8 de agosto de 2018

"Columbus" por Nuno Reis

Columbus
Aqui está a linha entre o cinema de autor e o cinema para as massas. O formato longa e as estreias comerciais não são abonatórias para este cinema que se costuma esconder nos festivais e em ciclos direccionados a nichos específicos. Um filme com John Cho, estrela de blockbusters na comédia e ficção-científica, e Haley Lu Richardson, que esteve em "Split" e "Edge of Seventeen", pode parecer de grande público, mas os actores, como quaisquer artistas, por vezes surpreendem.nos com algo fora do convencional. Um projecto artístico que não visa o lucro.
Columbus
Kogonada lançou-se no cinema estudando os mestres. Ao fim de alguns documentários/ensaios fez uma longa-metragem. O tema foi a arquitectura e para isso dirigiu-se a Columbus, Indiana. Para nós, europeus, uma localidade americana no meio do nada com menos de 50000 habitantes não terá interesse, mas para os amantes dessa arte é um destino ímpar. Essa terra aparentemente desinteressante é onde se podem encontrar vários dos marcos históricos nacionais (EUA) da arquitectura moderna, incluindo criações de ambos os Saarinen e a Miller House. A arquitectura é o principal motivo de excursão a esta cidade e o cerne da existência dos protagonistas.
Columbus
A jovem Casey sempre viveu na cidade e apaixonou-se pelos seus edifícios. No entanto devido ao estado mental da mãe, não considera seguir as pisadas dos colegas e sair para estudar a fundo. Jin é já um homem feito e não gosta de arquitectura, mas o pai é uma autoridade no tema e ao ser internado quando se preparava para uma palestra em Columbus, obriga-o a ir para lá. Cruzam-se por acaso e Casey vai aproveitar o tempo livre para mostrar a Jin os seus monumentos favoritos. Ela como quem se despede, ele como um turista que ignora o deslumbramento colectivo por aquilo. Enquanto ela lhe abre os olhos para a beleza dos edifícios que os rodeiam, ele fá-la repensar na vida e no futuro.
Columbus
"Columbus" foi escrito, realizado e editado por Kogonada. É uma obra simples e com orçamento reduzido que se foca na componente visual. Mais próximo do ensaio fotográfico do que filme a que estamos acostumados, será um longo momento de tédio para quem está acostumado ao cinema espectáculo. O propósito deste filme é mostrar edifícios e fazer reflectir sobre o que é a beleza, qual a utilidade de um edifício belo, e o significado da vida. Casey tem a vida pela frente, mas não a quer aproveitar. Jin desperdiçou a vida ignorando a beleza. Estas duas personalidades tão contrárias são o fundamental do filme e tudo o mais é um mero acessório para lhes dar um passado e alguma profundidade como seres humanos. O que podia ter sido contado num filme de vinte a trinta minutos que ilustrasse um passeio pela cidade, foi artificialmente transformado num drama de vida espaçado por vários dias. Sim, a mensagem passa, mas é preciso ir a contar com o que se vai ver.
Columbus
A semelhança com o formato documental faz com que Kogonada esteja muito confortável nesta estreia na ficção. O realismo do drama social e familiar é intenso. Graças às performances excelentes de Richardson, Cho, Rory Culkin e Parker Posey. Visualmente cumpre o que se esperaria: mostra edifícios de culto pelos olhos das pessoas normais, que pensam na sua utilidade e reparam nas rachas em vez de visualizarem se é belo e enquadrado no meio envolvente. É um desafio visual interessante que terá como destinatários os amantes da arquitectura e da fotografia. Algumas das suas imagens ficarão gravadas na memória, mas não conseguirá convencer os restantes a novo visionamento.


ColumbusTítulo Original: "Columbus" (EUA, 2017)
Realização: Kogonada
Argumento: Kogonada
Intérpretes: Haley Lu Richardson, John Cho, Parker Posey, Rory Culkin, Michelle Forbes
Música: Hammock
Fotografia: Elisha Christian
Género: Drama
Duração: 100 min.
Sítio Oficial: https://www.columbusthemovie.com/

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