29 de outubro de 2007

Lorca e Dalí - uma relação no cinema


O realizador britânico Paul Morrison ("Solomon and Gaenor" - 1999) está actualmente a preparar um novo filme que aborda uma putativa relação entre o pintor espanhol Salvador Dalí e o seu compatriota e poeta Federico Garcia Lorca.

A película, intitulada "Little Ashes", será rodada em Barcelona com um parco orçamento de dois milhões de euros, e versará essencialmente sobre a intensa amizade entre os artistas espanhois e o cineasta Buñuel, após se conhecerem numa residência de estudantes.

O polémico filme demonstrará uma forte relação entre Dalí e Lorca, a qual "começou como uma amizade, mas com o passar do tempo tornou-se mais íntima, progredindo até um nível mais íntimo", nas palavras da argumentista Philippa Goslett. A relação, "que nunca foi consumada fisicamente" (como avança a escritora), levou a que o poeta tivesse uma relação com uma mulher, debaixo do olhar de Dalí, tendo sido este o princípio do voyeurismo que caracteriza parte da obra do pintor.

Acrescente-se que o papel deste último será interpretado por Robert Pattinson (Cedric Diggory, da saga "Harry Potter"), o espanhol Javiel Beltrán vestirá a pele de Lorca, enquanto que Matthew McNulty irá ser Buñuel.


"Bal-Can-Can" por Nuno Reis

Esta noite, no FEST

Os Balcãs são um cenário comum para filmes sobre guerra, crueldade e genocídio. Com o passar do tempo a indústria cinematográfica local começou a retratar outro lado do país. Este “Bal-Can-Can”, co-produção da Macedónia com Itália e Reino Unido, é provavelmente o melhor exemplo disso. Apesar do título não é um musical, é passado nos Balcãs, mas o Can Can refere-se apenas à alegria e dinâmica com que a história se desenrola.
Trendafil é um macedónio que vive na miséria. Quando é chamado para a guerra foge durante a noite. Nessa viagem atribulada com a família, a sogra morre e, para escaparem aos controlos fronteiriços, enrolam-na num tapete que desaparece. Trendafil irá percorrer toda a dividida Jugoslávia em busca de um tapete. Por sorte consegue a ajuda de Santino, um italiano cujo pai em tempos tinha abandonado o pai de Trendafil e portanto tinha uma dívida familiar a pagar.
A analogia das personagens com as regiões balcânicas, as suas relações instáveis e a barreira linguística dão algum interesse ao filme. A conversa de pés inicial é um alerta para aquilo que deve ser esperado de todo o filme: humor e mortes. Depois tenta ser divertido em situações que não devia e acaba por se perder entre a comédia e o drama nem sempre bem misturados. Para quem conhecer minimamente os povos e a história pós-Tito da região o filme é bom, para os demais parecerá pobre em conteúdo pois a sua riqueza está apenas nas metáforas.





Título Original: "Bal-Can-Can" (Itália, Macedónia, Reino Unido, 2005)
Realização: Darko Mitrevski
Argumento: Darko Mitrevski
Intérpretes: Vlado Jovanovski, Adolfo Margiotta, Zvezda Angelovska
Fotografia: Suki Medencevic
Música: Kiril Dzajkovski
Género: Comédia/Drama/Guerra
Duração: 89 min.
Sítio Oficial:
http://www.partysans.com.mk/movies/Bal-can-can


Arrancou o Fest 2007



Começou ontem o FEST - Festival Internacional de Cinema Jovem de Santa Maria da Feira – que durante uma semana revelará os novos talentos do cinema nacional e potenciará muitos outros.

Dividido pelo Cine-Teatro António Lamoso e pela Biblioteca Municipal, o festival terá diversas secções que englobarão cinema, música, workshops e um encontro internacional de estudantes de cinema.

Todas as informações, incluindo o programa, em http://www.fest.pt/.

Uma triste surpresa é a ausência de "California Dreamin' (Nesfarsit)", que venceu a secção Un Certain Regard de Cannes e tinha sido anunciado para o FEST. A Atalanta não lhes cedeu o filme apesar de em Novembro estar disponível para exibição no festival de Paulo Branco. É de lamentar esta atitude desnecessária, não é por ser exibido a mais 500 pessoas que um grande filme perde o seu valor.

Passatempo antestreia do filme "Uma História de Encantar"





A MAGIA ESTÁ NO AR! Acorde para realidade…
O VERDADEIRO PRÍNCIPE ENCANTADO NÃO USA COLLANTS…

O clássico conto de fadas da Walt Disney cruza-se com a moderna comédia romântica, passada em Nova Iorque, no seu novo filme UMA HISTÓRIA DE ENCANTAR.

UMA HISTÓRIA DE ENCANTAR segue as hilariantes aventuras de uma princesa ‘do passado’, Giselle (AMY ADAMS, As Corridas Loucas de Ricky Bobby), enquanto é expulsa por uma diabólica rainha (SUSAN SARANDON) da sua mágica terra e transportada para os dias de hoje, até à energética cidade de Nova Iorque. Rapidamente, depois do primeiro impacto, a princesa Giselle começa a alterar a sua opinião sobre a vida e o amor depois de conhecer o charmoso e bonitão advogado (PATRICK DEMPSEY, Anatomia de Grey). Pode uma história romântica de amor, que só acontece nos livros, sobreviver ao mundo real?

UMA HISTÓRIA DE ENCANTAR é realizado por Kevin Lima (“Tarzan”) com argumento de Bill Kelly (O Namorado Atómico) e com canções originais da equipa do aclamado compositor Alan Menken e do autor de letras de canções Stephen Schwartz (Pocahontas, O Corcunda de Notre Dame).




NOS CINEMAS A 29 DE NOVEMBRO






O Antestreia e a Lusomundo têm para oferecer convites para a antestreia do filme "Uma História de Encantar". Para tal, tem que responder correctamente à questão que colocamos aqui em baixo.


O actor Patrick Dempsey, papel principal neste filme, participa numa conhecida série televisiva norte-americana. Qual?

Se for um dos vencedores, poderá ver este filme em:


Lisboa: Colombo
Antestreia: Dia 07 de Novembro (Quarta-feira), às 19:30, 10 convites duplos

Porto: NorteShopping
Antestreia: Dia 07 de Novembro (Quarta-feira), às 19h30, 10 convites duplos



Atenção: A recepção de respostas para este passatempo termina no dia 06/11, às 23h59. Não se esqueçam de colocar o nome completo na vossa resposta ou a participação não será validada, enviando-a para antestreia_blog@hotmail.com, indicando ainda a preferência quanto à sala de cinema.


Para levantar o seu convite, deverá apresentar-se com o seu BI ou outro documento identificativo (não serão aceites fotocópias) junto das bilheteiras do cinema, a partir das 17h00 do dia do filme.

Os vencedores serão contactados por email.


28 de outubro de 2007

27 de outubro de 2007

Sitges, um festival fantástico (parte II)

Edições




Se um festival é um momento efémero, as edições em papel ficam para a história. Sitges todos os anos esmera-se em apresentar livros e catálogos de uma impressionante qualidade gráfica, artística e de conteúdo. Para marcar a história dos seus 40 anos a edição de um luxuoso catálogo, de uma profusamente ilustrada memória de cartazes de filmes, uma monografia sobre uma das retrospectivas do festival – American Gothic – e uma obra que vai ficar como referência de estudo e de consulta que é “El Demonio en el Cine". São mais 700 páginas profusamente ilustrada que conta com colaborações de críticos tão reputados quanto José Maria Latorre, Jesus Palácios, Ángel Sala e António Navarro entre outros, que percorrem a história do diabo no cinema, na literatura e na arte. É um livro extraordinariamente bem documentado, que lança pistas inovadoras sobre o tema e faz luz sobre um dos temas recorrentes do fantástico, integrando-o menos na visão demoníaca e religiosa e mais na perspectiva da contra-cultura e da marginalidade. Obrigatório para os estudiosos e os amantes do tema.


O festival em imagens


Dos filmes e do festival o Antestreia fez a cobertura em tempo real pelo que agora se faz uma foto-reportagem dos ambientes.




Uma entrada principesca, rodeada de cartazes apelativos dos filmes



Entre os convidados destacam-se alguns:


Chan Wook Park trouxe “I’m a Cyborg, But That’s Ok"


John Strysik, Mena Suvari e Stuart Gordon foram apresentar “Stuck"


Jon Knautz, Trevor Matthews e Robert “Freddy" Englund trouxeram “Jack Brooks: Monster Slayer“

George Romero recebeu o prémio carreira e apresentou o seu mais recente trabalho, “Diary of the Dead"


Fotos de outros convidados podem ser encontradas no sítio do festival http://www.cinemasitges.com/

25 de outubro de 2007

"Rescue Dawn" por Nuno Reis

Quando todas as atenções se centram na guerra do Iraque e já se pensa numa guerra contra o Irão, quem se recorda que há apenas cinco anos os americanos invadiram o Afeganistão? Esta profusão de guerras nos mais variados pontos do globo faz com que muitas delas sejam esquecidas, mas há uma que será sempre recordada: Vietname. Este filme afasta-se de História Mundial, das causas da guerra e de tudo isso, mostra apenas o factor humano. Em 1965 a guerra tinha acabado de começar. Os EUA bombardeavam alvos estratégicos, os seus soldados eram os mais valentes e o Tenente Dieter Dengler é um desses homens. Numa missão secreta de bombardeamento o avião é atingido por fragmentos da detonação, despenha-se e Dengler é capturado. Tem pela frente longos meses de prisão, tortura e loucura.

Christian Bale está no topo da sua carreira. Depois de uma mão cheia de grandes papeis continua rigoroso nos papeis escolhidos e este Dengler apenas não é o seu melhor porque já há muito que nos deixou acostumados à excelência. Aos restantes destaco a coragem na preparação para o papel, Jeremy Davies e Steve Zahn para darem realismo aos 2 anos de cativeiro devem ter perdido mais peso do que Bale para o soberbo “El Maquinista”. Cenários deslumbrantes, muita tensão e um ligeiro toque de humor completam este filme. Werner Herzog, documentalista por excelência, criou esta ficção baseado num dos seus melhores documentários, “Little Dieter Needs to Fly”.

Dieter Dengler não se considerava um herói. Ele não se alistou para lutar, alistou-se para voar. Ele não esperou pelo exército para ser libertado, decidiu ter esse poder nas próprias mãos. E ele não sobreviveu por motivações políticas ou religiosas, sobreviveu porque não considerava a alternativa agradável. Considero pode ser considerado um grande homem, foi-lhe feita uma merecida homenagem por um realizador magnífico e foi interpretado por um actor igualmente magnífico. O filme resultante é bastante bom e merece ser visto, pensando que por trás daqueles factos está a história verdadeira de um rapaz que um dia sonhou voar.




Título Original: "Rescue Dawn" (EUA, 2006)
Realização: Werner Herzog
Argumento: Werner Herzog
Intérpretes: Christian Bale, Steve Zahn, Jeremy Davies
Fotografia: Peter Zeitlinger
Música: Klaus Badelt
Género: Acção/Drama/Guerra
Duração: 126 min.

24 de outubro de 2007

"Land of the Blind" por Nuno Reis

O ditado diz que em terra de cegos quem tem um olho é rei, mas nesta terra quem tem um olho deve ser cegado. Num país e numa época indefinidas, um governo indiferente ao mundo exterior e ao seu próprio povo resiste à oposição e à mudança. Joe é um administrativo que decide fazer algo mais concreto para bem do seu país. Tenta ingressar no exército, mas o melhor que consegue é tornar-se guarda prisional. Na prisão irá conhecer o lendário Thorne, dramaturgo, prisioneiro político e o cabecilha da revolução que ameaça a ditadura vigente. O convívio com esse homem brilhante irá mostrar a Joe que o mundo em que vive precisa de mudança. Mas até que ponto um governo será melhor do que o outro? Joe mantém-se fiel ao seu país e, mesmo sentindo afinidade por Thorne, entra para uma unidade secreta contra o terrorismo que combate o movimento rebelde. Até que um dia decide que o melhor para o país é acabar com aquele governo. Para o governo deposto o soldado torna-se traidor, para o governo provisório aquele homem é um herói e o símbolo da mudança, para aquele homem o pesadelo ainda nem começou...


Robert Edwards tem uma carreira muita pequena, apenas 3 curtas-metragens. Esta primeira experiência nas longas surpreendeu-me. É uma eficaz sátira à censura, às ditaduras e aos movimentos que as substituem, num cruzamento dos clássicos literários “Fahrenheit 911” e “Animal Farm”. A violência está bem doseada, de forma a causar repulsa sem chocar, e o elenco do filme é extraordinário, duvido que fosse possível escolher melhor. Ralph Fiennes, Donald Sutherland, Tom Hollander, são todos geniais.

Maximilano II é apresentado como um incompetente que se tornou imperador por herança. Depois da morte do pai, o imperador Maximiliano, fica a governar o país, mas a sua única preocupação na realidade é o cinema. Com o desenrolar do filme vamos vendo que esse imperador tem uma personalidade mais complexa do que isso. Todo o filme está recheado de mensagens escondidas, críticas a mentalidades, a governos, e ao povo que apenas assiste.





Título Original: "Land of the Blind" (EUA, 2006)
Realização: Robert Edwards
Argumento: Robert Edwards
Intérpretes: Ralph Fiennes, Donald Sutherland, Tom Hollander, Lara Flynn Boyle
Fotografia: Emmanuel Kadosh
Música: Guy Farley
Género: Drama
Duração: 110 min.

IndieLisboa 2008

Está dado o pontapé de saída para a 5ª edição do Festival de Cinema Independente de Lisboa. O festival está já a receber as inscrições dos candidatos a apresentar os seus filmes nesta nova edição, que visa continuar a dar a ver as obras mais prementes e interessantes da produção cinematográfica mundial actual.

O Festival irá decorrer entre 24 de Abril e 4 de Maio de 2008 e manterá a mesma estrutura de programação: a Competição, para primeiras e segundas obras (curtas ou longas metragens); o Observatório, para obras dos mais relevantes cineastas contemporâneos; o Laboratório, espaço para explorar novos territórios no cinema; a secção de homenagem Herói Independente; o IndieJúnior, secção especificamente destinada aos mais novos; o IndieMusic, em que a música é protagonista nos filmes e concertos apresentados; e o Director’s Cut, palco de reflexão sobre o cinema, a sua história, os seus grandes filmes e realizadores.

Para mais informações, sítio do certame.


Cine'Eco 2007

Decorre esta semana, em Seia, o Cine'Eco - Festival Internacional de Cinema e Vídeo de Ambiente, que já vai na sua 13ª Edição. Este certame, que se prolonga até ao dia 27 deste mês, tem como destaques uma homenagem a Ingmar Bergman e a Michaelangelo Antonioni, a exibição de 59 filmes subordinados à temática ambiental, bem como sessões infanto-juvenis. O vasto júri tem como presidente o conhecido meteorologista Anthímio de Azevedo, e é composto, entre outros, por Rita Ribeiro e Fernando Dacosta.
Hoje é exibida uma das atracções do festival, "The 11th Hour", um documentário ao estilo de "An Inconvenient Truth" com o Leonardo DiCaprio a narrador, e cuja exibição será exclusiva no nosso país. Para mais informações, sítio oficial e blog do festival.

23 de outubro de 2007

Por vezes, a mediocridade enoja-me

William Somerset: [Reading from one of John Doe's journals] "On the subway today, a man came up to me to start a conversation. He made small talk, a lonely man talking about the weather and other things. I tried to be pleasant and accommodating, but my head hurt from his banality. I almost didn't notice it had happened, but I suddenly threw up all over him. He was not pleased, and I couldn't stop laughing".

in Se7en (David Fincher, 1995)


22 de outubro de 2007

"The Brave One" por Ricardo Clara

E o 11 de Setembro está cada vez mais presente

Que Neil Jordan é um homem dos afectos e das paixões, não é surpresa nenhuma. Mas que agora se apaixonou pela vingança e pela paranóia, isso sim é um dado novo. Ou não fosse Nova Iorque estar ainda marcada a ferro e fogo com a insegurança e com um constante espreitar pelo canto do olho por cima do ombro. Esse medo, tão presente na sociedade moderna, respira-se em cada passo de Erica Bain (Jodie Foster), num "The Brave One" / "A Estranha em Mim" carregado de metáforas e de simbolismo.

Bain está perdidamente apaixonada, num amor que se sente e se cola à pele. Ao passear com David Kirmani (Naveen Andrews - "Lost") em Central Park, é atacada por um grupo de marginais que a espancam e o matam. Em coma durante 3 semanas, alheia-se do mundo, da vida e do seu sentido. Quando desperta, nada está igual. Sozinha, sabe por impulso que tem de comprar uma arma para se sentir segura. E da compra ao uso vão instantes, pois perde-se numa cidade suja e escura (Philippe Rousselot mostra-nos pela sua lente um versão impura de uma urbe que nos habituamos a ver com luz e cor) e torna-se numa vigilante dos tempos actuais, expurgando as suas perdas ao resgatar almas pela lei da bala.

E é neste ambiente onde se cruzam inúmeras metáforas, onde muitas vezes Bain é uma versão humana de Nova Iorque, onde face a uma perda ergue armas e vingança para fazer justiça pelas próprias mãos.
Jodie Foster é, mais uma vez, uma referência incontornável. Assina mais uma brilhante interpretação, onde cada respirar é acompanhado pelo do espectador, sempre enquadrada em enormes planos fechados, numa manipulação constantes dos sentidos, não fossem amiude esses planos assentes em cores esbatidas, tal como está a cidade e aqueles que a habitam.
Não é, definitivamente, uma vigilante como as que víamos nas películas dos anos 70. E não é, porque Bain embriaga-se na possibilidade de tomar o papel de uma qualquer divindade que pode roubar vidas a seu contento, mas fá-lo imbuída do mesmo temor que sente por ser nova-iorquina e por lá viver. Tem nas suas mãos o fado dos que fazem da metrópole um lugar inseguro e sujo, mas não sabe se o deve usar - nem sabe muito bem como o fazer.

É, claro está, um dos bons filmes do ano, mas não um dos grandes. Peca, por vezes, por uma repetição argumentativa que chega a ser maçadora - a espaços - mas que se justifica plenamente no final. E sem esquecer a interpretação de Terrence Howard, no papel de Mercer, um interessante contraponto a Foster, até por ser um homem também atormentado pela cidade. Uma poderosa sátira à sociedade americana, ao medo e à insegurança, um decalque da paranóia e, talvez, uma via para Jodie vencer o seu terceiro Óscar.

Título Original: "The Brave One" (EUA, 2007)
Realização: Neil Jordan
Argumento: Roderick Taylor e Bruce A. Taylor
Intérpretes: Jodie Foster, Terrence Howard e Mary Steenburgen
Fotografia: Philippe Rousselot
Música: Dario Marianelli
Género: Crime / Drama / Thriller
Duração: 119 min.
Sítio Oficial: http://http://thebraveone.warnerbros.com

21 de outubro de 2007

Novamente Jericho


Já por algumas vezes falamos de "Jericho" (por exemplo, aqui e aqui), uma belíssima série norte-americana que muito surpreendeu o vosso escriba. Esta, foi suspensa no climax e aparentemente (mais propriamente em Janeiro de 2008) vai voltar ao activo.

Ora a SIC, e muito bem, decidiu começar a emitir hoje a história de estranhas explosões em terras do Tio Sam. Mas, traduzir o título para "Jericó" é de uma mau gosto tremendo. Será que quem teve a ideia não sabe que a série não tem ligações bíblicas?


Sitges, um festival fantástico (parte I)


De todos os festivais do fantástico que existem na Europa, e são mais de 30, o festival de Sitges ocupa um lugar único. Por um lado é o mais antigo – completou quarenta anos este ano – como é o que tem uma estrutura e uma diversidade de secções que o colocam bem acima da concorrência. Este ano não foi excepção e o Antestreia esteve presente com dois enviados sendo o único orgão de empresa português a dar o destaque que o festival exige.
Os quarenta anos do festival decorreram sob a égide dos 25 anos de "Blade Runner". Para assinalar a efeméride Douglas Trumbull, Rutger Hauer, Syd Mead e Charles de Lauzirika estiveram presentes e animaram classes magistrais. A culminar o aniversário a exibição da cópia final, e espera-se que definitiva, de "Blade Runner".

Comecemos pelo filme. Seria bom relembrar que na primeira versão Ridley Scott fora despedido da produção e que por isso o resultado final correspondia aos desejos dos produtores, mas não à vontade de Scott. Posteriormente tinha saído uma cópia avalizada por Ridley Scott e entitulada "Director’s Cut" onde foram introduzidos apenas alguns minutos extra. O mais fascinante de "Blade Runner" é a sua incrível actualidade, como se o tempo não tivesse passado. E ver mais de mil pessoas numa sessão matinal de semana a apreciar o filme é prova que os filmes de culto são eternos. A Classe Magistral de Douglas Trumbull permitiu desvendar alguns dos impressionantes efeitos e a forma barata e engenhosa como foram produzidos, misturando inclusivé modelos em formato reduzido e edifícios reais e reciclando protótipos e técnicas de "2001" e "Close Encounters of Third Kind". Com a curiosidade de as chamas dessa Los Angeles futurista serem usadas por Antonioni em "Zabriskie Point". Foi o momento do mais fantástico cinematográfico, uma aula viva de cinema, só comparável a Rutger Hauer a recitar o monólogo final do Replicante.




Os convidados


Sitges tem a enorme vantagem de estar perto de Barcelona não é pois difícil convencer as pessoas relevantes do cinema a deslocarem-se ao festival. Este ano a lista de convidados como sempre foi agrado geral. Além dos cineastas espanhóis que marcam presença obrigatória – Jaume Balagueró, Paco Plaza, J. A. Baiona, entre muitos da nova geração e também os consagrados como Vicente Aranda – quase todos os realizadores dos filmes em competição estiveram a promover os seus filmes com concorridas conferências de imprensa e photocalls. A destoar desta onda festiva apenas os antipáticos representantes de “Stardust” que recusaram todas as obrigações inerentes a um convite para um festival de cinema. Para dar mais cor e animação nada melhor que actrizes na moda como Sydney Poitier, Zoe Bell, Mena Suvari que com os seus encantos e simpatia conquistaram o público e os críticos como as fotos abaixo documentam.




Sydney Poitier e Zoe Bell foram o ponto alto do segundo núcleo em que Sitges este ano se estruturou – a homenagem a “Grindhouse” – não só como a exibição do filme na versão americana e que foi complementado com as homenagens a dois cineastas italianos a quem Tarantino não regateia elogios: Enzo G. Castellari e Ruggero Deodato e a apresentação em competição do divertido “Sukiyaki Western Django”, uma surpreendente incursão de Takashi Miike nos western spaghetti e dessa figura mítica que é Franco Nero.

20 de outubro de 2007

"The Kingdom" por António Reis

The Kingdom – o ocidente já perdeu a guerra

O local é Arizona como cenário de deserto para recriar Riade. Com excepção de um hotel e de alguns exteriores filmados nos Emiratos Árabes Unidos, tudo é genuinamente falso, porque o Reino nunca autorizaria um filme tão crítico do seu regime. Comecemos pelo início. Em dois minutos num genérico de espantoso design gráfico passa-se em revista a história de origem, desenvolvimento, apogeu e crises, que fizeram do deserto inóspito de Lawrence da Arábia no mais rico manancial de ouro negro.
Na tradição do melhor cinema liberal de Hollywood “O Reino” retoma uma das mais embaraçosas facetas da política externa norte-americana – a aliança contranatura de uma democracia ocidental com um reino corrupto, autocrático e fundamentalista que é a Arábia Saudita dos nossos dias. O núcleo da história analisa os atentados contra interesses e cidadãos americanos no reino, a meticulosa preparação dos terroristas e a resposta de agentes do FBI que vão a Riade tentar descobrir o mentor do espectacular atentado, um fantasma chamado Abu Hazam a quem os sauditas em surdina consideram um Robin dos Bosques que quer libertar as areias muçulmanas dos opressores norte-americanos. Ainda que oscile entre a vida privada dos agentes e a acção no terreno e não se perceba o interesse narrativo ou de definição psicológica dos personagens que esses traços familiares pretendem revelar, ainda que o filme hesite na óbvia constatação de que a Arábia Saudita está em estado de guerra, ainda que o realizador se deixe extasiar pelo cenário de guerra transformando agentes do FBI em autêntico comandos de elite em combate, “O Reino” tem manifestos motivos de interesse que o tornam um dos filmes mais relevantes da temporada de outono. Além do genérico já citado, que é por si só uma obra prima em curta-metragem, a filmagem em câmara à mão dá ao filme uma vivacidade estonteante e um realismo quase documental.

Para finalizar, como cinema é um grande espectáculo. Como reflexão é perturbador. Os terroristas têm valores mais sólidos e espalham-se pela população com a velocidade dos ventos do deserto. A guerra para o ocidente está perdida. Abu Hazam pode morrer que não faltam herdeiros a reclamar a sua herança. Seria bom que se apostasse nas energias alternativas porque o Reino do petróleo está perto do fim.






Título Original: "The Kingdom" (EUA, 2007)
Realização: Peter Berg
Argumento: Matthew Michael Carnahan
Intérpretes: Jamie Foxx, Jennifer Garner, Chris Cooper, Jeremy Piven
Fotografia: Mauro Fiore
Música: Danny Elfman
Género: Acção/Drama/Thriller
Duração: 110 min.
Sítio Oficial: http://www.thekingdommovie.com/

18 de outubro de 2007

Para saber novidades do FEST 2007...


...nada como dar a palavra ao seu director, numa antevisão deste certame que está quase a começar:

"Qual é a relação entre a estrela do cinema Tom Waits, Todd Hunter, o vencedor da Câmara de Ouro em Cannes - JellyFish, o vencedor do Prémio de melhor filme em Locarno – Fraulein, e Fujiya and Miyagi, Ladytron Djs ou Sebastian? A resposta é simples: são nomes que compõem o ímpar e ousado cartaz do FEST, Festival Internacional de Cinema Jovem, que decorre de 28 de Outubro a 4 de Novembro de 2007, em Santa Maria da Feira.

O Festival Internacional de Cinema Jovem de Santa Maria da Feira apresenta-se este ano com uma programação mais arrojada e com uma solidez que advém do reconhecimento público das edições anteriores. Com uma nova localização, em Santa Maria da Feira, o FEST 2007 apresenta dois grandes eventos em simultâneo, aumentando a diversidade cultural da iniciativa: o Festival de Cinema e o FEST Sound que vai oferecer o melhor da música para consumir sem moderação.

O Festival de Cinema, o centro de toda a definição artística do evento, conta com uma programação bastante completa e que responde a diferentes tipos de interesses dos espectadores. Para além das sessões relativas a grandes obras cinematográficas como por exemplo o filme de abertura “Wristcutters: A Love Story”existe toda uma panóplia de filmes a concurso em cinco categorias: Ficção, Animação, Experimental, Documentário e Videoclip.

Com mais de 1160 filmes inscritos para o concurso, 79 obras foram seleccionadas e mais uma vez a participação portuguesa é expressiva com mais de 20% do total de filmes em competição.

Os trabalhos a concurso serão avaliados por um Júri rigoroso e com nomes sonantes no panorama cultural nacional e internacional, como o realizador de “Alice” - Marco Martins e Todd Hunter, com mais de 115 prémios ganhos na área do cinema e Director de um dos mais antigos festivais do mundo, o Worldfest Houston.

A par com o cinema, a iniciativa vai contar com o FEST SOUND, que vai fazer sentir-se sobretudo na agitação do corpo e da mente de todos os adeptos de música de qualidade, seja no estilo mais electrónico ou de cariz mais independente e até mesmo Chill Out. A partir das 23H00 a música vai, então, invadir Santa Maria da Feira e as noites serão certamente memoráveis.

Com a presença de nomes conceituados e outros emergentes no panorama musical nacional e internacional, o FEST SOUND vai ser comandado por mais de 20 actuações. Muitas vibrações vão contagiar e agitar os presentes, ou não estivessem no programa nomes como Ladytron Djs, Sebastian, Niño y Pistola, Fujiya and Miyagi, F.E.V.E.R, Blablabla Djs Chill Out Sessions, entre muitos outros.

O Festival Internacional de Cinema Jovem vai ser ainda palco para o Encontro Internacional de estudantes de cinema, evento único a nível mundial.

O FEST pretende ser um espaço que ofereça aos seus participantes diversos câmbios de informação na área cinematográfica e de produção de imagem em movimento. Este encontro vai contar com a presença de comitivas de diversas escolas e entusiastas portugueses e estrangeiros em 15 acções de formação, entre oficinas, masterclasses e conferências.

A edição global do FEST e o seu cartaz é já considerado como um dos melhores dos últimos anos em Portugal e quer marcar “uma nova geração de eventos culturais no nosso país, com uma clara aposta na oferta cultural de qualidade para o grande público. No FEST vamos colocar o espectador no centro do cinema e da música. Eles são os nossos protagonistas, e esperamos que sejam mais de 15 mil!”, assegura o Director do Festival Filipe Pereira.

Com uma nova vida e de energia triplicada, o FEST tem, então, como principal objectivo desenvolver de forma sustentada o cinema em geral e o cinema português em particular, potenciando e promovendo novos e jovens valores nesta área, ao mesmo tempo que coloca em actuação grandes nomes da música nacional e internacional."

17 de outubro de 2007

Mariza no Late Show

A já internacional Mariza actuou, no passado dia 11, no "Late Show with David Letterman", programa da norte-americana CBS. Foi a primeira vez que um artista português participou no Late Show em 25 anos de história, e logo com uma audiência de 30 milhões de pessoas, só nos EUA, sendo prova disso o facto da fadista ter sido já abordada na rua.
David Letterman é um reputado apresentador de talk shows e um dos percursores deste estilo de programas televisivos, com uma reputação imensa quer dentro quer fora das fronteiras dos states.
Deixamos aqui o vídeo do YouTube com a sua actuação, que levou Letterman a terminar com um "Oh my God! Incredible!"



P.S. Então, quer dizer que a cultura leva o nome de Portugal a muitas pessoas. Será? Não, devo estar enganado.

14 de outubro de 2007

"1408" por Ricardo Clara

Confesso que não sou particularmente apreciador de Stephen King, quer da escrita que da maioria das histórias por ele idealizadas (de todas, e de memória, destaco o conto que dá origem ao "Shawshank Redemption" de Frank Darabont, apesar de não o ter lido, a fita que dessa adaptação surge é uma pérola cinematográfica).

Em "1408", Mike Enslin (John Cusack) é um escritor frustado, cuja ocupação é escrever livros e crónicas de hóteis assombrados, depois de lá passar uma noite. Enslin é uma espécie de caça-fantasmas de gravador em punho: usa maquinetas com as quais procura descobrir actividade paranormal nos quartos, aconselhando depois os seus leitores, numa "escala de medo", a visitar os aposentos.
Estranhamente, recebe um dia um postal, no seu apartado, sobre um hotel - o Dolphin Hotel em Nova Iorque - e com um conselho: "não fiques no 1408". Enslin tenta, claro está, marcar o quarto. Mas sem sucesso. É então que recebe a ajuda de um periodista nova-iorquino Sam Farrel (Tony Shalhoub), que lhe consegue arranjar uma noite no dito local.
Lá chegado, conhece o gerente do Dolphin, Gerald Olin (Samuel L. Jackson), o qual o aborda com um conselho e um pedido: o quarto personifica o mal, e Enslin não pode lá ficar. Espicaçado por Olin, o escritor recebe das mãos deste um dossier onde constam dezenas de mortes às "mãos" do 1408, e decide subir ao 14º andar para lá pernoitar.
Será que existe mesmo algo lá?

Céptico à partida para este filme, confesso que saí de lá surpreendido. "1408", do sueco Mikael Håfström ("Ondskan", 2003), é uma espiral de loucura que até funciona bastante bem. Claro, uma película que decorre quase inteiramente dentro de um quarto corre o risco de se tornar aborrecida - e esta torna-se. Mas vive de dois twists finais, sendo que no primeiro me levaram a vociferar (interiormente) para uma repetição do que já vimos dezenas de vezes. Mas a fita recebe uma nova volta que contribui para a entrega à demência total, onde sequências existem em que se assistem a fases de experimentalismo muito interessantes. Não assusta, mas enerva - e é este o condão princial de "1408". Nós próprios ficamos fartos de tentar fugir, e foi dos poucos filmes nos últimos tempos onde (e a última vez que senti isso foi no magnífico "The Descent" de Neil Marshall) me senti claustrofóbico, fruto de uma pressão constante no ritmo da história e numa boa interpretação de Cusack.
Destaque para a iluminação, bem como para a participação ridícula de Shalhoub, que merecia mais tempo no filme. Uma história de terror razoável, com um tempero muito positivo que só os europeus têm conseguido imprimir na realização.


Título Original: "1408" (EUA, 2007)
Realização: Mikael Håfström
Argumento: Matt Greenberg e Stephen King
Intérpretes: John Cusack, Samuel L. Jackson e Mary McCormack
Fotografia: Benoît Delhomme
Música: Gabriel Yared
Género: Terror
Duração: 94 min.
Sítio Oficial: http://www.1408-themovie.com

13 de outubro de 2007

Admirável política velha

Chegam com cada vez maior frequência as notícias relativas ao bizarro contrato celebrado entre a Câmara Municipal do Porto e a Todos ao Palco, empresa de Filipe La Féria que gere o Teatro Municipal Rivoli.
Após a decisão do Tribunal Administrativo e Fiscal do Porto ter dado razão à qualificação de bizarro ao "concurso" que decidiu a atribuição da referida sala ao encenador, sabemos agora, com cada vez maior insistência, que aquilo que foi dito e firmado não passa, por agora, de uma fachada para o que se revelou ser a oferenda de um equipamento municipal a um privado sem contrapartidas algumas. Com efeito, da estranha cruz publicitária que mora na Praça D. João I, até aos "muppis" e restantes iniciativas publicitárias, passando pelas receitas de bilheteira, os cofres autárquicos não viram absolutamente nada desse "contrato" de acolhimento, que pelos vistos, de acolhimento tem os cânones de solidariedade, como quem acolhe um sem abrigo e lhe oferece um pão e uma sopa quente.
Numa cidade esvaziada de pessoas e de cultura, os poucos activos que ainda funcionam, em especial no centro da cidade, são dados de mão beijada a um Jesus Cristo Superstar e, claro, à Maria e o gang de crianças que cantam uma Música no Coração. Por cá, não dá vontade de cantar e, para quem for religioso, só resta mesmo é rezar.

Sitges 2007 - Palmarés do Festival







Os premiados


Foram anunciados há instantes os premiados do festival.
No fantástico foram os seguintes vencedores.


Melhor Filme
"The Fall" de Tarsem Singh

Melhor Realizador
Jaume Balagueró e Paco Plaza por "Rec"

Melhor Actriz
Manuela Velasco por "Rec"

Melhor Actor
Sam Rockwell "Joshua"

Melhor Argumento
Chung Seo–Kyung , Park Chan-Wook por "I’m a Cyborg but that’s Ok"

Melhor Fotografia
Toyomichi Kurita por "Sukiyaki Western Django"

Melhor Desenho de Produção
Takashi Sasaki per Sukiyaki Western Django

Melhores Efeitos de Maquilhagem
"À L'Intérieur"

Melhores Efeitos Especiais
"Mushishi"

Melhor Banda Sonora Original
Kuniaki Haishima por "Mushishi"

Melhor Curta-metragem
"Saliva" de Esmir Filho


Entre os restantes prémios destaco os Méliès d'Argent entregues à longa "A L'Interieur" e à curta "Die Grosse Wekstatt". "Rec" ganhou o prémio do público e o da crítica.

Diário de Sitges 2007





Dia 12 de Outubro


À medida que o festival se aproxima do fim os filmes para competição são cada vez mais imperdíveis. Chan-Wook Park apresenta uma comédia entitulada "I'm a Cyborg, But That Ok" sobre uma rapariga que se acha uma ciborgue e a sua paixão por um homem que acha que consegue roubar almas. O realizador da poderosa trilogia da vingança experimenta o género cómico. As outras estrelas da noite foram a prequela de "Halloween" e a estreia europeia de "Grindhouse".

12 de outubro de 2007

Diário de Sitges 2007





Dia 11 de Outubro



Neste dia muitos dos grandes do cinema mundial foram exibidos. "Slipstream" marca um regresso de Anthony Hopkins à realização. Neste filme vemos o duelo de um argumentista entre a sua vida e o guião que está a escrever. Filme de difícil compreensão que faz lembrar "8 1/2" de Fellini. Além de realizar, Hopkins também escreveu, musicou e interpretou. Entre os actores vemos Michael Clarke Duncan, Christian Slater e Kevin McCarthy entre muitos outros.
O segundo grande do cinema exibido neste dia foi "Redacted" de Brian De Palma. O mais recente filme do realizador mostra os crimes de guerra, o comportamento dos soldados e dos seus superiores e especialmente o impacto dos media e da tecnologia. Já demasiada gente falou da guerra, aqui vemos o outro caminho a seguir: a divulgação em massa das atrocidades através da Internet, isenta de medos e de censuras. Se viesse de um novo realizador seria magnífico, para ser um De Palma pareceu pouco.

Na matinada (nome dado à sessão da uma da manhã) o público delirou com o mais recente trabalho de Miike. O seu "Sukiyaki Western Django" é um western spaghetti japonês, algo que se perde entre os cowboys de Leone e os samurais de Kurosawa. É uma comédia brilhantemente escrita, que mantém o público a rir e que conta ainda com uma preciosa participação de Tarantino.

Do cinema espanhol vi mais dois exemplos. "El Ultimo de los Justos" que retoma o tema das seitas secretas e das perseguições religiosas. Os 36 homens justos existem para manter o equilíbrio no mundo. Teo é perseguido por ter nascido no dia e local em que se presume que nasceu o último justo vivo. A história tem muitas falhas, talvez funcione para entretenimento simples. Conta com a participação de Goya Toledo ("Amores Perros"), Ana Claudia Talancón (a Amélia da versão mexicana de "O Crime do Padre Amaro") e o veterano Federico Luppi que também participou no já referido "La Habitación de Fermat". O outro exemplo foi "Cronocrimenes", um filme divertido sobre viagens no tempo e como aquilo que fazemos para não estragar o passado nos estraga o futuro. Quase que um "12 Monkeys" em versão caseira, que afecta apenas 4 pessoas e se resume a uma hora do dia.

11 de outubro de 2007

Diário de Sitges 2007





Dia 10 de Outubro



Mais um dia, mais meia dúzia de filmes exibidos. "Stuck" de Stuart Gordon apresentou Mena Suvari ao público do fantástico. A estrela de filmes tão distintos como "American Beauty" e "American Pie" interpreta uma enfermeira que consegue num só dia passar da felicidade plena para o terror. Num regresso a casa atropela um vagabundo que, por medo do que isso fará à carreira, não retira do vidro. Comédia do absurdo que agradará aos espectadores da uma da manhã. Na sessão seguinte os espanhóis puderam conhecer "Mr. Brooks". Já estreado em Portugal, aqui agradou a todos os espectadores pela sua subtileza e genialidade.
Na tarde voltou o terror tradicional com "Km. 31" que combina fantasmas do tempo de colonização do México com muitos acidentes de carro. Filme interessante que, pelo que diz o produtor, bateu nas bilheteiras mexicanas êxitos de Inarritu e Del Toro.
Em seguida outro belo filme de terror, "A L`Interieur". Esta película francesa narra os azares de uma grávida no Natal e em vésperas de dar â luz. Muito sangue e mortes para quase todos os gostos fizeram a plateia pular e rir.
"Teeth" é mais uma comédia adolescente americana que parodia o mito da virgindade recorrendo ao clássico da mitologia da vagina dentada, próxima inversão soft de "The Killer Condom" made in Troma. Um filme falsamente moral que apesar de ridicularizar as ideias ultra-conservadoras se revela uma aposta inconsequente.

10 de outubro de 2007

Diário de Sitges 2007





Dia 9 de Outubro



O momento grande deste dia foi a exibição de "Blade Runner: The Final Cut". o filme apesar dos seus 25 anos parece ter sido acabado de fazer e, se estivesse na competição, voltaria a ganhar. Mais do que imortal o filme está agora rejuvenescido. Todos os erros detectados ao longo destes anos foram corrigidos e visualmente ficou perfeito.
Outra das principais sugestões do dia era "First Snow". Este drama com Guy Pearce e Piper Perabo não convenceu apesar do interessante tema apresentado: como o conhecimento do futuro pode estragar o nosso presente.
Na noite "Mushishi" de Katsuhiro Ôtomo (o realizador de "Akira") era a proposta mais apelativa. O longo filme foi muito fraco e se não fosse a homenagem a Robert Englund na sessão a seguir a noite estaria estragada.

9 de outubro de 2007

Diário de Sitges 2007





Dia 8 de Outubro



Num dia em que os filmes desiludiram a aula foi magnífica. Em Sitges todos os dias algum dos maiores nomes do cinema discursa sobre o seu trabalho, técnica ou inspiraçã. Depois de Alex Proyas e George Romero ontem calhou a vez a Douglas Trumbull e foi simplesmente magnífico. O criador dos efeitos especiais de "Blade Runner" mostrou as técnicas e ferramentas utilizadas na criação desse filme de culto. Ao longo de quase duas horas vimos bocados seleccionados do making off, fotos "behind the scenes" e os instrumentos e miniaturas construidos de propósito. Foi quase como assitir a História a ser feita!

Quanto aos filmes que se seguiram foi uma grande desilusão... O mais recente de Woody Allen - "Cassandra's Dream" - é dos mais fracos do realizador. Tem bons actores, um realizador excelente e uma moralidade bem forte, mas repete ingredientes de "Scoop" e falta-lhe consistência. Exigia-se mais.

Em "Joshua" assistimos ao desmoronar de uma família com a chegada do segundo filho. A mãe fica deprimida, o pai com problemas no emprego, o primogénito que todos consideram uma criança modelo dá mais problemas do que aparenta e o bebé chora incessantemente. O filme vai enrolando, com um ou outro detalhe psicológico, e o final é bem vindo.
Em "Waz" vemos mais um policial de terror que tenta seguir o exemplo de clássicos. Numa história fraca com detalhes estranhos (uma avó a telefonar a meio da noite para perguntar como se usa o video) destaca-se o elenco. Stellan Skarsgard e Melissa George enfrentam Selma Blair e Sally Hawkins num papel bem menos sedutor do que no filme de Allen.

Para hoje o prato forte é a antestreia de "Blade Runner: The Final Cut".

8 de outubro de 2007

Diário de Sitges 2007, terceiro dia



Dia 7 de Outubro



Este foi um dia para todos os gostos.

"Hot Fuzz" trouxe-nos um novo género de humor britânico. Um polícia demasiado qualificado para as suas funções é enviado para a vila perfeita, onde não há crimes e todos se dão bem. Infelizmente com a chegada desse novo agente os acidentes começam a multiplicar-se e várias mortes acontecem. Um filme muito divertido e sem pretensões de ser mais do que isso.

Em "The Devil's Chair" o tema do demónio é visto pela perspectiva de uma das suas vítimas. Filme desconexo, confuso e que na conversão para 35mm ficou com o som muito maltratado. Quem mata as vítimas no início do filme de terror não sabe o que faz. O outro mau filme do dia foi "Bug" do mestre Friedkin. A obra não se conseguiu afastar da peça teatral em que se inspirou e tirando um ou outro momento não trouxe nada de novo à arte. Como já estreou em Portugal, no meu regresso farei uma análise mais completa.

Na noite foi exibido mais um êxito do cinema local. "La habitación de Fermat" recupera a intensidade dos ambiente fechados de "El Método" (esteve este ano no Fantas), "Saw", ou do mítico "Cube", com um leve toque de lógica matemática. Os problemas apresentados são fáceis e conhecidos - dois deles estavam no meu livro de nono ano - mas mesmo quem não os tencione resolver vai achar interessante a forma como são colocados. É uma combinação de vários ingredientes clássicos do cinema de terror.

A sessão nocturna com "An American Crime" era quase um intruso na Secção fantástica. Narra as desaventuras de uma adolescente que para proteger a irmã se sujeita a torturas impensáveis. Ficamos incrédulos perante a passividade/participação de todos os que estavam ao corrente, especialmente por ser dramatização de factos reais. Magníficas interpretações da jovem Ellen Page (Kitty na saga "X-Men", a protagonista de "Hard Candy") e da veterana Catherine Keener que ultimamente tem tido muitos bons papeis.

7 de outubro de 2007

Diário de Sitges, segundo dia




Dia 6 de Outubro



Ontem o dia foi um pouco mais fraco do que o primeiro. Romero apresentou o seu mais recente filme - "Diary of the Dead" - e recebeu o muito merecido prémio de carreira. Apesar de o clássico "Night of the Living Dead" estar em vésperas do quadragésimo aniversário o realizador ainda se mantém activo.
No resto do dia os filmes não merecem destaque especial. "The Fall" tem um história cativante, uma criança com um papel divertido e muitas referências à arte cinematográfica, mas peca por ser demasiado longo e por exagerar na diversidade de cenários. O realizador diz que passou 11 anos à procura das localizaç%atilde;es perfeitas e que filmou em 21 locais, poderia ter feito em 2 ou 3 se usasse cenários. O público no geral gostou, eu não.
Na antestreia seguinte, "Aparecidos", o cinema espanhol (co-produção com a Argentina) volta a mostrar os seus trunfos na terror, entrando um pouco pela série Z.
Na última sessão pré-maratonas "Rogue" contou a história de um grupo de turistas presos num banco de areia e na ementa de um gigantesco crocodilo. Receita já demasiado utilizada que apenas se distingue por ter dois actores conhecidos - Michael Vartan (da série "Alias") e Radha Mitchell (de "Melinda e Melinda" e "Silent Hill") - e rapidamente pode ser esquecido.

6 de outubro de 2007

Diário de Sitges 2007

Neste momento decorre em Espanha aquele que se assume como maior festival do fantástico do mundo. Pode parecer exagerado, mas pretendo mostrar aquilo que torna Sitges tão grande e único. Este ano estarei do início ao fim nesta pequena vila nos arredores de Barcelona a relatar o que podemos esperar do cinema fantástico.



Dia 5 de Outubro


Os pratos fortes pareciam desilusães... James Wan, o génio que criou "Saw", trazia-nos a história de um boneco de ventríloquo. isso pode ter interesse para uma curta, mas hora e meia a ver um boneco mexer a boca parece exagerado. Wan é um génio no terror de thriller, seria capaz de pegar no sobrenatural e fazer arte? Conseguiu. A história não se enrola, o terror nunca abranda e o mistério permanece. O final, como sempre, surpreende. Um início brutal para o festival e que se não fosse na secção premiére pareceria ditar o vencedor muito cedo. Este ano Wan tem também um thriller pronto a estrear.


A sessão seguinte tinha dois dos nomes maiores do cinema fantástico. A Filmax anunciou que Jaume Balagueró e Paco Plaza estavam a iniciar um novo género cinema de terror espanhol. Estava com medo por ser um filme filmado com apenas uma câmara. Esse novo cinema espanhol seria na onda de "Blair Witch"? Mais uma vez fui agradavelmente assustado. O início de "REC" pode ser desmotivador mas é propositado. O ritmo do filme segue a vida real e a adrenalina dos espectadores sobe tão depressa como a das personagens. O filme é um novo "Resident Evil" com um toque português.

Na sessão da noite a estrela era "Stardust". Este filme recém-estreado nas salas portuguesas aqui ainda está em antestreia.

Nos poucos momentos livres ainda deu para ver alguns dos deuses do cinema: para já Alex Proyas e George Romero. Nos próximos dias ainda vai melhorar e o Antestreia cá estará para vos informar.