16 de abril de 2010

Colheita Seleccionada - "Casablanca"


Como é costume nos textos de opinião no "Colheita Seleccionada" vou dizer o porquê de este ser um dos meus filmes fundamentais. Por ser o mais antigo é provavelmente aquele que menos gente viu. No entanto imagino que tenham ouvido falar e saibam do que trata, talvez saibam falas e cenas de cor mesmo sem saber que é deste filme. Sim, vou escrever uns spoilers que, como em todos os grandes filmes, não faz mal saberem. Perdoem-me se estão demasiado curiosos para esperar e isto vos vai estragar a surpresa, mas é inadmissível que ainda não tenham visto. Quando eu vi o filme sabia como ia acabar e não gostei menos por isso. Aliás, acabei e fui rebobinar para ver novamente. Se alguém tiver problemas com isso não leia antes de ver. Vão ver o filme para saberem a história toda e agradeçam-me quando voltarem aqui para ler.

Quando o vi sabia com o que contar. O que me interessava era ver Peter Lorre num filme "normal" e acabei como todos os outros rendido à intriga em reuniões secretas, ao romance impossível, ao humor contagiante numa época em que era difícil rir. Admirador dos heróis, fascinado pela heroína, citando frases a propósito de tudo e de nada. Foi daqueles casos em que o filme fez tudo o que era suposto, mesmo 60 anos depois. Apela à razão e à emoção e, pelos ideais dos anos 40, dá um magnífico festim para os olhos, ouvidos e mente. Os diálogos de Rick, Ugarte, Ferrari e Renault (dois carros, coincidência?) são de tal sagacidade que nunca deixam de parecer espontâneos.

Como devem ter reparado pela minha lista não sou facilmente convencido por filmes de um género só. Para ser um dos meus favoritos tem de entrar por vários géneros e ser superior em todos eles. "Casablanca" é dos exemplos mais felizes de cruzamento de géneros. A guerra é um mero tema de fundo não chegando a marcar de forma severa a narrativa. Cria tensão e concentra a acção em Casablanca, mas tem pouquíssima violência. É um filme de espionagem onde cada um tem em si mesmo um agente com poder para mudar o mundo. O equilíbrio entre drama, romance e comédia ligeira torna o que supostamente seria mera campanha militar num filme brilhante.

Em tempos ouvi dizer que todos querem ver filmes com finais felizes, mas são os tristes que ficam para sempre na memória. Em "Casablanca" há três finais num só. Temos o feliz representado pelo casal. Temos o triste na despedida. Temos o motivador com a partida do herói solitário para nova missão. Como pode algo assim ser esquecido? Recomendo que após verem, reverem e absorverem o filme, leiam o guião. É a única forma de compreender a verdadeira grandeza do filme por trás de todo o fascínio. E depois disso, vejam novamente.

2 comentários:

Bruno Cunha disse...

O filme é espectacular! O final é surpreendente mas já o sabia através dos Simpsons, penso eu. Mas não deixa de ser uma obra-prima!
Faltou dizer o espantoso Bogart e a sua performance!

Abraço
Cinema as my World

Nuno disse...

Deixei isso para a crítica a publicar no sábado.