25 de maio de 2008

Balanço de Cannes 2008


Em Cannes a opinião unânime entre os críticos era de que a selecção era fraca, sobretudo comparada com a edição 60 que, o ano passado, tinha sido excelente. Também é sabido que o peso dos prémios de Cannes não é particularmente significativo em termos de adesão do público, quando comparado por exemplo com Veneza. É igualmente sabido que os sucessivos júris de Cannes acabam por traduzir em palmarés um equilíbrio instável entre concepções muito diferentes de cinema.

Este ano o palmarés acabou por não fugir à regra, ou seja, não agradar a quase ninguém e premiar quase todos. Talvez pareça demasiado óbvio o prémio a de "Entre les Murs", prémio para um filme francês vinte e um anos depois. A grande questão é se é possível comparar esta visão do Cinema com outros filmes em competição como os de Clint Eastwood ou Fernando Meirelles.

Se é certo que os prémios já não são o que faz mover Eastwood para aceitar participar em competição, não deixa de ser surpreendente a aposta num cinema mais intimista e sobretudo europeu. Nesse equilibrio do politicamente correcto se a sorte grande saiu aos franceses, o cinema italiano (que continua de rastos) também teve mais do que merecia: a sátira política e de costumes que tinham feito a glória do cinema transalpino nos anos 60 recebe dois importantes prémios.

O tradicional prémio para as cinematografias mais terceiro-mundistas contemplou o cinema turco que está a dar mostras de uma grande vitalidade temática e industrial. O Brasil de Walter Salles e Daniela Thomas confirma que a pobreza continua a vender bem e a favela é o seu trunfo de exportação. A campanha de promoção de "Che", o biopic anti-americano de Soderbergh, forneceu um kit alimentar de sobrevivência, o que permitiu aos espectadores assistir aos 260 minutos do filme. Como é habitual o palmarés premiou os detractores da América de Bush, neste caso com justiça porque o desempenho de Benicio Del Toro é assombroso.

Se se comparar o palmarés final com as previsões que iam sendo publicadas nas revistas de Cannes verifica-se que as apostas saíram todas trocadas. Talvez não se possa dizer que para melhor. Veremos quantos destes filmes serão estreados em Portugal, quando, e com que destaque.

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