7 de dezembro de 2017

Person of the Year 2017


A Person Of The Year para a revista Time é o movimento #MeToo.

Começado há mais de uma década por Tarana Burke num esforço para ajudar vítimas de assédio, foi abafado pela falta de mediatismo. Quase ensombrou Hollywood no distante ano de 1997 com acusações de Ashley Judd, mas a actriz também foi ignorada. Este ano as estrelas falaram sem medo e depois de Alyssa Milano, Rose McGowan e tantas outras pessoas darem a cara, o resto do mundo foi atrás numa revolução pacífica, mas nada silenciosa. A era do silêncio terminou de vez.
Enquanto alguns pussy grabbers são eleitos, outros vão sendo despedidos. Muitos dos acusados foram um choque inacreditável levando a várias alterações na produção cinematográfica e televisiva com efeitos imediatos. Esta purga também levará alguns inocentes por arrasto, mas no final talvez tenhamos um mundo melhor.

Podem ler mais sobre os Silence Breakers na Time.

3 de novembro de 2017

"Porto" por Joana Soares

Para compensar a ausência de publicações nos últimos tempos, hoje trazemos um texto de uma autora externa, a blogger e jornalista Joana Soares do Histórias de Metro a Metro que nos leva numa visita a um outro Porto. O de Gabe Klinger que está em exibição na Invicta e um pouco por todo o país.

Porto, meu amor

Gabe Klinger, realizador e argumentista do filme "Porto", a rodar nas salas de cinema da cidade, captou muito bem o timbre pardacento do Porto que faz do Porto o que o Porto é. Ainda consigo ouvir num plano do filme a voz de uma vendedora do Bolhão a dizer: anda cá ‘mor – o que traduzido para inglês seria qualquer coisa como ‘come here luv’. Mas todos sabemos que não é a mesma coisa. O ‘mor do Porto vem de dentro, da alma, é genuíno, é local. O filme cai que nem ginjas no marketing da cidade. Funciona como imagem de marca – uma montra que afaga turistas.


O filme "Porto" rodou em 2015 na Invicta, chegou este mês às salas de cinema portuenses. E é um must see.
É uma espécie de boy meets girl que versa precisamente sobre a dificuldade em ser-se um, em estar-se a dois e a violência da entrada em cena do “terceiro elemento” que faz a chama apagar e o mundo voltar a ser mundo.
É um filme independente que conta a história de um norte-americano de 26 anos, filho de pais diplomatas, Jack Kleeman (Anton Yelchin) e uma francesa, de 32 anos, Mati Vargnier (Lucie Lucas), a fazer investigação arqueológica em Portugal. A história é muito fragmentada, vai à frente e regressa ao passado em encontros e desencontros.


A história está brilhantemente contada sobre a beleza da imagem cinematográfica que arrancou as melhores críticas internacionais. E como o belo é também louco, este Porto fala do amor num registo neurótico, imprevisível, quase improvável. Porque este é um boy meets girl atormentado por uma ideia frustrada de futuro e por uma intensa vontade de perpetuar a fugaz felicidade do instante. O instante da paixão não passará, contudo, de sinalizar o mais lancinante fogo.


É um filme de bolinha vermelha. Eu não conservadora me confesso aqui um quê conservadora: as cenas de sexo são tão evidentes que magoam a arte. A simplicidade teria sido boa conselheira nesta primeira obra de ficção de Gabe que quer tratar o amor como-que-mortal de uma maneira mais trendy.
O embrulho acaba por ser mais interessante que o conteúdo de um filme que fala de paixões intensas “de uma noite só”, onde o Porto ganha asas ao exibir para o mundo os seus cafés, ruas, rio, o cinzento do ar onde dançam gaivotas. Tudo isto sob os acordes de Tsegué-Guèbrou e John Lee Hooker.

PortoTítulo Original: "Porto" (Portugal, França, EUA, Polónia, 2016)
Realização: Gabe Klinger
Argumento: Gabe Klinger, Larry Gross
Intérpretes: Anton Yelchin, Lucie Lucas, Paulo Calatré, Françoise Lebrun
Fotografia: Wyatt Garfield
Género: Drama, Romance
Duração: 76 min.
Sítio Oficial: https://www.facebook.com/portomovie

20 de julho de 2017

Faça um Plano pelo Centro de Portugal

Turismo de Portugal
O Turismo de Portugal quer recuperar o Centro do país através de pequenos filmes promocionais e conta com todos para isso.

Criatividade, Aventura, Natureza e Herança são os temas dos quatro filmes que Diogo Morgado, Edgar Pêra, Pedro Varela e Ruben Alves vão realizar, integrados na campanha lançada pelo Turismo de Portugal, “Faça um Plano pelo Centro de Portugal”.

Cada filme terá entre 2 a 3 minutos e vai incluir planos feitos pelos portugueses que vão ser desafiados a fazerem as suas próprias imagens de uma região que procura recuperar do maior incêndio de sempre do país. Os portugueses podem fazer upload dos takes no site http://ponhaportugalnomapa.pt, a partir de 1 de Agosto e submeter as suas imagens até ao final desse mês. A versão final dos filmes será apresentada em Outubro.

Edgar Pêra fica com o tema Criatividade e assume que “quanto mais pessoal for a visão de cada plano melhor”.

Para Diogo Morgado, a quem cabe trabalhar o tema Aventura ”o que é interessante é a forma como vamos desafiar os portugueses e verificar a resposta ao desafio”, referindo-se aos textos que cada realizador vai fazer para desafiar as pessoas a participarem nesta iniciativa que considerou inovadora e muito positiva porque virada para o futuro.

Ruben Alves, vivendo fora do país, confessou que não conhece a região e isso é, por si só, um grande desafio. O facto de ter o tema Natureza para trabalhar é outro grande desafio uma vez que ele se considera mais “urbano”, pelo que disse estar “à espera de ser surpreendido”.

Pedro Varela fica com o tema Herança e diz que “vai descobrir o caminho para este trabalho à medida que o material (as imagens) for chegando das pessoas.

Na apresentação desta campanha esteve presente a Secretária de Estado do Turismo, Ana Mendes Godinho que considerou o conceito da iniciativa “fantástico, porque retrata a mobilização dos portugueses” para ajudar uma região face à fatalidade que aconteceu há um mês. “É extraordinário o facto de ser um projecto colectivo que envolve muitas entidades e instituições, artistas e os próprios residentes na região”.

Luis Araújo, Presidente do Turismo de Portugal lembrou que “o nosso papel é mostrar que há muita qualidade, cultura e história no centro do país que contínua a ser um excelente destino de férias”.

A partir de 1 de Agosto o site indicado acima terá mais informação para os interessados.

17 de junho de 2017

A propósito do feminismo

Enquanto muitos aclamam o fenómeno "Wonder Woman" que está a trazer as mulheres para um patamar diferente, outros filmes e outras realizadoras combatem há muito tempo pelo mesmo sem que se fale delas.

Ao ler um artigo que em nada tinha a ver com cinema reparei na publicidade a "Heróis da Nação" e enquanto congeminava se deveria rever esse filme ou acabar primeiro com aqueles em atraso, um pequeno detalhe saltou-me à vista. 'Do aclamado realizador de "Uma Outra Educação"'. Então não era da Lone Scherfig? Aliás, não eram os dois da Lone Scherfig? Estive enganado todo este tempo? Não, é uma mulher. Teria ela feito uma operação de mudança de sexo que eu não soubesse? Ei, isso acontece mais do que se pensa! Também não. O que se terá passado? Ah, foi apenas a equipa da NOS que se limitou a traduzir o poster inglês e nem pensou que "director" pudesse ser um cargo feminino.
Uma empresa de cinema (não apenas de distribuição, mas de tudo) não considerar a possibilidade de mulheres fazerem filmes é triste. Não adianta fazer filmes se a nossa sociedade não estiver preparada para a mudança.

E como se isso não bastasse, a citação "Gemma Arterton is perfect" ficou apenas "Gemma está perfeita". Então agora é na base do nome próprio? Se eu não posso ter essas familiaridades com a senhora, não percebo porque poderiam eles. Ah, talvez porque não soubessem. É que se procurarem com atenção, encontram outros dois sites portugueses que perderam uma letra e escreveram Aterton. Mais profissionalismo, gente! Precisamos de muitos filmes assim e que sejam vistos. Não é só despachar como sendo mais um.
Their Finest ENTheir Finest PT

23 de maio de 2017

"Their Finest" por Nuno Reis

Their Finest Banner

Dunkirk. O mundo anseia pelo épico de Nolan sobre um dos momentos mais marcantes da Segunda Guerra Mundial. Mas enquanto isso, uma pequena produção galesa mostra o outro lado do evento.
Their Finest
Gemma Arterton é a estrela maior do filme. A actriz que tem andado um pouco retirada dos filmes que chegam cá e cujas actuações ironicamente têm sido constantes fracassos de bilheteira, era por si só motivo suficiente para se ver o filme, mas aqui tem uma das interpretações que lhe podem valer muito mais do que isso. Sabem, é que é um filme sobre a arte de fazer filmes e isso costuma valer prémios. Mesmo eu que normalmente embirro com esse género de filme manipulador me rendi a esta história. Fica já aqui um alerta: não é uma comédia como tem sido promovido. Há momentos leves e até permite umas boas gargalhadas, mas é também um drama forte, tal como o filme dentro do filme. Pessoas com um coração poderão verter lágrimas e fungar por isso muito cuidado.
Their Finest
A dinamarquesa Lone Scherfig, que nos dá pérolas do cinema inglês como "An Education", volta a pegar num assunto britânico para nos narrar as aventuras de uma jovem galesa durante os bombardeamentos alemães. Estamos numa época fulcral para o desenvolvimento da sociedade actual. Com o recrutamento de todos os homens jovens e capazes, os novos, os velhos, os coxos e as mulheres de todas as idades, tiveram de arregaçar as mangas e pegar nos trabalhos que ficaram vagos para manter o país, a economia e o exército a funcionar. Arterton interpreta Catrin Cole, que foi assim promovida de secretária a escritora no jornal e depois saltou para a equipa do Ministério da Informação. Como era mulher foi enviada entrevistar duas gémeas que teriam contribuído para o resgate dos soldados. Como era criativa, tornou isso numa ideia de filme. Como estava lá, foi convidada a juntar-se à equipa de argumentistas do filme. E depois, trabalhou tanto como qualquer homem para provar que era tão boa ou melhor do que eles e conquistar um lugar que era seu por direito. Não sabe que está a lutar pelas mulheres de todo o mundo, sabe que está a lutar para salvar o que resta da moral britânica numa guerra que estão a perder em todas as frentes.
Their Finest
Para perceber completamente "Their Finest" é fundamental saber tudo sobre esta guerra, desde o mito das cenouras, até às datas de cada batalha. Contudo, o primeiro passo é saber o que foi Dunkirk, a mais negra das noites e a mais clara das alvoradas. Quando a França fez o seu plano de defesa contra a invasão nazi, tinha a certeza que não poderiam atravessar a floresta das Ardenas e portanto foi defender as planícies. Estava enganada, e tal como os aliados venceram devido às Ardenas (Bulge em 1944), em 1940 os aliados foram destruídos nas Ardenas. A infantaria ficou numa situação muito complicada e 400000 homens estavam cercados por um exército com o dobro do tamanho. O vice-almirante Ramsay tinha de salvar esses homens - britânicos, franceses e belgas – ou não teriam condições humanas ou anímicas de continuar. Perdeu 9 dos 10 contra-torpedeiros que enviou, mas salvou os seus homens porque centenas de civis atravessaram o canal da Mancha nos seus pequenos barcos para chegar onde os navios de guerra não chegavam. Podiam não ser os seus vizinhos, amigos, colegas, pais, filhos ou irmãos, podiam até não ser da sua nacionalidade, mas eram os seus soldados pois estavam a lutar pela sua liberdade, e era chegada a hora de retribuírem. A missão de Catrin Cole e dos seus colegas na indústria do cinema é fazerem um filme que diga ao país que cada um pode ser um herói. Que cada acção pode salvar uma vida. Que unidos vencerão.
Their Finest
Cole chega com uma atitude diferente. Acostumada a trabalhar sem ser incomodada por homens, não se deixa menosprezar e com o seu trabalho de qualidade e a sua subtileza, vai carregando o filme contra tudo e contra todos até chegar a bom porto. O seu trabalho estará completo quando o filme tiver cumprido a sua missão. E quão fabuloso é o seu trabalho. Num set de rodagem os problemas pessoais complicam o que já não era um trabalho simples. Os bombardeamentos não ajudam e a qualquer momento podem perder um colega e ter de improvisar sem ele. Ou perder a casa e a família durante a noite e de manhã dizer the show must go on e voltar ao estúdio.
Todos os meses saem novos filmes sobre os heróis de guerra que empunhavam armas. Finalmente alguém diz “basta!” e mostra que o orgulho de uma nação são todos os homens e mulheres que dão aquilo em que são melhores para que juntos possam vencer. Afinal, se gostam de citar erradamente Churchill dizendo "a Cultura é aquilo pelo que estamos a lutar", porque não se deram ao trabalho de mostrar como se lutava na cultura? Não vende bilhetes?
Um filme incrível que sem ser ambicioso surpreende de todas as formas. Tanto na comédia como no drama.


4/5 estrelas
Their FinestTítulo Original: "Their Finest" (Reino Unido, Suécia, 2016)
Realização: Lone Scherfig
Argumento: Gaby Chiappe, Lissa Evans
Intérpretes: Gemma Arterton, Sam Claflin, Bill Nighy, Jack Huston, Paul Ritter, Rachael Stirling
Música: Rachel Portman
Fotografia: Sebastian Blenkov
Género: Comédia, Drama
Duração: 117 min.
Sítio Oficial: https://www.bbc.co.uk/bbcfilms/film/their_finest