31 de agosto de 2008

"Tropa de Elite" por Nuno Reis

Os músicos brasileiros como boas aves migratórias todos os Invernos rumam ao hemisfério norte para passar uns meses no nosso Verão. Trazem com eles êxitos um pouco ultrapassados que são recebidos como a maior novidade. O "Rap das Armas" foi uma das músicas deste Verão e, por ser o tema principal do filme, ajudaram-se mutuamente na promoção. A crueza desta música espelha a realidade que é vivida em "Tropa de Elite". O poder é medido pelo tamanho e quantidade de armas, a vida humana não tem valor. Quando Franklin disse que na vida apenas a morte e os impostos eram garantidos não devia estar a falar das favelas do Brasil. Os que aqui vivem estão a salvo de cobradores de impostos, mas todos os dias encaram a morte de frente.

Os grandes filme brasileiros reflectem a miséria e o sofrimento das classes pobres. Este não foge à regra e mostra o dia-a-dia dos mais pobres do país, os habitantes das favelas. É uma amostra do Brasil não recomendado a turistas a ser novamente apresentado ao mundo, novamente brilhante, e a ser mais uma vez digno de aplausos como o provou o prémio berlinense. Tanta pobreza real na tela começava a cansar, nesta perspectiva parece algo diferente .
"Tropa de Elite" fala dos que lá vivem, dos que lá traficam e especialmente dos que lá fazem cumprir a lei. Esta é uma história verídica – afirmam eles – sobre os agentes da BOPE, força de elite da polícia brasileira para combater o crime organizado das favelas. Eles são duros e incorruptíveis, mas como todos os soldados correm risco de vida. O capitão Nascimento vai ser pai e procura alguém capaz de o substituir na liderança desses homens. Todos eles são excelentes soldados, mas além disso tem de ser alguém com coração, inteligência e capaz de pôr a ordem nas ruas a tempo da visita do Papa. Neto e Martins são os favoritos do Capitão para o cargo. Desiludidos com os esquemas paralelos de todos os agentes da polícia regular, encontram na BOPE a honestidade que esperavam de todos os polícias. Mas enquanto a Neto sobra dedicação e falta cabeça, com Martins é precisamente o contrário, apesar de ter a mentalidade pretendida ainda tem o coração dividido entre os amigos e a lei. Estes dois amigos que sempre se ajudaram mutuamente irão dar o máximo de si para sobreviver às ruas e merecer a confiança do capitão.

A obra de Padilha foca-se mais na sociedade do que nas pessoas, mas sem entrar demasiado em estereótipos. As perspectivas que nos dá tanto nos mostram a topologia dos bairros como as condições de trabalho logísticas e psicológicas das ONG e da polícia nesse mundo particular. Denuncia os podres existentes em todos os níveis da polícia de forma divertida e, infelizmente, credível. Uma impressionante narrativa e as interpretações cruamente realistas fazem deste filme um dos títulos obrigatórios do ano corrente.


Título Original: "Tropa de Elite" (Brasil, 2007)
Realização: José Padilha
Argumento: José Padilha, Rodrigo Pimentel, Bráulio Mantovani (livro de André Batista, Rodirigo Pimentel, Luiz Eduardo Soares)
Intérpretes: Wagner Moura, Caio Junqueira, André Ramiro, Fernanda Machado
Fotografia: Lula Carvalho
Música: Pedro Bromfman
Género: Acção, Crime, Drama, Thriller
Duração: 115 min.
Sítio Oficial: http://www.tropadeeliteofilme.com.br/

29 de agosto de 2008

Serviço Público - MOTELx


"O melhor cinema de terror que se faz pelo mundo chega a Lisboa dentro de uma semana

A segunda edição do MOTELx – Festival Internacional de Cinema Documental de Lisboa tem início já na próxima semana, entre 3 e 7 de Setembro. Ao longo de cinco dias o Cinema São Jorge recebe o que de melhor se tem feito no cinema de terror a nível internacional.

ROOM SERVICE assume-se nesta edição como a secção principal do festival e mostrará filmes em estreia absoluta em Portugal, com enfoque em diversificados temas e subgéneros. Haverá um pouco de tudo: slashers, horror americano independente, histórias de fantasmas, trillers psicológicos, comédias e muito gore. A proveniência dos filmes é igualmente rica: dos EUA chegam filmes como Roman, Jack Ketchum’s, The Girl next Door, Blood Car, Teeth, da Noruega Fritt Vilt, da Polónia Hiena, da Argentina 36 Pasos, da Alemanha Dard Divorce, do Reino Unido Doomsday e El Rey de la Montaña de Espanha; da Tailândia chega Alone e da Austrália Black Water; o título mais exótico desta secção é Hiss vindo do Afeganistão.

A secção ABOMINÁVEL MUNDO NOVO que tem como principal objectivo prestar tributo a um realizador ou cinematografia, homenageará a Nouvelle Vague do Terror Francês, com a exibição de filmes como À L´Interieur de Julien Maury e Alexandre Bustillo, Frontiére(s), de Xavier Gens, Sheitan, de Kim Chapiron’s ou Haute Tension, de Alexandre Aja.

E porque o MOTELx não é apenas um festival dedicado à ficção, tem também uma secção destinada ao género documental: DOC TERROR. Aqui serão exibidos documentários sobre subgéneros (Going to Pieces: The rise and fall of the slasher film), sobre realizadores desconhecidos (Blood, Boobs & Beast), falso documentário (Reel Zombies), e ainda um dos filmes mais fortes desta edição: um documentário sobre touradas em Espanha: Animal, El Documental.

Para a secção CULTO DOS MESTRES VIVOS o festival convidou o nome maior do cinema de terror da América do Sul: José Mojica Marins – realizador, filósofo, ex-candidato político e compositor de sambas – que vem a Lisboa estrear a Encarnação do Demónio, o regresso do coveiro 40 anos depois Esta Noite Encarnarei no teu Cadáver, tratar-se-á, sem dúvida, do ponto mais alto deste MOTELx. A obra do criador de uma das personagens mais carismáticas do género - Zé do Caixão – será mostrada ao público português com a exibição de alguns dos seus mais importantes trabalhos como À Meia Noite Levarei Sua Alma ou O Despertar da Besta. José Mojica Marins e a sua filha Liz Marins (cineasta, escritora, actriz e criadora da personagem Liz Vamp, ministrarão um workshop nos dias 4, 5 e 6 de Setembro.

As curtas-metragens estarão novamente em destaque no MOTELx. Além de uma selecção das melhores curtas internacionais com destaque para uma forte presença espanhola nomeadamente do País Basco, haverá também lugar para filmes portugueses que procuram uma linguagem própria dentro do género.

A maior novidade desta edição do Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa é a criação de uma nova secção dedicada aos mais novos. LOBO MAU comportará diversas actividades - teatro, fotografia, escrita – e decorrerá ao longo de três dias, tendo como ponto culminante a exibição de um filme de terror, especialmente pensado para a faixa etária a que se destina. Serão criados três grupos de trabalho, divididos por idades e com actividades e momento de visionamento do filme diferentes conforme a faixa etária. Foram definidos três grupos etários e três actividades correspondentes: dos 6 aos 8 anos, dos 9 aos 12 e dos 13 aos 16. Estes grupos trabalharão ao longo de 4 dias, sendo que os primeiros três dias terão a duração de três horas de trabalho cada, sendo o último dia dedicado a um momento mais performativo e cuja duração dependerá do trabalho a realizar conforme a faixa etária.
As inscrições para estas actividades deverão ser feitas através do email workshops@motelx.org."


27 de agosto de 2008

Medicina televisiva


Um grupo de médicos italianos quer proibir as séries de ficção médica na televisão nacional. Dizem que séries como "House M.D.", "Grey's anatomy", "E.R." e "Scrubs" dão uma imagem errada da medicina e dos métodos utilizados, chegando em alguns casos a passar informação falsa.
Para tentar perceber se esse protesto é ou não válido queria analisar em detalhe os ensinamentos que adquiri nessas séries.


Como é óbvio estes grandes doutores não se querem deixar influenciar pelos maus médicos televisivos e por isso mesmo não assistem aos programas. Infelizmente por isso mesmo acabam por falar sem conhecimento de causa. Colocar "Scrubs" na lista de séries que ensinam má medicina é ridículo. Não é suposto acreditar em nada do que se vê neste programa que usa a medicina como desculpa para fazer humor. Os próprios créditos iniciais são uma radiografia colocada propositadamente ao contrário!

Temos aqui uma sequência de momentos. Algo parecido com conhecimento médico erróneo? Erróneo sim, médico nem um pouco.



Depois de quinze anos no ar "E.R." é um fenómeno de longevidade. Já por lá passaram algumas grandes estrelas, tanto em ascensão como em queda, e ainda mantém os fãs. A acção desenrola-se num hospital, mas na verdade os problemas são mais sociais do que hospitalares. Os casos médicos que lhes são colocados são na maioria vulgares acidentes de carro. Também alertam para os males da guerra e frequentemente prestam auxílio em países desfavorecidos. Nada de mal a apontar.
O momento do clip seguinte já foi referido aqui no blog como um dos mais marcantes da televisão.



Em "House M.D." temos um médico drogado, arrogante, que detesta as pessoas e usa palpites para salvar vidas. Estará muito desfasado da realidade? Numas temporadas salva todos, noutras não salva ninguém. E por vezes não faz nada como podemos ver nesta compilação.

Concordo que é melhor ninguém saber disto...


Finalmente temos a mais recente das séries criticadas. "Grey´s Anatomy" é uma telenovela disfarçada de série hospitalar. De vez em quando vejo-os na mesa de operações, mas honestamente não me lembro de nada médico que tenha sido feito num episódio.

Um comportamento médico que foi bem adaptado para o ecrã foi a saída de Kate Walsh para o privado. Ganha mais com menos trabalho e ainda se considera a estrela do sítio.


Se os restantes profissionais seguissem o exemplo dos médicos iríamos ter uns serões bem divertidos. Olhando para a programação televisiva daria para riscar bastantes coisas. Tudo o que é casos de polícia desaparece. Agências governamentais e militares idem. Se versa sobre advocacia é melhor retirar e depressa para a Ordem não processar. Tudo o que é sobre alguma coisa específica e real tem de sair. Sobra alguma animação da Fox, as novelas sobre coisa nenhuma e parte do que for paranormal pois mesmo nessa área alguns devem ter equivalentes na vida real...

Ainda bem que são médicos porque convém consultarem um psicólogo depressa e sendo colegas a lista de espera sempre fica menor. A ficção televisiva tem como objectivo entreter e não ensinar. A tele-escola tem canal e horário próprio.

Uma criança entretém-se com pouco e por isso é fácil dar-lhes cultura disfarçada, veja-se o caso tão bem sucedido de "Baby Einstein/Little Einsteins". A partir de certa idade começa a ser complicado. Nos últimos 20 anos uma série feita para um público adulto ou é para entreter ou para ensinar, não consegue fazer ambos. Se querem combinar essas vantagens peçam mais reposições de "MacGyver". Isso eu já subscrevia.

26 de agosto de 2008

"Run, Fatboy, Run" por Ricardo Clara

A criatividade de Simon Pegg tem chamado a atenção no establishment da comédia europeia e norte-americana (no que ao cinema concerne) desde o hilariante "Shaun of the Dead" (2004), onde acumula as funções de actor e argumentista. Daí até "Hot Fuzz" (2007) foi um pulo, marcado pela paulatina entrada em Hollywood. A sua carregada verve britânica é cada vez mais um desafio nesta viagem transatlântica, e que não se tem saldado por positivo - o que justifica as produções do Reino Unido em que se envolve.

Dennis Doyle (Simon Pegg) é um simpático e gorducho segurança numa loja de artigos femininos, numa altura em que se contam cinco anos desde que deixou a sua noiva Libby Odell (Thandie Newton, "E.R.") sozinha no altar, grávida e desesperada com tal insane acto. Passados este anos, Dennis descobre que Libby é, sem qualquer dúvida, a mulher da sua vida. Para a conquistar, decide aproximar-se cada vez mais de Jake, rebento do casal, agora com 5 anos, esperando que por intermédio dele lhe consiga atingir o coração.
Seria com toda a certeza um plano destinado ao sucesso, não existisse já um terceiro elemento nesta equação: Whit (Hank Azaria, a voz do chefe de polícia Wiggum ou do barman Moe Szyslak nos premiados "The Simpsons"), actual namorado de Odell, é uma série ameaça às suas pretensões. Este, um bem sucedido gestor norte-americano, tem como paixão a corrida, e decide participar na Nike River Run, uma maratona londrina ao largo do Rio Thames. Dennis tem um novo alvo definido - inscrever-se no evento, e provar que merece este amor que deixou meia década em suspenso. Para tal, recebe a preciosa ajuda de Gordon (Dylan Moran, ""Black Books", 2000 - 2004) e do seu senhorio Goshdashtidar (Harish Patel, "Dhaai Akshar Prem Ke", 2000).

"Run, Fatboy, Run" / "A Maratona do Amor" é uma insossa tentativa de comédia por parte de Pegg, que a par de Michael Ian Black escreve o argumento, numa película realizado por David Schwimmer (mais conhecido pelo papel de Ross Geller na série televisiva "Friends"). Com diálogos pobres e interpretações menos conseguidas, o filme nunca consegue manter-se homogéneo, pois alterna bons momentos de comédia com outros de puro enfado. Confirma, isso sim, a capacidade camaleónica de Simon Pegg na interpretação, arrancando aqui um belo trabalho num registo diferente aquele que nos tem habituado. Se é um facto que atinge os fins a que se propõe, a verdade é que a introdução de momentos de burlesco, patrocinados essencialmente pelo indiano Harish Patel e pela desgovernada vida de Gordon, estes nunca se fundem na tal substância homogénea, quando em confronto com Libby e Whit - são dois mundos paralelos dentro da mesma tela, dois tipos de comédia, que resultam numa banal tentativa de comédia. Se a inspiração até estaria correcta - essencialmente pelo desviante comportamento de um homem em tentar ganhar o amor de uma mulher através da corrida de uma maratona - os vários tipos de comédia nunca se interligam e termina como mais uma amálgama de clichés.




Título Original: "Run, Fatboy, Run" (Reino Unido, 2007)
Realização: David Schwimmer
Argumento: Michael Ian Black e Simon Pegg
Intérpretes: Simon Pegg, Thandie Newton e Hank Azaria
Fotografia: Richard Greatrex
Música: Alex Wurman
Género: Comédia / Romance
Duração: 100 min.
Sítio Oficial: http://www.runfatboyrunmovie.co.uk


25 de agosto de 2008

# 13 - "The Argentine / Guerrilla"



O díptico "The Argentine" e "Guerrilla", compilado no único nome de "Che", é a grande aposta para o 13º lugar da nossa lista 15+. E grande, não só pelos intevenientes - com Steven Soderbergh à cabeça - mas também pelas longas quatro horas de duração (que tanta polémica criaram em Cannes 2008)

"Che" é um biopic centrado em Ernesto "Che" Guevara, em especial a revolução cubana e os seus últimos anos de vida. Interpretado por Benicio del Toro ("Traffic" - 2000, "Things We Lost in Fire" - 2007), este encarnou a personagem de forma aparentemente convincente - ou não fosse por este motivo que o júri presidido por Sean Penn lhe tivesse atribuido o galardão para Melhor Actor na competição deste ano.

A acompanhar o actor natural de Porto Rico temos ainda Benjamin Bratt ("Law & Order"), Franka Potente ("Lola rennt" - 1998), Catalina Sandino Moreno ("Maria Full of Grace" - 2004), Rodrigo Santoro ("Carandiru" - 2003) e Demián Bichir ("Hasta morir" - 1994), num díptico falado em espanhol e em inglês.

Polémico na duração, polémico no espanhol falado, divide opiniões e sensibilidades - mas consegue ser descrito por James Rocchi como «bold, beautiful, bleak and brilliant [...] a piece of entertainment that delivers excitement, pathos and pure film making passion; it's a work of art worth thinking about and arguing about, one that opens up possibilities and encourages you to think and feel without telling you how you should think and feel».
Com estreia prevista para este ano, prevê-se a possibilidade de del Toro entrar na luta pelos Óscares em 2009.


23 de agosto de 2008

"Get Smart" por Nuno Reis

Revivalismo ou oportunismo?

Alguma série pode ser comparada a "Get Smart"? Detectives e agentes secretos havia muitos, mas nenhum tinha o humor refinado de Mel Brooks e o ar pateta de Don Adams. As histórias por muito disparatadas que fossem era um delicioso entretenimento e as mesmas piadas tinham graça vezes sem conta. Mesmo o genérico, primeira vítima das modernizações em todas as séries, manteve-se idêntico anos a fio e imune a críticas. A série durou de 1965 a 1970. Nos anos 80 fizeram dois filmes e nos 90 Smart foi o chefe da agência numa mini-série. Nesse segunda série - tal como Agatha Christie fez com o único outro casal de detectives que admiro, Tommy e Tuppence - Max e 99 foram afectados pelo tempo e envelheceram juntamente com os actores e os espectadores. Esse passo corajoso, sendo bem feito, prova se uma série ou filme foi mais do que um fenómeno efémero. A série foi um fracasso.

Com o filme o caminho seguido foi diferente. Modernizaram a história e os actores, mas mantiveram os nomes. A CONTROL é um museu e os objectos expostos trazem à memória as dezenas de episódios em que o saudoso Don Adams era Smart. O carro, o fato e o sapato, são alguns dos testemunhos de um passado glorioso da agência. Maxwell Smart (Carell) entra por uma porta e de repente somos transportados para frente da televisão há uns anos atrás. Este Smart também atravessa portas, também entra na cabide para ser sugado e... as semelhanças terminam aí. Porque este Smart é um excelente analista e qualificou-se brilhantemente para agente de campo. Não é idiota, não é despistado, não é o que esperava. A agente 99 continua a ser linda, inteligente, e perfeita nas missões, a diferença é ser antipática. O chefe é o único que está fiel ao passado. O que mais perturba é deslocarem no tempo os nomes sem nenhum respeito pelas personagens.

Entre actores principais e secundários não tenho nenhuma queixa. Foram grandes escolhas e as interpretações estão acima da média. Sinceramente não esperava tanto de uma comédia. A realização em alguns detalhes podia ter sido melhor, no meio de tanta acção algumas falhas passam ao lado. Quanto ao argumento as queixas são inúmeras. Tem gags geniais e a nostalgia espreita, mas é tão previsível que destrói tudo o que o faz um bom filme. Quem viu "Johnny English" ou especialmente "I Spy", vai ter uma sensação de dejá vu do início ao fim. Esta é apenas mais uma comédia de espionagem que tinha tudo para ser bem sucedida e se desgraçou por não ser original. Não é frequente eu escrever isto, mas talvez uma sequela não fosse mal pensado.

Título Original: "Get Smart" (EUA, 2008)
Realização: Peter Segal
Argumento: Tom J. Astle e Matt Ember
Intérpretes: Steve Carell, Anne Hathaway, Dwayne Johnson, Alan Arkin
Fotografia: Dean Semler
Música: Trevor Rabin
Género: Acção, Comédia, Thriller
Duração: 110 min.
Sítio Oficial: http://getsmartmovie.warnerbros.com/

"Hellboy II: The Golden Army" por Nuno Reis

Hellboy é sempre uma mistura explosiva de humor e acção. Em BD e em filme estas personagens fantásticas já fascinaram milhões. Extra-terrestres, demónios e mutantes trabalham juntos numa agência governamental secreta, a BPRD. A missão deles é impedir que os humanos conheçam o mundo paranormal ou que sejam afectados por ele. Fazem-no com humor, com estilo e pela calada da noite. No primeiro filme enfrentaram Rasputin e os nazis. Neste segundo vão enfrentar criaturas imortais, fadas, elfos e trolls numa batalha que deveria ser de toda a Humanidade.

Como este é um filme de Guillermo del Toro falemos dos efeitos visuais. Mesmo sem a DDT ao lado esmerou-se e criou-nos mais alguns seres fantásticos. Para muitos vai ser uma desilusão porque não estão em destaque como no "El Laberinto del Fauno. São personagens secundárias brilhantemente criadas que não roubam o protagonismo a quem o merece. Este filme já tinha as suas estrelas definidas.

O trabalho em equipa do trio maravilha continua igual. Têm uma missão para cumprir e fazem-na como sempre. Abe detecta o perigo, Hellboy tenta a exterminação um a um e, se for preciso, Liz explode com tudo. Há um momento brilhante em que Hellboy e Abe mostram uma cumplicidade inesperada. A seriedade do Azul e a irreverência do Vermelho faziam-nos parecer opostos, mas havia uma camaradagem com décadas que nunca tinha sido mostrada ao público. A boa disposição transmitida nessa cena leva o filme para um novo patamar e marca o final das cenas de terror com que começou. A partir daí é só lamechices e acção.
O lado exibicionista de Hellboy continua bem patente, o que obriga Liz a colocar-lhe o eterno problema do amor, escolher entre ela e o mundo. Este filme é muito dedicado ao amor e o lado sentimental dos não-humanos está muito bem explorado. A relação entre Hellboy e Liz tem enorme importância porque este filme é uma história de amor entre indivíduos de espécies diferentes, mas iguais em espírito. Aqueles que por serem diferentes dos demais se devem manter juntos. A Abe, Liz e Hellboy juntam-se alguns mais, mas sem exagerar. Um aqui e outro ali, só para mostrar que estes três não são os únicos seres especiais, são muitos e estão sós.

Apesar de ser um filme que agrada a todos, quem não viu o primeiro vai perder o significado de alguns dos momentos. A falta que lhes faz o professor Broom (John Hurt dá um ar da sua graça na cena inicial) que o governo tenta compensar com Johann Krauss, a paixão de Hellboy pelos gatos, o complicado passado das personagens e o ainda mais complicado futuro da humanidade. Quanto ao passado há um texto introdutório a dizer que Hellboy foi encontrado e adoptado. Em relação ao futuro dão uma ajuda dizendo subliminarmente duas vezes "sequela imperdível" ao prometer o Apocalipse. Isso compensa toda a previsibilidade sentida neste filme.


Título Original: "Hellboy II: The Golden Army" (Alemanha, EUA, 2008)
Realização: Guillermo Del Toro
Argumento: Guillermo Del Toro e Mike Mignola
Intérpretes: Ron Perlman, Selma Blair, Doug Jones, Luke Goss, Anna Watson
Fotografia: Guillermo Navarro
Música: Danny Elfman
Género: Acção, Aventura, Fantasia
Duração: 120 min.
Sítio Oficial: http://www.hellboymovie.com/

A asfixia de Palahniuk



Um dos filmes que mais atenção tem suscitado para estes lados tem sido "Choke", do estreante na realização Clark Gregg, ele que fez carreira (até agora) como actor, tendo entrado em filmes como "The Air I Breathe" (2007) ou "Iron Man" (2008).

A razão para este interesse, simples e directa: Chuck Palahniuk. Como os meus caros cinéfilos sabem, Palahniuk é o autor do romance "Fight Club", que dá origem ao filme homónimo extripado das hábeis mãos de David Fincher. E este facto, por si só, obriga-nos a observar "Choke" com toda a atenção.
Por outro lado, a participação de Sam Rockwell (que obteve merecido olhar atento pelo seu desempenho em "The Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford" (2007), que contracena com Anjelica Huston (oscarizada em 1985 por "Prizzi's Honor").

Observamos assim Victor Mancini, um estudante de medicina falhado, a contas com a doença da mãe, os problemas financeiros de a suportar no hospital, e os seus desviantes comportamentos sexuais. Para ultrapassar a seca de dinheiro, monta um elaboradíssimo esquema: finge sufocar com comida em finos restaurantes, e aproveita-se daqueles que o salvam, que lhe enviam cheques, sentindo-se na obrigação de o ajudar e acompanhar. Entretanto, frequenta workshops para o ajudarem com as suas obsessões sexuais, e enfrenta segredos do seu passado.

Premiado no Sundance Film Festival este ano com o Prémio Especial do Júri, onde viu o trabalho de direcção de actores amplamente reconhecido, ainda não viu data de estreia anunciada para estes lados, mas a luz do dia abateu-se sobre o trailer, que damos hoje a conhecer.

Miyazaki continua em grande


Hayao Miyazaki há muito tempo que é um dos nomes incontornáveis da animação e é difícil dizer qual o seu melhor trabalho. Este ano tivemos uma oportunidade de ver alguns dos melhores filmes no Fantasporto, mas ainda muitos se seguirão, como "Ponyo on the Cliff". Esta animação conta as aventuras de uma peixinha que quer ser humana e do menino de cinco anos que a ajuda.
Ponyo on the Cliff

O filme está em exibição no Japão e nesta quinta semana vai ultrapassar a barreira dos 8,5 milhões de espectadores (e dos 100 milhões de dólares). As estimativas apontam para que, antes de sair de exibição, se aproxime dos números de "Spirited Away", uns fabulosos 25 milhões de espectadores. Isso é um quinto da população do país.
Convertendo para números americanos é o mesmo que um filme Pixar faz, mas num mercado com metade da população e projectado num décimo das salas. Os números só não foram mais arrasadores porque no mesmo dia foi lançado um novo filme "Pokemon" e também está a ser um sucesso tremendo com metade dos resultados de Ponyo.

O filme vai chegar à Europa dentro de dias, para o festival de Veneza. A partir daí as datas de distribuição europeia começam a conhecidas.

Sítio oficial: aqui (em japonês)

22 de agosto de 2008

# 14 - "Fireflies in the Garden"



O nº. 14 desta nossa lista de 15+ chega-nos à boleia de um muito interessante elenco. Isto porque o realizador (Dennis Lee) é um desconhecido que debuta nas longas metragens com este "Fireflies in the Garden", e será de todo importante assentar as nossas expectativas na união entre o elenco, a sinopse e o trailer.

Julia Roberts ("Erin Brockovich" - 2000; "Charlie Wilson's War" - 2007), Ryan Reynolds ("The Nines" - 2007), Willem Dafoe ("Platoon" - 1986, "Inside Man" - 2006), Emily Watson ("Hilary and Jackie" - 1989), Carrie-Anne Moss ("The Matrix" - 1999) e Hayden Panettiere (a conhecida Claire Bennet da multipremiada série televisiva "Heroes) são uma razão forte para estar desde já atento à evolução deste projecto.

E aqui, conhecemos Michael Taylor (Ryan Reynolds), um famoso escritor que empresta a sua trágica memória de infância às suas criações. Quando recebe a notícia da licenciatura da mãe Lisa (Julia Roberts), regressa a casa confuso sobre se a encontraria como estava - um pai (Willem Dafoe) distante e um irmã (Hayden Panettiere) com muitos problemas, numa família assoberbada de segredos e assuntos pendentes.
A perda de um dos pilares desta põe definitivamente à prova todo o grupo, que necessita de se unir para ultrapassar muitos dos assuntos incómodos que pairam sobre eles.

Não nos parece oscarizavel, mas o facto é que a carreira de Roberts tem sido pautada amiude com importantes apoios na corrida ao galardão, nunca sendo de descurar esta possibilidade. Por outro lado, o desempenho de Ryan Reynolds, que chamou a atenção de muitos dos que assistiram ao filme (em especial no Festival de Berlim) e que seguem com atenção a carreira deste actor em clara curva ascendente na carreira. Marquem nos calendários - 18 de Setembro estreia por este Portugal fora.



21 de agosto de 2008

"Superhero Movie" por Nuno Reis


Neste novo episódio da saga “Movie” o tema satirizado são os super-heróis. Depois de tantos temas utilizados até parecia estranho não atacarem este. Os que mantiveram o título "Scary Movie" foram perdendo sagacidade, os restantes foram na sua quase totalidade execráveis. Este título está tão afastado dos outros em qualidade que as suas origens têm de ser explicadas.

A encabeçar a produção temos os irmãos Weinstein. São os responsáveis pelos Scary Movie originais e por nenhum daqueles que dizem “de 2 dos 6 argumentistas de "Scary Movie"”. Se o currículo dos Weinstein como produtores é tão vasto que é impensável fazer apresentações, outro dos nomes da produção, David Zucker, tem uma lista de trabalhos com algum valor. Por exemplo a produção/realização/escrita das comédias "The Naked Gun" e "Airplane!" entre alguns títulos menos felizes. Juntou-se à saga realizando os filmes 3 e 4. Quem também entrou para a família com esses dois filmes foi o realizador Craig Mazin, na altura como argumentista. Curiosamente a sua única experiência anterior na realização tinha sido também numa comédia de super-heróis, "The Specials", primeiro argumento pós-Troma de James Gunn.
Os culpados pelos "Epic Movie", "Date Movie" e "Meet the Spartans" não estão envolvidos nisto. Ainda devem estar a fugir da multidão enraivecida que assistiu a esses pesadelos.

Rick Riker (algumas semelhanças de nome com Alex Rider do filme "Stormbreaker") é um jovem orfão que vive com os tios. A forma como perdeu os pais é igual à tragédia que se abateu sobre a família de Bruce Wayne, as aventuras que terá para a frente são uma cópia a papel químico da vida de Peter Parker. Pelo meio ainda visita por dois minutos a Academia para Super-Dotados do professor Xavier. A imitação descarada de Spider-Man está engraçada. Copiaram os cenários e os movimentos de câmara e o argumento foi só ligeiramente adaptado para ficar mais divertido. É que a história original, talvez pela repetição constante na televisão, começava a perder o interesse e precisava de uma versão mais ligeira. A Academia é a parte menos conseguida. Numa tentativa de juntar tudo num só filme foram abrindo caminho para Xavier aparecer e, após uma rápida visita às instalações recheadas de super-heróis, desaparecem todos e não se fala mais nisso. Tinha sido preferível fazer uma participação descartável como o Quarteto e deixar a história principal fluir sem interrupções.

Entre os actores destaco Sara Paxton que como Jill supera muito bem a MJ de Kirsten Dunst. Christopher McDonald é um vilão de eleição para a comédia e aqui está incrível. Dou também os parabéns pelo herói e vilão criados. Coincidem com o estereótipo e conseguem ter um ar imponente quando na verdade são apenas mais uma peça da fantochada.

Há três falhas recorrentes a lamentar. Primeiro Kevin Hart devia ter a personagem cómica, mas acaba por insistir sempre na mesma piada. Podiam ter desenvolvido a personagem. A segunda falha é o trailer, como habitualmente, estragar o efeito surpresa às melhores piadas. Ainda sobram muitas, mas podiam ser mais. Por último o humor barato (como o excesso de aerofagia) arruina momentos que poderiam ser agradáveis.
É um filme que pelo formato familiar se acompanha bem e pela curta duração não cansa.




Título Original: "Superhero Movie" (EUA, 2008)
Realização: Craig Mazin
Argumento: Craig Mazin
Intérpretes: Drake Bell, Sarah Paxton, Christopher McDonald, Leslie Nielsen
Fotografia: Thomas E. Ackerman
Música: James L. Venable
Género: Acção, Comédia, Ficção-Científica
Duração: 85 min.
Sítio Oficial: http://www.superhero-movie.net/

20 de agosto de 2008

"Harold & Kumar Escape from Guantanamo Bay" por Nuno Reis

Sátira desperdiçada em filme sem nível

O primeiro filme foi uma tentativa de lucrar combinando personagens secundárias de títulos para o público juvenil. Com um humor de gosto duvidoso e comportamentos muito polémicos, safou-se por ser acutilante e não poupar críticas. No segundo filme tentaram repetir a receita e enjoou.
Como a primeira parte foi um sucesso em DVD (a compensar o fracasso nas salas) supõem que quem vai ver este filme tem bem presente na memória o passado e portanto continua onde o anterior parou.

Acabados de chegar de uma louca ida aos hamburgueres, Harold e Kumar embarcam numa nova aventura, desta vez europeia. Só que depois de uma hilariante situação no avião – a melhor parte do filme – acabam em Guatanamo. A estadia é muito pequena, quase nem chega para justificar a referência no título, mas a fuga é demorada. Ao longo do resto do filme a dupla vai percorrendo o país e reencontrando velhos amigos, numa luta contra uns serviços secretos imbecis e contra o tempo pois Kumar quer impedir o casamento do seu único amor. É um roadtrip movie tal como o antecessor, mas desta vez a viagem é mais longa.

As mensagens políticas estão bem presentes. Atacam todos os funcionários do governo desde o guarda prisional até George Bush e gozam com os procedimentos de segurança e com o pânico criado pelo 9/11. Aí refiro novamente a cena do avião que, desde o detector de metais até desembarcarem tem falas com alguma qualidade. Alguns minutos depois desse momento os argumentistas podiam ter mostrado outra vez alguma inteligência e bom gosto, quando fazem uma referência óbvia a um clássico. Como o público-alvo não conhece os grandes filmes tiveram de explicar de onde era aquilo o que dá enorme vontade de sair da sala.
A droga e o sexo continuam a ser o tema dominante, cada vez de forma mais ofensiva e infelizmente também mais estúpida. Então quando misturam droga e sexo na mesma cena é o descalabro.

No fundo não é mais do que muito tempo perdido. É um daqueles títulos que devem ir directos para DVD onde podem ser venerados por quem gosta disto e sem perturbar as idas ao cinema de quem quer ver Cinema.

Título Original: "Harold & Kumar Escape from Guantanamo Bay" (EUA, 2008)
Realização: Jon Huewitz, Hayden Schlossberg
Argumento: Jon Huewitz, Hayden Schlossberg
Intérpretes: John Cho, Kal Penn
Fotografia: Daryn Okada
Música: George S. Clinton
Género: Aventura, Comédia
Duração: 100 min.
Sítio Oficial: http://www.haroldandkumar.com/

# 15 - "Tropic Thunder"



Começamos esta lista de antecipação com um estranho "Tropic Thunder". Sim, digo estranho, porque Ben Stiller não será, em grande parte das vezes, um chamariz para uma visita ao "escurinho do cinema", quanto mais a integrar uma qualquer lista onde a seta aponta para o sobe e não para o desce.

Mas, de facto, assim é. Stiller regressa à realização depois do híbrido "Zoolander" (2001), uma rasgada crítica ao brutal mundo da moda onde (recorde-se) conseguiu juntar um elenco com Owen Wilson, Will Ferrell, Milla Jovovich, Jerry Stiller e John Voight, além da sua própria participação. E, ao que parece, o ímpeto crítico regressa, e em força. E tem tudo para resultar. Senão vejamos: em primeiro lugar, Jack Black (que brevemente poderemos ver - se as distribuidoras estiverem para aí viradas - em "Be Kind Rewind"), e ainda por cima a contracenar com um dos melhores actores da sua geração, o extremamente talentoso Robert Downey Jr.. Em segundo lugar, Steve Coogan, um dos mais certeiros comediantes britânicos, que emprestou genialidade a produtos como ""I'm Alan Partridge" (1997), a fabulosa série televisiva, ou a "24 Hour Party People" um must de cinema meets música de Michael Winterbottom. Por fim, sátira da pura e dura à indústria da guerra e ao establishment cinematográfico dos EUA.

E se estes dados não ssuscitam a atenção, a verdade é que a estreia (que arrecadou 26 milhões de dólares no fim de semana de arranque) levou muitos às salas... e não só. Assim, "representantes de grupos contra a discriminação de pessoas portadoras de deficiênca mental e exibiram faixas com frases de revolta", tais como "«Tropic Thunder. Colossal Blunder» [Tropic Thunder, Estupidez Colossal] e «Temos habilidades, não deficiências»", alegadamente pelo filme parodiar pessoas com deficiências intelectuais.

Isto tudo porque um grupo de actores, e respectiva equipa de filmagem, durante a rodagem de um filme de guerra, vêm-se numa situação real, deixando de ter noção onde termina a ficção e onde começa a realidade! Tudo decorrendo num cenário onde Kirk Lazarus (Downey Jr.) faz uma operação para se tornar afro-americano e Jeff Portnoy (Jack Black) é um combatente/actor com um loiro platinado mais mortal que uma bala!

Estreia a 18 de Setembro (uma boa ideia para este arranque de temporada), e augura-se bom futuro no arranque deste 15+.




15 + A não perder

Fará "Burn After Reading" parte dos 15+?

Começamos hoje a rubrica "15+ A não perder", onde fazemos a antecipação de 15 filmes que não podem de maneira alguma perder no que resta deste ano, agora que a silly season começa paulatinamente a chegar ao fim.

A lista, composta unicamente por filmes que ainda estrearão em 2008 (mesmo que sujeitos às tradicionais alterações de datas), será revelada às segundas, quartas e sextas, até chegarmos ao mais ansiado para os lados do Antestreia. Fica com o marcador 15+, e só basta estar atento.


Um Bush a sair, outro a entrar



Se estes dois novos teaser nos chamam completamente a atenção (o olhar preocupado e aborrecido, ou a mirada altiva para o infinito, sempre com A Life Misunderestimated por cima), estes quatro minutos de película behind the scenes conquistam-nos com toda a certeza.

"W.", de Oliver Stone, e com Josh Brolin no papel do presidente, está cada vez mais perto de ver a luz do dia, e nós por cá temos seguido a ascenção com atenção (como aqui ou aqui). Brolin parece perfeito para o papel, e vale a pena ver este pequeno aperitivo antes do prato principal (que deve chegar, presumivelmente, dia 23 de Outubro). Voltaremos ao tema, até porque integra um dos 15+ a ver até ao final do ano, rubrica que iniciaremos hoje no Antestreia. Via /film.


O regresso de Baz



O australiano Baz Luhrmann, que ficou famoso com "Moulin Rouge", onde foi nomeado para o Óscar de Melhor filme, ultima o seu último trabalho, a estrear no final deste ano (25 de Dezembro cá pelo burgo).

"Australia", com Nicole Kidman (que reencontra o realizador após o sucesso do musical) e Hugh Jackman ("The Fountain", 2006), segue o argumento de Stuart Beattie, autor de "Collateral" (premiado filme de Michael Mann) numa incursão pela história.
Centrado numa aristorcrata inglesa, acompanhamos o seu périplo pela Austrália, a partir das suas propriedades, e que desembocará no bombardeamento japonês a Darwin, tudo isto em vésperas da II Guerra Mundial.

Não tenhamos ilusões. Este será, concerteza, um dos nomes maiores na corrida às estatuetas douradas em 2009, e um filme que está a chamar (e muito) a atenção do Antestreia. Por agora, estes bonitos posters (acabados de sairem do forno) e um trailer para aguçar a curiosidade.


18 de agosto de 2008

75 anos de genialidade


Celebra hoje 75 anos de idade o brilhante e polémico Roman Polanski, realizador francês de origem polaca, autor de peças como "Rosemary's Baby" (1968), "Bitter Moon" (1992) e "The Pianist" (2002), onde foi agraciado com um Óscar para Melhor Realizador.


De realizador de ficção a personagem da vida real


Polanski nasceu em Paris a 18 de Agosto de 1933 e cedo teve de enfrentar o mundo. Os seus pais regressaram com Roman para a Polónia dois anos antes de eclodir a Segunda Guerra Mundial, o que teve como consequência a prisão daqueles num campo de concentração, onde a mãe viria a morrer. O filho, perdido no mundo rural polaco, viveu com inúmeras famílias católicas até se reunir com o seu pai. A esta altura, já sabia que o cinema iria ser a sua vida, pois assistia atentamente a todo o tipo de produção a que tinha acesso, essencialmente cinema alemão, que vingava naquela época.

Se no início foi a interpretação que o cativou, o certo é que os estudos na Escola de Cinema de Lodz puxaram-no para trás das câmaras. Após algumas curtas, onde já demonstrava todo o seu potencial, foi com "Nóz w wodzie" (1962) que se estreou na longa-metragem. Não obstante o seu posicionamento no panorama cultural polaco, Polanski decide partir para França, onde realiza "Repulsion" (1965) e "Cul-de-sac" (1966), filmes premiados em Berlim e que impulsionaram a sua carreira para patamares definitivamente internacionais.

Em 1968, aterra em Hollywood e realiza uma obra-prima do género: "Rosemary's Baby", com Mia Farrow e John Cassavetes, onde uma jovem fica subitamente grávida, correndo rumores no estranho edifício onde vive de que se trata do filho do Diabo. Polanski é nomeado aqui o galardão da Academia, para Melhor Argumento Adaptado, tendo Ruth Gordon vencido o de Melhor Actriz Secundária. Foi a confirmação definitiva do seu talento.

Mas se parecia ser o início de uma vida perfeita, cedo tal ideia se desmoronou. Casado com Sharon Tate, que havia conhecido na rodagem de "Dance of the Vampires" (1967), vê a sua mulher ser brutalmente assassinada (e que se encontrava grávida na altura) pela seita de Charles Manson, menos de um ano depois do sucesso do seu primeiro filho em terras do Tio Sam, e decide regressar à Europa. O seu regresso seria em 1974, para a realização de mais uma película que parecia patrocinar definitivamente o ancorar americano - "Chinatown", um thriller com Jack Nicholson brilhantemente recebido pela crítica, e que foi nomeado para 11 Óscares.
Mas se parecia ser um novo fôlego na carreira do autor, uma acusação de violação a uma miúda de 13 anos obriga-o a zarpar dos EUA e regressar a França.


Os tempos intermitentes


É nesta altura que Polanski se vê um pouco perdido - só com "Tess" (1979) se observa um pouco da sua genialidade, realizando desde essa altura 7 filmes (em 25 anos). Deixa a sua marca nos anos 90 com "Bitter Moon", mas só com "The Pianist" (2002) revemos o seu grande estilo. Nomeado para 7 Óscares, vence 3: Melhor Argumento Adaptado (Ronald Harwood), Melhor Realizador, consagrando Adrien Brody como Melhor Actor. As memórias e vivências do pianista Wladyslaw Szpilman trouxeram uma obra memorável nesta primeira década do séc. XXI, e a demonstração de que Polanski se encontra vivo e de boa saúde.

Para 2009, prepara "The Ghost", adaptando a obra homónima de Robert Harris, com Nicolas Cage e Pierce Brosnan já confirmados no elenco. A história andará à volta de um escritor que vê a sua vida perigar quando, ao escrever as memórias de um antigo primeiro ministro britânico, descobre estranhos segredos. Esperamos, da nossa parte, que mesmo sem voltar aos EUA desde a acusação, nos ofereça mais uma obra que ajude a perpetuar a sua memória.


17 de agosto de 2008

15 de agosto de 2008

Querido mês de Agosto


Para a semana estreia um filme nacional que tem como tema a família e a música. Os portugueses como povo de emigrantes vêem no mês de Agosto a época de reencontro e as povoações organizam festas populares para receber os familiares. Este filme fala dessas festas, da música e da família.



Deixo aqui alguns excertos do filme.









Caminho aberto para recorde de bilheteiras


Todas as quintas temos um números de estreias entre as 2 e as 9. A média de estreias semanais no ano passado foi de 5. Talvez eu seja demasiado jovem, mas não me lembro de alguma vez as estreias da semana serem apenas uma. Por vezes um Senhor dos Anéis ou Matrix estreava dois dias antes do dia oficial, mas quinta (ou sexta) lá chegavam mais dois filmes para diversificar a escolha.

O mês de Agosto é os seus blockbusters são muito rentáveis rentáveis e o fim-de-semana prolongado teoricamente é bem lucrativo. Mesmo assim ontem o leque de escolhas foi muito reduzido. Se alguém já tivesse visto todos os filmes em exibição e não quisesse ver "Wall-E" na companhia de milhares de crianças barulhentas, tinha de ir para casa e alugar um filme porque não havia mais nada. A ZON Lusomundo já tinha uma confortável maioria dos filmes, agora até tem semanas de exclusividade.

Podemos estar prestes a conhecer um novo recordista de bilheteiras.

13 de agosto de 2008

"Hancock" por Nuno Reis

O que falta inventar?

A última década foi marcada pela adaptações de super-heróis. Depois de todas as personagens da BD terem sido filmadas - ou pelo menos terem um guião encomendado – era preciso inventar algo novo. Vários títulos surgiram ("The Incredibles", "My Super Ex-Girlfriend", "Sky High") a procurar um nicho e colmataram quase por completo o tema. Faltava o super-anti-herói e para isso chegou Hancock.

O herói deste filme voa, tem super-força, super-velocidade e super-ego. Normalmente lamenta estar no local errado à hora errada. Para ele o fundamental é tratar da própria vida e não acata ordens de ninguém. Se o incomodarem pode partir em perseguição dos criminosos e detê-los, mas sem nenhum respeito pelo indivíduo ou pela propriedade pública.
A difícil personalidade impede-o de criar laços com as pessoas, até que um publicista decide transformar Hancock num herói popular. Começando por responder perante a lei pelos estragos causados e frequentando terapias de grupo, vai-se tornar um membro útil da sociedade.

Como comédia não usa nada demasiado banal ou demasiado sofisticado, tenta manter-se no mei o termo e por vezes surpreende pela frescura. Também a nível de elenco foram feitas boas escolhas. Num daqueles casos em que as estrelas se dispensavam os escolhidos foram: Will Smith como o herói menos convencional, Jason Bateman mais uma vez numa personagem que tem menos importância do que parece, e a misteriosa Charlize Theron com um arranque difícil, mas a transmitir uma boa imagem das mulheres. A impressão geral é levemente positiva. Por outro lado a vertente séria do filme foi maltratada. Quase tudo se poderia desculpar, mas o vilão desencantado é ridículo e o clímax arrasta-se de forma previsível. Um final que não é tão original como pode parecer encerra a aventura.

O herói da história é uma metáfora deste género cinematográfico. Um vagabundo errante, desleixado e quase sempre incómodo, mas que quando falta é desejado. Pode-se achar imparável, mas tem de saber parar para escutar. Longe de ser um título obrigatório para os amantes de super-heróis, é um filme de acção que se tenta esconder entre efeitos digitais medianos e uns planos fotográficos com alguma espectacularidade. Uma vantagem é não haver muito espaço de manobra para sequelas.

Título Original: "Hancock" (EUA, 2008)
Realização: Peter Berg
Argumento: Vincent Ngo, Vince Gilligan
Intérpretes: Will Smith, Charlize Theron, Jason Bateman
Fotografia: Tobias A. Schliessler
Música: John Powell
Género: Acção, Comédia, Drama, Fantástico
Duração: 92 min.
Sítio Oficial: http://www.sonypictures.com/movies/hancock/

"The X-Files: I Want To Believe" por Nuno Reis


A moda actual das produções televisivas de qualidade e as séries com milhões de espectadores por semana começou com "The X-Files". Antes desta era o nada, um quase limbo televisivo, e depois dela nenhuma sobressaia acima das demais. A história da televisão e de toda uma geração foi marcada por esta saga. Colocando em causa as intenções do governo e lançando suspeitas sobre a actividade de extra-terrestres e outras criaturas sobrenaturais, despertaram em multidões a necessidade de informação.
O primeiro filme foi há dez anos. Apesar de coincidir com o ponto máximo de popularidade da série e de ter recebido alguns prémios, os fãs não apreciaram particularmente,. Por uns tempos não pensaram em mais filmes, mas agora que não havia o risco de perder espectadores outro filme podia sair. Que se desengane quem esperava um novo final ou um novo recomeço. Mesmo vindo no seguimento do resto esta é uma peça solta da saga.

Pode acontecer que o leitor não saiba nada sobre esta equipa. Na maioria dos casos isso justifica-se por na altura não ter idade suficiente para ver ou ter aterrado há poucos anos no planeta Terra. Nesse caso vai parecer um policial banal. As personagens têm um passado estranho que felizmente é revelado por pequenas pistas. As atitudes também pode parecer estranhas, mas aí não há explicação para os novatos.

Para quem está a par da série a acção prossegue seis anos depois de quando a série parou. Os Ficheiros Secretos estão encerrados e são assunto tabu. Mulder é um inimigo do FBI e Scully exerce medicina num hospital. Quando uma agente desaparece e as únicas pistas são as visões de um padre, a agente responsável pelo caso pede ajuda a Mulder que se faz acompanhar da sua eterna parceira. Como fizeram ao longo de muitos anos Duchovny interpreta um agente irreverente, divertido e convicto, Anderson é a cientista séria e céptica que duvida inclusivamente do que vê. O regresso foi mais fácil para ele, mas como só usam os dramas pessoais de Scully ela consegue brilhar. Entre as estrelas convidadas a maior surpresa foi Amanda Peet que tem um papel bem melhor do que habitual, já era merecido. O caso não é tão misterioso como antigamente, em comparação com o que dá actualmente na televisão e cinemas não é muito assustador. Se fosse num episódio seria interessante, como pretexto para este regresso da dupla à actividade é mau.

O célebre tema musical tem uma presença muito ténue. Apenas se ouve no início - onde ainda tem a capacidade de criar arrepios e dar o tom para mais um episódio - e a meio, a acusar um ficheiro secreto por desvendar. Esse é também o melhor de vários detalhes humorísticos. Na tentativa de atrair novos públicos não aproveitaram muito da série. O criminoso de serviço podia ter sido sobrenatural, mas mesmo não sendo respeita a tradição da série. Algumas cenas e expressões são momentos privados que os maiores fãs saborearão e ninguém mais se aperceberá.
A cena a meio dos créditos causa alguma surpresa e é quase inesperada, mas convém que seja vista.

Título Original: "The X Files: I Want to Believe" (Canadá ,EUA, 2008)
Realização: Chris Carter
Argumento: Chris Carter, Frank Spotnitz
Intérpretes: David Duchovny, Gillian Anderson ,Amanda Peet, Billy Connolly
Fotografia: Bill Roe
Género: Drama, Mistério
Duração: 104 min.
Sítio Oficial: http://xfiles.com/