Quando o filme chegou às salas já só se falava de Oscar para Cate Blanchett. Ver um filme com esses condicionalismos é altamente desaconselhado pois perturba a experiência ao máximo e sujeita a actriz a um escrutínio injustificado.
Por acaso até o ganhou. Isso só dificulta ter de dizer que não gostei.
Estar a fugir tão radicalmente ao que fez nos últimos anos é equivalente ao choque que nos causou quando, após vários filmes menos conseguidos, reconquista o mundo do cinema com “Match Point” e lança uma estrela. Aqui a primeira parte não se aplicava pois "Midnight in Paris", esse sim, é o seu melhor filme em anos, e a segunda seria de rir pois Cate Blanchett é daqueles nomes sem nada a provar a ninguém e que já nos conquistou em praticamente todos os géneros. É por isso completamente justo que tenha direito a um filme só seu e feito para que caminhe para o Oscar. Allen tem dessas coisas e quando se trata de conseguir Oscares para os seus actores podem contar com ele. Nos secundários estão vários dos seus habitués como Alec Baldwin e Sally Hawkins, todos a construir obstáculos para que Jasmine se possa transcender e brilhar muito intensamente no firmamento das personagens que Blanchett vestiu, e se junte à atulhada constelação das que Allen desenhou.
O grande trunfo de "Blue Jasmine" não é a perda ou a dor. Jasmine é perfeitamente incapaz de viver fora daquela redoma onde foi educada e essa inépcia tem tanto de divertido para nós como de humilhante para ela. O que poderia ser resolvido pela prática e talvez adaptação, é complicado pelo facto de Jasmine ser uma inútil, mimada, egocêntrica, caprichosa, manienta e incapaz de estar sozinha. Apesar de ser uma personagem feita para nos afastar, só quando chega ao final é que a conhecemos realmente. Aí, dá vontade rever tudo para ver se não a julgamos de forma precipitada. Nesse caso reconfirmaríamos tudo o que foi dito antes, mas com um pouco mais de respeito. Ela merece.
Não sendo o filme convencional de Allen – a deslocação para San Francisco terá as suas razões de ser, mas esta história é independente da geografia e nem considero relevante onde se passa além das metáforas sobre os altos e baixos da vida e as íngremes ruas dessa cidade – é no entanto um interessante mergulhar numa vida marcada pela culpa, como no meu adorado "Crimes and Misdemeanours" ou no potentíssimo ""Match Point". "Blue Jasmine" nem se aproxima devido à infeliz vulgarização da classe média que destoa da sobriedade que o filme devia ter. Um tão radical fosso entre ricos e pobres percebe-se como crítica social, mas fazer o mesmo para os dividir em termos de inteligência e alegria (o termo “pateta alegre” ocorreu-me) é demasiado forçado. Além disso, não se deve fazer comédia sobre pessoas que precisam de medicamentos para não acabarem com a própria vida.
O filme está bem conseguido, mas era escusado ter sido assim. Apesar de já ser bastante pesado, se não tivesse a comédia forçada – e sabemos que Allen não precisa disso – podia ser o filme do ano. Um dramalhão sobre uma mulher no ponto de ruptura, pode não ser fácil de vender, mas seria inesquecível.
Por acaso até o ganhou. Isso só dificulta ter de dizer que não gostei.
Estar a fugir tão radicalmente ao que fez nos últimos anos é equivalente ao choque que nos causou quando, após vários filmes menos conseguidos, reconquista o mundo do cinema com “Match Point” e lança uma estrela. Aqui a primeira parte não se aplicava pois "Midnight in Paris", esse sim, é o seu melhor filme em anos, e a segunda seria de rir pois Cate Blanchett é daqueles nomes sem nada a provar a ninguém e que já nos conquistou em praticamente todos os géneros. É por isso completamente justo que tenha direito a um filme só seu e feito para que caminhe para o Oscar. Allen tem dessas coisas e quando se trata de conseguir Oscares para os seus actores podem contar com ele. Nos secundários estão vários dos seus habitués como Alec Baldwin e Sally Hawkins, todos a construir obstáculos para que Jasmine se possa transcender e brilhar muito intensamente no firmamento das personagens que Blanchett vestiu, e se junte à atulhada constelação das que Allen desenhou.
O grande trunfo de "Blue Jasmine" não é a perda ou a dor. Jasmine é perfeitamente incapaz de viver fora daquela redoma onde foi educada e essa inépcia tem tanto de divertido para nós como de humilhante para ela. O que poderia ser resolvido pela prática e talvez adaptação, é complicado pelo facto de Jasmine ser uma inútil, mimada, egocêntrica, caprichosa, manienta e incapaz de estar sozinha. Apesar de ser uma personagem feita para nos afastar, só quando chega ao final é que a conhecemos realmente. Aí, dá vontade rever tudo para ver se não a julgamos de forma precipitada. Nesse caso reconfirmaríamos tudo o que foi dito antes, mas com um pouco mais de respeito. Ela merece.
Não sendo o filme convencional de Allen – a deslocação para San Francisco terá as suas razões de ser, mas esta história é independente da geografia e nem considero relevante onde se passa além das metáforas sobre os altos e baixos da vida e as íngremes ruas dessa cidade – é no entanto um interessante mergulhar numa vida marcada pela culpa, como no meu adorado "Crimes and Misdemeanours" ou no potentíssimo ""Match Point". "Blue Jasmine" nem se aproxima devido à infeliz vulgarização da classe média que destoa da sobriedade que o filme devia ter. Um tão radical fosso entre ricos e pobres percebe-se como crítica social, mas fazer o mesmo para os dividir em termos de inteligência e alegria (o termo “pateta alegre” ocorreu-me) é demasiado forçado. Além disso, não se deve fazer comédia sobre pessoas que precisam de medicamentos para não acabarem com a própria vida.
O filme está bem conseguido, mas era escusado ter sido assim. Apesar de já ser bastante pesado, se não tivesse a comédia forçada – e sabemos que Allen não precisa disso – podia ser o filme do ano. Um dramalhão sobre uma mulher no ponto de ruptura, pode não ser fácil de vender, mas seria inesquecível.
Título Original: "Blue Jasmine" (EUA, 2013) Realização: Woody Allen Argumento: Woody Allen Intérpretes: Cate Blanchett, Sally Hawkins, Alec Baldwin, Peter Sarsgaard Música: Fotografia: Javier Aguirresarobe Género: Comédia, Drama Duração: 98 min. Sítio Oficial: http://www.sonyclassics.com/bluejasmine/ |
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