31 de maio de 2010

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24 de maio de 2010

23 de maio de 2010

22 de maio de 2010

"Fair Game" por António Reis

Fair Game - por uma política de verdade


Os grandes conflitos são para os cineastas dos Estados Unidos, uma fonte preciosa de inspiração. Foi assim na Segunda Guerra Mundial, No conflito do Vietname e, mas recentemente, no Iraque. A última década tem sido fértil em filmes no teatro de guerra do Médio Oriente como é o caso de "The Kingdom", "Redacted", "Jarhead", "Charlie Wilson's War" e "The Hurt Locker" a quem a Academia premiou com Oscares. Passada a primeira fase em que o conflito é o centro da acção, o cinema americano passa à segunda fase. Discutir o que foram as raízes do conflito, a guerra não no deserto, mas nos corredores da Casa Branca e da CIA. Recuperando aquela que é uma das mais brilhantes tradições do cinema politicamente comprometido, abertamente anti-republicano, anti-Bush e anti-neoconservador. Aquilo que para a política americana seria uma visão de esquerda. Se durante a guerra do Vietname Robert Redford, Charlie Sheen, Sidney Pollack, foram alguns desses expoentes, neste século Sean Penn e Susan Sarandon são alguns dos estandartes de gente do cinema que quer recuperar a ética na política, e repor a verdade histórica.
Seguindo de muito perto a história real de uma operacional de topo da CIA - agente secreta que durante dezoito anos serviu com dedicação o seu país em arriscadas missões no Médio Oriente, Índia e Extremo Oriente - a ficção é o próprio real. O caso de Valerie Plume é exemplar de como a Casa Branca manipulou os factos, denunciando em público a sua própria agente e expondo os seus contactos a morte anunciada. Por esta vingança do gabinete de Dick Cheney morreram mais de três dezenas de informadores, incluindo a nata do programa nuclear iraquiano. Que não existia.

Joe Wilson, marido de Valerie e embaixador reformado, arrisca voltar aos seus contactos em busca de provas. O que ele conclui é que a Casa Branca preparou um embuste para justificar a guerra. Contra os relatórios dos analistas e contra as informações da CIA, Bush iniciará a guerra fora de portas. E contra Valerie Plume e contra Joe Wilson montará um complot para os destruir como pessoas, nas suas profissões e no seu casamento. Mas como David contra Golias, Joe e Valerie derrotarão o Golias. É reconfortante para quem tem ética ver que a verdade acaba por triunfar... às vezes. Sean Penn e Naomi Watts têm um desempenho notável. A realização de Doug Liman, de câmara nervosa mostra que Pollack fez escola. Destaque para o argumento que combina as duas visões da mesma história que se complementam. Valerie escreveu as suas memórias em "Fair Game" e Joe Wilson teorizou a política externa em "The Politics of Truth". O cinema americano democrata está de volta e em grande estilo.

Uma nota especial para o genérico final onde alguns dos nomes estão censurados por imposição dos serviços secretos.

Fair GameTítulo Original: "Fair Game" (EUA, 2010)
Realização: Doug Liman
Argumento: Jez Butterworth e John-Henry Butterworth (baseados nos livros de Joseph Wilson e Valerie Plume)
Intérpretes: Naomi Watts, Sean Penn, Ty Burell, Bruce McGill
Fotografia: Doug Liman
Música: John Powell
Género: Acção, Bilgrafia, Drama, Thriller
Duração: 104 min.
Sítio Oficial:

21 de maio de 2010

"It's Complicated" por António Reis

Os períodos mortos das temporadas cinematográficas são a altura ideal para comédias românticas. Entretêm os espectadores, mas na prática são fast cinema de consumo imediato e de esquecimento ainda mais rápido. “Amar… É Complicado!” é um exemplo típico de um filme o mais convencional possível dentro do género que se limita a pegar num trio de actores de agrado fácil junto de todos os públicos (tanto masculino como feminino) e de repetir todos os clichés que definem o estilo.

Pegar num casal de divorciados, introduzir-lhe um outro vértice para o triângulo amoroso, adicionar filhos crescidos em cerimónia de conclusão de curso, acrescentar alguma dose de alcool e de pastelaria fina para servir tudo sob o lema que agradará até aos mais puritanos de que é possível salvar o casamento, mesmo após o divórcio. Ainda que possa parecer provocador é um daqueles filmes que leva as mulheres com facilidade à lágrima, mas que tem o condão de irritar os espectadores do sexo oposto.

Como já não há grandes histórias de amor, capazes de empolgar e fazer sonhar aos audiências, nada melhor do que uma comédia de reencontro. Casar uma primeira vez pode ser um erro, mas repetir o casamento com a mesma mulher só mesmo por desvario. Liz Taylor e Melanie Griffith já o fizeram na vida real e os resultados são os que se conhecem.

Inverosímil nas situações, forçado nos gags, previsível nos desenlaces, e preguiçoso no guião não é amar que é complicado. Complicado é segurar o espectador durante 120 minutos entediantes.
Meryl Streep pode ter recebido um chorudo cheque pelo seu desempenho onde retoma o tom de "Mamma Mia!" e dos conturbado vida amorosa, mas está longe dos papéis em que se lhe reconhece talento. Steve Martin está demasiado sério e circunspecto no seu papel de arquitecto, parecendo pouco à vontade num registo de maturidade que não é o seu. Alec Baldwin é o canastrão do costume.

Poderia parecer que tudo está bem quando acaba bem, mas o cinema para ser arte tem de ter algo mais do que entreter o público.


Título Original: "It's Complicated" (EUA, 2009)
Realização: Nancy Meyers
Argumento: Nancy Meyers
Intérpretes: Meryl Streep, Alec Baldwin, Steve Martin
Fotografia: John Toll
Música: Heitor pereira, Hans Zimmer
Género: Comédia, Romance
Duração: 120 min.
Sítio Oficial: http://www.itscomplicatedmovie.com/

20 de maio de 2010

19 de maio de 2010

18 de maio de 2010

Prioridades

Já devem estar com saudades dos artigos a sério, mas por estes dias BDs é tudo o que conseguem. Aqui fica uma lista de preferências do autor de Abstruse Goose, actores e personagens incluídos.

17 de maio de 2010

"The Bad Lieutenant: Port of Call - New Orleans" por António Reis

Consta que Abel Ferrara ficou à beira de um ataque de nervos quando soube da remake do seu "Bad Lieutenant". E que não ficou nada satisfeito com o resultado final. Não admira porque fazer uma remake onde apenas se repete o original sem qualquer laivo de criatividade parece ser uma mera perda de tempo e de dinheiro.
Mais surpreeendente ainda é como o Werner Herzog, um realizador que se afirmou por obras marcantes e visionárias, embarca num projecto tão vulgar.

A ideia original deste "Polícia Sem Lei" tinha a força corrosiva de um Ferrara que não poupava as instituições e que apostava em personagens moralmente dilacerados. A ascensão social de um polícia corrupto, visto numa perspectiva nada moralista nem mesmo maniqueísta, acabava por tornar o personagem numa figura humana. Este remodelado polícia corrupto , perverso e sem valores, dá uma imagem de uma sociedade à deriva. Nicolas Cage insiste em refazer personagens sem lhes acrescentar dimensão (veja-se o caso de "The Wicker Man") arrastando-se ao longo do filme com um ar entediado e sobranceiro, como quem está a fazer um frete ao espectador. Comparar o seu desempenho com o de Harvey Keitel é criminoso. Eva Mendes cumpre com a eficácia visual que se lhe reconhece a personagem mais frequente da sua carreira – o de prostituta protegida.

Werner Herzog, um dos grandes nomes do novo cinema alemão, com uma carreria com filmes tão fundamentais como "Aguirre, o Aventureiro", "Fitzgarraldo ou de um memorável “Nosferatu: Phantom der Nacht”, envereda por uma carreira tão americanizada que lhe destrói a essência da originalidade. Talvez seja da idade, ou do cheque que lhe pagaram, mas "Bad Lieutenant é um bad film. Como na gastronomia, a comida requentada nunca é de grande qualidade.

Título Original: "The Bad Lieutenant: Port of Call - New Orleans" (EUA, 2009)
Realização: Werner Herzog
Argumento: William M. Finkelstein (baseado no filme de Abel Ferrara)
Intérpretes: Nicolas Cage, Eva Mendes, Val kilmer,
Fotografia: Peter Zeitlinger
Música: Mark Isham
Género: Crime, Drama
Duração: 122 min.
Sítio Oficial: http://www.badlieutenantportofcallneworleans.com/

16 de maio de 2010

15 de maio de 2010

14 de maio de 2010

13 de maio de 2010

12 de maio de 2010

11 de maio de 2010

"The Answer Man" por Nuno Reis


Carteiro: Mr. Faber, is there such a place a hell?
Arlen Faber: Yes, there is. I think it was Sartre that said it best really when he said, and I quote, "hell is other people".

Num mundo cada vez mais acelerado e onde o conhecimento prova que afinal ocupa lugar, é preciso alguém que saiba as respostas. Para a maioria do mundo Arlen Faber é esse homem. Autor do livro "Eu e Deus", publicado há 20 anos, apresentou uma enorme quantidade de perguntas que lhe ocorreram e as respostas de Deus. O sucesso desse questionário foi brutal tendo sido traduzido para 100 línguas e controlando 10% do mercado livreiro religioso. Ainda hoje vive escondido e em anonimato, rabugento e descontente, procurando o significado da vida, do universo e tudo mais.
Arlen Faber como tantos outros génios sofre de Asperger (pouca capacidade para interacção social, hábitos repetitivos). Mas ao contrário dos outros também sofre de uma terrível dor de costas e, horror dos horrores, tem demasiados livros. Na livraria onde se tenta livrar dos livros e o consultório de quiropatia onde se quer livrar das dores vai estabelecer novas relações. Primeiro com o livreiro Kris, um alcoólico em recuperação que procura respostas, e depois de forma mais especial com Elizabeth, a quiropata que lhe conserta a coluna, mas ataca o coração. Será que finalmente alguém além da sua maternal editora vai conseguir falar com ele?

A personagem encarnada por Jeff Daniels é convincente se bem que um pouco forçada. O confronto que tem diariamente com o carteiro, o desprezo pela sociedade, é um choque com o convencional que satura, mas a doença dele vai-se revelando e portanto consegue compreensão. Os secundários em torno dele estão bem, em especial Lauren Graham que frequentemente rouba o espectáculo. Outro ponto a favor é o argumentista ter sabido quando parar evitando erros frequentes de estreantes: o carteiro sai de cena no momento certo, ficam coisas por contar, não entra no drama fácil. Tem clichés, mas daqueles que com um pouco de boa vontade são plausíveis.

Quem espera uma lavagem cerebral louvando a religião vai ficar surpreendido. Faber deve ser o maior agnóstico do filme. A todas as questões religiosas que lhe são colocadas responde com mera filosofia provando que na mente humana temos boas respostas. Quando termina fica a sensação de que queríamos mais respostas porque as poucas dadas durante o filme são realmente boas. O filme, tal como as perguntas, sabe a pouco.

Título Original: "The Answer Man" (EUA, 2009)
Realização: John Hindman
Argumento: John Hindman
Intérpretes: Jeff Daniels, Lauren Graham, Lou Taylor Pucci, Olivia Thirlby
Fotografia: Oliver Bokelberg
Música: Teddy Castellucci
Género: Comédia, Romance
Duração: 95 min.
Sítio Oficial: http://www.answermanmovie.com/

10 de maio de 2010

Fanático? Com muito gosto!


Quando as pessoas vão de férias costumam fotografar-se, fotografar monumentos célebres ou fotografar belas paisagens. É bom saber que por vezes se lembram de nós nesses momentos. Receber uma mensagem "Lembrei-me de ti. Quando vires a foto vais perceber." faz logo pensar que será a estátua a algum grande herói, ou um evento que possa interessar.

Bem, a foto que recebi era a seguinte...


A sala é o Odeon de Convent Garden, Londres. Parece que a rede Odeon proclama ser uma rede para fanáticos em cinema. Do mal o menos, este vício não faz mal a ninguém.

A propósito, já viram a nova secção Cinemas no Nundo do Split Screen?

Mande um tijolo


Avanca tem uma vaca, um cineclube e um festival. Agora só falta um edifício.

Começou em 1998 o sonho de dar uma casa ao cineclube. À boa moda portuguesa entre entraves nas licenças e nos fundos o edifício ainda está por concluir. Desta vez decidiram parar com os pedidos oficiais e começar a pedir material aos amigos. Eis a Campanha do Tijolo.

Podem ler mais sobre isso em vários sítios (Blog oficial, Diário de Aveiro, Diário de Notícias), agora o importante é mandar tijolos, areia e cimento para edificar e dignificar um dos mais premiados centros de produção cinematográfica do nosso país. Talvez o festival de 2011 já seja nesse novo lar.

PS: Um tijolo custa 12 cêntimos na Maxmat (lojas em São João da Madeira e Aveiro entre outras). Se encontrarem mais barato lá perto avisem.

"Assassination of a High School President" por Nuno Reis



Bobby: The name's Bobby Funke. I write for the paper.

Na tradução literal "Assassinato de um Presidente do Secundário"... O título diz tudo. Assassinato? Crime, mistério. Presidente? Intriga, escândalo. Secundário? Tem de ser comédia! E é tudo isso. Estamos perante uma comédia negra ao melhor estilo dos filmes de detectives de meados do século passado, mas o mistério está num local onde tudo é maximizado: o ensino secundário. Adolescentes com hormonas aos saltos, em busca de uma identidade, em luta por um futuro, vão ser confrontados com um escândalo que os afecta no que há de mais sagrado: os exames. Daí o tão diferente título português "O Mistério dos Exames Roubados".

Bobby Funke quer assumir-se como repórter no jornal da escola. Em causa está uma oportunidade de estagiar num jornal universitário que ninguém merece mais do que ele. Quando lhe dão como tema "quem é o presidente dos estudantes?" desespera pelo pouco interesse de tal peça. Felizmente a pedido da namorada desse mesmo presidente vai começar uma investigação paralela: quem terá roubado os exames? O escândalo político rebenta quando descobre que ambas as investigações vão dar ao mesmo resultado porque o presidente é o ladrão. Como resultado disso ganha o estágio, a namorada do derrotado e o respeito dos alunos, mas estará a investigação concluída ou terá sido usado para desviar os olhos de um escândalo maior? Quando Woodward e Bernstein investigaram Nixon as coisas pareceram mais fáceis...

Reece Thompson é o jornalista de serviço. Numa estreia como protagonista é bastante convincente. O actor secundário Bruce Willis é fenomenal. Num registo ligeiramente diferente do habitual dá um espectáculo único como o director da escola com rigor militar. E finalmente temos Mischa Barton que as palavras não bastam para descrever. Ninguém diria que dez anos depois ainda a escolhiam para fazer de estudante - em "St. Trinian" (2007) fez de ex-aluna - mas interpreta muito bem a "cabra" ao bom estilo estudantil . De destacar que é o segundo filme consecutivo em que faz de italiana despida depois de "Virgin Territory".

Está classificado como sendo para adultos devido às referências a sexo, drogas e álcool e ainda bem porque não é para adolescentes. É preciso já ter passado por isso para encarar com diversão o mundo do secundário. Quem ainda lá estuda não reconhecerá as situações e por isso não achará grande piada.
Mais uma homenagem do que uma paródia ao género do mistério, esta investigação estudantil é previsível, mas uma divertida variação ao cada vez mais saturado tema dos dramas juvenis.

Título Original: "Assassination of a High School President" (EUA, 2008)
Realização: Brett Simon
Argumento: Tim Calpin, Kevin Jakubowski
Intérpretes: Mischa Barton, Reece Thompson, Bruce Willis
Fotografia: M. David Mullen
Música: Daniele Luppi
Género: Comédia, Crime
Duração: 93 min.
Sítio Oficial:

9 de maio de 2010

South Park - o episódio 200


South Park vai com 14 temporadas de polémica. No episódio 200 decidiram satirizar a própria série: todas as celebridades já gozadas processaram a cidade e exigiram ver Maomé. Como Maomé não pode ser representado, o episódio apresenta-o em forma de urso. Os grupos radicais islâmicos manifestaram o seu desagrado da forma habitual: com ameaças de morte...

Quem não perdeu a oportunidade para brincar com isso foi a outra série que vive da polémica e das provocações: "The Simsons.


Já antes tinham parabenizado os concorrentes pelos 200 episódios, numa referência a um episódio anterior.


É bom saber que a televisão não cede perante a censura. Por hoje chega de posts. Imagino que todos os leitores estejam a aproveitar a deixa para rever episódios antigos.

Facebook e South Park


Foi este fim-de-semana que o site South Park disponibilizou o episódio de dia 7 de Maio. Aqui satirizam os fenómenos Facebook, Chat Roulette, Farmville e a importância que um perfil tem. Até "TRON" é referido!

Para a semana saberemos se o polémico episódio 200 vai para o ar como era suposto, ou se continuarão a protegê-lo com as vidas. Até lá, juntem-se ao Antesteia no Facebook.

PS: Não sabem o que se passou com o episódio 200? Vem já aí a resposta.

Céu e mar


Cannes tem belas praias, sol, gente gira e filmes para todos os gostos. No entanto este ano parece que algo está errado. Os céus impedem voos de e para Nice. O mar está a destruir a praia e os restaurantes (ver aqui). Só falta a terra associar-se ao movimento anti-festival e um terramoto demolir o que sobra.

Sem aviões não haverá filmes, nem convidados americanos. Os europeus menos ousados também ficarão de fora da festa. Estará esta edição limitada aos locais e aos empresários gananciosos que tudo farão para vender o filme? Seria curioso. O Antestreia lá chegará de alguma forma, podem ter a certeza.

"9" por Nuno Reis


5: I don't mind having one eye. It just means I can focus on one thing at a time.


Num mundo pó-apocalíptico, um cientista cria 9 bonecos a que dá vida. No último deles está a única esperança da Humanidade para sobreviver num mundo de máquinas. Só precisa de convencer os restantes 8 a ajudá-lo, escapar às máquinas mortíferas, e saber o que fazer. 1 é um líder religioso que se opõe a tudo o que seja progresso. 8, pouco inteligente, mas forte é o seu maior aliado. Por outro lado 2 é um inventor que anseia pela mudança. Do seu lado tem os gémeos arquivistas 3 e 4. 5 é o mecânico e reparador de serviço, vai ter muito trabalho. 6 é um artista visionário, 7 é uma guerreira independente e 9 é o herói. Cada um representa uma faceta da Humanidade. Tem primeiro de lidar com os problemas mais comuns da nossa espécie para poder fazer algo. A religião é o entrave. Depois tem de reunir o conhecimento, a criatividade, a coragem e a força numa luta desigual contra os monstros mecânicos.

As vozes são de qualidade inquestionável. Temos Christopher Plummer, Martin Landau, John C. Reilly, Crispin Glover, Jennifer Connelly e, como 9, Elijah Wood. Ironicamente Alan Oppenheimer - que dá a voz ao cientista responsável pelo fim do mundo - é aparentado a Robert Oppenheimer, inventor da bomba atómica. Isso foi possível porque na produção está Tim Burton. Quando se trata de futuros negros e catastróficos é o homem com quem falar e toda a ideia de almas aprisionadas em máquinas parecia muito familiar no universo Burton. Dessa forma a curta nomeada a Oscar há quatro anos tornou-se um caso a observar com atenção. Um mundo sem pessoas teria alguma réstia de humanidade? Isso seria transmissível via filme animado? Missão difícil...

É uma curiosa metáfora sobre a mente e espírito humanos. Como filme desilude. É demasiado escuro para ser visto sem esforço, o que é de estranhar visto que os mesmos estúdios fizeram "Coraline" e aí dosearam bem a escuridão. Shane Acker esteve demasiado preso ao seu sucesso estudantil, para fazer algo ousado neste trabalho. Talvez com um argumento feito por outro consiga revelar o seu potencial, mas a ajuda de Pamela Pettler ("The Corpse Bride") não foi suficiente para transfigurar a curta-metragem numa longa.

Título Original: "9" (EUA, 2009)
Realização: Shane Acker
Argumento: Shane Acker, Pamela Pettler
Intérpretes: Christopher Plummer, Martin Landau, John C. Reilly, Crispin Glover, Jennifer Conelly, Fred Tatasciore, Elijah Wood e Alan Oppenheimer
Música: Deborah Lurie
Género: Animação, Aventura, Fantasia, Ficção-Científica
Duração: 79 min.
Sítio Oficial: http://www.filminfocus.com/focusfeatures/film/9

8 de maio de 2010

Atravessámos a última fronteira!

Quem souber o que é o Teste de Turing diverte-se mais com esta tira.

Basicamente o teste é colocar uma pessoa a teclar com um ser humano e um programa de Inteligência Artificial e não os conseguir distinguir. Impossível? Talvez há 60 anos quando o teste foi proposto por Turing, hoje em dia há muitos programas convencionais que ainda enganam por algumas frases.

Colheita Seleccionada - "Flags of Our Fathers/Letters From Iwo Jima"

O mundo seria bem mais compreensível se tudo fosse binário. Esquerda e direita, preto e branco ou dentro e fora são conceitos simples do dia-a-dia a que ninguém dá o devido valor. Quando se trata de pessoas, a simplicidade é impossível. quando passa para grupos ainda pior, e nações então nem vale o esforço de tentar compreender. A guerra normalmente é entre os bons e os maus, tal como num conto infantil. Essa divisão na realidade é apenas entre vencedores e vencidos. Quem ganha tinha a razão do seu lado, quem perdeu estava condenado a isso. Na verdade sabemos que não é exactamente assim, como se vai vendo nas constantes trocas de facção.

O cinema tem por objectivo entreter. O Cinema tem por objectivo cultivar. Quando se pretende falar dos feitos heróicos de uma nação através de um filme pode-se ser parcial (lembrem-se do que disse a propósito de "Casablanca"). Quando se quer falar do conflito a forma mais justa é do exterior tal como organizações médicas e jornalistas fazem, cumprindo uma missão mais importante do que a conquista de território ou ideiais. O cinema por vezes devia fazer o mesmo e evitar ser ferramenta de propaganda ou tomar partido.
Mostrar os dois lados não é fácil, especialmente quando um dos lados é americano. A indústria tende a ser facciosa e apoiar quem a financia, sejam produtores ou espectadores. Era preciso alguém superior a isso. Alguém de talento inquestionável e que ninguém ousasse contrariar. Se há um homem assim o seu nome é Eastwood, Clint Eastwood.

Sessenta anos depois do fim da guerra era seguro olhar para trás. Já todos os países tinham lidado com os seus fantasmas e poderiam rever o que se passou. Eastwood fez então esta magnífica obra, cada uma do ponto de vista de uns derrotados. Primeiro os americanos que se gabam com uma mentira. Depois os japoneses condenados a uma morte honrosa.
Na primeira parte conta como a vitória foi falsificada. Retira o mérito ao poderoso exército e mostra os homens que vivem com o peso da mentira. Uma perspectiva humana que não é habitual. Na segunda parte mostra o lado que não estamos acostumados a ver. Os japoneses estão destinados a perder um território, mas estão dispostos a lutar até ao último homem e morrer para tentar evitá-lo. E sim, falam em japonês.

Esqueçam as sequelas. Estes são filmes que se complementam. Tão diferentes, mas tão iguais. Dois magníficos filmes que no fundo são apenas um.

As críticas aos filmes separados já foi publicada há uns aninhos neste blog.
Letters From Iwo Jima
Flags Of Our Fathers

7 de maio de 2010

"Fish Tank" por Nuno Reis


É triste constatar que o cinema britânico tem passado os últimos anos preso ao realismo social. Muitos dos filmes de destaque que essa cinematografia nos traz são de uma ficção mínima. Por exemplo, foi essa a razão do sucesso de "Eden Lake", tão possível que se torna assustador. A propósito deste "Fish Tank" foi frequente no Fantasporto ouvir alunos ou professores a dizer "na minha escola há disto todos os dias" ou pior. Esta realidade está presente na sociedade e isso é preocupante, mas se não fossem realizadores ousados como Andrea Arnold a trazê-las para o ecrã não adiantaria de nada ver o filme.

Mia é uma jovem de mal com o mundo. Tem quinze anos, na fase da estupidez que se chama adolescência, os estudos não são com ela, e tem como passatempo a dança, infernizar a vida da mãe e arreliar Tyler, a irmã mais nova. Tudo isso muda quando a mãe começa a levar o namorado para casa. Connor é imune aos ataques de Mia e até lhe acha alguma piada. Em vez de se impor no lar, tenta conquistar o seu lugar. Seja por as levar a passear, ou emprestar uma câmara de filmar, quer provar que pode ser um amigo se aprenderem a confiar nele. Mia vai acabar por ceder parcialmente e aceitar conselhos para mudar a sua vida, mas sempre à sua maneira (delicadeza não incluída). Vai ganhar auto-confiança o que, aliado ao seu descaramento, pode ser bem mau para os que a rodeiam, um grupo cada vez mais restrito onde além de Connor só aceita Billy ao longo do filme,

História semelhante a tantas outras, tem especial encanto na forma como foi filmada. Arnold foi cuidadosa ao ponto de optar pelo formato 4:3 em vez do convencional panorâmico de cinema, propositadamente para marcar a diferença. Escolheu a sua protagonista pela forma de gritar, ao ouvi-la discutir na via pública com o namorado. Por outro lado contratou o talentoso Michael Fassbender para o papel de Connor, no que se veio a revelar como mais um dos grandes papéis do promissor actor.
Mia e toda a família parecem sofrer o destino dos peixes, presos num aquário, sem saberem o que o mundo lá fora lhes reserva. É um retrato cru de uma sociedade imoral. Mesmo quem aguentar insensível ao desenrolar dos acontecimentos - previsíveis, devo acrescentar - acabará a pensar se Tyler conseguirá evitar a sina familiar. Quando um filme de duas horas com um argumento básico nos prende até ao fim e mexe connosco, é porque a arte ainda funciona.

Título Original: "Fish Tank" (Reino Unido, 2009)
Realização: Andrea Arnold
Argumento: Andrea Arnold
Intérpretes: Katie Jarvis, Michael Fassbender, Harry Treadaway, Rebecca Griffiths
Fotografia: Robbie Ryan
Género: Drama
Duração: 123 min.
Sítio Oficial: http://www.fishtankmovie.com/

6 de maio de 2010