29 de fevereiro de 2008

Cinema é arte

O cinema pode ser a sétima arte, mas apenas cronologicamente. Em Itália uma comissão criada para o efeito divulgou uma lista de cento e um filmes a classificar como bens culturais. À semelhança de qualquer monumento tradicional irão ser restaurados, protegidos e divulgados. Como a comissão é profissional (criada durante o Festival de Veneza) a tabela tem filmes realmente de luxo e que ilustram o que de melhor se fez nos anos dourados do cinema italiano (1942-78).

A lista é bem variada, mas os grandes realizadores dominam em número. Ironicamente Fellini está muito perto do seu célebre número "8 1/2" pois tem sete filmes e meio ("Luci del Varietà" foi realizado em parceria com Alberto Lattuada). Visconti com seis é segundo e Vittorio di Sica, Francesco Rosi e Mario Monicelli com 5 cada completam o pódio.


Esta é a lista, ordenada por realizador cronologicamente
"Cronaca di un amore"(Antonioni, 1980)
"Il grido"(Antonioni, 1957)
"L’eclisse"(Antonioni, 1962)

"I pugni in tasca"(Bellocchio, 1965)
"La Cina è vicina"(Bellocchio, 1967)
"Nel nome del padre"(Bellocchio, 1972)
"Il conformista"(Bertolucci, 1970)
"Novecento"(Bertolucci, 1976)
"Quattro passi tra le nuvole"(Blasetti, 1942)
"Prima comunione"(Blasetti, 1950)
"Arrangiatevi!"(Bolognini, 1959)
"Il bell’Antonio"(Bolognini, 1960)
"La città dolente"(Bonnard, 1949)
"Chi lavora è perduto"(Brass, 1963)
"Pane e cioccolata"(Brusati, 1974)

"Leoni al sole"(Caprioli, 1961)
"Due soldi di speranza"(Castellani, 1951)
"Pane amore e fantasia"(Comencini, 1953)
"Tutti a casa"(Comencini, 1960)
"Lo scopone scientifico"(Comencini, 1972)
"Una donna libera"(Cottafavi, 1954)

"Napoletani a Milano"(De Filippo, 1953)
"Riso amaro"(De Santis, 1949)
"Diario di un maestro"(De Seta, 1972)
"I documentari di De Seta"(De Seta, 1954-59)
"Sciuscià"(De Sica, 1946)
"Ladri di biciclette"(De Sica, 1948)
"Miracolo a Milano"(De Sica, 1951)
"Umberto D"(De Sica, 1952)
"L'oro di Napoli"(De Sica, 1954)
"Don Camillo"(Duvivier, 1952)

"Domenica d'agosto"(Emmer, 1950)

"La famiglia Passaguai"(Fabrizi, 1951)
"Lo sceicco bianco"(Fellini, 1952)
"I vitelloni"(Fellini, 1953)
"La strada"(Fellini, 1954)
"Le notti di Cabiria"(Fellini, 1957)
"La dolce vita"(Fellini, 1960)
"Otto e mezzo"(Fellini, 1963)
"Amarcord"(Fellini, 1974)
"La donna scimmia"(Ferreri, 1963)
"Dillinger è morto"(Ferreri, 1968)
"L'udienza"(Ferreri, 1971)

"Cielo sulla palude"(Genina, 1949)
"Il cammino della speranza"(Germi, 1950)
"Divorzio all’italiana"(Germi, 1961)
"Signore e signori"(Germi, 1966)
"Carosello napoletano"(Giannini, 1953)
"Febbre di vivere"(Gora, 1953)

"Mafioso"(Lattuada, 1962)
"La spiaggia"(Lattuada, 1953)
"Luci del varietà"(Lattuada e Fellini, 1950)
"La vita agra"(Lizzani, 1964)
"Banditi a Milano"(Lizzani, 1968)

"Gli sbandati"(Maselli, 1955)
"Catene"(Matarazzo, 1949)
"Guardie e ladri"(Monicelli, 1951)
"Un eroe dei nostri tempi"(Monicelli, 1955)
"I soliti ignoti"(Monicelli, 1958)
"La grande guerra"(Monicelli, 1959)
"Un borghese piccolo piccolo"(Monicelli, 1977)

"Il posto"(Olmi, 1961)
"L’albero degli zoccoli"(Olmi, 1978)

"Accattone"(Pasolini, 1961)
"Comizi d’amore"(Pasolini, 1965)
"Uccellacci e uccellini"(Pasolini, 1966)
"Indagine su un cittadino"(Petri, 1970)
"Il sole negli occhi"(Pietrangeli, 1953)
"Io la conoscevo bene"(Pietrangeli, 1965)
"La battaglia di Algeri"(Pontecorvo, 1966)

"Poveri ma belli"(Risi, 1956)
"Una vita difficile"(Risi, 1961)
"Il sorpasso"(Risi, 1962)
"I mostri"(Risi, 1963)
"I magliari"(Rosi, 1959)
"Salvatore Giuliano"(Rosi, 1962)
"Le mani sulla città"(Rosi, 1963)
"Il caso Mattei"(Rosi, 1972)
"Cadaveri eccellenti"(Rosi, 1976)
"Roma città aperta"(Rossellini, 1945)
"Paisà"(Rossellini, 1946)
"Stromboli"(Rossellini, 1949)
"Europa 51"(Rossellini, 1952)

"Fantozzi"(Salce, 1975)
"C’eravamo tanto amati"(Scola, 1974)
"Una giornata particolare"(Scola, 1977, foto sopra)
"La provinciale"(Soldati, 1953)
"Totò a colori"(Steno, 1952)
"Un americano a Roma"(Steno, 1954)

"Padre padrone"(Taviani, 1977)

"La lunga notte del 1943"(Vancini, 1960)
"Ossessione"(Visconti, 1943)
"La terra trema"(Visconti, 1948)
"Bellissima"(Visconti, 1951)
"Senso"(Visconti, 1954)
"Rocco e i suoi fratelli"(Visconti, 1960)
"Il Gattopardo"(Visconti, 1963, foto sopra)

"L’onorevole Angelina"(Zampa, 1947)
"L’arte di arrangiarsi"(Zampa, 1954)
"Il medico della mutua"(Zampa, 1968)
"La ragazza con la valigia"(Zurlini, 1960)

27 de fevereiro de 2008

Max Von Sydow no Porto












O Fantasporto homenageou na noite de segunda-feira Max Von Sydow, um dos expoentes máximos da representação cinematográfica, com uma filmografia acima das 130 películas. Este fantástico actor sueco, musa de Ingmar Bergman, trabalhou com Woody Allen e David Lynch, entre muitas outras referências na área da realização.
Nomeado para Óscar em 1987 pela sua interpretação em "Pelle o Conquistador" de Bille August, Von Sydow confirmou o que se esperava dele: um homem extraordinário, cujo porte e elegância físicos traduzem na perfeição a sua personalidade: um cavalheiro por excelência, um homem incapaz de se referir a Bergman sem lhe atribuir a importância suprema que este teve na sua construção enquanto actor, uma personificação da representação.

Recebido na Sessão de Abertura do Fantasporto 2008 com uma comovente e larguíssima ovação em pé pelo Teatro Rivoli, foi agraciado com o Prémio Carreira do Festival, tendo ontem dado uma conferência de imprensa frente a uma plateia de jornalistas que paulatinamente despiam a pele de profissionais para se embevecerem com as palavras de excelência do actor sueco.

Sem avançar grandes planos para o futuro, sabemos que vai começar muito proximamente a rodar com Martin Scorcese, de quem diz estar ansioso por fazer, já que é um realizador que admira. Para mais informações da passagem de Von Sydow: Diário de Notícias, Jornal de Notícias.


26 de fevereiro de 2008

Fantasporto 2008

Os Oscares são passado, agora os olhares dos cinéfilos estão postos em Portugal onde ontem teve início o Fantasporto. Abrir com o Melhor Filme de 2007 foi seguramente o melhor começo para o festival e augura duas semanas de grande cinema.
O Antestreia é como sempre o blog oficial do festival e disponibiliza a partir de hoje aos seus leitores a programação das salas que acolhem o Fantas 2008.




Este programa será aumentado e corrigido ao longo do festival de forma a transmitir sempre a informação mais actualizada.

25 de fevereiro de 2008

Vencedores Oscares 2008



Categorias-chave





Melhor Filme



"No Country for Old Men"

Nomeados
"Atonement"
"Juno"
"Michael Clayton"
"There Will Be Blood"


Melhor Realizador



Joel e Ethan Coen por "No Country for Old Men"

Nomeados
Julian Schnabel por "Le Scaphandre et le Papillon"
Jason Reitman por "Juno"
Tony Gilroy por "Michael Clayton"
Paul Thomas Anderson por "There Will Be Blood"

Melhor Actor Principal



Daniel Day-Lewis por "There Will Be Blood"

Nomeados
George Clooney por "Michael Clayton"
Johnny Depp por "Sweeney Todd The Demon Barber of Fleet Street"
Tommy Lee Jones por "In the Valley of Elah"
Viggo Mortensen por "Eastern Promises"


Melhor Actriz Principal



Marion Cotillard por "La Vie en Rose"

Nomeados
Cate Blanchett por "Elizabeth: The Golden Age"
Julie Christie por "Away from Her"
Laura Linney por "The Savages"
Ellen Page por "Juno"


Melhor Actor Secundário



Javier Bardem por "No Country for Old Men"

Nomeados
Casey Affleck por "The Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford"
Philip Seymour Hoffman por "Charlie Wilson’s War"
Hal Holbrook por "Into the Wild"
Tom Wilkinson por "Michael Clayton"

Melhor Actriz Secundária



Tilda Swinton por "Michael Clayton"

Nomeados
Cate Blanchett por "I’m Not There"
Ruby Dee por "American Gangster"
Saoirse Ronan por "Atonement"
Amy Ryan por "Gone Baby Gone"


Melhor Argumento Adaptado



Joel e Ethan Coen por "No Country For Old Men"

Nomeados
Christopher Hampton por "Atonement"
Sarah Polley "Away From Her"
Ronald Harwood por "Le Scaphandre et le Papillon"
Paul Thomas Anderson "There Will Be Blood"


Melhor Argumento Original



Diablo Cody por "Juno"


Nomeados
Nancy Oliver por "Lars and the Real Girl"
Tony Gilroy por "Michael Clayton"
Brad Bird, Jan Pinkava, Jim Capobianco por "Ratatouille"
Tamara Jenkins "The Savages"




Os outros melhores filmes




Melhor Filme de Animação



"Ratatouille"

Nomeados
"Persepolis"
"Surf's Up"


Melhor Filme em Idioma Não Inglês



"The Counterfeiters" Áustria

Nomeados
"Beaufort" Israel
"Katyń" Polónia
"Mongol" Cazaquistão
"12" Rússia

Melhor Curta de Imagem Real


"Le Mozart des Pickpockets" de Philippe Pollet-Villard

Nomeados
"At Night" de Christian E. Christiansen e Louise Vesth
"Il Supplente" de Andrea Jublin
"Tanghi Argentini" de Guido Thys e Anja Daelemans
"The Tonto Woman de Daniel Barber e Matthew Brown

Melhor Curta de Animação


"Peter & the Wolf" de Suzie Templeton e Hugh Welchman

Nomeados
"I Met the Walrus" de Josh Raskin
"Madame Tutli-Putli" de Chris Lavis e Maciek Szczerbowski
"Même Les Pigeons Vont au Paradis" de Samuel Tourneux e Simon Vanesse
"Moya Lyubov" de Alexander Petrov



Melhor Documentário


"Taxi to the Dark Side"

Nomeados
"No End in Sight"
"Operation Homecoming: Writing the Wartime Experience"
"Sicko"
"War/Dance"


Melhor Curta Documental


"Freeheld"

Nomeados
"La Corona"
"Salim Baba"
"Sari’s Mother"



Outras categorias




Melhor Direcção Artística


"Sweeney Todd The Demon Barber of Fleet Street"
Direcção Artística: Dante Ferretti
Decoração Cénica: Francesca Lo Schiavo


Nomeados
"American Gangster"
Direcção Artística: Arthur Max
Decoração Cénica: Beth A. Rubino
"Atonement"
Direcção Artística: Sarah Greenwood
Decoração Cénica: Katie Spencer
"The Golden Compass"
Direcção Artística: Dennis Gassner
Decoração Cénica: Anna Pinnock
"There Will Be Blood"
Direcção Artística: Jack Fisk
Decoração Cénica: Jim Erickson


Melhor Fotografia


Robert Elswit por "There Will Be Blood"


Nomeados
Roger Deakins por "The Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford"
Seamus McGarvey por "Atonement"
Janusz Kaminski por "Le Scaphandre et le Papillon"
Roger Deakins por "No Country for Old Men"



Melhor Banda Sonora


Dario Marianelli por "Atonement"


Nomeados
Alberto Iglesias por "The Kite Runner"
James Newton Howard por "Michael Clayton"
Michael Giacchino por "Ratatouille"
Marco Beltrami por "3:10 to Yuma"


Melhor Música Original


"Falling Slowly" "Once"


Nomeados
"Happy Working Song" em "Enchanted"
"Raise It Up" em "August Rush"
"So Close" em "Enchanted"
"That’s How You Know" em "Enchanted"


Melhor Som


Karen Baker Landers e Per Hallberg por "The Bourne Ultimatum"


Nomeados
Skip Lievsay por "No Country for Old Men"
Randy Thom e Michael Silvers por "Ratatouille"
Matthew Wood por "There Will Be Blood"
Ethan Van der Ryn e Mike Hopkins por "Transformers"


Melhor Edição de Som


Scott Millan, David Parker e Kirk Francis por "The Bourne Ultimatum"


Nomeados
Skip Lievsay, Craig Berkey, Greg Orloff e Peter Kurland por "No Country for Old Men"
Randy Thom, Michael Semanick e Doc Kane por "Ratatouille"
Paul Massey, David Giammarco e Jim Stuebe por "3:10 To Yuma"
Kevin O’Connell, Greg P. Russell e Peter J. Devlin por "Transformers"


Melhor Caracterização


Didier Lavergne e Jan Archibald "La Vie en Rose"


Nomeados
Rick Baker e Kazuhiro Tsuji por "Norbit"
Ve Neill e Martin Samuel "Pirates of the Caribbean: At World’s End"


Melhor Guarda-Roupa
Marit Allen por "La Vie en Rose"


Nomeados
Albert Wolsky por "Across the Universe"
Jacqueline Durran por "Atonement"
Alexandra Byrne por "Elizabeth: The Golden Age"
Colleen Atwood por "Sweeney Todd The Demon Barber of Fleet Street"


Melhor Montagem


Christopher Rouse por "The Bourne Ultimatum"


Nomeados
Juliette Welfling por "Le Scaphandre et le Pappillon"
Jay Cassidy por "Into the Wild"
Roderick Jaynes por "No Country for Old Men"
Dylan Tichenor por "There Will Be Blood"


Melhores Efeitos Visuais


Michael Fink, Bill Westenhofer, Ben Morris e Trevor Wood por "The Golden Compass"


Nomeados
John Knoll, Hal Hickel, Charles Gibson e John Frazier por "Pirates of the Caribbean: At World’s End"
Scott Farrar, Scott Benza, Russell Earl e John Frazier por "Transformers"

Óscares 2008 - Mais confirmações do que surpresas

Foto: Reuters

Foram efectivamente mais confirmações do que surpresas. "No Country For Old Man" foi o grande vencedor da noite, vencendo os Óscares para Melhor Argumento Adaptado (da obra homónima de Cormac McCarthy), Melhor Actor Secundário (Javier Bardem era uma inevitabilidade, já que havia ganho 16 das 17 nomeações a que esteve proposto previamente ao galardão da Academia), Melhor Realizador (meia surpresa, no que concerne à vitória de um dos expoentes máximos do cinema independente norte-americano actual que são os irmãos Coen) e Melhor Filme (decidindo-se nesta categoria entre o vencedor e "There Will Be Blood").

Aliás, este último foi um dos derrotados da noite, vencendo aquele que já estava entregue à partida: Daniel Day-Lewis foi justamente recompensado como Melhor Actor Principal, impedindo George Clooney (o outro favorito) de repetir a vitória de 2005 como Melhor Actor Secundário, à época por "Syriana"; e vencendo ainda o de Melhor Fotografia.

No que às interpretações femininas concerne, a grande surpresa: Marion Cotillard, Edith Piaf em "La Vie en Rose", leva o Óscar de Melhor Actriz Principal para França, deixando um amargo de boca para aqueles (como eu) que defendiam com bravura que se premiasse Elen Page pelo genial "Juno" (que, aliás, levou o prémio de Melhor Argumento Original, para Diablo Cody).
Já Tilda Swinton aproveita a sua primeira nomeação para vencer o primeiro Óscar, este para Melhor Actriz Secundária, pelo seu papel em "Michael Clayton", outro dos derrotados da noite.

Por fim, três destaques: "The Bourne Ultimatum" é o segundo filme que arrecadou mais estatuetas, com Melhor Edição de Som, Melhor Montagem e Melhor Som (tudo categorias técnicas, mas mesmo assim relevante); nova atribuição de um Óscar político, não vencendo desta vez Michael Moore com "Sicko", mas sim Alex Gibney por "Taxi to the Dark Side". "Sweeney Todd: The Demon Barber of Fleet Street" fica como a Melhor Direcção Artística, e "Ratatouille" levou o que já havia pré-encomendado: Melhor Filme de Animação.

Numa edição apresentada pelo genial Jon Stewart (que não esteve assim tão genial), ressalta um fortíssimo grupo de nomeados e um vencedor de grande calibre: "No Country For Old Man" / "Este País Não É Para Velhos" é um filme de enorme qualidade, e que pode ser visto hoje, pela primeira vez em Portugal, na Sessão de Abertura Oficial do Fantasporto 2008.

A lista de vencedores segue dentro de momentos.

24 de fevereiro de 2008

"Persepolis" por Ricardo Clara

A tradicionalmente fechada mentalidade da Academia norte-americana aposta em cinema de animação caseiro, com a Pixar e a Dreamworks à cabeça. "Persepolis" foi uma lufada de ar fresco nestas concepções - apesar de ser uma produção franco-americana, a cultura que subjaz à peça é eminentemente francesa.

Adaptação da novela gráfica homónima de Marjane Satrapi, "Persepolis" é uma bildungsroman auto-ficcional em animação da autora, que passa em revista o crescimento de Marjane na espartilhada sociedade iraniana, até à sua emigração para Paris, aos 24 anos.

Dos desgostos de amor em Viena, à perseguição policial no Irão, assistimos a um despertar da consciência política e social, através de um belíssimo preto e branco, apoiado numa animação tradicional. Uma lufada de ar fresco o abandono por momentos do uso do Flash em longas metragens (até porque a animação tradicional continua a ser usada em muitas curtas de animação).

É uma interessante abordagem que podemos observar em "Persepolis". Todo o ambiente de amarras na sociedade iraniana, um grupo de jovens adolescentes a crescerem como um qualquer adolescente de um qualquer país, a comprar albuns de Michael Jackson no mercado negro, a usar camisolas a anunciar que «punk is not ded» (sic), ou a descer o véu em plena rua para sentir o gosto de ter os cabelos ao vento.

Depois, duas novas saídas: aquela que a leva para Viena, uma iraniana na Áustria, onde se sentiu sempre uma estrangeira, os olhares de soslaio daqueles que pensam que os iranianos são todos bombistas suicidas e, depois de um desgosto de amor, novo sentimento contraditorio: o regresso a casa, onde paradoxalmente se sente como alguém de fora. Uma imigrante na própria pátria.

Da forte estrutura familiar onde se encontrou apoiada, com a avó à cabeça (voz de Danielle Darrieux), a deliciosos momentos de humor como o da cover de Eye of the Tiger, destaque para a animação, que é belíssima, da maneira terna como toda a narrativa nos é oferecida, e para as vozes de Chiara Mastroianni (como Marjane) e de Catherine Deneuve (como mãe de Marjani). Uma óptima oportunidade para sair da (por vezes) enjoativa animação tradicional e assistir a uma peça de filigrana de alta qualidade.






Título Original: "Persepolis" (EUA / França, 2007)
Realização: Vincent Paronnaud e Marjane Satrapi
Argumento: Marjane Satrapi
Intérpretes: (vozes) Chiara Mastroianni, Catherine Deneuve e Danielle Darrieux
Música: Olivier Bernet
Género: Drama / Comédia / Animação
Duração: 95 min.
Sítio Oficial: http://www.sonyclassics.com/persepolis

"Michael Clayton" por Nuno Reis

George Clooney sempre teve uma carreira aplaudida pela regularidade. Facilmente troca entre o género cómico e o dramático e tanto faz um filme pela satisfação pessoal como para alertar a sociedade, mas sempre com prudência. O prémio é o reconhecimento do público, da crítica e da Academia. Depois de ter sido nomeado para Oscar em 2006 pelo argumento e realização de "Good Night,Good Luck" e ter sido galardoado pelo desempenho em "Syriana" no ano de 2007, não é nenhuma surpresa que em 2008 esteja num filme nomeado para sete estatuetas.

Michael Clayton não é um advogado convencional. A sua missão é remediar situações de forma rápida, eficaz e discreta. E ele simplesmente trata de tudo. O caso a que se associa é gigantesco. Seis anos de trabalho, quinhentas pessoas, centenas de milhões em jogo e o advogado responsável de repente enlouquece. Clayton que tinha por missão apenas recolher a informação, subitamente vê-se envolvido no processo. O seu amigo morre de forma demasiado suspeita deixando um alerta no ar. Será uma teoria da conspiração imaginada por um louco ou haverá algo de real na ameaça?

Tony Gilroy tem experiência em escrever este género de filmes (conspiração na trilogia Bourne, o mundo da advocacia em "The Devil’s Advocate"), contudo é o primeiro que realiza. Apoiado por um elenco de luxo fez um filme que é digno concorrente nas categorias de melhor filme, argumento, realização, interpretação - três nomeações - e música. Tilda Swinton tem em Karen Crowder uma das suas melhores personagens. A mulher que se mostra ao mundo é fria e calculista como tantas das anteriores personagens de Swinton, mas aqui vemos a sua faceta pessoal. Os treinos cuidadosos com que se prepara para enfrentar o público revelam o medo e a ansiedade com que vive. Sente-se que a sua feminilidade a deixa preocupada, Karen tem medo de falhar.
A carreira de Tom Wilkinson tem sido semelhante à de Swinton. É um daqueles actores que todos reconhecem, mas a quem não entregam facilmente o protagonismo. Como para os grandes actores essa contrariedade é encarada como um estimulo, Wilkinson dá o seu melhor ao interpretar Arthur Edens. Este advogado era o melhor da sua empresa e ao longo de seis anos dedicou a sua vida ao caso da United North. Subitamente é acometido pela loucura e começa a preparar um ataque ao seu cliente. Por se despir numa sala é imediatamente afastado do caso e caberá a Michael Clayton continuar onde ele parou. Clayton é uma personagem já de si muito complexa que a montagem do filme ajuda a complicar. Nas cenas iniciais estranha-se a agressividade. A enorme analepse que nos narra os dias precedentes ajuda a perceber que aquele não é o Clayton normal. É um homem sob tensão que tem de tomar uma decisão urgentemente e optar entre o dever moral e o dever profissional. Alguns advogados podem não conseguir compreender o problema visto que não conhecem o conceito de moral e, portanto, para eles não há dilema.

Depois de "Erin Brokovich" e outros exemplos piores de duelos enpresas versus paladinos da verdade e justiça, a ideia por trás de "Michael Clayton" não é muito criativa. A diferença é que mesmo sendo uma história já conhecida consegue surpreender. A última meia hora faz com que se queira rever o filme imediatamente e isso é algo que não acontece todos os anos.




Título Original: "Michael Clayton" (EUA, 2007)
Realização: Tony Gilroy
Argumento: Tony Gilroy
Intérpretes: George Clooney, Tilda Swinton, Tom Wilkinson
Fotografia: Robert Elswit
Música: James Newton Howard
Género: Drama, Thriller
Duração: 119 min.
Sítio Oficial: http://michaelclayton.warnerbros.com

23 de fevereiro de 2008

"I'm Not There." por Nuno Reis

Este filme não é para novos

Dificilmente se encontrará um artista contemporâneo mais enigmático que Bob Dylan. Todos o conhecem como rebelde sem causa e um prodígio na criação de músicas e na sua interpretação. Poucos sabem que é também um músico auto-didacta e que teve uma época de fervor religioso. A ligação do músico ao cinema é frequente e já colaborou com diversos filmes. Ganhou um Oscar pela música de "Wonder Boys", é idolatrado em vários filmes ("The Hurricane", "Dangerous Minds") e já lhe fizeram várias homenagens biográficas, mas nunca como em "I’m Not There." Foram escolhidos seis actores para interpretar as várias facetas de um homem: um para cada fase da carreira, um para cada estado psicológico. Os fãs de Dylan aperceberam-se das mudanças. Este filme é para eles.

O segmento mais incrível é o de Jude Quinn. As intepretações de Cate Blanchett e de Bruce Underwood – qual deles o melhor! – são magníficas. As outras fases são intimistas, referem-se a episódios da vida pessoal, é Quinn quem lida com o público e quem choca os fãs. O frentre a frente destes dois homens, Quinn o cantor contra Jones o jornalista, ficará imortalizado na música "Ballad of a Thin Man" onde um Mr. Jones é insultado e atacado de forma violenta. A outra grande interpretação é a do jovem Marcus Carl Franklin. Teoricamente era de todo o elenco quem estava menos marcado pela música de Dylan, mas portou-se como gente grande.

Todd Haynes depois do êxito de "Velvet Goldmine" e "Far From Heaven" conseguiu outra vez fazer cinema artístico. Voltou ao mundo da música, repetiu actores dos trabalhos anteriores (Bale e Moore), mas mudou a receita. Aqui não só tem a ousadia de dirigir imensos actores de topo como rouba cenas a clássicos. Desde Fellini a Bergman passando por Godard, tudo o que se vê de estranho no filme é de alguma obra-prima destes senhores ou outros igualmente incontornáveis. Para o público jovem e quem se dedica exclusivamente ao cinema popcorn isto será um desperdício de tempo. O filme não é difícil por ter uma grande vertente indie, é difícil para quem não passou 50 anos a ver bom cinema e ouvir boa música. A ouvir Dylan.




Título Original: "I'm Not There." (Alemanha, EUA, 2007)
Realização: Todd Haynes
Argumento: Todd Haynes e Oren Moverman
Intérpretes: Cate Blanchett, Ben Whishaw, Christian Bale, Richard Gere, Marcus Carl Franklin, Heath Ledger, Kris Kristofferson, Julianne Moore, Charlotte Gainsbourg, Bruce Greenwood e Michelle Williams
Fotografia: Edward Lachman
Música: Bod Bylan
Género: Biografia, Musical
Duração: 135 min.
Sítio Oficial: http://www.imnotthere-movie.com/

22 de fevereiro de 2008

"American Gangster" por Nuno Reis

O último trabalho de Ridley Scott apresenta-nos a clássica dualidade entre o bem e o mal, desta vez no mundo da droga. Richie Roberts é o polícia honesto que estuda à noite e luta pela custódia do filho. As suas amizades de longa data com criminosos são um percalço que a ex-mulher utiliza para o atacar. Do outro lado está Frank Lucas, o protegido do líder da marginalidade do Harlem. Quando esse homem morre e o império se desmorona Lucas irá criar um novo, totalmente assente na droga. Ambos os homens são totalmente fieis aos seus ideais e fazem o que é certo. Roberts pela lei, Lucas pela família e pelo seu povo.

Sendo um filme sobre o narcotráfico e a luta contra o mesmo seriam de esperar as semelhanças com "The French Connection" e "El Rey". Lucas tal como Rey viaja até ao produtor, quanto menos intermediários houver mais barato e puro é o produto. A sua confiança nos laços de sangue dá-lhe força e segurança para enfrentar tudo e todos e criar um império a partir do nada combinando a melhor qualidade com o melhor preço. O detective Roberts como a dupla Popeye e Cloudy é imune aos subornos e capaz de tudo para apanhar o seu homem. Ironicamente os polícias honestos estão duplamente ameaçados pois os bandidos não os querem vivos e os colegas não confiam neles. Roberts tem por isso de criar a sua própria equipa de narcóticos e dar provas do seu valor. Ambas as personagens são interessantes e é fascinante acompanhar por algum tempo as suas vidas. Um destes homens teve o mercado nova-iorquino de droga nas mãos por quase uma década. Só não foi mais tempo porque o outro o deteve numa operação policial sem precedentes! Mesmo com o suposto toque ficcional são histórias biográficas e acontecimentos reais.

O desenrolar de duas narrativas em paralelo torna o filme longo. Como Scott sabe o que faz deixou os últimos minutos para um diálogo entre dois grandes actores que resolvem tudo com eficácia e classe. O argumento até pode ser previsível, mas está muito bem filmado e a adrenalina conseguida na última meia hora - e mantida mesmo com mudanças de cenário - é incrível.
A nível financeiro o filme foi infeliz. Teve mudanças de realizador, de actores principais e secundários, de argumentistas, e vários milhões pagos pelas quebras de contrato. Metade da box-office doméstica foi para pagar a produção. Para nossa sorte esses problemas não transpareceram para a tela e parecem todos primeiras escolhas de qualidade.




Título Original: "American Gangster" (EUA, 2007)
Realização: Ridley Scott
Argumento: Steven Zaillian baseado no artigo de Mark Jacobson
Intérpretes: Denzel Washington, Russel Crowe, Chiwetel Ejiofor, Ruby Dee, Josh Brolin
Fotografia: Harris Savides
Música: Marc Streitenfeld
Género: Crime, Drama
Duração: 157 min.
Sítio Oficial: http://www.americangangster.net/

21 de fevereiro de 2008

"Surf's Up" por Nuno Reis

Até há 3 anos atrás quando se falava de pinguins a única lembrança cinematográfica era Danny de Vito em "Batman Returns". A visão de Burton foi tão marcante que por dez anos o único grande filme com pinguins foi "Wallace and Gromit in The Wrong Trousers" - onde curiosamente voltou a ser a face do mal – estreado logo no ano seguinte. Em 2005 tudo isso mudou e uma dupla de filmes trouxe-os de volta ao grande ecrã, mostrando ao mundo que esse animal é simpático, corajoso e resistente. Em "La Marche de l’Empereur" ganharam o Oscar de Melhor Documentário, em "Madagascar" eram actores secundários e salvaram o filme do descalabro. A idade do gelo estava a começar... Estando na ribalta era para aproveitar. Em 2006 foram estrelas em "Happy Feet" onde provaram a sua versatilidade cantando e dançando, em 2007 interpretam surfistas e ainda têm tempo para uns cameos em "Good Luck Chuck". Estamos rodeados de pinguins e não há como os evitar.

Cody é um pinguim que está a ser entrevistado. A sua vida simples é-nos contada, desde que saiu do ovo até ao nascimento do seu interesse pelo surf, quando o lendário surfista Big Z visitou a Antárctida e lhe deu um medalhão. Cody junta-se a um grupo de surfistas de elite que partem em busca do troféu no décimo torneio memorial Big Z. Na ilha de Pin Gu com a ajuda de Joe, Lani e Geek irá descobrir que não se deve surfar para competir e que o realmente importante é a diversão. Além da banalidade desta moral tudo mais no argumento é muito previsível. Tirando o galo que é o outsider da competição - tem um ar entre o louco e o fixe, a lembrar as tartarugas de "Finding Nemo" – poucas personagens são divertidas.
A inspiração para este trabalho de animação é obviamente a “Marcha do Imperador” pois é totalmente rodado com ar documental: os momentos mortos são preenchidos com entrevistas, os “cameramen” dialogam frequentemente com os protagonistas e o uso da câmera é típico de documentário (alternância entre câmaras fixas e ao ombro). A animação está boa, especialmente por arriscar novos ângulos de câmara e fugir ao tradicional. Algumas piadas sobre os outros filmes terão interesse relativo enquanto o original estiver fresco na memória, com o tempo os filmes serão esquecidos e as o que parecia divertido perderá a graça.

Com o crescimento que o mercado da animação está a viver é estranho que os filmes de qualidade sejam tão poucos. Tirando alguma corrida inicial no mercado de “home video” não terá um futuro muito promissor. Foi um triste final da febre dos pinguins.




Título Original: "Surf's Up" (EUA, 2007)
Realização: Ash Brannon, Chris Buck
Argumento: Don Rhymer, Ash Brannon, Chris Buck, Christopher Jenkins, Christian Darren, Lisa Addario, Joe Syracuse
Intérpretes: Shia LaBeouf, Jeff Bridges, Zooey Deschanel, Jon Heder, James Woods
Música: Mychael Danna
Género: Animação, Comédia, Infantil
Duração: 85 min.
Sítio Oficial: http://www.sonypictures.com/movies/surfsup

"Juno" por Nuno Reis

Ellen Page até alguns meses atrás era desconhecida do grande público e subitamente está nomeada para o Oscar de Melhor Actriz. Celebra precisamente hoje o seu vigésimo primeiro aniversário e já marcou o seu lugar na história do cinema. Entre os admiradores do fantástico é fácil encontrar quem conheça a carreira da jovem actriz. Personagem secundária de "X-Men 3", protagonista e estrela maior em "Hard Candy" (multi-premiado em Sitges 2005) e em "An American Crime" (Sitges 2007). Agora com "Juno" não há motivos para não ser reconhecida e preferida pelo público.

Juno é uma adolescente que engravida num momento de aborrecimento. Incapaz de se livrar do ser que carrega no útero, decide dá-lo para adopção. O filme é um retrato fiel dos pensamentos e comportamentos de uma adolescente naquela situação. Não é sobre a gravidez, é sobre uma rapariga que tem um primeiro contacto com a vida adulta através do casal adoptante. Está recheado de diálogos e expressões tão geniais que parecem roubadas da realidade, mas infelizmente Juno não é de carne e osso. As atitudes desta adolescente fazem com que seja fácil não simpatizar com ela, mas simultaneamente a sua sinceridade e autenticidade cativam-nos como poucas personagens o conseguiram. É honesta, frontal e segura de si mesma. Seja por talento da argumentista ou inspiração momentânea da actriz, Juno tem algumas frases inesquecíveis. É terrível dizer que o maior problema do filme é estar tão dependente da personagem do título, mas quando se tem um talento destes em acção como é possível não o aproveitar? O papel e o filme parecem ter sido feitos à medida para Page... ganhar o Oscar.

Estrela muito brilhante mas ofuscada pela outra é J.K. Simmons, que apresenta trunfos também numa comédia mais pura que o habitual. Quem não chegar a horas ao visionamento não deveria entrar: o genérico inicial por si só já é arte e a banda sonora que acompanha as imagens deve ser saboreada da primeira à última nota. Sendo o trabalho original tão bom a cereja no topo é a legendagem. Raramente a tradução portuguesa está isenta de críticas e desta vez até merece aplausos pela fidelidade mostrada ao original, um texto bem difícil de adaptar. Uma produção independente a chegar tão longe na corrida pela estatueta dourada pode ser motivo de jubilo, mas merece mais do que simples nomeações. Combina comédia, drama, moral de costumes e romance num formato extremamente simples e muito bem conseguido. Os cem milhões facturados na box-office americana (feito inédito para filmes da Fox Searchlight) provam que agrada ao público. De todos os que chegaram a Portugal é, sem dúvida alguma, o filme do ano.




Título Original: "Juno" (Canadá, EUA, Hungria, 2007)
Realização: Jason Reitman
Argumento: Diablo Cody
Intérpretes: Ellen Page, Jennifer Garner, Jason Bateman, Michael Cera
Fotografia: Eric Steelberg
Música: Matt Messina
Género: Comédia, Drama, Romance
Duração: 96 min.
Sítio Oficial: http://www.foxsearchlight.com/juno

20 de fevereiro de 2008

U.FRAME - Festival Internacional de Vídeo Universitário


Abertas inscrições para U.FRAME - Festival Internacional de Vídeo Universitário

(Pré-inscrições até 1 de Abril e envio de trabalhos até 15 de Abril)

Estão abertas até 1 de Abril as pré-inscrições para o I U.Frame - Festival Internacional de Vídeo Universitário. O evento decorre de 1 a 5 de Outubro nas instalações do Curso de Ciências da Comunicação da Universidade do Porto e na Biblioteca Almeida Garrett.

O U.FRAME é o primeiro festival do género organizado pela U.Porto e nasce de uma iniciativa do curso de Ciências da Comunicação da Universidade do Porto, com o intuito de potenciar as suas infra-estruturas e recursos técnicos e humanos. Simultaneamente, e em associação com a Universidade da Coruña, pretende-se criar uma ponte entre os vários cursos da área audiovisual e multimédia a nível mundial, promovendo a criatividade dos estudantes universitários.

O U.FRAME TEM COMO OBJECTIVOS:
- Visibilidade: tornar visível e público as melhores produções realizadas no âmbito académico e de formação audiovisual (e multimédia);
- Criatividade: estimular o sentido criativo e a originalidade na produção de primeiras obras;
- Premiação: premiar os melhores trabalhos;
- Partilha: trocar experiências entre instituições e alunos do ensino superior, estimulando a criação de redes sociais;
- Experimentação: estimular novas formas narrativas, linguagens e novos suportes de criação de conteúdos audiovisuais: media light e second life;
- Formação: promover a realização de workshops, acções de demonstração e master classes, fomentando o contacto e aproximação entre os participantes e profissionais do meio, estimulando a troca de ideias, experiências e formas de trabalho;
- Socialização: fomentar o contacto com eventos culturais e musicais através do Nigth frame.

Secções:

3.1. Competição oficial:

- Documentário

- Ficção

- Animação
- Experimental


3.2. Competição Especial Second Life
- Participam nesta competição todas as obras produzidas no ambiente virtual Second Life.


3.3. Competição Online (Media light)

- Mobile (filmes feitos a partir de telemóvel, com ou sem edição, com uma duração máxima de 10 minutos)

- 60 seconds (vídeos com uma duração máxima de 1 minuto. O filme, com genérico e créditos incluídos, não deverá ter mais de 10 MB e terá de ser entregue num dos seguintes formatos: .mov, .wmv ou .swf).

PRÉ-INSCRIÇÃO
Formulário disponível em www.uframe.org - até 01 de Abril

INSCRIÇÃO
Enviar trabalho junto com a ficha de inscrição (assinada), até 15 de Abril de 2008 para:
Festival U.Frame
Praça Coronel Pacheco, 8
4050-453 Porto
Portugal

info@uframe.org
http://www.uframe.org

17 de fevereiro de 2008

O filme mais romântico de sempre


No século XVII Pascal dizia que "o coração tem razões que a própria razão desconhece", mas não foi por isso que o ser humano deixou de tentar racionalizar o amor. O cinema como arte sempre despertou emoções e, como para emoções não há nada melhor do que um romance na tela, o site lovefilm.com quis etiquetar os romances. Falou com o neurologista David Lewis para determinar quais eram os filmes que mais mexiam com o nosso coração. Recorrendo a um grupo de mil espectadores (leia-se cobaias com eletroencefalogramas) e a excertos dos mais célebres romances da sétima ate, conseguiu determinar quais a paixões mais aceleradoras do coração:

1 - Romeo + Juliet (1996)
2 - Casablanca (1942)
3 - Ghost (1990)
4 - Gone With the Wind (1939)
5 - Titanic (1997)
6 - The Notebook (2004)
7 - Brief Encounter (1945)
8 - Pretty Woman (1990)
9 - Love Actually (2003)
10 - Dirty Dancing (1987)

De referir que o filme de Baz Luhrmann teve uns incríveis 20% contra os 12% de Casablanca e os 10% de Ghost. Muito curioso o intervalo superior a quarenta anos (1945-87) que separa os filmes deste top 10. Não havendo grandes repetições, parece que DiCaprio e Swayze são mesmo os actores preferidos para filmes românticos.

O ano passado num estudo mais pequeno (12 espectadores) que pretendia determinar os filmes mais emocionantes, e realizado pelo mesmo neurocientista, o ranking tinha sido:

1 - The Shawshank Redemption (1994)
2 - The Green Mile (1999)
3 - The Godfather (1972)
4 - Saving Private Ryan (1998)
5 - Schindler's List (1993)
6 - Titanic (1997)
7 - Pulp Fiction (1994)
8 - Se7en (1995)
9 - Rocky (1976)
10 - ET (1982)

Aqui já se nota um período mais curto e consequentemente os nomes por trás dos filmes são mais repetidos. Darabont realiza os dois de topo - ambos escritos por Stephen King - e Spielberg realiza três dos restantes. Tom Hanks e Morgan Freeman, com dois cada, são os protagonistas mais marcantes. É curioso que apenas "Titanic" apareça em ambas as tabelas e em posições tão próximas.

Besson regressa a Arthur



O realizador Luc Besson, autor de filmes como "Léon" (1994) ou "The Fifth Element" (1997), regressa em 2009 com a sequela de "Arthur et les Minimoys" (2006). Este resulta da adaptação de uma série de romances infanto-juvenis escritos pelo cineasta, e também adaptados por ele para o cinema.

"Arthur et la vengeance de Maltazard" marca o regresso de Besson à animação, ele que tem estado ocupado com a escrita de argumentos e a produção de uma mão cheia de filmes. Céline Garcia será co-argumentista, e Mia Farrow já confirmou o a sua presença, emprestando a voz a um dos personagens. Ainda que só esteja previsto estrear no próximo ano, espera-se bem mais do que a primeira aposta.

16 de fevereiro de 2008

Surpresa em Berlim


Foto: EFE

Foi hoje divulgado o palmarés da Berlinale, Festival de Cinema de Berlim, e "Tropa de Elite", do brasileiro José Padilha, foi o grande vencedor ao arrecadar o Urso de Ouro para Melhor Filme. "Standard Operating Procedure", de Errol Morris (EUA), venceu o Prémio Especial do Júri, uma grande novidade, contando que este foi o primeiro documentário a ser selecionado para competição na história do certame.

Surpresas atrás de surpresas. "Tropa de Elite" relata a violência e a cumplicidade entre a polícia brasileira e o narcotráfico, numa película que chegou a ser acusada de ser fascista, pelo uso de caveiras enquanto símbolos por alguns personagens, bem como pela ideia de que a opressão de uma força para-militar sobre a população é fascismo actual encapotado de cinema (para mais fait-divers do género,ler aqui).
Já "Standard Operating Procedure", de Errol Morris, que venceu o Urso de Prata, revive os maus tratos perpretados pelas tropas norte-americanos a reclusos iraquinanos na prisão de Abu Ghraib (política a picar o ponto nos palmarés dos grandes festivais).

"Happy-Go-Lucky" (Mike Leigh) e "There Will Be Blood" (Paul Thomas Anderson) desiludem e ficam com prémios secundários, eles que preenchiam a bolsa de apostas do festival alemão. Aqui fica a lista completa:




Urso de Ouro: "Tropa de Elite", de José Padilha (Brasil-Argentina)

Prémio Especial do Júri: "Standard Operating Procedure", de Errol Morris (EUA)

Urso de Prata para Melhor Realizador: Paul Thomas Anderson, por "There Will Be Blood" (EUA)

Urso de Prata para Melhor Actor: Reza Najie por "Avaze Gonjeshk-ha" ("Song Of Sparrows"), de Majid Majidi

Urso de Prata para Melhor Actriz: Sally Hawkins, por "Happy-Go-Lucky", de Mike Leigh

Urso de Prata para Melhor Argumento: "Zuo You" ("In Love We Trust"), de Wang Xiao Shuai

Urso de Prata para Contribuição Artística: "There Will Be Blood" (EUA)

Prémio Alfred Bauer: "Lake Tahoe", de Fernando Eimbcke (México)

Prémio Obra Prima: "Asyl - Park and Love Hotel", de Kumazaka Isuru, (Japão)

Prémio da Crítica Internacional FIPRESCI: "Lake Tahoe", de Fernando Eimbcke (México)

Prémio Amnistia Internacional: "Sleep Dealer", de Alex Rivera (México-EUA).

Prémio Geração 14-Plus: "Café com Leite", de Daniel Ribeiro (Brasil)


"Lars and the Real Girl" por Ricardo Clara

Aposta quase certa do cinema independente norte-americano actual é a da análise às «famílias disfuncionais», tão em voga nos dias de hoje como em "Juno" ou "Little Miss Sunshine", entre inúmeros outros exemplos que podia citar.
E é desse mesmo nicho de produção que assistimos a "Lars and the Real Girl", uma deliciosa reflexão sobre a solidão e o amor, o amar e não ser correspondido, ou a paixão levada a um extremo de necessidade.

Lars Lindstrom (Ryan Gosling, "Half Nelson", 2006) é um homem desiludido com a vida e com o amor. Vetado a um trabalho repetitivo e ignorando Margo (Kelli Garner), colega de escritório que nutre uma particular simpatia por si, Lars, que mora numa garagem adjacente à casa do seu irmão Gus (Paul Schneider, "The Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford", 2006) e da mulher deste Karin (Emily Mortimer, "Match Point", 2006), decide comunicar o início de uma relação com uma mulher, Bianca. O espanto não podia ser outro quando Gus e Karin descobrem que Bianca é uma... boneca insuflável.
Consultada Dagmar (Patricia Clarckson), psiquiatra, esta aconselha que todos, comunidade envolvida, finjam que Bianca é uma pessoa real, para que esta paranóia de Lars passe sem lhe causar nenhum tipo de dano.

Um filme de uma doçura e leveza a todos os títulos notável. "Lars and the Real Girl" é uma das abordagens recentes à temática do amor e da solidão mais tocante que têm surgido, num registo impecavelmente estruturado e apoiado numa narrativa de uma criatividade de alto grau qualitativo, com sólidas bases interpretativas.
E se abordar um caso de amor entre um homem e uma boneca insuflável podia dar para o torto, o certo é que Craig Gillespie consegue levar sempre o filme em linha recta, que combina momentos de comédia com passagens de comovente ternura. Para tal, é indispensável a deliciosa interpretação de Ryan Gosling, feita de dentro para fora, trabalhando ao ínfimo pormenor olhares que revelam daa mais profunda solidão, à descoberta de um amor correspondido.

E é nesse contexto que começamos também a não acompanhar as preocupações de Gus com a possível insanidade de Lars, e passamos a apoiar Karin e a restante comunidade na luta pela reabilitação de Lars, pela integração da Bianca e, em última análise, na derradeira batalha entre a vida e a morte.

Com uma banda sonora minimalista, e preenchendo os parâmetros gerais da produção indie actual, "Lars..." é uma aposta muito concreta: combina um argumento (Nancy Oliver, "Six Feet Under", 2003 - 2005) muito alternativo com uma realização e direcção de actores altamente competente, conseguindo tornar-se numa peça de equilíbrios inatacáveis.


Título Original: "Lars and the Real Girl" (EUA, 2007)
Realização: Craig Gillespie
Argumento: Nancy Oliver
Intérpretes: Ryan Gosling, Emily Mortimer, Paul Schneider e Patricia Clarkson
Fotografia: Adam Kimmel
Música: David Torn
Género: Drama / Comédia
Duração: 106 min.
Sítio Oficial: http://www.larsandtherealgirl-themovie.com

"Juno" por António Reis

Este ano os Óscares nas categorias principais estão verdadeiramente influenciados pelo espírito do amor. Seja o amor pela vingança no filme dos Coen, o amor excessivo e romântico em "Expiação", o amor adolescente em "Juno", o amor ao dinheiro em "Haverá Sangue" ou o amor pela verdade em "Michael Clayton". Mas se valem as apostas antes da cerimónia, vão 2 Oscares para Juno pela melhor actriz e melhor argumento - apesar de na concorrência se encontrarem excelentes interpretações femininas e um outro notável argumento que é o de "Lars and the Real Girl", ainda que demasiado marginal para ser aceite pela Academia - porque "Juno" é um dos mais inteligentes, divertidos, ternos e cáusticos filmes dos últimos tempos.
Juno recebe o seu nome da personagem central assim chamada em homenagem à irascível e ciumenta esposa de Zeus, o deus dos deuses do panteão da mitologia grega, ainda que aqui seja o nome romano da dita deusa. Mas é a história possível de uma adolescente que subitamente descobre que está grávida por um amor de verão.

Pensa em interromper a gravidez e só esta primeira ideia que percorre o filme permite de imediato uma descontraída mas séria reflexão sobre as sexualidades modernas e a gravidez indesejada das adolescentes. Só que a opção definitiva de Juno, após leitura atenta dos classificados de jornal, é o de ceder o futuro rebento para adopção a um casal escolhido com critério. Lembremos que a mulher desta família aparentemente perfeita é Jennifer Garner, no papel de uma trintona desesperada por ser mãe. E que o marido (Jason Bateman) é um compositor de publicidade, nostálgico da música dos anos 60 e que recusa aceitar o peso da idade e das responsabilidades.

O argumento e os diálogos são espantosos de ritmo e de alternância dramática, de acutilância nos temas sociais que aborda, de cómico de situação e de diálogo. Em resumo um comédia dramática de costumes onde a sátira prevalece. A responsável pela história e diálogos será Diablo Cody, uma ex-stripper occasional, que se tiver o talento de tirar a roupa como tem de escrever frases arrasadoras é uma artista. E as falas são de uma naturalidade, cadência e qualidade exuberantes. Aliás até demasiado boas para terem sido escritas por uma mulher, que me desculpem as feministas. Apesar de no seu currículo já ter escrito um muito esperado "Jennifer’s Body".

Sobretudo "Juno" precisa de tempo em exibição para que o boca a boca funcione. Porque o seu lançamento feito de forma tão discreta e em tão poucas salas revela falta de ambição da LNK no seu próprio filme. Pode ser que o Óscar lhe dê um empurrão definitivo que acabe por fazer de Juno um sucesso de bilheteira que a sua qualidade merece.




Título Original: "Juno" (Canadá, EUA, Hungria, 2007)
Realização: Jason Reitman
Argumento: Diablo Cody
Intérpretes: Ellen Page, Jennifer Garner, Jason Bateman, Michael Cera
Fotografia: Eric Steelberg
Música: Matt Messina
Género: Comédia, Drama, Romance
Duração: 96 min.
Sítio Oficial: http://www.foxsearchlight.com/juno

Romero de volta



O regresso de George Romero, um dos mestres dos cinema de terror, está por meses. "Diary of the Dead" segue um grupo de jovens estudantes que encontram verdadeiros zombies enquanto rodam um filme de terror. Depois de "Land of the Dead" (2006), resta-nos esperar para delirar com mais uma amálgama de sangue, tripas e canibalismo. Com Michelle Morgan e Shawn Roberts nos papeis de relevo, vale a pena uma visita ao myspace da película e ver o trailer daquele que é o primeiro filme desde 1968 que pertence inteiramente a Romero.

Óscares 2008 - Melhor Filme de Animação




Quem sucederá a "Happy Feet" como Melhor Filme de Animação em 2008? "Surf's Up", "Ratatouille" e "Persepolis" são os nomes da contenda, de uma categoria que foi introduzida em 2001. Desde essa data, "Shrek" (2001), "Spirited Away" (2002), "Finding Nemo (2003), "The Incredibles (2004) e "Wallace & Gromit: The Curse of the Were-Rabbit" (2005) gravaram a ouro o seu nome na história do cinema. Relembre-se ainda que "The Beauty and the Beast" (Gary Trousdale e Kirk Wise, 1991) foi o único filme de animação a estar nomeado para Melhor Filme pela Academia.

"Surf's Up" - Ash Brannon e Chris Buck

Ash Brannon ("Toy Story 2") e Chris Buck ("Tarzan") são os rostos de um mockumentary da Sony Pictures Animation sobre a vida de pinguins surfistas e um behind the scenes do Campeonato Mundial de Surf para Pinguins. Shia LaBeouf, Jeff Bridges, Zooey Deschanel, Jon Heder, Mario Cantone e James Woods emprestam as vozes a uma deliciosa comédia de animação.

"Ratatouille" - Brad Bird e Jan Pinkava

Brad Bird repete a nomeação de 2004 por "The Incredibles", pelo qual ganhou a estatueta, e perfila-se como o favorito para a edição deste ano. O checo Pinkava venceu o galardão de Melhor Curta-Metragem de Animação em 1997 por "Geri's Game", e pode estrear-se aqui nas conquistas em longas metragens. "Ratatouille", produzido pela Pixar e distribuido pela Walt Disney Pictures, está nomeado em outras quatro categorias: Melhor Banda Sonora, Melhor Som, Melhor Edição de Som e Melhor Argumento Original, e dispensa apresentações: é uma peça de arte da produção de 2007.

"Persepolis" - Vincent Paronnaud e Marjane Satrapi


Esta fita francesa, que venceu o Prémio do Júri 2007 do Festival de Cannes, é realizada e escrita por Marjane Satrapi, autora da BD que originalmente surgiu. "Persepolis" é uma bildungsroman, ou seja, um romance que segue o crescimentos social, moral e psicológico de uma crainça até à idade adulta, cuja visão incide sobre a luta contra o conformismo, ou seja, individualidade vs. conformismo. ultrapassando obstáculos e vencendo pressões sociais.
A história gira em volta de Marjane, uma jovem de 9 anos, e por intermédio dela observamos o «desenvolvimento» da sociedade iraniana pelos cânones dos fundamentalistas islâmicos. Chiara Mastroianni, Catherine Deneuve e Danielle Darrieux oferecem a voz às persnagens principais. A correr por fora, a nomeação de "Persepolis" só por si constitui um grito de revolta política e religiosa, que merece ser olhado muito atentamente.

14 de fevereiro de 2008

"There Will Be Blood" por António Reis

Onde houver petróleo haverá sangue

Recém-premiado por melhor actor pelos BAFTA e sério candidato aos Oscares, "Haverá Sangue" coloca-nos a questão se basta um notável desempenho de actor para fazer um bom filme. Mistura um pouco bizarra de petróleo, sangue, religiosidade exacerbada e fraude, o filme de Paul Thomas Anderson é uma espécie de história do Citizen Kane dos petróleos no início do século XX. Se "The Kingdom" era a perspectiva actual das teocracias corruptas do petróleo, "Haverá Sangue" é a história da ascensão de um mogul nas democracias de capitalismo selvagem, pelo que os dois filmes se complementam e nos permitem interrogar a razão do cinema se interessar de forma tão vincada pelo outro negro neste princípio de século XXI.
Aclamado como um dos grandes filmes da temporada a sua visão deixa uma sensação um pouco ambígua. Reconhecendo-se embora as qualidades da interpretação principal e secundária, a notável fotografia e enquadramento cuidado dos planos, e a fluência da narrativa enquanto biopic ficcionado de uma vida singular há algo que falta a este filme e não é a sua duração. Thomas Anderson aprofundou as relações dúbias e perversas entre os magnatas do petróleo pouco dados a escrúpulos e as seitas fundamentalistas de protestantismo radical que se aproximam da fraude. Insistiu na tónica de um homem solitário que vive obcecado pelo seu trabalho. No fim, quando pretende introduzir um tom de humor cáustico, este soa um pouco a falso.
A analogia do petróleo e do sangue acaba por ser, talvez, a mais eficaz mensagem do filme. Repare-se na subtileza do sapato sujo com o viscoso petróleo na parte inicial e o sapato manchado de sangue na cena final. Uma elipse curiosa que apenas acentua o talento do realizador. O que sobra no fim desta história? Uma impiedosa trama de riqueza e solidão, de desastres humanos e naturais onde, como diz o ditado, a riqueza não traz a felicidade. Na esteira de filmes sobre personagens fortes como em “O Aviador”, o dinheiro traz apenas a loucura ou embriaguez como modo de vida.
Se tudo correr bem não é por "Haverá Sangue" que os Coen não terão uma noite de glória na madrugada de 25 de Fevereiro.




Título Original: "There Will Be Blood" (EUA, 2007)
Realização: Paul Thomas Anderson
Argumento: Paul Thomas Anderson baseado no romance de Upton Sinclair
Intérpretes: Daniel Day-Lewis, Paul Dano e Dillon Freasier
Fotografia: Robert Elswit
Música: Jonny Greenwood
Género: Drama
Duração: 158 min.
Sítio Oficial: http://www.paramountvantage.com/blood

13 de fevereiro de 2008

A disfuncionalidade e o cinema


Um tema cada vez mais recorrente no cinema actual, que é fruto de uma aposta cadenciada nos últimos anos é o das famílias disfuncionais. Mas, se antes era o ponto de partida para a abordagem narrativa, hoje o seu objecto tornou-se uma quase personagem, e a ambivalência estrutural decorre exactamente do modo de correlacionar esse papel com o das restantes marcas acessórias.

Exemplos da história recente não nos faltam. À cabeça, até por modelarem um estilo, "The Simpsons". A comédia rasgada e o humor mordaz que nos é oferecida resulta de uma abordagem certeira de Matt Groening à sua capacidade de usar as limitações de uma família para apontar o dedo à política, à sociedade e aos comportamentos sociais em geral. Aqui, o papel é o de bloco distribuidor de opinião, carregado de humor.

Recuando, "Santa Sangre" (1989) do chileno Alejandro Jodorowsky, usa a família como veículo de choque: uma mãe sem braços tem a seu lado um filho lhos oferece, encetando uma campanha de sadia vingança. O humor está arredado, mas o terror marca a sua posição. A disfuncionalidade da família em sentido contrário, o da união.

São inúmeros os exemplos: "Twin Peaks" (David Lynch, 1989), "Rain" (Christine Jeffs, 2002), "Welcome to The Dollhouse" (Todd Solondz, 1996), "The Quiet Family" (Kim Ji-Woon, 1996), o incontornável "The Royal Tennenbaums" (Wes Anderson, 2001), "Family Guy" (1999 - ...), ou o genial "Little Miss Sunshine" (Jonathan Dayton e Valerie Faris, 2006).
O que realmente se torna interessante é a abordagem cada vez mais certeira e inquietante, muito apoiada no humor, desta opção. Porque recentemente temos "Arrested Development", "American Gangster" (Ridley Scott, 2007), "Before the Devil Knows You're Dead" (Sidney Lumet, 2007), "Michael Clayton" (Tony Gilroy, 2007) ou "Margot at the Wedding" (Noah Baumbach, 2007), tudo abordagens de elevadíssimo nível, e que reforçam um necessidade premente de analisar os processos estruturais familiares como base de uma disfuncionalidade não só desses agregados, mas igualmente de uma sociedade desequilibrada e inclinada para recursos alternativos de vida.

E o mesmo assistimos em "Juno", uma extraordinária visão de Jason Reitman de uma nova família, cuja disfuncionalidade se assume como natural, interessante e, inclusive, necessária. O cinema independente está, aliás, unido umbilicalmente a esta estrutura. Havemos de voltar ao tema.

"There Will Be Blood" por Ricardo Clara

A imperfeição a que todos somos votados à nascença faz com que cometamos os mesmos erros, que persigamos os mesmo sonhos e que pratiquemos os mesmos actos, redundando o acto de viver em longos círculos idiossincráticos.

Essa idiossincracia reflecte-se nos actos que, cometidos geracionalmente, se tornam actuais amiude, sem necessidade de adaptação ou de arranjos. Pura, e simplesmente, quando a actio se manifesta, a correlação temporal efectua-se automaticamente.

E se Oil!, o romance de Upton Sinclair, via uma época específica e apontava momentos concretos, esses transferem-se para a actualidade, tornando-se pertinentes e desconcertantes à luz dos acontecimentos actuais. Se o petróleo, o sangue, a inveja, a família e a religião, todos levados ao extremo, povoam a era de "There Will Be Blood" / "Haverá Sangue", um decalque temporal aplica-se com extrema facilidade aos dias de hoje, com a religião extremada, a busca do petróleo que pode fazer estalar conflitos, e a destruturação familiar (que é um tema tão ou mais explorado nos dias de hoje pela indústria cinematográfica como o da Guerra do Iraque) leva a comportamentos desviantes, que tornam o final do séc. XIX, início do séc. XX, uma espantosa semelhança neste final de séc. XX, início do séc. XXI.

Um self-made men não tem de ser sempre um herói, e Daniel Plainview (Daniel Day-Lewis) é uma prova disso. Abriu a pulso valas de onde extraiu petróleo, construindo um império de extracção petrolífera, tornando-se um milionário poderoso, mas ao mesmo tempo conservando uma frieza e crueldade assustadoras.

A rampa de lançamento para a fortuna deu-a Paul Sunday (Paul Dano), que a troco de dinheiro informa Plainview da existência de um vasto lençol de petróleo debaixo da propriedade da família Sunday, em Little Boston, Califórnia. O prospector desloca-se para lá com o seu filho H.W. (Dillon Freasier), onde conhece a família Sunday, destacando-se nela Eli (Paul Dano novamente), um pregador da treta, que acorda a venda dos terrenos a troco de uma quantia para a Igreja da Terceira Revelação.
Plainview compra a quase totalidade da comunidade, iniciando uma exploração em larga escala, não se inibindo de pisar o que fosse necessário para atingir os seus propósitos. Homens morrem no processo, H.W. ensurdece fruto de uma explosão, e é enviado para uma escola para crianças com deficiências auditivas. Daniel não quer saber de mais nada a não ser ganhar dinheiro. Leva uma vida de exploração e extracção de ouro negro, acabando na sua riqueza exterior e pobreza interior.

"Citizen Kane" já havia mostrado este tipo de anti-herói, tão presente na filmografia dos anos 70, e Hollywood. Daniel Plainview é, e isso sabemos, o egocênctrico por natureza. Usa o seu «filho» para ganhar dinheiro, não tem mulheres (aliás, mulheres são seres completamente acessórios e ausentes), o que talvez fosse de esperar de um homem de integridade questionável, sendo uma incógnita que é, na verdade, este homem. Uma pergunta sem resposta, onde o filme falha - como falha na criação de profundidade das personagens: quem é H.W., quem é Plainview, quem é o «irmão»?

Mas à falta de respostas, as evidências. Daniel Day-Lewis tem uma interpretação memorável, de uma extraordinária complexidade. No tom de voz, no olhar, na perplexidade, por vezes ele próprio, por vezes John Huston, por vezes Sean Connery. Confirma o que já sabiamos: é um enorme actor, daquela categoria que possibilita a ascenção ao Olimpo. Paul Dano é igualmente de grande frieza: nas explosões bíblicas, na ambiguidade moral e de carácter, na relação errática com os restantes. Perde-se consistência neste amadorismo de ter Dano como Eli e como Paul Sunday, que de um pormenor narrativo (como o é o facto de Daniel ficar com sangue na biqueira do sapato, no mesmo sítio onde anos antes H.W. teve petróleo) passa a um fait-diver de pré-produção.

A banda sonora é estrondosa (Jonny Greenwood), como o é a fotografia (Robert Elswit), que aproveita a estrutura de profundidade dos planos com maestria, e transforma os momentos nocturnos em pdeaços de intensidade e força quase estrutural. O filme, aliás, tem momentos de enormíssima qualidade, sequências arrebatadoras e de cortar a respiração, mas essas surgem-nos a espaços, nunca atingindo o equilíbrio da narrativa e da realização na sua plenitude. Paul Thomas Anderson ("Magnolia", 1999) confirma ser um dos grandes realizadores da sua geração, e "There Will Be Blood" confirma-se como uma das grandes obras de 2007.





Título Original: "There Will Be Blood" (EUA, 2007)
Realização: Paul Thomas Anderson
Argumento: Upton Sinclair (romance), PT Anderson
Intérpretes: Daniel Day-Lewis, Paul Dano e Dillon Freasier
Fotografia: Robert Elswit
Música: Jonny Greenwood
Género: Drama
Duração: 158 min.
Sítio Oficial: http://www.paramountvantage.com/blood

12 de fevereiro de 2008

"4400" quer chegar aos 44



Agora que os argumentistas parecem concordar com os estúdios, volta a ser o público a reagir.

Um dos pontos altos da época televisiva passada foi a reacção pública ao cancelamento da série "Jericho". O Antestreia relatou esse marco que mudou a forma como os estúdios encaram os espectadores. Não são mais um número que fica bem nos shares, são mentes sagazes capazes das mais brilhantes reacções.

A série "4400" para quem não conhece é sobre um grupo de pessoas que foram raptadas nos últimos 50 anos e que aparecem de uma só vez, trazidas por um cometa. Não sabem o que aconteceu nem onde estiveram, mas cada um deles trouxe um poder especial. A história foi desenrolando desde 2004 e agora de súbito foi cancelada ao fim de 42 episódios. Talvez as semelhanças com "Heroes" tenham causado uma fuga de espectadores, talvez os produtores tenham percebido que o espectáculo não iria ter um bom final sem argumentistas, talvez tenha havido um bloqueio de escritor. Não iremos saber a resposta pois a televisão não deu satisfações. O que é certo é que inspirado no movimento em defesa de "Jericho" foi criado um movimento para defesa de "4400". Uma empresa de sementes de girassol já enviou 300kg de sementes para os estúdios da USA Network e afirma ter recebido encomendas de 30 estados e mais de dez países.
Estes movimentos são uma magnífica campanha publicitária para as empresas de aperitivos. Não duvidava que fossem elas a promover o movimento para melhorar as vendas. Para os interessados aqui fica o endereço http://www.savethe4400.net Estes fãs pedem aquilo que todas as séries merecem: um fim.

11 de fevereiro de 2008

"Gone Baby Gone" por Nuno Reis


"Gone Baby Gone" não é um filme que marque a temporada cinematográfica, mas é um filme que combina com a temporada em que foi feito. O seu tema é o desaparecimento de uma menina de quatro anos e a investigação de contornos suspeitos que gera. O tema não tem nada de original nem seria mais apelativo que qualquer outro filme se não fossem as incríveis semelhanças com um caso actual. Exceptuando para quem esteve sem comunicação com a Europa por nove meses ,este filme parece um retrato fiel de um caso que se vai desenrolando sem pressas em Portugal. A estreia foi adiada em muitos países precisamente por isso, parecia que se estavam a aproveitar da tragédia alheia para promover o filme. O tempo de lamento passou e o filme tinha de aparecer mais cedo ou mais tarde. Esta semana foi a eleita.

A primeira metade do filme é um drama insípido. Um casal de detectives vai seguindo algumas pistas pelo mundo marginal e através dos seus contactos consegue informações que escaparam à polícia nos primeiros dias. Esse desfasamento em relação ao dia do rapto é proveitoso para a construção do filme. Fica tudo nas mãos dos detectives que seguindo um rumo não oficial descobrem muitas novidades. Os polícias são personagens insignificantes e a investigação deles é algo de que não se fala.
Para quem acompanhou o Caso Maddie esta fracção do filme é um retrato ficcionado do que sucedeu à criança inglesa. Tem tudo o que precisa para ser igual à realidade e por isso mesmo parece melhor do que realmente é. O tempo encarregar-se-á de tirar muito do pouco valor que tem.

A segunda metade tem um ritmo diferente e segue um fio narrativo mais cinematográfico. Acção, tiroteios, suspense, vale tudo para manter o espectador interessado numa história que já não é totalmente previsível, já não é a de Maddie... O final é o culminar de um desentrançar de nós frágeis. Pode não surpreender, mas consegue seguramente dividir os espectadores.

A nível de interpretações não há nenhum destaque, a nomeação de Amy Ryan para o Oscar é um bocado forçada pois tal como os outros pouco se afasta da mediania. A realização (com um bocado mais de esforço) é capaz de ser o futuro do Affleck mais velho, agora que o irmão mais novo provou que já há alguém da família a saber representar. A banda sonora é agradável e compensa os momentos menos conseguidos do argumento. Cumpre o dever de entreter e com o efeito Maddie guardou um pequeno lugar na história do cinema e no coração de muitos espectadores.


Título Original: "Gone Baby Gone" (EUA, 2007)
Realização: Ben Affleck
Argumento: Ben Affleck, Aaron Stockard baseados no livro de Dennis Lehane
Intérpretes: Casey Affleck, Michelle Monaghan, Ed Harris, Morgan Freeman, Amy Ryan, John Ashton
Fotografia: John Toll
Música: Harry Gregson-Williams
Género: Drama, Crime, Mistéria
Duração: 114 min.
Sítio Oficial: http://www.gonebabygone-themovie.com/

Rufus Wainwright vs Judy Garland



Judy Garland foi um das estrelas maiores da vasta constelação de Hollywood, concerteza uma das mais brilhantes. Rufus Wainwright é uma das faces mais importantes da operatic pop dos nossos dias, e um talento de enorme criatividade. Garland foi Dorothy em "The Wizard of Oz" (Victor Fleming, 1939), Wainwright foi Garland por duas noites. A 14 / 15 de Junho de 2006 o primeiro reproduziu um concerto da segunda em Carneggie Hall, este gravado em 1961, o qual ganhou cinco Grammys e se manteve por dois meses consecutivos nas tabelas do Billboard.

Uma peça de excelência do cantautor canadiano / norte-americano, que nos volta a trazer o brilhantismo de uma mulher que personifica o arquétipo da astronomia hollywoodiana:

In the silence of night I have often wished for just a few words of love from one man, rather than the applause of thousands of people
A da solidão e da clausura num mundo de falsas fantasias e pretensas virtudes. Para ler e ouvir Rufus meets Judy, em dois momentos: o recordar Over The Rainbow da banda sonora do filme de Fleming, e apurar esta possibilidade de estarmos mais perto de Garland - You're Nearer.


Rufus Does Judy At Carneggie Hall, Over The Rainbow, 2007


Rufus Does Judy At Carneggie Hall, You're Nearer, 2007


Fontes: I, II, III, IV