6 de novembro de 2016

"Hello My Name is Doris" por Nuno Reis

Doris, a heroína que ninguém vê

"Hello, My Name is Doris" foi escrito e realizado por Michael Showalter, argumentista de "Wet Hot American Summer" em colaboração com Laura Terruso que criou a curta "Doris & the Intern" (2011). Tem algumas semelhanças com o “The Intern” que esteve nos cinemas há uns meses, na parte de ser uma crítica às empresas e ao ritmo do século XXI na perspectiva de quem trabalhou toda uma vida de forma diferente, mas foca-se principalmente no campo pessoal e no fosso entre gerações cada vez menor. É sobre uma mulher nos seus sessenta anos que após a morte da mãe se tenta adaptar ao mundo em que vive e se sente atraída pelo novo colega que tem menos de metade da sua idade. Com os conselhos da filha adolescente da sua única amiga, Doris vai entrar no mundo das redes sociais, do calão, da música electrónica, todas as modas da juventude.
A componente inter-geracional está bem explorada pois mostra uma geração com uma mentalidade mais aberta (a temática LGBT vem à baila três vezes) e que logicamente se integra bem com pessoas de outras culturas, nacionalidades e - porque não? - idades. Não é difícil conhecer alguém como Doris. Uma mulher que vive em função da mãe e quando fica sem ela, fica ainda mais desorientada do que já parecia. Alguém que só recomeça a viver muito tarde na vida e já não sabe interagir com a sociedade, muito menos com uma sociedade que tem metade da idade dela. Doris é também um pouco louca. E finalmente, Doris é adorável. Todos em volta dela a adoram e querem a companhia dela. O problema é que Doris é muito inconveniente e tudo o que faz tem consequências.
Este é um daqueles projectos com muito risco. O tipo de filme independente americano que passaria despercebido na maior parte do mundo. Claro que isso se torna diferente quando quem faz de Doris se chama Sally Field. Um papel tão pateta entregue a alguém menos talentoso arruinaria o filme, mas a enorme Field consegue explorar as diferentes camadas da personagem e a cada passo dar-nos um pouco mais para descobrir. À primeira vista Doris é tudo o que esperaríamos dela, mas a forma como se tenta integrar com pessoas com as quais não tem nada em comum está no ponto ideal. A relação com amigos e família que se vai degradando, os problemas pessoais, o facto de nunca ter tido amigos homens e confundir simpatia com interesse amoroso, ou o facto de ter como referências para a vida adulta um charlatão e uma adolescente... Doris é um mundo e o filme tem tanto de inesperado como de realista. Mesmo sabendo que só poderá acabar mal, somos levados pela excitação desta mulher que ficou com a vida em suspenso.
Estamos perante um daqueles casos em que uma ida ao cinema consegue providenciar uma verdadeira surpresa. Tem drama, tem romance, tem humor e tem muita coragem. É um filme criativo numa era em que todos parecem seguir a mesma fórmula, que se centra numa mulher de idade em vez de se focar em debutantes, e não é por falta de mulheres jovens e lindas na história, mas acontece que todas ficam por pouco tempo, só esta velhota aguenta o filme todo. E o actor principal simplesmente tem de sorrir, ser simpático, passear em tronco nu, basicamente o que as mulheres fazem em noventa por cento dos filmes. Max Greenfield (o Schmidt de "New Girl") está muito bem no papel.
Resta esperar para ver se estreará por cá.
Hello, My Name Is DorisTítulo Original: "Hello, My Name Is Doris" (EUA, 2015)
Realização: Michael Showalter
Argumento: Laura Terruso, Michael Showalter
Intérpretes: Sally Field, Max Greenfield, Tyne Daly, Elizabeth Reaser, Beth Behrs
Música: Brian H. Kim
Fotografia: Brian Burgoyne
Género: Comédia, Drama, Romance
Duração: 95 min.
Sítio Oficial: https://www.hellomynameisdorismovie.com

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