30 de setembro de 2007

"Stardust" por Nuno Reis

Com a actual média de um filme por dia é difícil decidir o que ver. Esta semana por entre filmes de terror, romances e dramas estreou também uma peça do género fantástico que se distingue das demais. Falo de "Stardust", uma comédia que combina romance e acção com a dose certa de magia.

Dunstan era um jovem aventureiro que decidiu atravessar o muro proibido para descobrir o que estaria naquilo que parecia ser um simples campo. Do outro lado encontrou um mundo mágico e uma jovem por quem se apaixona. Depois de uma noite em que tudo pareceu um sonho, irá ser confrontado com a realidade de ter um filho. Dezoito anos depois o jovem Tristan irá seguir as pegadas do pai. Para provar o seu amor pela bela Victoria atravessa o muro. Pretende trazer-lhe uma estrela cadente e com isso conquistar-lhe o coração. Contudo, essa estrela tem uma história própria. Foi derrubada dos céus por um colar que dará ao seu dono o trono de Stormhold e, como se ser perseguida por um príncipe sanguinário não bastasse, o seu coração é a fonte de poder mais procurada pelas bruxas. Mas ela desconhece tudo isso, a única coisa que sabe é que Tristan a quer levar para Inglaterra e que está muito longe de casa.

Neste elenco recheado de nomes sonantes Claire Danes é literalmente a estrela. Pode não ser um nome maior do cinema norte-americano, mas ao longo dos seus quase trinta filmes sempre demonstrou profissionalismo e é em todos os aspectos perfeita para o papel. O outro actor que ficou perfeito no papel foi Robert de Niro. Tem menos de vinte minutos de filme, mas combina o seu lado dramático com o cómico de forma genial. Tão depressa é o pirata mais temido dos ares como o motivo para várias gargalhadas. Os nomes famosos não acabam por aqui. Michelle Pfeiffer volta a ser uma bruxa, o veterano Ian McKellen é o narrador e o lendário Peter O’Toole interpreta o rei moribundo. Posso ainda referir, Sienna Miller, Mark Strong, Rupert Everett, Jason Flemyng e Ricky Gervais. O protagonista Charlie Cox poderia destoar dos restantes por ser praticamente desconhecido. Como o papel de Tristan não é especialmente complicado e estava tão bem acompanhado de mestres na arte da representação as possíveis falhas que tenha cometido passam despercebidas.

Todo o mérito pela criatividade do filme pertence a Neil Gaiman. Além da autoria do livro foi responsável pela escolha do realizador e da argumentista. Para terminar refiro ainda que o filme é bastante contido a nível de efeitos especiais. Utiliza técnicas já bastante conhecidas, não arriscando fazer nada desnecessário. Como comédia satisfaz bastante e o romance, mesmo com todos os lugares-comuns, é comovente. Já há algum tempo que não estreava um filme fantástico que valesse uma ida ao cinema. Finalmente acabou a espera.






Título Original: "Stardust" (EUA, 2007)
Realização: Matthew Vaughn
Argumento: Jane Goldman e Matthew Vaughn, baseados no livro de Neil Gaiman
Intérpretes: Claire Danes, Charlie Cox, Robert de Niro, Michelle Pfeiffer, Mark Strong
Fotografia: Ben Davis
Música: Ilan Eshkeri
Género: Acção/Fantasia/Comédia/Romance
Duração: 110 min.
Sítio Oficial: http://www.stardustmovie.com/

21 de setembro de 2007

Méliès entregues em Lund com brilho e humor




O festival de Lund na Suécia acolheu este ano a cerimónia de entrega dos nove Méliès d’Argent e do Méliês d’Or escolhido de entre os precedentes.

Cidade universitária no sul da Suécia, perto de Malmo e da notável obra de engenharia que é a ponte sobre o Báltico, Lund tem um dos mais interessantes festivais do fantástico com quem o Fantasporto tem uma relação priveligiada. Recorde-se que o Méliès é a marca da Federação Europeia de Festivais de Cinema Fantástico que presta tributo a Georges Méliès como iniciador dos diversos subgéneros que compõem o fantástico contemporâneo.
Nesta gala o vencedor no Fantasporto tinha sido uma original e inovadora visão em animação de Christopher Volckman – "Renaissance" – que por essa razão era um dos potenciais candidatos ao Méliês d’Or. Outro dos filmes em competição por este honroso galardão era "Der Blaue Grenze" do alemão Till Frenzen também exibido com muito sucesso no Fantas de 2006. "Princess" foi o premiado por Sitges. "Ils" de David Moreau tinha ganho Amsterdão. "Ugly Swans" de Konstantin Lopushansky ganhou em Neuchatel, e por curiosidade refira-se que é um filme subsidiado e promovido pela Fundação Gorbachev, Espoo na Finlândia premiou o dinamarquês "How to Get Rid of the Others". Bruxelas escolheu "Dead in Three Days" uma incursão austríaca numa versão mais gore. Leeds escolheu outro dos filmes exibidos no Fantas "Isolation" e o festival de Sabaudia em Itália preferiu o terror em versão pura e dura de "Hell's Fever".

Note-se o predomínio do fantástico da Escandinávia nesta selecção de premiados com três dos filmes e também na curiosidade de nenhum filme espanhol estar presente na selecção final ao contrário do que era habitual. Este predomínio acabou por se revelar decisivo com a vitória de "Princess" um filme controverso, que divide claramente espectadores e crítica, que desperta emoções contraditórias e sob uma violência em Ánime pretende transmitir uma visão moral, de um maniqueísmo redutor. A reacção em Cannes tinha sido muito oposta, a resposta do público em Sitges quando foi anunciado o prémio do encerramento oscilou entre os aplausos e os apupos, mas o público sueco presente na cerimónia mostrou uma refinada educação e aplaudiu o prémio aos seus vizinhos do sul. Como nota adicional a menção especial do júri para "Renaissance", que apesar de anunciada não consta da lista oficial de prémios. A curta-metragem vencedora foi "Sniffer", mas ao que consta das informações que transpiraram do júri esteve eminente a hipótese de não se dar nenhum prémio, dada a qualidade dos filmes não ser brilhante. A Federação Europeia de Festivais do Cinema Fantástico teve a interessante ideia de reunir em DVD as curtas-metragens nomeadas (aquelas que os realizadores autorizaram) o que é uma iniciativa muito positiva para dinamizar e divulgar as curtas-metragens do fantástico, Os interessados neste DVD pode contactar directamente a federação através do site http://melies.org/´.



No programa social, cultural e gastronómico que o festival de Lund proporcionou uma menção para a visita aos estúdios Ystad onde foi rodado "Frostbiten", Grande Prémio do Fantasporto em 2006. O estúdio, numa antiga base militar tem um espaço de museu interactivo que é um exemplo barato, simples e eficaz de motivar públicos de todas as idades para o audiovisual. Tem também os cenários de um dos mais populares produtos do género policial do norte da Europa que são os filmes baseados em Wallender do escritor Henning Mankell que actualmente mora em Moçambique e é casado com umas das filhas de Ingmar Bergman. Este é pois mais um dos motivos para uma viagem ao país do mítico herói Nils Holgerson.

17 de setembro de 2007

Vencedores dos Emmys 2007



Ontem foram anunciados os melhores da televisão americana. Numa época em que as séries abundam e todas se aproximam da genialidade a dificuldade está em distinguir os melhores.
Numa competição em que não se consegue apontar favoritos alguns dos vencedores do ano passado repetiram o sucesso, muitos ficaram sem nada.

Aqui ficam os principais vencedores


Comédia


Melhor Série
“30 Rock”

Melhor Realização
Richard Shepard em “Ulgy Betty”

Melhor Argumento
Greg Daniels em “The office”

Melhor Actor
Ricky Gervais como Andy Millman em “Extras”

Melhor Actriz
America Ferrera como Betty Suarez em “Ugly Betty”

Melhor Actor Secundário
Jeremy Piven como Ari Gold em “Entourage”

Melhor Actriz Secundária
Jaime Pressly como Joy Turner em “My Name is Earl”



Drama


Melhor Série
“The Sopranos”

Melhor Realização
Alan Taylor em “The Sopranos” e “Kennedy and Heidi”

Melhor Argumento
David Chase em “The Sopranos” e “Made In America”

Melhor Actor
James Spader como Alan Shore em “Boston Legal”

Melhor Actriz
Sally Field como Nora Walker em “Brothers & Sisters”

Melhor Actor Secundário
Terry O’Quinn como John Locke em “Lost”

Melhor Actriz Secundária
Katherine Heigl como Izzie Stevens em “Grey´s Anatomy”

4 de setembro de 2007

"Ratatouille" por Nuno Reis

Duvido que a melhor culinária seja a francesa, mas a melhor animação é da Pixar


Não sou fã da culinária francesa, nem sequer da famosa Ratatuille. Ver esse título num filme era por si só uma boa razão para não o ver mas, por ser um Pixar, coloquei o preconceito gastronómico de lado e fui “provar”.

Remy é uma ratazana diferente. Desde cedo teve um apetite especial que o distinguia dos familiares devoradores de lixo. O seu gosto pela boa comida leva-o a experimentar cozinhar. Na sua mente combina sabores para fazer os melhores pratos. Enquanto era tudo na cabeça não houve problemas, mas quando a vontade de cozinhar o leva a invadir uma casa causa a descoberta do ninho e a fuga de toda a família. Remy por querer salvar o livro de receitas do chef Gousteau fica para trás. Sozinho, esfomeado e perdido começa a delirar e a falar com o falecido chef Gousteau que o levará a conhecer Paris - a capital mundial da culinária – e o desajeitado Linguini.
As aventuras de um rato perdido da família e em busca de um sonho já tinham conquistado corações em Fievel, mas esta ratazana irá muito mais além. Os seus delírios gastronómicos e improvisos dão uma nova dimensão ao cinema. Depois da visão e da audição finalmente esta arte conquista o paladar. Legumes, queijos, ervas, todos o género de carnes e peixes, o único pensamento que se consegue ter é “por que razão na haute cuisine servem pratos tão pequenos?”.
Uma perfeita definição das personagens e divisão de tarefas dá uma magnífica consistência à animação. O ser humano fica com a parte cómica e romântica do filme e o rato fica com a cozinha. Os ratos secundários apesar de muito simples – estereótipos de ratos da animação - completam o portfolio. O pai é o velho prudente que desconfia de todos os humanos e o irmão é o rato despreocupado que apenas pensa em comer, mesmo que não saiba o que come.
Adaptando uma citação do filme digo que o trabalho de um crítico é fácil. Uma crítica negativa é fácil de escrever e é apreciada pelos leitores. Mas às vezes do meio do lixo surge um trabalho verdadeiramente genial. Nessa noite já contava ver um grande filme, mas nada tão sublime.
Existem filmes bem mais sentimentais, deixam saudades assim que surgem os créditos finais, e muitas personagens são bastante mais amadas do que este rato. Mas nunca uma animação foi tão perfeita do ponto de vista técnico. Todos os anos a Pixar é aplaudida por algum filme e “Finding Nemo” pode ter sido o filme mais visto e mais lucrativo da história da animação, mas a ter de guardar apenas um para a posteridade seria o conto do rato que acredita que "Qualquer Um Pode Cozinhar".






Título Original: "Ratatouille" (EUA, 2007)
Realização: Brad Bird, Jan Pinkava
Argumento: Brad Bird, jan Pinkava, Jim Capobianco
Intérpretes (vozes): Patton Oswalt, Ian Holm, Lou Romano, Peter O'Toole, Brad Garrett, Janeane Garofalo
Fotografia: Robert Anderson e Sharon Calahan
Música: Michael Giacchino
Género: Animação/Comédia/Família
Duração: 110 min.
Sítio Oficial: http://www.ratatouille.com/