31 de março de 2010

Blogs de cinema, onde andam?


Como foi discutido no encontro de bloggers no Fantasporto, vamos tornar as nossas reuniões um pouco mais frequentes. A ideia é serem mensais. É já no dia 24 que vão começar, no dia de encerramento do Black & White.

Estamos a discutir o formato, as actividades e muitas outras coisas na Página do encontro. Quem tiver um blog de cinema é favor juntar-se. Quem apenas lê blogs de cinema escusa de ter trabalho. Basta no Sábado 24 de Abril aparecer pela Universidade Católica (Rua Diogo Botelho) e ver o que andamos a fazer. Podem expressar opiniões de forma muito mais fácil do que através de sondagens e, se colocarem perguntas, aprenderem muito mais.

Mas até esse dia há outros três dias de festival. Pela amostra é a não perder.


Ferro, ferro, só ferro


Confessem que já cansa tanto Homem de Ferro. O poster da esquerda é o americano e o da direita o internacional.



O melhor ainda é este.


E claro, o site viral da Stark Expo. Lá podem encontrar magníficas imagens.

Dinheiro? E saber?

Um salto breve à edição de hoje do Público, e podemos ler uma interessante peça assinada pela Inês Nadais acerca da incapacidade gritante de se produzir cinema em Portugal.

Deixando de parte as considerações genéricas sobre a dependência de subsídios (só de má fé é que alguém pode consisderar que se pode passar uma vida a produzir e a realizar filmes por carolice), o problema de fundo está, parece-me (e como em muitos casos no nosso destruturado país) na educação.

Vejamos: pondo de parte o cinéfilo e crítico que existe em cada um de nós, e objectivamente, quanto cinema português de qualidade surgiu na última década? Muito, mas mesmo muito pouco. O artigo do periódico relembra dois nomes que marcaram 2009, Pedro Costa (que é, na minha humilde opinião, o grande nome do nosso cinema, desde que “O Sangue” apareceu em 1989, e que é mais reconhecido internacionalmente (basta ler as peças da Sight & Sound para o verificar); e João Salaviza, pela curta premiada em Cannes. Enquanto Salaviza está a despontar (e irá ter sucesso, aposto), Pedro Costa é já um valor confirmado. Mas nesta década que passou, pouco mais há a registar. E o problema tem a génese na educação. Educação cinematográfica, educação na criação de conteúdos e aquela que deveria ser ministrada nas salas de aula. Porque o país cinematográfico é uma espécie de país de terceiro mundo a viver sob o jugo ditatorial: existem os ricos (ou seja, aquele cinema de autor de boa qualidade), os pobres (o grosso da produção nacional) e não existe classe média. Portugal é um país que ou recebe cinco estrelas, ou recebe bola preta (e falo de forma muito lata). O ditador é, claro está, o ICA. Isto porque, e salvo melhor opinião, continua a existir um corporativismo muito difícil de abater, onde imperam as atribuições de subsídios desregradas e que não apoiam o crescimento do cinema português.

Junto a isto, e a necessidade da grande maioria dos novos cineastas de quererm realizar obras intrincadas e sem nexo, com uma incapacidade gritante de contar uma boa história e filmá-la de forma linear, e estamos no sítio que merecemos. A educação cinematográfica é pobre (eu próprio fico por vezes aterrorizado com muitos estudantes de cinema que não percebem porra da história desta arte, e que pretendem ser realizadores sem dar “uma vista de olhos” ao expressionismo alemão, à nouvelle vague ou ao neo-realismo italiano), e tal reflecte-se também no espectador, que não vê bom cinema português, porque ele não é realizado. O Estado salta fora da contenda, e não apoia, os privados sabem que vão estragar dinheiro, porque o material a produzir é pobre, e o bom do realizador português entretem-se a dirigir filmes que, ou nem deviam ver a luz do dia, ou são tão filosoficamente avançados que só haviam de ser projectados em casa deles, tamanho umbiguismo que neles impera.

Dinheiro? E saber?

"The Crazies" por Nuno Reis


A especialidade de Romero são os zombies, mas por algumas vezes presenteou-nos com outros géneros de terror. Uma das suas incursões fora dos zombies, apenas cinco anos depois de "Night of the Living Dead", foi "The Crazies". Não era de zombies, aqui simplesmente havia pessoas que ficavam transformadas e agressivas por causa de um vírus. Este retrato da sociedade na época parecia simples ficção-científica por aludir a uma então inimaginável guerra biológica. Quase quarenta anos passaram, a mesma história está de volta, mais real do que nunca.

Numa pequena vila da Pensilvânia, David é o chefe da polícia e Judy, a sua esposa, é a médica da terra. Tinham uma vida feliz até que um homem armado invade o campo de jogos. O comportamento do homem era apenas um sinal, lentamente outras pessoas começam a demonstrar um comportamento estranho. David não tem mãos a medir, até que aparece o exército para dar uma ajuda. Isolam a vila, começam uma descontaminação dos saudáveis e a eliminação dos infectados. Só que a triagem é feita de forma apressada. Se David quer chegar a ser pai, terá de superar a doença e o exército.

Não sendo o clássico filme de zombies, para quem procura apenas terror tem os elementos comuns. O vírus liberta a agressividade instintiva do homem tornando-o um perigo para os que o rodeiam. Para o combater, o governo coloca os militares em campo. Não estão infectados, mas são igualmente agressivos e atiram a matar. Os civis tentam sobreviver no centro do fogo cruzado. Portanto, é um filme de zombies que em vez do habitual frente a frente bons versus maus, tem bons versus dois exércitos maus. Dobro da emoção? Não.
A segunda vantagem é que, enquanto nos filmes de zombies o espectador sabe pelas feridas que alguém é ou se vai transformar em morto-vivo e morder o pescoço do salvador, aqui há uma transição lenta. Uma pessoa pode estar infectada, mas combater parcialmente o impulso assassino. Nada no aspecto ou comportamento selvagem dá garantias de estar ou não infectada.

A narrativa é surpreendentemente agradável para o estilo de filme que é. Será uma boa entrada no género para quem não tenha ainda estabelecido contacto com os clássicos. Para quem devora filmes de zombies ao pequeno-almoço a sensação de déjà vu está garantida.

Título Original: "The Crazies" (EUA, EAU, 2010)
Realização: Breck Eisner
Argumento: Scott Kosar e Ray Wright
Intérpretes: Timothy Olyphant, Radha Mitchell, Joe Anderson, Danielle Panabaker
Fotografia: Maxime Alexandre
Música: Mark Isham
Género: Ficção-Científica, Terror, Thriller
Duração: 101 min.
Sítio Oficial: http://www.thecrazies-movie.com/

"Dolan's Cadillac" por Nuno Reis



Não haverá muito escritores mais profícuos do que Stephen King. O Guiness considera-o o autor com mais obras publicadas nos EUA e o mais adaptado para cinema de todo o mundo. Não admira, sabendo que dá a jovens cineastas desconhecidos o direito de adaptarem os seus contos curtos por apenas um dólar. Para os grandes estúdios o negócio é semelhante. Por um dólar conseguem a aprovação dele para começarem, depois ele só tem de aprovar o argumento, o realizador e os actores. E também quer outra coisinha, o poder de dizer a qualquer momento para cancelarem o projecto, independentemente do dinheiro investido.
Há algum tempo que não chegava nada novo do autor às nossas salas. Após uma discreta passagem pelo Fantas aqui temos uma nova adaptação, precisamente de um desses contos curtos que se compra por um dólar.

Elizabeth estava a cavalgar no deserto quando assiste a algo que não devia. Um carregamento de mulheres que não chegaria intacto ao destino é exterminado pelo mafioso local Jimmy Dolan. Ao ser avistada foge a galope, mas pelo caminho deixa cair o telemóvel que permitirá que a identifiquem. É colocada com Robinson, o marido, num programa de protecção de testemunhas, mas os tentáculos de Dolan são enormes e não sobrevive até ao julgamento. Desiludido com a inércia da polícia, raivoso pela viuvez e sem nada mais a perder, Robinson vai iniciar uma vendeta pessoal contra o homem mais perigoso da cidade para o fazer pagar.

Quem espera uma desilusão deste filme vai ficar desapontado. Não é tão mau como poderia ser, nem tão mau como outras adaptações recentes pudessem sugerir. Os actores encaixam no pretendido. A história consegue ter um mínimo de interesse do início ao fim. Os momentos mortos estão bem disfarçados pela montagem. Mas também é verdade que não há momentos de destaque, é só o suficiente para manter a atenção. O final - seria o mais difícil de converter - é uma agradável surpresa pois revela-se o melhor momento do filme. Mérito das interpretações da dupla masculina e do cenário escolhido.
Recomendo para fãs de Stephen King porque já mereciam uma adaptação com um mínimo de qualidade.

Título Original: "Dolan's Cadillac" (EUA, Reino Unido, 2009)
Realização: Jeff Beesley
Argumento: Richard Dooling (livro de Stephen King)
Intérpretes: Wes Bentley, Christian Slater, Emmanuelle Vaugier
Fotografia: Gerald Packer
Música: James Mark Stewart
Género: Crime, Thriller
Duração: 89 min.
Sítio Oficial:

30 de março de 2010

Zombies de Romero


"Survival of the Dead" de George A. Romero

Como os zombies não conseguem nadar ou navegar, a ilha de Plum é um sítio realtivamente calmo e livre da praga. Por vezes lá aparece um, mas é facilmente despachado. Duas famílias controlam a ilha. Mas enquanto uns querem acabar de matar os semi-mortos, os outros acreditam que a doença tem cura e querem mantê-los prisioneiros.
Zombies e Romero são palavras que combinam, independentemente do cenário. Para cá ainda não se sabe datas.
Imdb

Depois de Underland


Tim Burton é um homem muito ocupado. Depois do sucesso da sua Alice, quer ainda fazer Frankenweenie, uma nova família Adams e a versão negra da história da Bela Adormecida. Por onde começar?

Adams Family


Para a família Adams não se está a pensar num remake, mas numa adaptação da banda desenhada original. A técnica que Burton pretende usar é a animação stop motion, algo interessante para levar às salas 3D.

Sleeping Beauty


Mesmo que não seja filmado por Burton, o argumento virá das mesmas mãos que adaptaram "Alice in Wonderland", Linda Woolverton. Os boatos dizem que Angelina Jolie quer o papel de bruxa má, a estrela nesta versão, por isso o filme está encaminhado para ser outro sucesso.Obviamente que a Disney está por trás deste remake do seu clássico. Tal como na versão infantil a bruxa chamar-se-á Maleficent, que aqui será também o título do filme.

Frankenweenie


"Waking Sleeping Beauty" de Don Hanh

Don Hahn, produtor das principais aimações Disney dos anos 90 e Peter Schneider, que presidiu ao departamento de animação, estão a promover o seu documentário "Waking Sleeping Beauty" sobre a queda e renascimento da animação Disney. Bem no final referem-se ao projecto de Burton entre outros, estejam atentos.
Imdb

29 de março de 2010

Cannes aproxima-se


Foi hoje divulgado o poster oficial da edição 63 do grandioso festival de Cannes. A imagem é de Juliette Binoche e foi tirada pela fotógrafa Brigitte Lacombe, duas francesas de projecção internacional.


A selecção oficial será divulgada dia 15 de Abril, até lá apenas sabemos que o filme de abertura será o épico de Ridley Scott "Robin Hood".



E convém não esquecer que Tim Burton preside ao júri por isso podemos contar com uns prémios fantásticos e muitos filmes candidatos a estar cá dentro de onze meses.

Um minuto


Sabem aqueles estudantes tão interessados nos livros de leitura obrigatória que compram o resumo? Para o cinema, acreditem ou não, também há disso. Um minuto, um take, um clássico. O de "Forrest Gump foi originalmente postado aqui pelo que recomendo uma visita aos arquivos. Hoje trago-vos outros dois clássicos desse concurso.



Star Wars


28 Days Later

Orgulho em ser mau


Como se devem recordar "Battlefield Earth" é um filme muito mau. Tão mau que venceu o Razzie de pior filme da década. O seu autor - J.D. Shapiro - veio a público pedir desculpas e explicar que foi tudo culpa da sua cabeça... de baixo.

A entrevista pode ser lida aqui e é bastante divertida. Em dez anos não só teve tempo para pensar no que fez, como para fazer um pedido de desculpas.
Este ano vai sair um novo filme dele, deve ser esse o motivo do arrependimento. Quem escreve como primeiro trabalho "Robin Hood: Men In Tights" e depois faz para aquela desgraça merece pouca confiança.

28 de março de 2010

"Up In The Air" por Nuno Reis


Estamos na era da globalização. Empresas multinacionais e negócios intercontinentais são suportados pelas cada vez mais fáceis, rápidas e confortáveis viagens. A mesma cadeia presta exactamente o mesmo serviço por todo o globo. Com os cartões de milhas, passageiro frequente e todos os derivados, é possível ter tratamento preferencial e personalizado, num ambiente familiar, com mais conforto do que em casa. Estamos na era da crise. Os empregos não são para a vida e mesmo depois de 20 anos de bom serviço podemos ser convidados e não voltar no dia seguinte. Falências, redução de custos fixos, o termo não interessa, pôr pessoas na rua é uma realidade mais frequente do que contratar. Estamos na era da externalização de serviços. Tarefas desagradáveis são passadas para empresas externas, sem conhecimento da realidade da empresa cliente, sem ligações emocionais às pessoas. Por isso o melhor emprego, o único garantido, será... despedir os outros.

Companhia aérea, carro de aluguer, quarto de hotel, para Ryan Bingham são uma rotina. Sente-se mais num lar repetindo o mesmo processo em todas as cidades dos EUA, do que entre as quatro paredes que tem em casa. A sua vida é passada no ar, com pequenos intervalos em terra para despedir pessoas ou dar palestras sobre viagens. o mundo parece-lhe perfeito até que uma jovem colaboradora consegue mudar a política da empresa de forma a introduzir a video-conferência como ferramenta. Estará Ryan condenado a despedir pessoas confinado ao seu gabinete? Incapaz de perder as regalias que o tornaram quem é e que lhe dão prazer, vai ter de provar que o frente-a-frente é a melhor forma de redireccionar as pessoas para uma nova oportunidade.

Esta história tem essencialmente quatro personagens. De um lado temos a novata Natalie, melhor aluna da sua turma com conhecimentos de psicologia. Do outro o veterano Ryan, funcionário modelo que é orador quando se fala de viagens. Conhecimento versus experiência, teoria versus prática. É a clássica guerra dos sexos. É um conflito entre gerações, entre quem gosta de falar pessoalmente, com calma, e quem usa SMS's e internet para manter uma relação num mundo que parece demasiado lento. Além disso, ainda há Alex, outra viajante frequente com quem Ryan tenta sincronizar agendas para sexo sem compromissos. E há uma placa de cartão que tem de ser fotografada por todo o país, "como o gnomo daquele filme francês".

É uma história perigosa para quem esteja a pensar na vida. Frases como "Todos aqueles que construíram um império ou mudaram o mundo estiveram no seu lugar. E foi por aí estarem que foram capazes de o fazer." parecem clichés pouco eficazes, mas quando pergunta "Quanto lhe pagaram para desistir dos seus sonhos?" é um soco impossível de ignorar. Às vezes por necessidade do mercado tem-se um primeiro emprego longe da área que se pretendia, os anos passam e a carreira manteve o rumo na direcção oposta ao sonho. É preciso um abanão para retomar o trilho, e ser despedido funciona. Quando o mercado não nos procura, os sonhos tornam-se uma saída mais agradável do que qualquer outra.
No início o filme é chocante e um retrato frio de uma sociedade sem sentimentos. Insensibilidade é o que define Ryan, sem relações duradoiras, satisfeito com a conversa de circunstância, indiferente às pessoas que despediu. Acaba por ser um amigo pois com a sua experiência suaviza o processo de separação, mesmo que aja de acordo com os interesses do (des)empregador. Com o passar do tempo o filme entra na previsibilidade, apoiando-se no trabalho dos actores para chegar a bom aeroporto.

O argumento inicial tem quase dez anos, mas foi filmado na altura certa. Tal como no filme, quando acabaram os projectos convidativos Jason Reitman teve de voltar a pegar no seu guião favorito. O destino sabia o que era melhor para ele. Foi só reescrever as personagens para os actores escolhidos e saiu-se bem como é costume.
Sendo um filme especialmente eficaz para o público da tal geração desorientada (nascidos no início dos anos 70) não corre mal para os restantes, só não consegue ser um filme marcante. Para o público-alvo será magnífico. Para os outros tem apenas um início extremamente interessante e um belo twist final para o qual nos tinham alertado.

Título Original: "Up In the Air" (EUA, 2009)
Realização: Jason Reitman
Argumento: Jason Reitman, Sheldon Turner (adaptando Walter Kim)
Intérpretes: George Clooney, Vera Farmiga, Anne Kendrick, Jason Bateman, J. K. Simmons, Zach Galifianakis, Sam Elliott
Fotografia: Eric Steelberg
Música: Rolfe Kent
Género: Drama, Romance
Duração: 108 min.
Sítio Oficial: http://www.theupintheairmovie.com/

Posters de "Losers"




Para os restantes, carreguem no botão.




27 de março de 2010

Dennis Hopper tem uma estrela


É verdade que não temos feito referência a muitos dos óbitos ocorridos recentemente. Não é porque não mereçam, mas porque achamos que as homenagens devem ser feitas aos vivos. O mesmo pensa Hollywood que deu a estrela no Walk Of Fame a Dennis Hopper enquanto ele está vivo. Sim, o tempo que lhe resta mede-se em semanas.
Muitos ninguéns tiveram a honra da estrela sem dar nada relevante ao cinema, já era mais do que hora de premiar um dos maiores actores vivos.

Apesar de não ser recomendado pelos médicos pelo débil estado físico, ele foi, viu e venceu. Não foi pela fama que se colocou em risco, não precisa de mais. Arriscou a vida, mas pelos fãs e pela arte, como apenas os maiores fazem. Aqui fica o vídeo do momento.



Mal possam vejam "Palermo Shooting" onde encarna a morte. Um papel fenomenal e fundamental.

"Forrest Gump" por Nuno Reis


Forrest Gump: From that day on, if I was ever going somewhere, I was running!
(Queriam as citações que todos sabem de cor? Assim não aprendiam nada de novo! Reparem como é parecida com a que foi publicada no último sábado.)

Como tenho vindo a dizer na última semana, Robert Zemeckis nos anos oitenta esteve em grande. Era um blockbuster atrás doutro e com Oscares à mistura. Tinha sucesso perante o público e a crítica, com a vantagem de se divertir bastante a fazer os filmes. Mas chegava de cinema fantástico, estava na hora de entrar para o cinema convencional e também aí dar cartas. Vencedor de seis Oscares "Forrest Gump" foi o único filme do realizador na década que não pode ser considerado fantástico. No entanto, não falta quem o ache o mais fantástico.

Forrest Gump é especial. Percebe-se desde o primeiro momento que é diferente, e ele conta-nos porquê. Sentado numa paragem à espera do autocarro, vai contando aos transeuntes a história da sua vida. Ao princípio ainda o tentam ignorar, mas a história torna-se viciante e há mesmo quem prefira perder o autocarro a deixar a narrativa a meio. Desde a infância que teve problemas físicos e inferioridade mental. É com uma enorme sorte para escolher as companhias que se vai tornar mais do que um simples alguém, torna-se um herói nacional. Um concentrado da história americana na segunda metade do século XX prova que um homem pode fazer a diferença, desde que não saiba o que é falhar. Se lhe dão ordens cumpre-as. Se não lhas dão faz o que acha que deve ser feito, como deve ser feito. Isso é válido no desporto, no exército, no trabalho e na vida. Forrest é um exemplo que deveria ser seguido por todos.

Nas performances claro que o destaque vai para Tom Hanks que aqui conquistou o segundo Oscar consecutivo, a primeira pessoa na história da Academia a atingir tal feito desde Spencer Tracy nos anos 30. Já o tínhamos visto em grandes papéis, e muitos outros se seguiram, mas este é incontornável.
Robin Wright está deslumbrante. A sua Jenny nunca teve a vida facilitada, raramente se sentiu feliz ou integrada, e acaba por servir como reverso de Forrest acumulando todos os vícios e defeitos, mas mantendo alguma pureza de sentimentos.
Há uma outra amizade prolongada que o nosso herói forma. É um pouco tempestuosa ao início, mas o Tenente Dan torna-se o amigo mais duradouro que ele cria. Gary Sinise e os efeitos especiais complementam-se.
E finalmente temos a fenomenal Sally Field a confirmar aqui porque é talvez a maior actriz da sua geração. Seja com 30 ou 60 anos, a personagem é arrebatadora. Se por trás de cada grande homem há uma grande mulher, para Forrest essa mulher é a mãe. A senhora Gump é a principal heroína do filme pois tudo fez pelo seu pequeno. Deu-lhe valores morais, conseguiu-lhe a melhor educação, tornou-o o grande homem que vamos conhecer e por isso merece toda a admiração.
No final ainda dá para ver um miúdo que anos depois saltará para a ribalta. É impossível não reconhecer.

Em "Forrest Gump" combinam-se géneros com tal mestria que se dirige para quase todos os públicos. É um drama, uma comédia, um romance e um filme de guerra e não é nenhum deles. Tem uma mensagem política que atravessa fenómenos como a guerra do Vietname e os inúmeros soldados mortos ou incapacitados, o escândalo Watergate e a tendência americana para abater a tiro os seus presidentes. Tem uma mensagem para os eternos apaixonados continuarem a acreditar. E tem uma mensagem de apoio para os que se sentem desfavorecidos por motivos a que são alheios como a genética, o meio envolvente, um acidente ou a educação.
Tão bem feito que quando acaba se quer rever muitas mais vezes e não se repara que passaram mais de duas horas. Não é possível fazer um filme mais sensível ou completo.

Título Original: "Forrest Gump" (EUA, 1994)
Realização: Robert Zemeckis
Argumento: Eric Roth (baseado no livro de Winston Groom)
Intérpretes: Tom Hanks, Gary Sinise, Robin Wright, Sally Field
Fotografia: Don Burgess
Música: Alan Silvestri
Género: Acção,Comédia,Desporto,Drama,Guerra,Romance
Duração: 142 min.

26 de março de 2010

Colheita Seleccionada - "Forrest Gump"


Para manter o tema anterior do Colheita Seleccionada, aqui vai outro pelas mãos do meu então favorito Robert Zemeckis.

Disseram-me que era um filme magnífico. Essa conversa ouvi por muitas vezes, mas desta vez era verdade. Esta fábula traz-nos uma das maiores lições de vida que se pode ambicionar receber.

Forrest é cruel pois faz com que o adoremos, para logo depois isso nos fazer sofrer. Quanto a vida dele corre bem, o destino traz algo de terrível para compensar. Quis o destino bafejá-lo com talento para vários ofícios e sorte nas suas decisões. Compensou tirando à inteligência, mas até isso é uma virtude pois permite-lhe ser feliz num mundo que, quanto mais pensarmos, mais nos desilude.

A santa ignorância faz com que não perceba a importância do que se passa à sua volta. Não é que isso interesse. Ganhou alguns prémios quando o acharam merecedor, ganhou dinheiro em todas as outras situações. O nosso herói tem um coração puro como poucos, é honesto, obediente e um trabalhador dedicado. Quando faz um amigo é para a vida, mesmo que a outra pessoa não mereça. Veja-se o exemplo flagrante da sua Jenny, amiga desde sempre que cometeu tantos erros e a quem ele sempre perdoou tudo. Foram ambos mais felizes assim. Uma zanga não faria Jenny mudar mais depressa do que a desilusão estampada no rosto de Forrest. Por isso talvez devamos por vezes também parar para pensar, reflectir as nossas atitudes e comportamentos. Quantas das chatices nas nossas vidas são causadas por não sabermos simplesmente ignorar?

De acordo com o filme o homem teve impacto no mundo. Sei que o filme teve impacto na minha vida por isso sim, o mundo é um lugar diferente e pelo menos para mim e os que me rodeiam é melhor.

EXTRA: A quem vai ver o filme não peço isto, mas se forem rever... reparem como ele cumpre as três leis da robótica.

Foi há quase um século...


Hoje o dramaturgo Tennessee Williams faria 99 anos. Para celebrar a data trago-vos a cena mais óbvia do mais memorável filme adaptado da sua obra. Vejam e revejam as vezes necessárias para apreciar todos os detalhes. O que mais me fascinou foi a música, mas há outros tesouros.



Sugiro um desafio. Vejam este clássico seguido de outra peça de Williams adaptada para cinema chamada "Cat in a Hot Tin Roof". A história é diferente e em sete anos muito mudou na forma de fazer cinema (a cor por exemplo), mas a essência é incrivelmente semelhante.

25 de março de 2010

"The Imaginarium of Doctor Parnassus" por Nuno Reis

Tony: If Doctor Parnassus can really control people's mind, why isn't he ruling the world,then? Eh? Why bother with this little... side show?
Anton: 'Side show'? He don't... he don't want to rule the world. He wants the world to rule itself!


Tinha uma coisa contra o filme desde o início. Apesar do desejo de Samuel Hadida em ter o filme em competição no Fantas, a distribuidora insistia que estrearia em Fevereiro, antes do festival. Como se veio a constatar, o Fantas passou, por lá passou Hadida, e o filme ainda por estrear. O problema não deve ter sido medo de o mostrar ao público atendendo ao facto de terem feito duas antestreias simultâneas só na zona do Porto. O filme tinha lugar no Fantas e prémios não faltariam, mas agora é tarde.

"Um filme de Heath Leadger e amigos." A frase que melhor descreve o filme é a que o encerra. Esta obra saída da imaginação prodigiosa de Terry Gilliam, algo que não víamos há muitos anos, tem como tema recorrente ter sido o filme que Ledger morreu a fazer. Alguns meses depois da produção ter sido interrompida pela fatídica tragédia, Gilliam voltou à carga para completar o trabalho. Agora não era o seu filme, mas uma homenagem ao actor que dirigia apenas pela segunda vez. Para o substituir convocou um trio de actores que, cada um por si chegaria para encabeçar qualquer blockbuster: Johnny Depp, Jude Law e Colin Farrell. Convém relembrar que o filme já contava com Christopher Plummer como protagonista. Para completar a lista, entre os secundários estão os (ainda) quase desconhecidos Andrew Garfield e Lily Cole, o inimitável Verne Troyer e o grande Tom Waits. Por dez segundos também há um quase irreconhecível Peter Stormare em cadeira de rodas.

O espectáculo itinerante do Dr. Parnassus percorre as ruas da Londres moderna. A sua filha Valentina como ninfa, o mais pequeno-do-que-um-anão Percy e o seu assistente Anton vestido de Mercúrio são os supostos chamarizes para um público que não o quer ver. É que Parnassus é imortal e depois de mil anos não sabe ser contemporâneo. Apesar dos problemas profissionais aquilo que realmente o preocupa é o aniversário da filha. É que a imortalidade não é uma característica biológica da espécie, para a conseguir teve de fazer apostas com o Diabo (Mr. Nick). Numa aposta perdida prometeu dar o(a) primogénito(a) quando fizesse 16 anos, e é essa data que se aproxima. Tem três dias para derrotar o diabo no seu próprio jogo e para isso está disposto a usar todas as armas, incluindo um vigarista que encontraram enforcado pelo caminho.

Todo o universo imaginário está magnífico. Tantos mundos criados a partir do nada, tantas surpresas surreais, tantas tentações para o Inferno e obstáculos para a felicidade. A imaginação é deveras prodigiosa e o Imaginarium, quando bem usado uma arma poderosa. Poucos realizadores teriam o à vontade, a coragem e o talento para fazer algo assim. Para Gilliam é perfeitamente natural.
É impossível dissociar o filme da morte. Ledger aparece enforcado, tentam matá-lo por várias vezes, é quase um presságio. Se Gilliam estava preparado para continuar o filme caso Plummer falecesse não sabemos, mas de certeza que não esperava perder o jovem. No entanto a adaptação do argumento está tão bem feita que parecia destinado a ser assim. Quase como se Ledger tivesse morrido para permitir um filme melhor. Como é muito bem dito por Depp, alguns dos que morrem jovens tornam-se imortais, e o jovem Heath pertence a esse restrito grupo.

Título Original: "The Imaginarium of Doctor Parnassus" (Canadá, França, Reino Unido, 2009)
Realização: Terry Gilliam
Argumento: Terry Gilliam e Charles McKeown
Intérpretes: Christopher Plummer, Heath Ledger, Andrew Garfield, Lily Cole, Verne Troyer, Johnny Depp, Jude Law, Colin Farrell
Fotografia: Nicola Pecorini
Música: Jeff Danna, Mychael Danna
Género: Aventura,Fantástico
Duração: 123 min.
Sítio Oficial: http://www.doctorparnassus.com/

Michael J. Fox


Estes filmes são basicamente one man show de Michael J. Fox pelo que este último artigo lhe será totalmente dedicado.



Michael J. Fox era um jovem com o sonho de ser actor. Partiu para a terra onde os sonhos se tornam realidade e viveu na miséria, alimentando-se de macarrão com queijo. Até que um dia a sorte lhe bateu com muita força. Matthew Broderick recusou um contrato de longa duração com uma série e portanto o papel de Alex Keaton pra uma série chamada "Family Ties" estava vago. No casting pediram a Michael o número de telefone. Como não tinha um - não tinha quase nada, até a mobília já tinha vendido - deu o número de uma cabine e informou-os do horário em que estaria em "casa". Acampou junto ao telefone até que recebeu uma chamada. "Mr Fox, o papel é seu se o quiser".

Estamos a meio dos anos 80. A série do momento é, como sempre, "Family Ties". Com a gravidez de Meredith Baxter a trazer um novo rebento para a família mais adorada da televisão, Michael J. Fox tornou-se a estrela que segurava o espectáculo. Spielberg convidou-o e Zemeckis convidou-o, mas estava proibido pelos estúdios de tirar um minuto que fosse à série pelo que, após a recusa de Ralph Macchio, Eric Stolz ficou com o papel principal em "Back to the Future". Ao fim de uns dias desistiram e Fox ficou com outro dos papéis que lhe deram um lugar no Olimpo. A condição da série foi cumprida: para não incomodar a série as filmagens foram todas feitas à noite e o actor dormia com sorte duas horas por dia. As filmagens diurnas foram feitas exclusivamente ao fim-de-semana.
Depois desta aventura não teve problemas em fazer "Teen Wolf", nem em levar a série para a Europa, nem em fazer um dos meus favoritos: "The Secret of My Succe$s". Só retornou à saga intemporal quando a série terminou. Os dois filmes seguintes ajudaram a solidificar o mito e criaram um legado.

Nos anos 90 voltou a trabalhar numa produção de Zemeckis. Chamava-se "The Frighteners" e era realizada por um neozelandês acabado de chegar aos EUA de nome Peter Jackson. Trabalhou com Tim Burton em "Mars Attacks!" e deu a voz a "Stuart Little" e a "Atlantis: The Lost Empire". Entretanto entrou numa nova série onde era o assistente do Mayor de Nova Iorque, "Spin City", que abandonou quando não conseguia disfarçar mais a Doença de Parkinson. Se repararem com atenção, passa uma temporada quase sempre com a mão no bolso.
Tem feito pequenos papéis em diversas séries, mas prefere aproveitar a vida e trabalhar apenas por gozo, não por obrigação.

Resta-me agradecer-lhe. Pela coragem, pela persistência, por lutar por aquilo em que acredita sem nunca desistir. Por tudo o que fez desafiando a lógica, as probabilidades e a doença tornando-se um exemplo para todos nós. Por fazer parte de marcos incontornáveis da minha infância e juventude. É um herói como raramente temos a oportunidade de conhecer.



NOTA: Um coisa que talvez não saibam é que o jovem herói americano é canadiano. O que mais tem feito ultimamente é apoiar a sua pátria, seja como destino turístico ou como equipa.
No hóquei bastou isso para os levar à vitória olímpica. Imagino igual sorte no turismo porque se ele recomenda, tem de ser um paraíso.


Bar Aberto


Mudei de ideias e agora sou fã dos intervalos em cinema. Especialmente quando o ecrã fica com uma frase perdida a anunciar que nos querem dar algo.

Não há relatos de alguém ter conseguido as anunciadas pipocas a custo zero.

"Precious" por Nuno Reis

Precious: I'm gonna break through or somebody gonna break through to me.

Um dos pesos-pesados (perdoem-me a expressão, mas não consigo começar de outra forma) na corrida aos Oscares chegou pelo inesperado Lee Daniels. No seu primeiro filme tinha Cuba Gooding Jr, Helen Mirren, Joseph Gordon-Hewitt e uma actriz discreta chamada Mo'nique encarnando a personagem Precious. Quem diria que quatro anos ela estaria num filme com precisamente esse título, com o mesmo realizador, e ganharia um Oscar? É certo que a competição não tinha nomes sonantes como noutras edições, mas tinha Penélope Cruz, a detentora do troféu com três nomeações em quatro anos.

Em "Precious" a heroína é uma adolescente que desagrada desde o início. É o aspecto, os pensamentos que acompanhamos em voz-off, saber que aos dezasseis está grávida pela segunda vez e o comportamento como estudante. Se é suposto cativar o espectador vai ter muito trabalho pela frente. Só que basta vermos o ambiente familiar em que vive e conseguiu. Vamos conhecer uma vida cheia de desafios e obstáculos, onde os supostos apoios são os opositores e terá de procurar ajuda fora de casa. Tanto na assistência social como na escola tem apoios para se erguer e ser alguém.
Vidas trágicas passadas para cinema há muitas, mas a de Precious é especial. É-nos dada tanta informação que a cada peça da história contada, é mais admirada. É uma sobrevivente e uma lutadora, mesmo que ainda não o saiba.

Ao princípio Precious fica muitas vezes aluada, pensando como seria a vida com outros factores como um namorado ou fama. Só que esses sonhos terminam subitamente e ela cai na realidade. O mundo não é nenhum conto de fadas. Essa mudança no filme reflecte-se em tudo. Sente-se a falta do elemento alegre entre toda a tragédia. É um filme que, não sendo inesquecível, é pelo menos memorável pela elegância com que nos coloca em tão podre sociedade. Tem um bom ritmo, uma mensagem marcante e interpretações fenomenais. Mesmo nos secundários escolhidos havia apostas arriscadas (os cantores Mariah Carey e Lenny Kravitz) e saíram-se bem. É obrigatório falar de Mo'nique que pelo discurso final mereceu todos os prémios. É aí que a personagem se extravasa e vemos quão baixo desceram, e quão alto a pequena Precious subiu. Um remate fenomenal para o filme.

Título Original: "Precious: Based on the Novel Push by Sapphire" (EUA, 2009)
Realização: Lee Daniels
Argumento: Geoffrey Fletcher (baseado no livro de Sapphire)
Intérpretes: Gabourey Sidibe, Mo'Nique, Paula Patton
Fotografia: Andrew Dunn
Música: Mario Grigorov
Género: Drama
Duração: 109 min.
Sítio Oficial: http://www.weareallprecious.com/

24 de março de 2010

"The Men Who Stare at Goats" por Nuno Reis


Actores de primeira renderam-se ao convite de um projecto independente. A proposta tinha pequenos estúdios, um realizador quase sem currículo (era actor há quase trinta anos), um argumentista que tem como trabalho mais mediático o fracasso "How To Lose Friends and Alienate People" e cabras. Como podia alguém resistir a isto?
Caso o título original seja suspeito, o título português não deixa margens para dúvidas. Estamos perante uma comédia diferente, uma obra irónica que rompe com o paradigma do divertimento.

Bob Wilton era um repórter insignificante que fazia biscates em busca de um furo. Quando o conhecemos está a entrevistar um maluco que afirma ter feito parte de um exército secreto, feito para estudar o poder psíquico. Farto dessas estórias e com um problema familiar, decide partir para o Iraque para provar o seu valor como jornalista. No Kuweit o destino vai atirá-lo para a mesa de um compatriota que também fez parte dessa divisão secreta. Está na hora de mostrar alguma coragem e perceber o que realmente se passou com o Exército da Nova Terra.

Seja pelo caricato constante da situação ou pelas personagens desse estranho exército, não se passa muito tempo sem rir. Ficamos indecisos entre a pequena possibilidade de ser real, ou o ainda mais improvável cenário de ser tudo coincidência. As probabilidades não costumam enganar. Entre os melhores momentos não há nenhum que se compare a quando Clooney diz a McGregor (lembrem-se que ele já foi Obi-Wan Kenobi) que o pode ensinar a ser um Guerreiro Jedi.
Ao fim de uma hora aquele estilo de humor começa a cansar. Nota-se que há uma mudança de estilo - puxando a narrativa para o presente numa tentativa de corrigir isso - mas não é suficiente.

Não sendo um filme memorável, satisfaz momentaneamente. É uma oportunidade para ver quatro grandes actores em papéis bem difíceis. Controlar o riso naquelas situações (maquilhado para parecer 20 anos, trancinha, bigode) supera em muito o jogo do sério feito contra as cabras. Convém aproveitar para ver Jeff Bridges em cinema já que o filme do Oscar não estreia por cá.


Título Original: "The Men Who Stare at Goats" (EUA, Reino Unido, 2009)
Realização: Grant Heslov
Argumento: Peter Straughan (baseado no livro de Jon Ronson)
Intérpretes: Ewan McGregor, George Clooney, Jeff Bridges, Kevin Spacey
Fotografia: Robert Elswit
Música: Rolfe Kent
Género: Comédia, Guerra
Duração: 94 min.
Sítio Oficial: http://www.themenwhostareatgoatsmovie.com/

Obrigado


Conhecem a expressão "o feitiço virou-se contra o feiticeiro"?

No sábado tinha desistido de campanhas de última hora para aquele concurso em destaque na barra lateral. O quinto lugar era então a classificação do Antestreia e não havia mais leitores para convencer nem amigos para obrigar. Acreditem que fui chato, até emigrantes votaram. Com o aproximar dos últimos dias e as campanhas dos restantes blogs só podia esperar descer e muito na classificação. Então, optei por maximizar o efeito do concurso. Em vez de cada um recolher votos para si, porque não fazer uma campanha de divulgação? Num post publiquei os links de todos os blogs de cinema que participavam no concurso. Seria um frente-a-frente mais justo, não dizia "votem em mim porque sou o melhor", dizia "vejam, decidam quais os melhores e votem em todos eles". Inclusivamente dois que estavam em posição favorável para nos ultrapassar. A ideia era ajudar a divulgar blogs mais pequenos e mostrar o valor do trabalho de quase 7 anos.

Mas no Facebook não funcionou como era suposto. O Split Screen aproveitou para passar do triplo para o quadruplo dos nossos fãs e, em vez de fazer a festa, apelou aos seus quase 900 fãs que votassem Antestreia. Com a persistência deles atingimos o terceiro posto, mas ontem, quando o dia terminou, já estávamos novamente fora da zona de apuramento. Só que... a data de fecho não era ontem, hoje é que é o último dia. Num cenário normal não valeria o esforço, mas tentei e tive sorte: Uma pequena limpeza da administração removeu um dos opositores acima e voltamos ao combate.



Após um pedido meu ao Pedro Afonso para me divulgar (só pedia uma dúzia de votos, entre os amigos que estivessem registados) ele publicou um artigo completo pró-Antestreia.

Independentemente do resultado do concurso uma coisa é certa: a blogosfera não é um local nada competitivo. Fico a dever um cinema a todos.

Posters minimalistas "Back to the Future"


Jamie Bolton entre os seus vários trabalhos de posters minimalistas tem a trilogia das viagens no tempo. Podem ser comprados aqui.


E um pequeno extra: parece de propósito, mas o Latino Review fez uma entrevista a Crispin Glover onde falam das viagens no tempo. É curioso ouvir o outro lado da discussão.

23 de março de 2010

Segunda vida


Após os Oscares os filmes ganham nova vida, especialmente os vencedores. Em Portugal os principais nomeados estão em exibição em meia dúzia de salas.

O mercado australiano pode ser a última oportunidade de "The Hurt Locker" fazer alguns milhões e deixar de ser o Melhor Filme menos rentável. É que lá ainda não estreou e a campanha aparentemente resume-se a dizer "ganhei o Oscar, venham ver".

O Gadget tarado e o gadget que não funciona


As tiras esta semana estão muito viradas para os gadgets. Num lado temos o Inspector Gadget que não conhecíamos.



E noutro o invento do ano a admitir as falhas. Não tem muito a ver com cinema, mas como todos os super-heróis são adaptados para grande ecrã, convém variar e mostrar os que são recusados em pequeno ecrã.



O filme sobre o indivíduo acima ("The Flash") está agendado para o próximo ano, mas ninguém parece querer saber.

Por falar em gadgets, repararam no novo calendário de estreias à direita do artigo?

22 de março de 2010

"Alice in Wonderland" por Nuno Reis



Chapeleiro Louco: You used to be much more..."muchier." You've lost your muchness.

Muitas gerações começaram a ver cinema pelas mãos de Walt Disney e entre todos os filmes dos estúdios, "Alice in Wonderland" de 1951 foi dos que teve maior magia. Ou, como o adequado título diz, mais maravilhas. Passaram-se quase sessenta anos e estamos de volta ao mundo mágico da nossa infância. Ao contrário do que sucede a Alice não entramos pela porta mais pequena, mas pela grande: orçamento de milhões, tecnologia 3D, o realizador mais fantástico da actualidade e um lote de actores de primeira linha. Há duas pequenas diferenças: esta não é a mesma Alice, e Wonderland afinal é Underland.

Alice Kingsleigh é uma adolescente diferente das outras. A sociedade em que vive não a compreende e imagina que o destino de uma mulher é casar e ser feliz. Um pouco à semelhança do pai sempre conseguiu ver mais além e é frequente estar nas nuvens a pensar como seria voar, ou se os homens usassem saias e as mulheres usassem calças. No dia em que a pedem em casamento retira-se para pensar na proposta e vai dar ao mundo mágico com que sonhou toda a vida. Só que ela não se lembra de alguma vez lá ter estado, os habitantes não acham que ela seja a Alice deles, e caso seja a Alice certa... a rainha quer a cabeça dela.

Há um quase pré-requisito para ver este filme e é ter visto a animação de 1951. A queda de Alice para Underland é tão semelhante à do filme de animação que admitir à partida ser o mesmo mundo se torna obrigatório. Em Underland vamos reencontrar as personagens que recordamos desde então: o Coelho Branco, os gémeos Tweedledee e Tweedledum, o Gato de Cheshire, a sapiente lagarta Absolom e na mesa de chá estão a Lebre, o Chapeleiro e o rato (aqui mais aguerrido). Todos eles contam com a verdadeira Alice para os salvar da tirana Rainha de Copas e repor a Rainha Branca no poder.
O conto da jovem forasteira que reúne um bando sortido de descontentes para depor uma má governante é semelhante ao de Dorothy em Oz. Não sabe onde está, mas assume como prioridade fazer o bem aos outros. Esta Alice no entanto está um pouco renitente quanto a ser a paladina do Bem na Batalha da Dita. Afinal de contas, na era em que vive Joan d'Arc era considerada uma bruxa. Tal como a Peter Banning em "Hook" dizem-lhe que perdeu a muiticidade (muchness) e é isso que vai passar o filme todo a procurar. Vai-se tornar uma nova Alice, ousada e desafiadora, que sabe o que quer e como o conseguir.
O combate final era inevitável. O fio condutor aponta para ele tal como em todos os filmes comercialmente rentáveis do fantástico juvenil. Só que aqui foi reduzido ao máximo para maximizar a história como componente do filme e isso surpreende. Nessa cena é de destacar a pequena participação de Christopher Lee. Sendo assim torna-se também inevitável falar do desempenho dos actores fetiche do realizador. Podemos falar de Depp e Carter, ou ainda procurar a voz de Cough que se reformou e apenas trabalha para Burton. São elementos auxiliares de uma aventura que pertence a outra heroína. Bons actores, mas secundários. Já Wasikowska pela inexperiência em grandes papéis tem sempre o ar de perdida que era necessário. A surpresa é Crispin Glover como o vilão de serviço. Tem aqui uma das suas melhores personagens, ainda que seja muito ao estilo das anteriores. Anne Hathaway tem uma personagem tão enigmática que se acaba sem saber exactamente quem é esta rainha.

Para quem espera um filme de Tim Burton convencional aviso que não é aqui que o encontram. Apesar de todo o assombro visual digno de um mundo de fantasia não é nenhum "Beetlejuice". A história não foge ao previsível, mas vale pelos detalhes. Quem for a contar com um Burton sairá desiludido. Quem for de mente aberta e preparado para ser espantado tem aqui um filme que merece ser visto, a quaisquer dimensões. Só lhe falta um pouquinho mais de muiticidade.

Título Original: "Alice in Wonderland" (EUA, 2010)
Realização: Tim Burton
Argumento: Linda Woolverton (baseada nos livros de Lewis Carroll)
Intérpretes: Mia Wasikowska, Johnny Depp, Helena Bonham Carter, Anne Hathaway, Crispin Glover, Tim Pigott-Smith e as vozes de Michael Sheen, Alan Rickman, Timothy Spall, Stephen Fry
Fotografia: Dariusz Wolski
Música: Danny Elfman
Género: Aventura, Fantástico
Duração: 108 min.
Sítio Oficial: http://disney.go.com/disneypictures/aliceinwonderland/

"Back to the Future: Part III" por Nuno Reis



Doc: Marty, we all have to make decisions that affect the course of our lives. You've gotta do what you've gotta do. And I've gotta do what I've gotta do.

Cinco anos depois do início da saga, eis que chega o último capítulo. O segundo filme deixou-nos na expectativa, não só pelo final, como pelo trailer que anunciava esta conclusão. Irá Marty voltar ao seu tempo e aos braços de Jennifer? E qual o futuro do Doc? Questões que apenas agora serão respondidas.

Marty é um jovem de 1985 preso no ano de 1955. Tudo o que este jovem tem é uma carta escrita um século antes de nascer e um cientista que acabou de mandar uma máquina do tempo para o futuro com ele dentro. Preso numa era que não tem nada novo para ele, e sem o DeLorean, parece estar irremediavelmente condenado. Mas uma coisa que nós já aprendemos é que nada, ninguém e nenhuma época é capaz de impedir Marty McFly de atingir o seu objectivo: um futuro com Jennifer. De forma que não é fundamental explicar, Marty vai ter com Doc ao Old Wild West. Tem uma semana para arranjar uma máquina do tempo antes de inventarem algo que forneça 1,21 gigawatts, ou máquinas do tempo, ou algo que chegue às 88 milhas por hora ou sequer os carros e as estradas.

Não era possível fazer um filme mais revolucionário do que o segundo capítulo. A terceira parte serve apenas para fechar algumas pontas soltas e seria arriscado fazê-la, mas muda de tal forma que deixa de ser um filme sobre viagens e se torna um western. Um western diferente, com grandes doses de comédia e um bocadinho de romance. Tem os heróis e o vilão que adoramos, continua a usar nomes de outra época como se fossem seus (Clint Eastwood autorizou) e usa artimanhas que passaram despercebidas no segundo. Por tudo isso convém que se veja pelo menos estes dois filmes seguidos.
Os efeitos especiais contrastam bem com o século XIX. Há sempre algo diferenciador que distingue os viajantes do ambiente em que estão. Num western normal esta dupla seria morta a chegada pelo seu comportamento estranho, mas aqui as regras são diferentes. Não é preciso fazer um grande esforço para os imaginarmos integrados. Mesmo os ZZ Top com as máscaras passam bem por uma banda da época.

Não é um filme fenomenal. Não é arrebatador porque nem chega aos calcanhares do segundo. É um alívio saber que as pontas estão todas fechadas e que a história ficou bem contada. A lição final é aquela que devíamos ter ouvido logo à primeira. Regra número um: não interferir no passado. Regra número dois: não saber o futuro. Estas duas são fáceis de cumprir se não tivermos o DeLorean. Regra número três: O futuro não está escrito. Devemos viver o presente e fazer um bom futuro.


Título Original: "Back to the Future: Part III" (EUA, 1990)
Realização: Robert Zemeckis
Argumento: Rober Zemeckis, Bob Gale
Intérpretes: Michael J. Fox, Christopher Lloyd, Mary Steenburgen, Thomas F. Wilson, Lea Thompson, Elisabeth Shue
Fotografia: Dean Cundey
Música: Alan Silvestri
Género: Acção, Aventura, Comédia, Ficção-Científica, Western
Duração: 118 min.
Sítio Oficial: http://www.bttf.com/