21 de abril de 2012

Black & White 2012 - um balanço

Uma sala de cinema está sempre repleta de cor. Sejam as cadeiras, os corredores, as paredes ou o material promocional de marcas e serviços, o que nos prende a atenção é a cor. Até que as luzes se apagam e tudo fica preto. Uma única luz acende-se no fundo e ilumina uma área em branco. O acto de ver cinema começa assim. Branco e preto, ver e não ver. A cor pode vir depois, mas por vezes não vem. Por vezes o próprio filme é todo nessas duas cores, talvez complementadas pelos nos tons cinzentos que as separam. 2012 tem sido um ano particularmente feliz para o cinema dicromático. Enquanto vindos de fora o tão falado “O Artista” (que por via da cor teve mais sorte do que mérito) ou o tão esquecido “Turin Horse” com que Béla Tarr se despede da sétima arte apresentam preto no branco dois extremos do cinema, na produção nacional filmes como “Viagem a Portugal”, o ano passado, e “Tabu”, actualmente em exibição, relembram que a cor não é um requisito. E em 2013 “Sin City 2” voltará a provar que é possível chegar a um público alargado sem cor.
Claro que nem só com longas-metragens se faz cinema, mas porque o já de si difícil visionamento de curtas em salas comerciais não teria melhores perspectivas se os filmes fossem a preto e branco, a solução passa, como em tantos outros casos, por recorrer a festivais especializados. E nesse aspecto estamos muito bem servidos pois temos o único festival temático do preto e branco.

A edição deste ano começou de forma um pouco estranha. A sala estava preta. A tela estava branca. O filme era em azul e branco. A peça audiovisual escolhida para abrir o certame era uma composiçao musical inspirada nas paisagens geladas da Antárctica, o “continente branco”. Para os mais puristas pode ter sido confuso ver o azul num festival que é anti-cor, mas depressa o branco começa a dominar os planos. Os blocos de gelo até podem estar a flutuar num mar azul sob o céu azul, mas é a ausência de cor e não a cor solitária que aliada à música domina os sentidos. Depressa o preto se juntou na sempre apreciada forma de pinguins, e estando o tom do festival definido, estava dado o mote para mais uma - a nona - edição do Black & White.
Nas curtas a concurso a cor esteve praticamente ausente. Se noutros anos era uma perigosa intrusa (como “La Carte”, vencedor de 2010), em 2012 seria quase impossível encontrá-la. No primiero dia houve essa tal situação devidamente autorizada pois foi um trabalho feito a pedido do próprio festival. No segundo e terceiro não há cor com excepção de uma curta animada onde se vislumbrou algum sangue de pássaro. No último dia para provar que a cor é má foi exclusivamente usada como representação do sufoco.
Quanto aos filmes em si não foi um ano com candidatos óbvios. Nao houve nenhum particularmente mau como é normal acontecer, mas também não se encontrou algo que deslumbrasse. Destacando um título por dia iria por “Sudd”, “Newzif”, “Nazi Goreng” e “Kirmizi Alarm”. A cinematografia alemã era a que tinha maior representação (maioritariamente da Escola de Hamburgo) e no geral era boa como “Die Katze Tanzt”, “Begegnung”, “Der Philatelist” provaram, mas pelos risos em “La Media Pena” e “Danzantes” Espanha parece ter apresentado melhores argumentos perante o público. No cinema nacional as três propostas de ficção sofriam do mesmo mal: o final arruinava uma narrativa bem construída e interessante.
Saberemos dentro de momentos o que o júri preferiu, quando os prémios forem anunciados.

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