24 de janeiro de 2008

"Daqui P'rá Frente" por Nuno Reis

Catarina Ruivo marcou o seu lugar no cinema português com "André Valente". Infelizmente para uma realizadora em início de carreira fazer um filme tão bom é demasiado arriscado, coloca a fasquia demasiado alta.

"Daqui P’rá Frente" começa de forma enganadora, uma mulher deambula à noite pelas ruas. Por não ter as chaves senta-se na soleira, adormece, e horas depois é levada para dentro por um polícia. Não são as festas que a fazem chegar tarde a casa, é a actividade partidária. Dora é massagista de dia e à noite tem reuniões de um partido de esquerda. O marido é polícia e tem muitos turnos de noite. Esse desencontro de horários e a dedicação de ambos ao que fazem irá causar uma ruptura no casal e ao longo do filme acompanhamos os rumos que as duas vidas seguem. Enquanto Dora progride na hierarquia do "Esquerda Unida", um pequeno partido local, António vai arriscando a vida em ruas problemáticas.

Como seria de prever o filme desenrola-se no Montijo. Suficientemente perto de Lisboa para ser um retrato do país, mas além-Tejo para ser em território propenso a partidos comunistas. Foi pena não ter estreado algumas semanas antes para aproveitar a publicidade feita ao "deserto" da margem sul. Neste filme o Montijo dá essa imagem de local tranquilo e isolado de onde Dora apenas escapa em algumas viagens de cacilheiro e escutando música brasileira. Esse fascínio pelo Brasil é um dos pontos de discórdia do par e a música é ouvida tantas vezes que acaba por fazer parte da identidade de Dora. Essa música destoa duplamente primeiro porque não se espera ver sentimentos numa pessoa dedicada à política, e segundo por parecer ter sido colocada à força apenas para dar um ar doce e frágil à personagem. Para relembrar que no fundo é apenas uma mulher, mas daquelas que luta todos os dias por um mundo melhor. A personagem masculina contrasta com tudo isso. Como arrisca a vida todos os dias, na vida doméstica é menos responsável e mais aproveitador do momento. Faz a diferença imediata e não compreende como a mulher pode querer viver de outra forma.

Pode ser dos ares alentejanos ou por muitas das cenas serem nocturnas, mas o filme é tão lento e monótono que não consegue cativar e nem a alternância entre as duas estórias consegue quebrar esse efeito. Algumas surpresas conseguem despertar interesse temporário, mas além de Adelaide de Sousa não há nada na tela para prender o espectador.




Título Original: "Daqui P'rá Frente" (Portugal, 2007)
Realização: Catarina Ruivo
Argumento: António Figueiredo, Catarina Ruivo
Intérpretes: Adelaide de Sousa, António Figueiredo, Luís Miguel Cintra
Fotografia: Rui Poças
Música: Vasco Pimentel
Género: Drama
Duração: 87 min.
Sítio Oficial: http://www.clapfilmes.pt/daquiprafrente

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