É constante ouvirmos queixas de vendedores sobre quebras nas vendas. Seja a ocupação dos hotéis no Algarve, a venda de música ou de filmes, está sempre tudo mal. O responsável vai mudando. Tanto pode ser o clima, como a economia em geral ou os impostos em particular, e no fim, a culpa é sempre dos clientes que deixaram de comprar. Excepto para os vendedores de carros que são dos poucos resignados e nos poupam a discursos quando o negócio está fraco. Obrigado.
Quando o assunto é a lei da oferta e da procura, temos de analisar essas partes em separado. A oferta aumentou porque todos querem o seu quinhão e mais pessoas e empresas lançam cada vez mais produtos. A procura diminuiu porque o poder de compra foi reduzido, porque faltam novidades e porque há alternativas gratuitas.
Se pensarmos no caso do cinema, enquanto antigamente as salas tinham um único filme e esse ficava em exibição por semanas ou meses e era visto em salas cheias de curiosos e repetentes - até de famílias - hoje em dia um cinema com menos de oito salas precisa de oferecer algo de único para evitar ter os dias contados. Cada semana o número de estreias é semelhante ao número de dias e os títulos estão em confronto constante por mais um bilhete vendido, bilhete esse que pode significar mais uma semana de exibição. Esse fabrico de produtos para consumo, autêntico junk food visual, perdeu o direito de se chamar cultura. Agora é mero entretenimento. Antes também havia ambas as categorias e dispensávamos etiquetas, só que entretanto foi preciso marcar uma linha clara para separar o trigo do joio. O que é feito para ligar o cérebro, do que é feito para o desligar.
Passando para o prisma da procura, com a deslocalização dos cinemas para centros comerciais na periferia, perdeu-se o hábito de passar pelo cinema. Agora a ida ao cinema obriga a voltar a sair de casa, a gastar gasolina (que excepcionalmente está a descer), a decidir entre filmes pouco apelativos enquanto nos impingem baldes de pipocas e refrigerantes ao preço do bilhete, para depois sofrer um quarto de hora de publicidade e trailers tão desinteressantes como o filme que os seguirá. É bem melhor ficar em casa no quentinho, ligar a televisão e escolher entre os nossos quatro canais.
Só que os tempos mudaram, e com eles mudaram também as vontades. Quatro canais eram insuficientes pois eram demasiado semelhantes, seguindo exactamente o mesmo horário que os "concorrentes" para os concursos, as novelas, os filmes, as notícias, os programas infantis, e demais recheio. Por isso começaram a surgir diversas alternativas pelo cabo. Canais com um único tipo de conteúdo para que o tele-espectador possa a qualquer hora ver notícias, filmes, séries, desporto, desenhos animados, sexo, reality shows... Basta escolher o canal.
Muitos canais exigiram um pagamento pelo serviço prestado, e grande parte dos bons canais encaixam nessa categoria. Esses canais de excelência (e outros sem nada de excelente) deram origem ao termo premium television. Claro que um canal só pode ter o descaramento de pedir dinheiro se oferecer algo de inédito ou, melhor ainda, exclusivo. Por isso canais como AMC, HBO e Showtime se especializaram na produção própria. Esqueçam os concursos e talk shows, estamos a falar de filmes e séries.
Pensando nos produtos que se viam nos EUA - e nesta lista faltarão muitos títulos, referimos apenas os mais icónicos - na década de 1980, as grandes referências eram a NBC, no início (1982) com "Cheers" e "Family Ties", para em 1989 nos trazer "Quantum Leap" e "Seinfeld". Nesse ano a HBO despontava com "Tales From the Crypt" e a FOX descobria a pólvora com que conquistava o seu lugar na história da televisão: "The Simpsons".
Nos início dos anos 90 a única novidade entre os canais foi a ABC com "Twin Peaks" (1990). A FOX apresentou-nos a impressionante "The X-Files" (1993), enquanto a NBC arrasava em quantidade pois "Cheers" deu origem a "Frasier" (1993), e em 1994 deu o golpe fatal com dois marcos simultâneos da televisão: "ER" e "Friends".
Pois se Fox e HBO (grupo Time Warner) derivam de grandes estúdios de cinema e teriam maior facilidade em gerar conteúdos, enquanto NBC e CBS são grupos puramente de rádio e televisão, é importante frisar que em 1938 ambas as estações seguiram a indústria cinematográfica abrindo estúdios em Hollywood para captação de talentos. A ABC, o último dos três grandes, chegou um pouco mais tarde. Só começou a interacção com o mundo do cinema nos anos 50, quando a alguns filmes de MGM ,Warner e Fox juntou dois programas semanais da Disney, contrapartidas pelo apoio a um inovador parque temático que Walt estava a construir em Anaheim. Essa parceria (que deu origem a uma das inúmeras aquisições Disney em 1996) tem vindo a dar frutos em produtos mais recentes como "Once Upon a Time" (que revisita personagens popularizadas pelas animações Disney) e "Agents of SHIELD" (veículo de propaganda contínua para os filmes Disney/Marvel).
Porque continuávamos tão dependentes da NBC para boa televisão? Será que trinta anos depois de "Star Trek", os seus difusores eram ainda os únicos capazes de se imporem no mercado? E o que fazia a CBS de "The Twilight Zone"?
Foi aí que tudo mudou. Subitamente, dezenas de séries de qualidade começaram a ser produzidas. E com a duplicação do número de canais em Portugal, começamos a ter algumas delas por cá.
Abaixo podem consultar uma tabela com algumas das séries mais marcantes dos últimos vinte anos organizadas por canal e ano de estreia. A sua longevidade é indiferente pois o foco deste trabalho é descobrir os canais que mais apostam em produtos inovadores. Se eles se aguentam, é outra conversa.
Foram excluídas as que se baseavam em filmes de culto (Stargate, Hannibal, Bates Motel...) para desincentivar esse facilitismo, tal como as inspiradas nos comics mais populares. Ficaram aquelas que se safaram por mérito próprio ou quase. Sim, há muitas inspiradas em livros. Se também essas saíssem, o que sobraria?
Como é fácil de perceber pela leitura da tabela, os tempos mudaram. "Twin Peaks" é um excelente exemplo pois em 2016 regressará. Só que será na ShowTime.
A CBS vai perdendo fulgor. HBO e ShowTime enfrentam ABC e FOX para serem o próximo grande. Nenhum deles preso a géneros ou a públicos específicos. Todos em busca da the next big thing.
Essa luta desviou talentos do cinema para a televisão como nunca antes. Acabou-se a teoria que a televisão era para começar ou acabar carreiras. O pequeno ecrã depressa se tornou num ganha-pão muito importante na indústria do entretenimento. Reputações nasciam e morriam com base no que as estrelas faziam semanalmente. O cinema claro que se começou a sentir ameaçado. Com televisão de qualidade e ecrãs do tamanho de uma tela, cada vez menos pessoas abandonam o conforto para pagar um filme que provavelmente detestarão. No cinema, um filme mau é dinheiro perdido. Na televisão podem deixar de ver sem perder dinheiro. Mesmo que paguem mensalidade, o preço do bilhete está diluído por 24 horas x 30 dias. Podem ver algo melhor a seguir para compensar e o mau programa desvanece na factura.
Num pequeno aparte, do ponto de vista técnico, obviamente que a indústria da electrónica prefere o grande consumo por ter melhores margens. Vender mil televisões é melhor que vender um projector. Por isso, enquanto a televisão melhorava o equipamento audiovisual a velocidades galopantes (tamanho do ecrã, resolução, qualidade do som) o cinema deixou-se estar. Essas mesmas televisões ajudariam às vendas de DVD, BluRay e outros formatos que entretanto arranjassem para revender os filmes. Os videoclubes fechavam e as produtoras acreditavam que o cinema em casa era o futuro.
Quando era demasiado tarde, o cinema começou por dar mais uma dimensão, trocar película por digital, agora aumenta os FPS e sabe-se lá que mais virá. Tudo pontos onde a TV responde sem demora como quando do som e da cor. A electrónica agradece a oportunidade de vender novas televisões. Como é possível que um aparelho antigamente durasse vinte e trinta anos? Um lar tem de mudar de televisão a cada dois anos para se manter actualizado com a nova tecnologia! Também na televisão se segue a Lei de Moore?
Ao cinema faltou apostar no único ponto diferenciador: a televisão é para ver com a família, o cinema vê-se com o bairro. A diferença está no convívio, no falar sobre o filme, e especialmente em conhecer os intervenientes. Aquela experiência única que alguns músicos propiciam nos concertos ao vivo para compensar a diminuição de rendimentos nas vendas de álbuns, no cinema acontece? Só por vezes, nos festivais.
Quanto tempo falta para o cinema perceber que assim já perdeu? Se antes davam anúncios de filmes na televisão, agora mais frequentemente vemos anúncios de séries no cinema. Os papéis foram invertidos.
Fim da história? Isso queriam vocês. Ainda a procissão vai no adro.
Chegou a vez da televisão se lamentar. Se antes eram os Tivos e as boxes que permitiam escapar aos intervalos, agora opunham-se ao mesmo moinho que o cinema tanto gritava ser um gigante, os downloads. Nem era pelo preço pois também acontecia nos de sinal aberto. As pessoas recusavam-se a esperar para ver um episódio. Recusavam-se a esperar que voltasse a dar ou a ter o trabalho de programar a box para o ver. Bastava ligar o computador (onde já passam a maior parte do tempo) e tinham tudo à disposição mais depressa do que se se levantassem para ir até à televisão. Se calhar o computador já está ligado à televisão para ver em grande ecrã e com um bom sistema de som. Aquilo que a televisão tirou ao cinema, também deu proveitos ao computador. E quem fornece o serviço de televisão também vende o de internet pelo que ganha em qualquer dos casos.
Na ânsia de dar mais e melhor, esqueceram-se da nossa amiga lá de cima, a lei da oferta e da procura. Porque também há demasiados canais e as boas ideias começam a rarear. A televisão espremerá a última gota em breve sem que perceba o que se está a passar. Era precisa uma revolução e a HBO anunciou dia 15 (a Showtime provavelmente irá atrás) que passarão para o online em 2015. Dia 16 a CBs faz o mesmo. Ou seja, os espectadores que quiserem, poderão deixar de pagar os 50 dólares mensais da televisão por canais que ignoram, e adoptarem a televisão à la carte para verem o seu adorado "Game of Thrones" pagando ao episódio.
Isso deixou muita gente em pânico. Por um lado os operadores de cabo ao imaginarem uma diminuição nos cem milhões de assinantes. Por outro os vendedores de séries em formatos físicos. Este modelo faz com a margem dos alugueres e compras de conteúdos televisivos fique por inteiro no canal.
Acusam o canal de canibalização. É assim tão mau só vender às pessoas o que elas querem ver e quando querem?
Foi assim que há vários anos um novo modelo de negócio surgiu. A Netflix inicialmente era uma empresa de aluguer de filmes por correio. Depois mudou-se para o digital para chegar mais depressa às pessoas. Conteúdo instantâneo e barato.
Encerrou séries começadas por outros canais ("Arrested Development", "The Killing", "Star Wars: The Clone Wars") e agora lançou-se na produção própria com séries aclamadas como "Hemlock Grove", "House of Cards" e "Orange is the New Black". Nos seus projectos futuros para o público mais jovem estão séries da Dreamworks como "Puss in Boots" e "Dragons" (baseados nos filmes que estão a pensar), assim como uma nova versão das pérolas da nossa infância, os "Ursinhos Carinhosos" e a "Carrinha Mágica". Para os mais adultos, quatro séries e uma mini-série Marvel - "Daredevil", "Jessica Jones", "Luke Cage", "Iron Fist" e "Defenders" - e os próximos quatro filmes de Adam Sandler são apenas o início.
Recuperar séries parece ser o caminho pois também o Yahoo Screen (herdeiro do odiado Yahoo Video que deitou fora quatro anos de vídeos dos seus utilizadores para assumir esta nova postura) vai dar nova oportunidade a "Community" junto ao seu ainda parso conteúdo original.
A Amazon foi outro gigante que se lançou nessa aventura - muito logicamente visto que distribuem conteúdos digitais de vários tipos - e tem três séries, "Alpha House", "Betas" e "Tumble Leaf", além de pilotos falhados como "Zombieland".
Num lugar mais distante está a Hulu que basicamente revende conteúdos dos outros canais por os seus originais ainda estarem longe de serem apelativos. Com tempo lá chegará.
Ponto um: A Internet pode ser uma aliada. A CBS no Verão admitiu ter lucros 20% superiores com o streaming de séries do que com a televisão. Segundo os últimos números, tanto as subscrições pagas de canais online como as receitas por publicidade em streaming estão a aumentar. As pessoas estão a pagar directa ou indirectamente pelos conteúdos que querem ver, ignorando campanhas publicitárias e opiniões de terceiros. O gosto pessoal é o único critério e há para todos os gostos. Com números destes, ainda têm coragem de acusar a pirataria pela quebra de receitas? Ou será que é só porque se vendem muito mal e o que vendem é muito mau?
Ponto dois: A única forma das empresas de distribuição de conteúdos se aguentarem, parece ser gerando e vendendo os seus próprios conteúdos. Primeiro, porque nesta indústria é melhor reduzir ao máximo as possíveis dependências de outras entidades que a qualquer momento os abandonam. Segundo, porque como as pessoas escolhem o que vão ver, escusam de esgotar recursos limitados (os bons guiões) para ocupar 24 horas de emissão. O resto do tempo dos utilizadores será passado noutras regiões da internet.
Será que respeitar o público, dar opção de escolha e cobrar o que é justo chegam para manter o público? Ou teremos dentro em breve um novo concorrente para desviar os consumidores da televisão à medida? Serão os videojogos? A realidade virtual? Só o tempo dirá. Até lá, estamos bem assim. Só falta Portugal ter as mesmas condições.
Quando o assunto é a lei da oferta e da procura, temos de analisar essas partes em separado. A oferta aumentou porque todos querem o seu quinhão e mais pessoas e empresas lançam cada vez mais produtos. A procura diminuiu porque o poder de compra foi reduzido, porque faltam novidades e porque há alternativas gratuitas.
Se pensarmos no caso do cinema, enquanto antigamente as salas tinham um único filme e esse ficava em exibição por semanas ou meses e era visto em salas cheias de curiosos e repetentes - até de famílias - hoje em dia um cinema com menos de oito salas precisa de oferecer algo de único para evitar ter os dias contados. Cada semana o número de estreias é semelhante ao número de dias e os títulos estão em confronto constante por mais um bilhete vendido, bilhete esse que pode significar mais uma semana de exibição. Esse fabrico de produtos para consumo, autêntico junk food visual, perdeu o direito de se chamar cultura. Agora é mero entretenimento. Antes também havia ambas as categorias e dispensávamos etiquetas, só que entretanto foi preciso marcar uma linha clara para separar o trigo do joio. O que é feito para ligar o cérebro, do que é feito para o desligar.
Passando para o prisma da procura, com a deslocalização dos cinemas para centros comerciais na periferia, perdeu-se o hábito de passar pelo cinema. Agora a ida ao cinema obriga a voltar a sair de casa, a gastar gasolina (que excepcionalmente está a descer), a decidir entre filmes pouco apelativos enquanto nos impingem baldes de pipocas e refrigerantes ao preço do bilhete, para depois sofrer um quarto de hora de publicidade e trailers tão desinteressantes como o filme que os seguirá. É bem melhor ficar em casa no quentinho, ligar a televisão e escolher entre os nossos quatro canais.
Só que os tempos mudaram, e com eles mudaram também as vontades. Quatro canais eram insuficientes pois eram demasiado semelhantes, seguindo exactamente o mesmo horário que os "concorrentes" para os concursos, as novelas, os filmes, as notícias, os programas infantis, e demais recheio. Por isso começaram a surgir diversas alternativas pelo cabo. Canais com um único tipo de conteúdo para que o tele-espectador possa a qualquer hora ver notícias, filmes, séries, desporto, desenhos animados, sexo, reality shows... Basta escolher o canal.
Muitos canais exigiram um pagamento pelo serviço prestado, e grande parte dos bons canais encaixam nessa categoria. Esses canais de excelência (e outros sem nada de excelente) deram origem ao termo premium television. Claro que um canal só pode ter o descaramento de pedir dinheiro se oferecer algo de inédito ou, melhor ainda, exclusivo. Por isso canais como AMC, HBO e Showtime se especializaram na produção própria. Esqueçam os concursos e talk shows, estamos a falar de filmes e séries.
Pensando nos produtos que se viam nos EUA - e nesta lista faltarão muitos títulos, referimos apenas os mais icónicos - na década de 1980, as grandes referências eram a NBC, no início (1982) com "Cheers" e "Family Ties", para em 1989 nos trazer "Quantum Leap" e "Seinfeld". Nesse ano a HBO despontava com "Tales From the Crypt" e a FOX descobria a pólvora com que conquistava o seu lugar na história da televisão: "The Simpsons".
Nos início dos anos 90 a única novidade entre os canais foi a ABC com "Twin Peaks" (1990). A FOX apresentou-nos a impressionante "The X-Files" (1993), enquanto a NBC arrasava em quantidade pois "Cheers" deu origem a "Frasier" (1993), e em 1994 deu o golpe fatal com dois marcos simultâneos da televisão: "ER" e "Friends".
Pois se Fox e HBO (grupo Time Warner) derivam de grandes estúdios de cinema e teriam maior facilidade em gerar conteúdos, enquanto NBC e CBS são grupos puramente de rádio e televisão, é importante frisar que em 1938 ambas as estações seguiram a indústria cinematográfica abrindo estúdios em Hollywood para captação de talentos. A ABC, o último dos três grandes, chegou um pouco mais tarde. Só começou a interacção com o mundo do cinema nos anos 50, quando a alguns filmes de MGM ,Warner e Fox juntou dois programas semanais da Disney, contrapartidas pelo apoio a um inovador parque temático que Walt estava a construir em Anaheim. Essa parceria (que deu origem a uma das inúmeras aquisições Disney em 1996) tem vindo a dar frutos em produtos mais recentes como "Once Upon a Time" (que revisita personagens popularizadas pelas animações Disney) e "Agents of SHIELD" (veículo de propaganda contínua para os filmes Disney/Marvel).
Porque continuávamos tão dependentes da NBC para boa televisão? Será que trinta anos depois de "Star Trek", os seus difusores eram ainda os únicos capazes de se imporem no mercado? E o que fazia a CBS de "The Twilight Zone"?
Foi aí que tudo mudou. Subitamente, dezenas de séries de qualidade começaram a ser produzidas. E com a duplicação do número de canais em Portugal, começamos a ter algumas delas por cá.
Abaixo podem consultar uma tabela com algumas das séries mais marcantes dos últimos vinte anos organizadas por canal e ano de estreia. A sua longevidade é indiferente pois o foco deste trabalho é descobrir os canais que mais apostam em produtos inovadores. Se eles se aguentam, é outra conversa.
Foram excluídas as que se baseavam em filmes de culto (Stargate, Hannibal, Bates Motel...) para desincentivar esse facilitismo, tal como as inspiradas nos comics mais populares. Ficaram aquelas que se safaram por mérito próprio ou quase. Sim, há muitas inspiradas em livros. Se também essas saíssem, o que sobraria?
Como é fácil de perceber pela leitura da tabela, os tempos mudaram. "Twin Peaks" é um excelente exemplo pois em 2016 regressará. Só que será na ShowTime.
A CBS vai perdendo fulgor. HBO e ShowTime enfrentam ABC e FOX para serem o próximo grande. Nenhum deles preso a géneros ou a públicos específicos. Todos em busca da the next big thing.
Essa luta desviou talentos do cinema para a televisão como nunca antes. Acabou-se a teoria que a televisão era para começar ou acabar carreiras. O pequeno ecrã depressa se tornou num ganha-pão muito importante na indústria do entretenimento. Reputações nasciam e morriam com base no que as estrelas faziam semanalmente. O cinema claro que se começou a sentir ameaçado. Com televisão de qualidade e ecrãs do tamanho de uma tela, cada vez menos pessoas abandonam o conforto para pagar um filme que provavelmente detestarão. No cinema, um filme mau é dinheiro perdido. Na televisão podem deixar de ver sem perder dinheiro. Mesmo que paguem mensalidade, o preço do bilhete está diluído por 24 horas x 30 dias. Podem ver algo melhor a seguir para compensar e o mau programa desvanece na factura.
Num pequeno aparte, do ponto de vista técnico, obviamente que a indústria da electrónica prefere o grande consumo por ter melhores margens. Vender mil televisões é melhor que vender um projector. Por isso, enquanto a televisão melhorava o equipamento audiovisual a velocidades galopantes (tamanho do ecrã, resolução, qualidade do som) o cinema deixou-se estar. Essas mesmas televisões ajudariam às vendas de DVD, BluRay e outros formatos que entretanto arranjassem para revender os filmes. Os videoclubes fechavam e as produtoras acreditavam que o cinema em casa era o futuro.
Quando era demasiado tarde, o cinema começou por dar mais uma dimensão, trocar película por digital, agora aumenta os FPS e sabe-se lá que mais virá. Tudo pontos onde a TV responde sem demora como quando do som e da cor. A electrónica agradece a oportunidade de vender novas televisões. Como é possível que um aparelho antigamente durasse vinte e trinta anos? Um lar tem de mudar de televisão a cada dois anos para se manter actualizado com a nova tecnologia! Também na televisão se segue a Lei de Moore?
Ao cinema faltou apostar no único ponto diferenciador: a televisão é para ver com a família, o cinema vê-se com o bairro. A diferença está no convívio, no falar sobre o filme, e especialmente em conhecer os intervenientes. Aquela experiência única que alguns músicos propiciam nos concertos ao vivo para compensar a diminuição de rendimentos nas vendas de álbuns, no cinema acontece? Só por vezes, nos festivais.
Quanto tempo falta para o cinema perceber que assim já perdeu? Se antes davam anúncios de filmes na televisão, agora mais frequentemente vemos anúncios de séries no cinema. Os papéis foram invertidos.
Fim da história? Isso queriam vocês. Ainda a procissão vai no adro.
Chegou a vez da televisão se lamentar. Se antes eram os Tivos e as boxes que permitiam escapar aos intervalos, agora opunham-se ao mesmo moinho que o cinema tanto gritava ser um gigante, os downloads. Nem era pelo preço pois também acontecia nos de sinal aberto. As pessoas recusavam-se a esperar para ver um episódio. Recusavam-se a esperar que voltasse a dar ou a ter o trabalho de programar a box para o ver. Bastava ligar o computador (onde já passam a maior parte do tempo) e tinham tudo à disposição mais depressa do que se se levantassem para ir até à televisão. Se calhar o computador já está ligado à televisão para ver em grande ecrã e com um bom sistema de som. Aquilo que a televisão tirou ao cinema, também deu proveitos ao computador. E quem fornece o serviço de televisão também vende o de internet pelo que ganha em qualquer dos casos.
Na ânsia de dar mais e melhor, esqueceram-se da nossa amiga lá de cima, a lei da oferta e da procura. Porque também há demasiados canais e as boas ideias começam a rarear. A televisão espremerá a última gota em breve sem que perceba o que se está a passar. Era precisa uma revolução e a HBO anunciou dia 15 (a Showtime provavelmente irá atrás) que passarão para o online em 2015. Dia 16 a CBs faz o mesmo. Ou seja, os espectadores que quiserem, poderão deixar de pagar os 50 dólares mensais da televisão por canais que ignoram, e adoptarem a televisão à la carte para verem o seu adorado "Game of Thrones" pagando ao episódio.
Isso deixou muita gente em pânico. Por um lado os operadores de cabo ao imaginarem uma diminuição nos cem milhões de assinantes. Por outro os vendedores de séries em formatos físicos. Este modelo faz com a margem dos alugueres e compras de conteúdos televisivos fique por inteiro no canal.
Acusam o canal de canibalização. É assim tão mau só vender às pessoas o que elas querem ver e quando querem?
Foi assim que há vários anos um novo modelo de negócio surgiu. A Netflix inicialmente era uma empresa de aluguer de filmes por correio. Depois mudou-se para o digital para chegar mais depressa às pessoas. Conteúdo instantâneo e barato.
Encerrou séries começadas por outros canais ("Arrested Development", "The Killing", "Star Wars: The Clone Wars") e agora lançou-se na produção própria com séries aclamadas como "Hemlock Grove", "House of Cards" e "Orange is the New Black". Nos seus projectos futuros para o público mais jovem estão séries da Dreamworks como "Puss in Boots" e "Dragons" (baseados nos filmes que estão a pensar), assim como uma nova versão das pérolas da nossa infância, os "Ursinhos Carinhosos" e a "Carrinha Mágica". Para os mais adultos, quatro séries e uma mini-série Marvel - "Daredevil", "Jessica Jones", "Luke Cage", "Iron Fist" e "Defenders" - e os próximos quatro filmes de Adam Sandler são apenas o início.
Recuperar séries parece ser o caminho pois também o Yahoo Screen (herdeiro do odiado Yahoo Video que deitou fora quatro anos de vídeos dos seus utilizadores para assumir esta nova postura) vai dar nova oportunidade a "Community" junto ao seu ainda parso conteúdo original.
A Amazon foi outro gigante que se lançou nessa aventura - muito logicamente visto que distribuem conteúdos digitais de vários tipos - e tem três séries, "Alpha House", "Betas" e "Tumble Leaf", além de pilotos falhados como "Zombieland".
Num lugar mais distante está a Hulu que basicamente revende conteúdos dos outros canais por os seus originais ainda estarem longe de serem apelativos. Com tempo lá chegará.
Ponto um: A Internet pode ser uma aliada. A CBS no Verão admitiu ter lucros 20% superiores com o streaming de séries do que com a televisão. Segundo os últimos números, tanto as subscrições pagas de canais online como as receitas por publicidade em streaming estão a aumentar. As pessoas estão a pagar directa ou indirectamente pelos conteúdos que querem ver, ignorando campanhas publicitárias e opiniões de terceiros. O gosto pessoal é o único critério e há para todos os gostos. Com números destes, ainda têm coragem de acusar a pirataria pela quebra de receitas? Ou será que é só porque se vendem muito mal e o que vendem é muito mau?
Ponto dois: A única forma das empresas de distribuição de conteúdos se aguentarem, parece ser gerando e vendendo os seus próprios conteúdos. Primeiro, porque nesta indústria é melhor reduzir ao máximo as possíveis dependências de outras entidades que a qualquer momento os abandonam. Segundo, porque como as pessoas escolhem o que vão ver, escusam de esgotar recursos limitados (os bons guiões) para ocupar 24 horas de emissão. O resto do tempo dos utilizadores será passado noutras regiões da internet.
Será que respeitar o público, dar opção de escolha e cobrar o que é justo chegam para manter o público? Ou teremos dentro em breve um novo concorrente para desviar os consumidores da televisão à medida? Serão os videojogos? A realidade virtual? Só o tempo dirá. Até lá, estamos bem assim. Só falta Portugal ter as mesmas condições.
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