18 de agosto de 2018

"Tag" por Nuno Reis

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Quase toda a gente recordará com carinho os anos de infância e as brincadeiras feitas com os amigos. Os anos dourados onde corridas, gritos e risos significavam felicidade. Algo tão simples como o jogo da apanhada. Quando se chega aos dois dígitos de súbito surge uma irracional vontade de crescer. Para uma década depois se voltar a desejar ser uma criança. Um grupo de amigos não se conformou e decidiu ser criança da única forma que fazia sentido: jogando à apanhada toda a vida adulta. O Wall Street Journal apanhou essa curiosidade e fez um artigo sobre um grupo que anualmente faz um mês da apanhada com algumas regras, mas sem limites geográficos. Não demorou muito até ser tornado numa obra de ficção baseada em factos reais.
A receita deste filme quase se fez sozinha, mas vamos ver por partes. Começa-se com nomes habituais da comédia. Ed Helms, Jake Johnson, Isla Ficher, Leslie Bibb, Rachida Jones. Juntam-se alguns nomes sonantes como Jon Hamm e Jeremy Renner. Para fechar, vamos acrescentar o amigo negro (Hannibal Buress) que todos os filmes precisam e uma jeitosa (Annabelle Wallis) externa ao grupo para que lhe possam explicar aquilo que o espectador tem de ouvir. Para o argumento nada como começar com a realidade. Um executivo de uma empresa estava a dar a sua entrevista ao WSJ quando o novo funcionário da empresa o ataca. Não um daqueles ataques com facas ou ácido que se vêem nas notícias. Um mero toque com a mão, mas do qual Callahan fugia como se disse dependesse a sua vida. Crosby, a jornalista, fica curiosa com o motivo desse momento louco e pergunta o que se passa. “É o jogo da apanhada. Jogamo-lo há 30 anos todos os meses de Maio.” Não era a resposta que esperava ouvir, mas o seu faro diz-lhe para seguir a história. Vai descobrir um inusitado grupo de homens que leva a sério o seu jogo. Ninguém quer ficar 11 meses com a vergonha. E por isso percorrem o mundo, planeiam e disfarçam-se como autênticos agentes secretos. Não podem falhar o alvo. E ainda que sejam todos muito dedicados, ninguém se compara a Jerry. Em trinta anos ninguém o apanhou. Além de ter imensa agilidade e uma rota de fuga sempre preparada, é como se antecipasse os seus movimentos. Este é o último ano de Jerry e todos se unem para o apanhar.
O filme começa como tantas daquelas comédias modernas. É louco sem ser estúpido e tem um bom desenrolar da história. As personagens vão entrando em cena aos poucos e o contexto propicia oportunidades para nos explicarem o passado de forma a fazer sentido. Quando chegamos a Jerry e os seus super-poderes (ironicamente interpretado por Jeremy Renner, o Avenger e Bourne com menos capacidades) parece desconcertante, mas já foi dado o mote de plausabilidade. As personagens acessórias, lideradas pela cada vez mais surpreendente Isla Fisher, são um bom complemento e a história vai tendo lugar de forma fluida. O prazo aproxima-se do fim e o seu objectivo que parece tão próximo vai ficando mais longe. A comédia funciona e os toques de romance também. O jornalismo tem só uns momentos mínimos para equilibrar, mas sem destoar. No fundo é um filme sobre sem adulto e sobre ser criança. Duas coisas que não são incompatíveis ao contrário do que nos levam a crer ao longo da adolescência. Sobre ter os amigos por perto para dar um pouco de loucura aos nossos dias cinzentos. É sobre quebrar as regras da sociedade (e uma janela ocasional). É sobre sentirmo-nos vivos. Mesmo que sejamos crescidos. Mesmo que a morte esteja eminente.

TagTítulo Original: "Tag" (EUA, 2018)
Realização: Jeff Tomsic
Argumento: Rob McKittrick e Mark Steilen (baseados no artigo de Russell Adams)
Intérpretes: Ed Helms, Jon Hamm, Annabelle Wallis, Jake Johnson, Isla Fisher, Hannibal Buress, Steve Berg, Jeremy Renner, Leslie Bibb, Rashida Jones
Música: Germaine Franco
Fotografia: Larry Blanford
Género: Comédia
Duração: 100 min.
Sítio Oficial: https://www.facebook.com/tagthemovie

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