Ontem foi o dia pelo qual tanta gente aguardou cerca de oito anos. Se o primeiro filme foi uma completa surpresa e o segundo um fenómeno, este terceiro sempre descrevi como o primeiro blockbuster português. No Verão do ano passado acompanhei a rodagem e vi várias cenas que não sabia como encaixariam no produto final. Após um ano finalmente tudo fez sentido.
Na chegada ao Rivoli a multidão correspondia às expectativas. Os mais de 700 lugares estavam esgotados - se mais houvesse, mais venderiam - e como as portas só abririam depois das 21 horas, os espectadores formaram um magote no exterior. Quando as vedetas chegaram tiveram uma recepção eufórica.
Ao entrar para o Rivoli tive aquela habitual sensação de regresso ao Fantas - as primeiras mil vezes que entrei no Rivoli foram para o festival, por isso para mim entrar lá por outro motivo é sempre confuso - mas por alguma razão (o segundo filme ter estreado no Fantas? a sala estar cheia?) isto fazia sentido. O “Balas” estava em casa.
De notar ainda que não me recordo de mais algum filme nacional ter tido tal aparato de lançamento e certamente que não foi no Porto.
Quando começa a projecção há uma sensação de estarmos no filme errado. Não se preocupem, é mesmo assim. O “Balas 3” vai buscar inspiração a diferentes géneros e épocas. Tão depressa estamos num filme de artes marciais com cinquenta anos, como vemos planos usados por um John Woo ou um Alfred Hitchcock. Mesmo com tudo isso, 95% deste trabalho pode apenas ser comparado ao universo Balas, o mais bem sucedido projecto amador do cinema nacional que finalmente se juntou ao cinema profissional. Além da grande variedade temática no argumento, percorreram o país em busca das melhores localizações, usaram câmaras topo de gama, fizeram tudo para que fosse um motivo de orgulho do cinema nacional. Ao longo destas duas horas acontece tudo o que se esperava. Tone volta novamente do estrangeiro para fazer a diferença (nada de persianas), Rato continua a ser um artista, Culatra anda envolvido em novos esquemas e Bino, bem, Bino é das figuras mais únicas da ficção nacional.
Neste último capítulo volta a haver um tesouro perdido, mas agora há muitas mais armas, explosões e inimigos. Se num instante parece que estamos numa média produção de Hollywood, logo aparece um destes quatro indivíduos com um palavrão ou uma atitude completamente estúpida a provar que é, ainda e sempre, um Balas e Bolinhos, autêntico e português.
O público-alvo é claramente quem gostou dos anteriores. A esses garanto que não se sentirão defraudados com o aumento na qualidade de produção. Para os restantes poderá ser um pouco difícil de ver. O ordinário tem uma enorme presença que pode ferir susceptibilidades. Mas quem são os restantes? Se viram os dois primeiros para se prepararem para este e mesmo assim quiseram ir ao terceiro, sabem bem ao que vão. Todo o material promocional previne que a linguagem é extremamente ofensiva e os actores convidados Fernando Rocha e Jaimão não são conhecidos pelas palavras doces. Os outros convidados como Jel/Nuno Duarte, Octávio Matos e Francisco Menezes também facilmente se adaptam a este mundo trazendo novas personagens inesquecíveis. É um novo Balas feito para os fãs e para revitalizar o cinema português.
Se ficarem até ao final dos créditos poderão ver
os bloppers habituais, mas a seguir ainda há melhor: o Antestreia está nos agradecimentos pela intensa
campanha de apoio. E não é só, tenho outro dos meus empregadores favoritos entre as entidades listadas fazendo com que me identifique muito com este projecto e lhe deseje todo o sucesso.
A ovação final foi tal que superou mesmo as minhas melhores expectativas. Não me lembro de aquela sala ficar assim ao rubro muitas vezes. Isso faz supor que o público gostou, mas de qualquer forma a pressão está enorme. Há dias outra produção nacional - Morangos com Açúcar - arrasou os recordes de bilheteira com o melhor resultado para primeiro dia que um filme de imagem real conseguiu este ano. Com apenas 25 salas. Se esse recorde cair uma semana depois e novamente para uma produção nacional (Balas vai ter mais de 40 salas), só nos podemos dar por contentes. Enquanto competimos em festivais de topo como Veneza e Nova Iorque contra alguns dos melhores filmes do mundo, temos dois blockbusters por cá a agradar às massas. 2012 pode muito bem ser o melhor ano de sempre para o cinema nacional.
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