17 de março de 2010

Uma despedida em grande


Chamo a vossa atenção para o projecto Chão que está a organizar a última sessão da lendária sala Nimas.

Chão: Nimas

O cinema Nimas, Cine-Rádio-Estúdio

G. L., foi instalado na década de 1970 no rés-do-chão e cave do nº 42-B da Avenida 5 de Outubro.

À semelhança de uma sala-estúdio, apresentava filmes de diversos distribuidores, destinados a um público não tão numeroso como o das grandes salas, mas porventura mais fiel.

No seu projecto, a sala destinava-se igualmente à gravação de programas de televisão e rádio, havendo registo de ter pertencido à Rádio Difusão Portuguesa. É nessa função paralela que alberga nos anos 1980 as emissões ao vivo do programa "Febre de Sábado de Manhã" de Júlio Isidro para a Rádio Comercial. Nos anos 1990 a sala passou a ser explorada pela Medeia Filmes, dedicando-se sobretudo ao cinema europeu. Em Agosto de 2009, a sala deixou de funcionar como cinema e, desde então, tem vindo a dedicar-se principalmente às artes performativas (música, dança, teatro).





Calendário



Parte 1




18 de Março, Quinta-feira, 21:30

- Cinema, alguns cortes: Censura, de Manuel Mozos, 1999

- Catembe, de Manuel Faria de Almeida, 1965



19 de Março, Sexta-feira, 21:30

- As Horas de Maria, de António de Macedo, 1976


- Debate com António de Macedo, Manuel Mozos (outros convidados a anunciar)



20 de Março, Sábado, 21:30

- Kino Xtrem, projecção tripla com edição e mixagem do som ao vivo por Peter Sempel



Parte 2



25 de Março, Quinta-feira, 21:30

- Uma História de Vento, de Joris Ivens, 1988


- O Vento, de Victor Sjöström, 1928, acompanhado por sessão de sonoplastia ao vivo por Peter Bastien, Rui Viana e Vasco Pimentel



26 de Março, Sexta-feira, 21:30

- Forbidden Images, projecção e apresentação por Graw Böckler, 2010

- You too bar, YouTube mixtape por João Onofre e Miguel Sá




Bilhetes:

“Kino Xtrem” - €5

Restantes sessões - €3,5









Programa



A impossibilidade de mostrar e ver cinema, implícita no fecho de mais uma sala, será o tema geral do programa proposto. O cinema censurado, proibido, impossível ou invisível, será abordado através de uma programação que evidenciará os obstáculos que, de diferentes formas, impedem o espectador de ver: a censura política, o boicote por parte do público ou dos distribuidores, as dificuldades técnicas de reprodução, as limitações do próprio cinema, ou os tabus culturais e sociais.






1. Cinema, alguns cortes: Censura  +  Catembe


O documentário de arquivo “Cinema, alguns cortes: Censura” foi realizado por Manuel Mozos a partir dos excertos cortados pela Comissão de Censura do Estado Novo que foram guardados e conservados na Cinemateca, e que escaparam assim à destruição normalmente destinada aos fragmentos censurados.

“Catembe”, primeira longa-metragem do realizador Faria de Almeida, foi o filme da história do cinema mais cortado pela censura – razão pela qual entrou no Guinness Book of Records. Sofreu 103 cortes, passando de 1h20m a 47 minutos e, mesmo assim, a sua projecção foi proibida. O filme foi projectado publicamente apenas após o 25 de Abril de 1974, por duas vezes.

O filme original pretendia retratar a vida de Lourenço Marques em 1964, cruzando documentário e ficção, nomeadamente, a história de amor entre um pescador e uma jovem prostituta de nome Catembe.




Nota: No final da projecção de "Catembe" serão projectados alguns dos excertos cortados que foram depositados em 2009 no ANIM-Cinemateca.





2. As Horas de Maria


“As Horas de Maria”, filme realizado por António de Macedo em 1976, está fortemente ligado não só ao tema da censura como à história do Nimas. O filme foi aí estreado em 3 de Abril de 1979, não antes de a sua estreia ter sido adiada e envolta em grande polémica, entre abaixo-assinados pedindo a sua proibição e ameaças de bomba ao realizador, ao produtor e à gerente da sala. A contestação por parte da Igreja e grupos católicos que acompanhou o filme onde quer que fosse exibido pelo país teve o seu episódio mais intenso em Lisboa, chegando o Exército português a montar um perímetro de segurança à volta do edifício na noite de estreia para defender os espectadores dos manifestantes.

A personagem principal do filme, Maria (Eugénia Bettencourt), é uma jovem cega que é internada num pavilhão em ruínas de um hospício, onde contacta apenas com a sua tia freira (Cecília Guimarães), aí enfermeira, e o seu médico (João d'Ávila).





                                    "As Horas de Maria", de António de Macedo, 1976




3. Kino Xtrem


Realizada pela última vez em 2007 por ocasião dos 25 anos de carreira de Peter Sempel, a projecção /performance/happening “Kino Xtrem” é uma experiência única e irrepetível, que tira partido do envolvimento visual e sonoro da sala de cinema para uma colagem em tempo real de sequências dos vários filmes deste realizador e de uma banda sonora também ela “misturada” ao vivo.

A difícil logística do projecto faz com que raras vezes tenha sido realizado. Consiste na projecção simultânea com 3 projectores (16mm e vídeo), com respectiva mudança de bobines, e na mistura de som ao vivo realizada pelo próprio Sempel no interior da sala, rodeado pelos espectadores. À magia de testemunhar o trabalho de “edição” em directo e sem “guião”, junta-se a descoberta do processo de projecção através da película, normalmente escondido na cabine de projecção, e a partilha colectiva do mundo de Sempel, povoado por personagens como Blixa Bargeld, Nina Hagen, Lemmy, Kazuo Ohno, Jonas Mekas, Allen Ginsberg, entre muitas outras, e da mescla punk-rock-clássica de uma banda-sonora que poderá incluir Einstürzend Neubauten, Nick Cave and the Bad Seeds, Motörhead, Verdi, Schubert, Schumann, Mozart, ...





                                   ©Peter Sempel


Nota: no âmbito da sua vinda a Portugal, Peter Sempel dará uma uma aula de entrada livre na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, dia 19 de Março, sexta-feira, às 18h.






4. Uma História de Vento  +  O Vento


A impossibilidade técnica de filmar o vento será explorada numa sessão dupla. Na primeira parte, será projectado o último filme de Joris Ivens (1898-1989), “Uma História de Vento”, resultante do “projecto insensato de capturar a imagem invisível do vento”, nas palavras do próprio. Na segunda parte, a projecção do filme mudo “O Vento”, de Victor Sjöström (1879-1960), será acompanhada por uma sessão de sonoplastia ao vivo, realizada por Rui Viana, Peter Bastien e pelo engenheiro de som Vasco Pimentel.






5. Forbidden Images  +  You too bar


Depois de “Commercials for a Concept” e de “Unauthorized Commercials”, a dupla de artistas Graw Böckler apresenta o seu último projecto (ainda em curso) “Forbidden Images” com o qual pretendem abordar os tabus e proibições muitas vezes implícitas no acto de filmar. Da ficção ao documentário, das questões dos direitos de autor à da autorização por quem é filmado, este trabalho explora os diversos limites impostos ao longo do processo que vai da captação de imagens e sons à sua apresentação pública.

"You too bar" será uma sessão de “YouTube mixtape" dedicada à incontornável plataforma de partilha de vídeos e filmes sonorizados que, com apenas 5 anos de vida, mostra que a Internet provocou, depois do vídeo, uma deslocação da forma clássica da experiência do cinema. A sessão, pelos artistas João Onofre e Miguel Sá, pretende utilizar o YouTube como um catalisador, ao alcance de todos, da experiência colectiva de imagem e som, propondo um afastamento do tão comum visionamento individual.






Nota: com excepção de dia 25, todas os realizadores estarão presentes nas respectivas sessões.





Morada: Avenida 5 de Outubro, nº 42 B



Transportes: Metro - Saldanha, Autocarros – 21, 32, 36, 44, 49, 83, 727, 738, 732, 745, 780, 207



Apoios: Goethe Institut Lissabon, German Films, Cinemateca Portuguesa, Câmara Municipal de Lisboa, Dot One e GAU.




Links relacionados:
myspace.com/projectochao
http://www.facebook.com/group.php?gid=117328058831


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