23 de setembro de 2009

"Millennium: Man That Hate Women" por Nuno Reis


Foi com surpresa que vi no programa das salas do Marché du Film repetidas sessões deste "Millennium". É que o festival coincidiu com a estreia do filme em França e portanto para onde quer que se olhasse, sendo ou não cinema do festival, lá estavam os cartazes dos homens que odeiam mulheres.

Mikael Blomkvist, reporter da revista Millennium, vê-se condenado por difamação após escrever sobre um empresário corrupto. Descontente com a justiça e indesejado no trabalho, aceita o trabalho que lhe foi proposto por Henrik Vanger, patriarca de uma poderosa dinastia. O trabalho oficialmente consistiria em escrever as memórias da família. Na verdade o que Vanger deseja é que o jornalista investigue o desaparecimento da sua sobrinha quarenta anos antes. O regresso a um local da sua infância faz com que Blomkvist se dedique com energias redobradas a encontrar aquela que por acaso foi a sua antiga babysitter. Mas a família Vanger é muito grande, e nem todos estão interessados em que se saiba o que se passou.
Enquanto Blomkvist recolhe informação, não imagina que Lisbeth Salander, uma hacker em liberdade condicional, o espia online. Lisbeth tem os seus próprios problemas. O agente de liberdade condicional assumiu-se como responsável pela gestão das finanças dela e para poder comprar o computador que precisa é repetidamente abusada por ele. No fim Mikael e Lisbeth terão de trabalhar juntos para deslindar o mistério.

Combinar num thriller o passado - a investigação recua ao tempo dos nazis - e o futuro próximo - ambiente Big Brother onde tudo o que se faz online pode estar a ser controlado - podia ser perigoso. Em Millennium o resultado é interessante. A tecnologia como habitual está reduzida ao mais básico para que o difícil pareça fácil e o impossível ao alcance de quem tem treino. Para um leigo seria credível. A investigação histórica e as numerosas entrevistas tornam-se um pouco repetitivas, sendo o desenlace o que se adivinhava desde o início, mas com um toque de demência para ser chocante. Não sendo inesquecível é apelativo e augura-se um bom futuro. Talvez por isso este capítulo tenha sido justamente chamado "Millennium 1", já se sabe que os próximos livros também irão para filme.

Interpretações de qualidade e uma boa realização ajudam o arriscado argumento a fazer cinema mainstream num inesperado país nórdico. Veremos se impulsiona o mercado regional.

Título Original: "Män Som Hatar Kvinnor" (Alemanha, Dinamarca, Suécia, 2009)
Realização: Niels Arden Oplev
Argumento: Nikolaj Arcel e Rasmus Heisterberg (baseados no livro de Stieg Larsson)
Intérpretes: Michael Nyqvist, Noomi Rapace, Sven-Bertil Taube
Fotografia: Eric Kress
Música: Jacob Groth
Género: Mistério,Thriller
Duração: 152 min.
Sítio Oficial: http://millenniumofilme.blogspot.com/

4 comentários:

Tiago Ramos disse...

Ainda não li o livro que deu a origem a este filme (nem os seguintes), mas levando em conta todo o hype que se gerou em torno das obras escritas, estou no mínimo curioso em relação ao filme.

Nuno disse...

Um detalhe delicioso é que os dois mundos são distintos não só pelo cenário como pelo ambiente. Sente-se como sendo mundos à parte.

Acho que vou acrescentar esta frase ao texto :)

Eugen Robick disse...

Tenho lido comentários sobre os livros, normalmente bastante elogiosos e estou curioso, tendo já planeado lê-los.

Quanto ao filme, dado o que tinha lido sobre os livros, estava à espera de algo muito diferente, mas o filme acaba por seguir uma estrutura narrativa muito tradicional, em que o fim(ns) se adivinha(m) cedo.

De qualquer forma, gostei. Gostei de ouvir novamente Sueco num filme e ver um ambiente diferente dos filmes Americanos ou Ingleses. Fiquei com a ideia, ainda não provada, que os livros deverão viver muito da personagem Lisbeth, que me pareceu a personagem mais interessante de toda estória e deve ter uma maior desensidade psicológica nos livros.

Nuno disse...

Tens razão em tudo o que dizes Robick. Como costumo ler os livros de rajada vou esperar que acabem os filmes antes de pegar na versão em papel da história.