good Night, and Good Luck.
A History of Violence
Match Point

MELHOR ACTRIZ DE DRAMA

Maria Bello - A History of Violence
Felicity Huffman - Transamerica
Gwyneth Paltrow - Proof
Charlize Theron - North Country
Ziyi Zhang - Memoirs of a Geisha

MELHOR ACTOR DE DRAMA

Russell Crowe - Cinderella Man
Philip Seymour Hoffman - Capote
Terrence Howard - Hustle & Flow
Heath Ledger - Brokeback Mountain
David Strathairn - Good Night, and Good Luck.

MELHOR FILME DE COMÉDIA / MUSICAL

Mrs. Henderson Presents
Pride & Prejudice
The Producers
The Squid and the Whale
Walk the Line

MELHOR ACTRIZ DE COMÉDIA / MUSICAL

Judi Dench - Mrs. Henderson Presents
Keira Knightly - Pride & Prejudice
Laura Linney - The Squid and the Whale
Sarah Jessica Parker - The Family Stone
Reese Witherspoon - Walk the Line

MELHOR ACTOR DE COMÉDIA / MUSICAL

Jeff Daniels - The Squid and the Whale
Pierce Brosnan - The Matador
Johnny Depp - Charlie and the Chocolate Factory
Nathan Lane - The Producers
Cillian Murphy - Breakfast on Pluto
Joaquin Phoenix - Walk the Line


MELHOR ACTRIZ SECUNDÁRIA

Scarlett Johansson - Match Point
Shirley MacLaine - In Her Shoes
Frances McDormand - North Country
Rachel Weisz - The Constant Gardener
Michelle Williams - Brokeback Mountain

MELHOR ACTOR SECUNDÁRIO

George Clooney - Syriana
Matt Dillon - Crash
Will Ferrell - The Producers
Paul Giamatti - Cinderella Man
Bob Hoskins - Mrs. Henderson Presents

MELHOR REALIZADOR

Woody Allen - Match Point
George Clooney - Good Night, and Good Luck.
Peter Jackson - King Kong
Ang Lee - Brokeback Mountain
Fernando Meirelles - The Constant Gardener
Steven Spielberg - Munich

MELHOR ARGUMENTO

Woody Allen - Match Point
George Clooney e Grant Heslov - Good Night, And Good Luck.
Paul Haggis e Bobby Moresco - Crash
Tony Kushner e Eric Roth - Munich
Larry McMurtry e Diana Ossana - Brokeback Mountain

MELHOR BANDA SONORA

Alexandre Desplat - Syriana
James Newton Howard - King Kong
Gustavo Santaolalla - Brokeback Mountain
Harry Gregson-Williams - The Chronicles of Narnia: The Lion, the Witch and the Wardrobe
John Williams - Memoirs of a Geisha

MELHOR TEMA

A Love That Will Never Grow Old - Brokeback Mountain
Christmas in Love - Christmas in Love
There's Nothing Like a Show on Broadway - The Producers
Travelin' Thru - Transamerica
Wunderkind - The Chronicles of Narnia: The Lion, the Witch and the Wardrobe

MELHOR FILME ESTRANGEIRO

Kung Fu Hustle
Master of the Crimson Armor
Merry Christmas
Paradise Now
Tsotsi


"Os 100 Mais do Cinema Fantástico" por António Pascoalinho


40 - 31


31.A Maldição do Lobisomem
tít. orig.- Curse of the Werewolf (Inglaterra 1960)
real.- Terence Fisher

Um mendigo é encerrado numa masmorra durante anos a fio. E transforma-se, pouco a pouco, numa besta peluda e repugnável. Anos mais tarde, uma criada surda-muda é encerrada na cela ao lado, e o monstro abusa dela. Conseguindo fugir, a piquena dá à luz uma criança que fica entregue aos cuidados do senhor do Castelo. O que ele não sabe, mas em breve descobrirá, é que o miúdo não vai conseguir libertar-se de tão pesada herança: que é como quem diz, de ser lobisomem. Roy Ashton construiu uma máscara vagamente inspirada no Monstro do filme de Jean Cocteau. Oliver Reed fez o resto. E transformou este filme em mais um dos grandes sucessos da Hammer.

32.A Aldeia dos Malditos
tít. orig.- Village of the Damned (Inglaterra 1960)
real.- Wolf Rilla

Midwich, aldeola no Sul de Inglaterra, fica subitamente cortada do resto do Mundo: todos os seres vivos, humanos ou animais, desmaiam sem razão aparente. Mas o fenómeno desaparece, e ninguém encontra explicações. Só que, dois meses depois, todas as mulheres da região aparecem grávidas. E isso dará origem a uma raça de criancinhas loirinhas, lindíssimas, de olhos azuis, mas dispostas a conquistar o Mundo através da telepatia. Esta adaptação do best-seller de John Wyndham é de longe a mais conseguida. Angustiante! Nem a versão de John Carpenter, com Christopher Reeve, lhe chega aos calcanhares.

33.A Máscara do Demónio
tít. orig.- La Maschera del Demonio (Itália 1960)
real.- Mario Bava

Uma história de feitiçaria e reencarnação confirmou na ribalta os dotes da então rainha do terror Europeu: Barbara Steele. Ficou célebre a sequência inicial, com a máscara pregada literalmente no rosto da feiticeira indefesa. Anos depois, a receita do costume: um inocente corta-se no vidro do túmulo que acabara de descobrir, entornando uma gotita de sangue sobre o rosto da dita senhora, e esta acorda sedenta de sangue. E de vingança. Mario Bava começava a afirmar-se como o grande nome do Horror Italiano. E, de toda a sua prolífica filmografia, este é por certo o exemplo mais conseguido.

34.Os Inocentes
tít. orig.- The Innocents (Inglaterra 1961)
real.- Jack Clayton

Em finais do século passado, uma perceptora é encarregue de educar duas crianças (Miles e Flora), que vivem com uma governanta numa velha mansão algo decrépita. Rapidamente se apercebe que as crianças são constantemente assoladas por visões da perceptora anterior e do seu pérfido amante, ambos mortos recentemente. O que não consegue entender é se os ditos pesadelos são reais ou imaginários. E o drama advem: Flora fica doente, Miles morre e a nossa heroína cai nos braços da loucura. Porquê? É essa angústia e a falta de respostas que fazem desta história de fantasmas um notável exercício de suspense. Deborah Kerr está óptima como sempre. E a ambiência é realmente aterradora.

35.Pássaros, Os
tít. orig.- The Birds (USA 1963)
real.- Alfred Hitchcock

A alegoria que o mestre Hitchcock construiu com as "avezinhas", permanece ainda hoje envolta num mistério inexplicàvel. Nunca se percebeu porque as gaivotas e os corvos decidiram atacar a raça humana, nem porque escolhem deixar os protagonistas partir em liberdade no final do filme, depois de terem a batalha ganha. Pelo meio, fica uma das obras mais técnicamente complexas do seu autor, com pássaros mecânicos por entre aves verdadeiras. E algumas sequências de eleição, como o ataque à bomba de gasolina, a perseguição da professora primária à saída da escola ou o combate final no sótão, com uma ferida a cada bicada. Um filme essencial para os verdadeiros amantes do Fantástico.

>36.A Máscara da Morte Vermelha
tít. orig.- Masque of the Red Death (Inglaterra/ USA 1964)
real.- Roger Corman

Na Itália do século XII, Prospero, um senhor feudal, decide prender dois camponeses por não terem pago os impostos. Uma epidemia de morte vermelha assola a região, e Prospero decide refugiar-se no seu castelo com a amante e a filha de um dos camponeses, enquanto manda incendiar todas as casas das redondezas. Em seguida, e no decurso de uma festa bárbara, obriga os dois prisioneiros a cortarem-se com uma de 5 facas, sabendo que uma estava envenenada (uma espécie de roleta russa da época). Mas um estranho vestido de vermelho vem bater à porta, e acabar com os intuitos do sanguinário senhor. É a peste em forma humana, nada será como dantes, e Vincent Price nunca esteve tão ameaçador como neste filme. A (re)descobrir urgentemente!

37.Dracula, Príncipe das Trevas
tít. orig.- Dracula, Prince of Darkness (Inglaterra 1965)
real.- Terence Fisher

Nesta 2ª incursão da Hammer pelos castelos da Transilvânia, Dracula é ressuscitado pelo sangue de um humano que ousou pernoitar nos seus domínios. Um criado fiel ao mestre encarrega-se da cerimónia sangrenta. Os familiares da vítima passam a lutar pela vida, enquanto o perverso Conde vai seduzindo e mordendo pescoços a seu bel-prazer. É notável que Christopher Lee não diga uma única palavra ao longo de todo o filme, como brilhante é a sua morte no gelo, vitimado pela água corrente, como manda a lenda. Este é o meu favorito de todos os Draculas da Hammer, mesmo não contando com o imprescindível Van Helsing (Peter Cushing). O visual barroco, o fascínio pelo homem e o medo do vampiro falam por si.

38.Viagem Fantástica
tít. orig.- Fantastic Voyage (USA 1965)
real.- Richard Fleischer

Um dos argumentos mais imaginativos que o Cinema Fantástico jamais construiu. Um grupo de cientistas é miniaturizado dentro de uma nave, de modo a ser introduzido na corrente sanguínea de um homem doente, e poder viajar até ao cérebro deste e eliminar-lhe um tumor. Mas a bordo da nave vai um sabotador! Neste curiosíssimo filme, onde os inimigos são os glóbulos brancos e as placentas, tudo é tratado a uma escala microscópica, menos o suspense. E, numa época onde os efeitos especiais estavam muito longe de ser o que são hoje, afirmo-vos que os técnicos não se sairam nada mal!

39.O Planeta dos Macacos
tít. orig.- Planet of the Apes (USA 1968)
real.- Franklin J. Schaffner

Numa qualquer sociedade futurista, quatro astronautas Americanos, à deriva no espaço e no tempo, vêem a sua nave despenhar-se no solo de um estranho planeta. Os três sobreviventes tentam explorar a região, mas apenas para serem detidos por um bando de cavaleiros armados. Espanto supremo: os ditos cavaleiros são gorilas já que, naquele Universo, a evolução do conhecimento havia decorrido de outra forma, os símios eram os senhores, os humanos os escravos. É celebre a imagem da Estátua da Liberdade derrubada numa praia, bem como a maquilhagem dos macacos e a interpretação de Charlton Heston. Um dos maiores clássicos de Sci-Fi jamais concebido!

40.A Noite dos Mortos-Vivos
tít. orig.- Night of the Living Dead (USA 1968)
real.- George Romero

O melhor filme de zombies da História, passa-se quase todo num cenário único, uma pequena casa onde meia-dúzia de humanos tenta sobreviver à ameaça exterior. Ameaça essa que advem do facto de termos os mortos a levantar-se dos túmulos um pouco por toda a parte, caminhando devagar mas aos magotes em busca do único alimento que lhes interessa: a carne fresca dos vivos. Romero lançou recentemente uma versão colorizada desta obra, a comemorar os 30 anos da sua produção, mas o original a preto e branco conserva muito mais fascínio. E o final, então, é perfeitamente genial!


12 de dezembro de 2005

”Broken Flowers” por António Reis




O pesadelo cor-de-rosa de Jarmush


Jim Jarmush tem-se afirmado sem dúvida como o mais interessante dos cineastas independentes norte-americanos, conseguindo o milagre de agradar a um vasto público, de atrair produtoras de top e sobretudo manter o toque de génio que só o cinema independente permite.
Broken Flowers é a combinação do talento de Jarmush com a capacidade histeriónica única de Bill Murray, aqui num registo que não deixa de recordar a sua interpretação em “Lost in Translation”. Se Bill Murray consegue manter o low profile de um actor que não precisa de nada mais para encher o ecrã, o quarteto de figuras femininas com que contracena, consegue o milagre de transformar “Broken Flowers” numa comédia romântica on the road onde a narrativa interpela permanentemente o espectador, o induz em falsas evoluções, o diverte com um diálogo de uma ironia subtil e inteligente, em suma, constroí uma obra-prima onde o pink tem uma função simbólica e metafórica surpreendente. Bill Murray, Don Juan inveterado a quem a namorada mais recente abandonou, recebe uma carta anónima, perfumada e cor-de-rosa de uma paixão antiga a anunciar que tem um filho com vinte anos. A partir daqui com a ajuda de um detective de cordel etíope – Winston – vai partir em demanda dessa namorada perdida vinte anos atrás numa viagem programada ao milímetro pelo metódico Winston. São quatro as candidatas potenciais a ser a mãe do seu pretenso filho e a chave para o mistério está no cor-de-rosa. Think pink.
Um reencontro do personagem de Murray com o seu passado amoroso onde a nostalgia do amor perdido, as recordações nem sempre agradáveis das separações e o inesperado dos rumos que as vidas levaram, fazem desta viagem um filme “de estrada” tão caro ao grande cinema americano Se a narrativa encaixa as peças este puzzle com uma brilhante montagem de história, o diálogo é de uam inteligência e finura na sua estrutura que obrigam o espectador a uma segunda visão para se deliciar com toda a riqueza de pormenores de que ele é capaz. Bill Murray no seu melhor, Sharon Stone sensual como sempre, Jessica Lange a quem o peso da idade o Botox disfarça mal e Tilda Swinton na rudeza selvagem de mulher marcada pelo destino são apenas mais quatro motivos por que é obrigatório ver “Broken Flowers”.





Título Original: “Broken Flowers" (EUA, França, 2005)
Realização: Jim Jarmusch
Intérpretes: Bill Murray, Jeffrey Wright, Julie Delpy, Sharon Stone, Chloe Sevigny, Jessica Lange, Tilda Swinton
Argumento: Jim Jarmusch
Fotografia: Frederick Elmes
Música: Mulatu Astatke
Género: Aventura, Comédia, Drama, Road-movie
Duração: 106 min.
Sítio Oficial: http://brokenflowersmovie.com/

10 de dezembro de 2005

"Os 100 Mais do Cinema Fantástico" por António Pascoalinho



50 - 41



41.A Semente do Diabo
tít. orig.- Rosemary's Baby (USA 1968)
real. Roman Polanski

Um casal recém-casado aluga um apartamento num velho edifício em Nova York. Os vizinhos são um casal de idade respeitável, muito prestáveis, mas capazes de provocar na jovem heroína um forte sentimento de repulsa. Actor no desemprego, o marido arranja de súbito um emprego importante. E a mulher fica entregue a si própria, o que se torna mais grave quando descobre que está grávida e começa a padecer de terríveis pesadelos nocturnos, onde se anuncia que o seu filho não é mais que o filho de Satanás. Obra-prima do terror psicológico, este filme é um marco que surgiu bem antes dos Exorcistas ou da tetralogia Omen. E, por isso, essencial!

42.2001, Odisseia no Espaço
tít. orig.- 2001, a Space Odyssey (Inglaterra/USA 1968)
real.- Stanley Kubrick

O clássico dos clássicos de Sci-Fi nasceu da imaginação do escritor Arthur C. Clarke. Kubrick extraiu daí uma obra espectacular, uma espécie de ópera pontuada por uma notável banda sonora, que narra a evolução da espécie humana desde a Idade da Pedra à exploração espacial, durante a primeira viagem humana a Júpiter. Os diálogos com o computador Hal 9000, as aparições do monolito negro e as alucinações do astronauta que fecham o ciclo da evolução, são hoje um marco no Cinema de Ficção. Bem como o raccord em que o osso se transforma em nave espacial, ou a estação orbital que se desloca ao som do Danúbio Azul. Não há adjectivos que cheguem para catalogar este filme!

43.Laranja Mecânica
tít. orig.- A Clockwork Orange (USA 1971)
real.- Stanley Kubrick

Um dos filmes mais originais na carreira do seu ilustre realizador, caiu como efeito-choque na América dos anos 70. A sua elegia da violência gratuita, a introdução das lavagens ao cérebro como elemento redentor e a originalidade no grafismo, do guarda-roupa à cenografia, não deixaram ninguém indiferente. Para além disso, esta é uma das obras jamais concebidas, que melhor interliga a acção com a banda sonora. E que no seu conjunto, por entre proibições de exibição, censura e mistério, se transformou num dos cult-movies mais adorados da 7ª Arte. Sobretudo agora, depois da morte de Stanley Kubrick. Imprescindível!

44.Exorcista, O
tít. orig.- The Exorcist (USA 1973)
real.- William Friedkin

Um dos melhores filmes que o Cinema de Terror jamais nos ofereceu. A eterna luta entre o Bem e o Mal. A Fé e a Ciência. Talvez funcione melhor pelo terror psicológico que transmite do que pelo explícito das situações, mas a verdade é que consegue impressionar sem deixar de ser um óptimo pedaço fílmico. Linda Blair é a adolescente possuída por um terrível demónio. Jason Miller o padre cuja fé vai ser questionada da mais terrífica das formas. E Max Von Sydow o exorcista, o conhecedor dos rituais necessários e cuja crença no Bem parece intransponível. As sequências no quarto da rapariga enquanto decorre o exorcismo propriamente dito, são dignas de figurar em qualquer manual que pretenda mostrar ou ensinar como se faz um Filme de Terror. Tudo o resto, já fez desta obra um clássico. E com toda a justiça.

45.À Beira do Fim
tít. orig.- Soylent Green (USA 1973)
real.- Richard Fleischer

Na Nova York de 2002, há um grave problema de sobre-população. Mais de 40 milhões de pessoas vivem em Manhattan. Por isso, o Governo decide oferecer aos mais idosos uma forma de suicídio feliz: uma espécie de eutanásia, por entre imagens paradisíacas de quando o Mundo era um lugar belo e azul. E ao mesmo tempo, começa a distribuir às populações esfomeadas umas pastilhas verdes, capazes de garantir as proteínas necessárias à sobrevivência. O problema advem então de um polícia (Charlton Heston), que descobre serem as ditas pastilhas fabricadas a partir da carne humana dos tais idosos empurrados para a morte voluntária. É um argumento estranho, esperemos apenas que uma tal realidade nunca nos atinja!

46.Zardoz
tít. orig.- Zardoz (Inglaterra 1973)
real.- John Boorman

A acção do filme situa-se em 2293. 300 anos antes, a Terra sofrera o holocausto. Um grupo de privilegiados, ricos, poderosos e sábios, conseguiu escapar ao cataclismo. O seu objectivo: preservar o conhecimento e os tesouros da civilização, enquanto o Mundo mergulha nas trevas. Mas, naquele universo dividido em 3 castas, a dos eternos, a dos renegados (punidos com a velhice) e a dos apáticos, um grupo de rebeldes vai tentar estabelecer novas leis. É uma obra bizarra, com um dos papéis mais atípicos do grande Sean Connery. Mas é ainda assim um produto deveras original, mesmo dentro dos parâmetros da Ficção Científica.

47.O Fantasma do Paraíso
tít. orig.- Phantom of the Paradise (USA 1974)
real.- Brian De Palma

Estranha mistura entre os universos do Fausto e do Fantasma da Ópera, este é dos filmes mais injustamente esquecidos do seu realizador. Um jovem compositor prepara a sua "cantata". Mas um perverso editor discográfico rouba-lha e manda os capangas deitá-lo ao rio como morto. O regresso do morto-vivo é dado adquirido. E vai conduzir à descoberta de segredos terríveis, que passam pela venda da alma ao Diabo em troca da fama. Há muito tempo que este filme não é mostrado em Portugal. Talvez fosse tempo de o irem recuperando.

48.Festival Rocky de Terror
tít. orig.- The Rocky Horror Picture Show (Inglaterra 1975)
real.- Jim Sharman

Reinventar o mito de Frankenstein pelos parâmetros do musical, com muita dança, canções e sexo à mistura, foi a receita deste "Festival", que se transformou no maior cult-movie de todos os tempos, adorado por uma legião de fanáticos que ainda hoje o revêem quase religiosamente nas sessões da meia-noite, um pouco por todo o Mundo. Temos o casalinho em lua-de-mel que vai parar ao castelo do Barão, que por acaso é transexual. Um monstro e um naipe de assistentes que ensinam aos noivos os prazeres da carne. E muita, muita alegria já que, naquela noite e como se diz no filme "There's a light up there in Frankenstein's place!".

49.O Génio do Mal
tít. orig.- The Omen (USA 1976)
real. Richard Donner

Gregory Peck é o embaixador Americano em Londres. Lee Remick a amantíssima esposa. Juntos, geram uma criancinha adorável que virá a revelar-se filho de Satanás. E, por isso, e com a ajuda de uma perversa babysitter, o miúdo lá vai eliminando todos à sua volta, com mortes bastante horrendas, em busca da vitória do Reino das Trevas. Ficaram célebres os assassínios do padre (empalado por um pára-raios) e do fotógrafo (decapitado por um vidro gigante). O conjunto é uma obra bastante angustiante, que grangeou uma legião de adeptos e serviu de catapulta a uma série de filmes que já vai no opus 4.

50.Carrie
tít. orig.- Carrie (USA 1976)
real.- Brian De Palma

Uma rapariga com poderes paranormais vive escorraçada pelos colegas de turma, que a consideram demasiado estranha. Resta-lhe a companhia de uma mãe ultra-possessiva, daquelas que passam o dia rodeadas de velinhas, em rituais de magia negra. Por isso, quando um dos rapazes mais elegantes do liceu a convida para o baile de finalistas, aceita sem hesitar. Só que o convite não passava de uma partida para a ridicularizar, e por isso a nossa Carrie vai ter que "puxar dos galões" e provocar a maior matança de que havia memória naquelas paragens. Violentíssimo, este filme de Brian de Palma marca o lançamento de um senhor actor, John Travolta. Embora na altura não se desse por nada! E a sequência final constitui um dos maiores "saltos na cadeira" de que há memória.


Filipe Melo Trio


FILIPE MELO TRIO
DEBUT


Deixando por momentos de parte o cinema, e abordando um pouco a vertente musical, deixo aqui uma sugestão que poderá muito bem ser apreciada por muitos dos que nos leem. Recentemente, o produtor e argumentista de "I'll See You in my Dreams", o português Filipe Melo, lançou com o seu trio (composto pelo próprio, por Bruno Santos e por Bernardo Moreira) o seu primeiro álbum, intitulado DEBUT, um belíssimo disco de jazz que este conceituado pianista, um dos músicos mais promissores (se não o mais promissor) portugueses (e de quem quem tenho o prazer de ter como amigo), tem como nova paixão. Atarefado com a produção e realização, juntamente com a sua equipa da Pato Profissional, do seu próximo filme "As Incríveis Aventuras de Dog-Mendonça e Pizzaboy", este belo pedaço de jazz tocado em português merece, concerteza (e se quisermos cair no lugar-comum) fazer parte de uma lista de compras para a época natalícia que se avizinha, ou ainda mais uma compra própria para disfrutar a genialidade do Filipe Melo e do seu trio.


Track list

1- DEBUT (Melo)
2- I GOT RYTHM (Gershwin)
3- ISN'T SHE LOVELY (S. Wonder)
4- PENSATIVA (Clare Fischer)
5- STRICTLY CONFIDENTIAL (Earl R. "Bud" Powell)
6- JINGLES (Wes Montgomery)
7- THAT OLD FEELING (L. Brown, S. Fain)
8- SWEET GEORGIA BROWN (K. Casey, M. Pinkard)
9- JESSICA'S DAY (Quincy Jones)
10-MEMORIES OF YOU (E. Blake, A. Razaf)


1 de dezembro de 2005

"Os 100 Mais do Cinema Fantástico" por António Pascoalinho


60 - 51


51.Suspiria
tít. orig.- Suspiria (Itália 1977)
real.- Dario Argento

Jennifer Connely é a bela estudante Americana que desemboca na Suíça para se inscrever numa Academia de Dança, apenas para descobrir que o edifício é a fachada de um ninho de feiticeiras. As aspirantes a bailarinas vão desaparecendo uma a uma, entre rolos de arame, lesmas que caem do tecto e muitos golpes de facada. O sangue mistura-se com o vermelho das paredes e o pesadelo parece não ter fim. Relembro a morte da enforcada que fica suspensa partindo um vitral e o esventramento do pianista cego pelo fiel cão de guarda, obviamente possuído pelas feiticeiras. O resto é Terror, muito Terror. E do bom!

52.Encontros Imediatos de 3º Grau
tít. orig.- Close Encounters of the Third Kind (USA 1977)
real.- Steven Spielberg

Um grupo de pessoas que presenciara a passagem de discos voadores em diversos pontos do planeta Terra, é de alguma forma mística atraído para um monte onde algo de muito especial se vai passar. Ao lá chegarem, essas pessoas vão encontrar instalada uma base científica, já que um disco voador gigante se aproxima, e a grande vontade da Humanidade é comunicar com os seus ocupantes. O que acaba por conseguir! Relato intenso de uma ficção possível, este filme marca a homenagem de Steven Spielberg a todos os estudiosos de UFO's e fenómenos paranormais. E é um verdadeiro delírio visual, graças aos seus efeitos especiais!

53.Superman- o Filme
tít. orig.- Superman (USA 1978)
real.- Richard Donner

Nos estúdios Ingleses de Shepperton e Pinewood, 3 anos de preparação deram origem às novas aventuras do Homem de Aço. Tímido jornalista do Daily Planet, Clark Kent esconde uma identidade secreta: a de Superman, o eterno vigilante pacifista com super-poderes, que apenas teme uma coisa: a Kriptonita Verde, uma pedra originária do seu planeta natal, Krypton. E não é que o arqui-vilão Lex Luthor está mesmo disposto a usar essa pedra para retirar os poderes a Superman e conquistar o Universo? Christopher Reeve teve aqui o seu primeiro grande papel. E as sequências em que o herói voa sobre a cidade, sem se verem os cabos que o sustentam, ficaram famosas.

54.A Fúria
tít. orig.- The Fury (USA 1978)
real.- Brian De Palma

Mais poderes paranormais na carreira de De Palma, como em Carrie. Desta vez, com adolescentes munidos de telequinésia, que uma associação secreta faz questão em controlar e lançar como armas de guerra. Kirk Douglas é o ex-agente secreto capaz de tudo para proteger o filho (um desses freaks dos super-poderes). John Cassavetes o malvado cabecilha da organização de malfeitores. A batalha vai ser terrível. Vai muito para além das armas tradicionais. E conta com corpos que implodem à custa dos poderes mentais. Uma excelente introdução ao que viria a ser o universo dos Scanners.

55.Halloween- o Regresso do Mal
tít. orig.- Halloween (USA 1978)
real.- John Carpenter

Um filme perfeito que é quase um exercício fílmico, com o medo a ser transmitido pelas filmagens com câmara subjectiva. Na noite de Halloween, um louco regressa a casa, ele que não é menos que a pura reincarnação do Mal. O médico que o tratou pressente o perigo. Mas, na pacata cidade de Haddonfield, ninguém suspeita de nada. Assim sendo, por entre máscaras, abóboras e velinhas, muitos são os que vão sentir na carne o poder do assassino, enquanto a "rainha do horror" Jamie Lee Curtis se junta ao dito médico em busca da sobrevivência. O assassino Michael Myers e a sua máscara branca moldada segundo William Shatner, são ainda hoje verdadeiros pontos de referência do Cinema de Terror.

56.Os Olhos da Montanha
tít. orig.- The Hills Have Eyes (USA 1978)
real.- Wes Craven

A família Carter atravessa de caravana a vastidão deserta do interior Americano, quando é atacada por um grupo de canibais selvagens. O pai é crucificado, regado com petróleo e incendiado. A mãe recebe um tiro no estômago e é deixada para morrer. A filha violada e o seu bébé encaminhado para o caldeirão dos canibais. Para o resto da família Carter, é a luta pela sobrevivência. Com a ajuda dos fiéis Lobos da Alsácia, eles vão recorrer aos mais primários instintos de sobrevivência e tentar inverter os valores. Mas será que conseguem? A angústia mantém-se durante todo o filme.


57.Os Passageiros do Tempo
tít. orig.- Time After Time (USA 1979)
real.- Nicholas Meyer

E se H.G.Wells tivesse mesmo inventado uma máquina do tempo, e partisse nela rumo ao futuro em perseguição de Jack o Estripador, que entretanto se "pisgara" na mesma máquina, rumo ao século XX? Pois é mesmo essa a proposta desta produção Britânica dos finais da década de 70. Malcolm McDowell é o famoso escritor/cientista, espantado com carros e aviões, que vai apaixonar-se por uma moderna Americana. Mary Steenburgen é a beldade que garante a adaptação do herói a uma nova realidade. E David Warner o perverso vilão, disposto a prosseguir no presente os mesmos hediondos crimes do passado. O conjunto, esse, é muitíssimo divertido.

58.Amityville, a Mansão do Diabo
tít. orig.- The Amityville Horror (USA 1979)
real.- Stuart Rosenberg

Talvez o exemplo mais conseguido do Cinema de Terror na sua vertente "Casas Assombradas", este Amityville foi um verdadeiro percursor do género. Uma família muda-se para uma velha mansão de Long Island, supostamente assombrada, apenas para descobrir o significado da palavra "supostamente". Os objectos ganham vida, tudo é ameaçador, e nem mesmo o padre local (Rod Steiger) consegue apresentar explicações plausíveis para o mistério. É um filme com todos os defeitos e virtudes do género, mas a moda deve ter pegado, já que o mesmo deu origem a pelo menos 5 sequelas.

59.Alien, o 8º Passageiro
tít. orig.- Alien (USA 1979)
real.- Ridley Scott

Numa nave espacial à deriva, seguem 6 humanos e um robot. Guiados por um estranho pedido de socorro galáctico, aterram num planeta desconhecido, onde a espécie dominante havia sido morta por uma qualquer outra espécie. Azar dos azares: um membro da raça letal é transportado para a nave humana, vindo a transformar-se no inimigo mais poderoso que a nossa raça alguma vez teve de defrontar. Escuro, com um visual arrepiante e muitos, muitos sustos, este é o filme de terror favorito de uma enorme galeria de fanáticos. Só de olhar para a criatura idealizada por H.R.Giger, percebe-se porquê.

60.Inferno
tít. orig.- Inferno (Itália 1980)
real.- Dario Argento

Uma das obras-primas do mestre do gore Italiano. A segunda parte da trilogia das "Três Mães", sobre as mais poderosas feiticeiras do Mundo, passa-se numa secular mansão de Nova York. Um homem que procura a irmã desaparecida vai encontrar um mundo de Horror. Janelas que decapitam, ratazanas sanguinárias, cadáveres subaquáticos, enfim, a receita habitual de Dario Argento, com vermelhos sangue e azuis carregados, pontuada pela batida rock de Keith Emerson e um grafismo irrepreensível. Sou daqueles que acham que nunca se produziu Terror Europeu com tanta qualidade como em Itália, e este é, com certeza, um dos seus melhores exemplos.