26 de junho de 2012

"After the Battle" por Nuno Reis

Finalmente tivemos acesso ao resultado das eleições no Egipto. Como era uma segunda volta renhida nenhum dos lados seria propriamente uma surpresa, mas a vitória de Morsi teve um especial significado. Para ser preciso não foi a vitória de Morsi, mas a derrota de Safiq. Se Safiq tivesse ganho voltaria tudo ao mesmo e a Primavera Árabe perderia o seu principal bastião.
A melhor forma de saber o estado do Egipto é através do filme “After the Battle” que narra os meses após o golpe de estado pelo ponto de vista do cidadão comum e o trabalho das organizações não-governamentais minado pelos jogos de interesse das pessoas influentes. É uma obra de ficção com uma grande dose de realidade que o aproxima do documentário. Veio na época certa e hoje posso dizer que sim, tem significado.

Esta narrativa tem dois focos. Mahmoud é um egípcio normal, um cavaleiro cujo emprego ficou em risco devido às quebras no turismo e aos boatos sobre a ligação desses profissionais ao sistema político. Tem o apoio de Reem, uma mulher com ideais modernos (divorciada, ecologista) que quer ajudar a família de Mahmoud tanto a nível pessoal como através da sua ONG. A amarra que o prende ao passado dá pelo nome de Abdallah, um poderoso e influente homem que contrata Mahmoud para espiar Reem e quer aproveitar a instabilidade política para chegar ao poder regional e manter tudo na mesma, debaixo da sua autoridade.

Ao longo do filme vamos percebendo a realidade da queda do regime, o seu impacto para bem e para mal, a impotência das ONG e do mundo perante os poderes instituídos, a dimensão e o significado das manifestações. A má interpretação dos actores revela uma cinematografia que ainda não estava pronta a mostrar-se, mas que aproveitou o momento para se fazer ouvir. Um aspecto positivo é que esse ar amador o torna mais autêntico e credível. Combinando a espontaneidade situacional com as imagens reais dos protestos, ficamos com uma visão íntima e quase romântica do verdadeiro Egipto.

Por muita ajuda que tenham, este processo de transição vai ser demorado. É preciso mudar mentalidades e abrir o país ao mundo. A vitória de Safiq seria um retrocesso, com Morsi, apesar de conservador em muitos aspectos, é possível acreditar num futuro mais luminoso. Até lá, só podemos esperar que cada um seja feliz e consiga sustentar a sua família. Quão distantes estão dos tempos do grandioso Egipto que há quatro mil anos servia de inspiração ao mundo…

Título Original: "Baad el Mawkeaa" (Egipto, França, 2012)
Realização: Yousry Nasrallah
Argumento: Yousry Nasrallah, Omar Shama
Intérpretes: Salah Abdallah Nahed El Sebaï, Bassem Samra, Menna Shalabi
Fotografia: Samir Bahzan
Género: Drama, Histórico
Duração: 116 min.

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