17 de janeiro de 2011

"Du Levande" por Nuno Reis

Se há uma palavra para descrever este filme teria de ser "diferente" porque dizer que é "ousado" é pouco. A acção não tem protagonistas claros, todos aqueles que vivem fazem parte de uma mesma grande história interminável. Temos a mulher deprimida que quer uma mota para deixar a sua vida para trás, o namorado dela é extremamente paciente, e a mãe dele também a ignora muito bem. Há o casal que discute afectando o trabalho dela como professora e o dele como vendedor de tapetes. Há um barbeiro árabe que está a ter um mau dia e um homem que tem um dia mau quando vai cortar o cabelo. Há um músico que muito ensaia para os concertos, funerais e marchas. Há outro músico que ocupa frequentemente os sonhos de uma jovem apaixonada. Há muitas personagens e muitos sonhos. A história é isso mesmo: pessoas e os seus sonhos.

"Du Levande" não é um filme qualquer. O realizador idealizou cada cena com o maior detalhe tendo gasto anos a concluir toda a obra. Tanto improvisa momento completamente loucos, como ousa colocar uma casa sobre carris. O maior defeito é precisamente não ter um fio condutor. Das várias dezenas de retalhos consecutivos há alguns divididos por duas cenas, mas haverá poucos mais longos do que isso. O maior terá umas cinco encadeadas, sendo as restantes passadas noutro local. Em que tempo se passam? Isso varia. Tanto podem ser simultâneos ou em momentos do mesmo dia como com anos de diferença. São vidas que se cruzam em Estocolmo, como se cruzariam noutra cidade.
Simboliza a ausência de comunicação nas cidades? É uma metáfora este refúgio de cada elemento da humanidade nos sonhos porque não recebemos atenção da sociedade? Perguntas que ficam sem resposta.

Surpreende que se tenha saído tão bem em festivais quando é um filme para ver e pensar por muito tempo, sem mais filmes entretanto. Não me convenceu, mas também me custa dizer que é um mau filme quando tem momentos realmente bons e a direcção de figurantes é fabulosa. Se o foco está numa cena básica e despida, as pequenas coisas que se movem no fundo ou através da janela têm quase uma história própria. Porém a câmara fixa, a abusiva teatralidade dos actores e não ter um rumo tornam o filme muito difícil de ver. É daqueles poucos que exige toda a atenção e muita vontade para se ver até ao fim. Quando lá chega faz sentido? Não. Mas até esse instante conseguiu revolver muitos sentimentos por entre a melancolia.

NOTA: A banda sonora foi feita por Benny Andersson (dos ABBA) que já tinha sonorizado "Sånger Från Andra Våningen", a longa anterior do realizador.

Du LevandeTítulo Original: "Du Levande" (Suécia, 2008)
Realização: Roy Andersson
Argumento: Roy Andersson
Música: Benny Andersson
Fotografia: Gustav Danielsson
Género: Comédia, Drama
Duração: 95 min.
Sítio Oficial: http://www.royandersson.com/dulevande/

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