31 de janeiro de 2013

O regresso dos subsídios

Depois de um 2012 em que ninguém em Portugal viu dinheiro governamental para fazer cinema, em que durante um mês os filmes mais vistos eram nacionais, e em que voltamos a trazer prémios dos maiores festivais estrangeiros, eis que os subsídios regressam.

O concurso de apoio à produção audiovisual foi aprovado num decreto-lei da semana passada e já começou a contestação. Que não devia ter parado. Que não chega. Que está mal distribuído. Que não vai para onde é necessário. No entanto sempre são 10,19 milhões e dão para alguns artistas fazerem trabalhos que talvez cheguem para deixarem a pieguice e emigrarem para fazerem cinema onde isso é um negócio.

A notícia
A lei
Calendário dos concursos

30 de janeiro de 2013

Abertas as inscrições para o 3º Farcume

A 3ª edição do FARCUME pretende exibir e promover trabalhos até um máximo de 30 minutos de duração, repartidos em quatro categorias: Animação, Documentário, Ficção e Videoclips.

Neste festival, podem participar todos os cidadãos nacionais e estrangeiros de forma individual ou em grupo, sendo a sua inscrição gratuita, bastando para tal cumprirem o estipulado no regulamento, preencherem uma ficha de inscrição e enviarem as suas obras para a organização até ao dia 30 de Junho de 2013, estando sujeitas a uma pré-selecção.

A página electrónica é: http://farcume.faro1540.org.

Farcume 2013

29 de janeiro de 2013

Mais ou menos meia centena de salas não se nota

Covilhã, Guia, Leiria, Loures, Ponta Delgada, São João da Madeira, Seixal, Viana do Castelo. Um total de 49 salas de cinema que vão fechar esta semana. Todas Castello Lopes, todas em centros comerciais Sonae Sierra.

O comunicado oficial diz "Apesar do apoio dado, a Castello Lopes acumulou uma dívida de valor muito elevado e não reuniu outras condições necessárias à viabilização da operação dos cinemas". O que leio é que muitas cidades e muitas pessoas vão deixar de ter cinema. Os números de 2013 vão ser piores do que os de 2012 por este e outros motivos. Vão dizer que as pessoas deixaram de ir e culpar a pirataria. Vão aumentar os preços nas outras salas. Para o ano fecham mais meia centena e o ciclo recomeça, triturando tudo. Até que a oferta seja controlada pelos interesses de uma única empresa. É triste.

A situação devia ser desagradável para ambos os envolvidos e se a Sonae Sierra fez isto foi para dar um exemplo e evitar que outros começassem a relaxar nos pagamentos com a desculpa da crise. O negócio do cinema é o mais singular nos shoppings e se esses são postos na rua, qualquer outro também será.

Não duvido que estas salas encontrem dono depressa. Mas um nome com um século de história no cinema nacional merecia um pouco mais de respeito.

Para quem quiser, o grupo mantém 57 salas por todo o país. Bilhete normal 7€, estudante/jovem/3ª idade 6€, e 3D 9€. Alguém suspeita de má gestão?

28 de janeiro de 2013

Resultados da votação Aventar - Melhores Blogs 2012

Este ano o Antestreia chegou à final do concurso de blogs com mais votos em Portugal e conseguiu um terceiro lugar com cerca de 20%.

Este concurso foi marcado pelas suspeitas (a que a organização deu demasiada importância, chegando inclusivamente a divulgar estatísticas de padrões de voto), mas serviu para aumentar as visitas a todos os participantes. Só por isso já valeu a pena.

BlogVotos%
Close Up! (em blogspot.pt)81643.4
Cinemaville43323
Antestreia37319.8
c7ne1377.28
Close-Up (em com.pt)1236.54

Parabéns ao Aventar pela trabalhosa iniciativa, e muito obrigado aos quase 400 votos recebidos.

27 de janeiro de 2013

Livro "As Serviçais" por Nuno Reis

Recomendações
Quando fui ver o filme sabia que o livro existia. De forma a não prejudicar o visionamento adiei a leitura por algum tempo. Só passou um ano.

De onde veio
Foi-me emprestado no início de 2012. Quando recebi mais uma dezena de livros este Natal achei que era chegada a hora de começar a devolver os emprestados que tinha em casa. Este era o mais grosso, tinha de ir embora depressa.

A história
No início dos anos 60, a segregação era prática corrente nos Estados Unidos (o banco de Rosa Parks foi em 1955, "I Have a Dream" de Martin Luther King Jr. foi 1963). Apesar de não existir escravatura, Os estados do sul tinham um sistema informal de castas em que pessoas de cor não se conseguiam emancipar. Trabalhavam toda a vida para os brancos, eram agredidos ou mortos sem motivo, tinham de usar casas de banho diferentes dos seus patrões, eram assediados moralmente, os que conseguiam estudar contavam-se pelos dedos. Para toda uma geração isso era normal. Mas começavam a surgir vozes descontentes entre os mais jovens. Demasiadas para serem caladas.
Esta é a história de duas criadas e de uma patroa em Jackson, Mississipi. Aibileen, cinquentona, perdeu o único filho. Os dias são um sofrimento constante e espera amargurada pelo fim da vida. Minny também é uma criada. Mas é quinze anos mais nova e, apesar de ser a melhor cozinheira do mundo, responde demasiado o que faz com que lhe seja difícil arranjar trabalho. Depois há Eugenia Phelan. Skeeter para as amigas. De boas famílias, foi educada por uma criada negra que não encontra ao regressar da universidade. Ter vindo com uma mentalidade diferente das mulheres da terra e ter de recorrer a Aibileen para perceber o básico das lides domésticas são o detonador para querer fazer algo. Quer mudar o mundo, começando pelo lugar onde vive. Mas estará Jackson preparada para mudar, ou sequer para a ouvir? Não, de forma alguma. Só o anonimato a protegerá.

Interesse
O filme no geral agradou a todos e como o livro costuma ser melhor, as expectativas eram enormes. As mais de 400 páginas podem assustar os menos treinados, mas pensando como três diários, são histórias curtas.

Narrativa
Ver o filme antes de ler o livro ajuda a criar uma imagem mental das personagens. A escolha das actrizes foi criteriosa e em pouco se distinguem das personagens no papel. Sem grandes spoilers, Skeeter no livro só se torna ela mesma quando parte para o encontro, enquanto Emma Stone vestia essa faceta de início. Já a Aibileen de Viola Davis é sempre tristonha, ao passo que o livro refere numa passagem sobre a igreja, que ao sorrir o rosto dela se iluminava e parecia mais jovem.
A personagem de Celia foi trabalhada de forma parecida, sendo que no filme Chastain a realça para além do imaginável, e Hilly no livro é guardada para mais tarde. Não tem as explosões regulares que vemos. Pequenos detalhes em que o filme foi mais rápido e o livro demora a desenvolver, sem prejuízo de um ou outro.
Talvez devido ao incómodo que o tema é, não é uma leitura viciante de começar e acabar no mesmo dia. No entanto é um livro que se vai lendo com prazer, muito de cada vez, sempre procurando mais e mais. A gestão de expectativas está muito bem conseguida com todo este jogo de trocar a narradora para termos pontos de vista diferentes, o que dá um câmbio emocional vastíssimo e permite chegar fundo no coração do leitor.
O sacrifício de personagens secundárias e alguns que nem sequer conhecíamos se não fosse realidade seria um artifício para fazer chorar as pedras da calçada. Assim serve para mostrar que o dia-a-dia de um grande número de pessoas pode ser destruído pelo simples ódio ou medo de outros.
Especial destaque para uma fabulosa sobre as armas invísíveis das mulheres. É quase arrepiante.

Edição
Houve algumas falhas mínimas na tradução para português. Por duas vezes a frase que lia soou-me estranha e pensando em inglês depressa cheguei ao que pretendia a autora. No entanto o que está em português entende-se, só se perde alguma naturalidade do pensamento ou discurso. São mesmo casos menores que não prejudicam a leitura. Erros dignos desse nome só a falta de um ponto numa frase.

A eterna questão - Livro ou Filme?
Normalmente não hesito quando se chega a esta questão. Como pode um resumo de duas horas comparar-se a um livro onde se mergulha durante dias ou semanas? Neste caso particular a história no livro é muito mais completa e é construída com uma subtileza que compensa a escrita menos envolvente. No entanto o filme consegue ultrapassar muito bem os obstáculos mais óbvios de quem não tem o suporte do papel, como por exemplo, dar o contexto histórico. Também a narração tri-partida foi dispensada sem prejuízo da diversidade (aqui o cinema tem vantagem) e se é verdade que muito se perdeu, tudo o que ficou era fundamental. O argumento foi brilhantemente adaptado.
Ler e ver de forma seguida fará com que se note as diferenças. Mas isso são meros detalhes. A essência da história está em ambos e quem preferir cinema vão muito bem servido com a versão em filme. Se servir de incentivo para mais tarde lerem, melhor.

26 de janeiro de 2013

Posters de "Stoker"

Stoker

"Stoker" de Park Chan-wook

India Stoker não gosta do tio Charlie que veio viver com ela e mãe após a morte do pai. Acha-o suspeito e cada vez duvida mais dos seus verdadeiros motivos.
A estreia de Park Chan Wook em Hollywood é apadrinhada por Nicole Kidman, Mia Wasikowska, Jacki Weaver, Dermot Mulroney e Matthew Goode entre outros.
Imdb
StokerStoker
StokerStoker

25 de janeiro de 2013

24 de janeiro de 2013

Primeiro clip de "Lovelace"

"Lovelace" de Rob Epstein, Jeffrey Friedman

Biografia da lendária Linda Lovelace que mudou a indústria pornográfica como actriz (tem como título mais célebre "Deep Throat") e como activista contra os aproveitadores, onde incluía o próprio marido.
O primeiro clip saiu esta semana e por algum motivo tem sido um sucesso com milhares de visitas a cada hora.
Lovelace
Imdb

23 de janeiro de 2013

Kino 2013 - começa amanhã

Os próximos dias em Lisboa terão muito cinema alemão.

De 24 de Janeiro a 3 de Fevereiro terá lugar em Lisboa a 10° edição da "KINO - Mostra de Cinema de Expressão Alemã", que arranca este ano com a proposta alemã para o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro, o drama "Barbara" de Christoph Petzold. Além do programa principal, haverá também a "Mostra para Escolas" no Cinema São Jorge, o ciclo "Cinema Júnior" no Goethe-Institut e ainda o ciclo "O Novo Cinema Alemão: Para Além de Oberhausen", que terá lugar no Espaço Nimas, no âmbito do 50° aniversário do Goethe-Institut.

E, como não podia deixar de ser, haverá uma festa de aniversário com baile de máscaras no dia 25 de Janeiro a partir das 21.00 horas no auditório do Goethe-Institut com o DJ Calapez. Venham mascarados da vossa personagem de cinema favorita! O melhor disfarce da noite ganha uma noite no Hotel Plaza!

Mais informações

22 de janeiro de 2013

21 de janeiro de 2013

Fantasporto 2013 - o que esperar

FANTASPORTO’2013 CONTINUA A FAZER SERVIÇO PÚBLICO

Mais filmes, mais diversidade cultural, mais eventos, ainda mais qualidade

A 33ª edição do Fantasporto, o grande festival de cinema de Portugal e um dos 25 maiores do Mundo (segundo a revista Variety), realizar-se-á entre 25 de Fevereiro a 10 de Março. A semana de 1 a 10 de Março é dedicada, como habitualmente, às competições internacionais Secção Oficial Cinema Fantástico de longas e curtas metragens, Secção Oficial Semana dos Realizadores, Secção Oficial Orient Express, Cinema Português (filmes e escolas).

O Fantasporto conta ainda com retrospectivas dedicadas a António de Macedo que será galardoado com o Prémio por uma Carreira, às “Stars do Cinema Francês”, estas em toda a beleza através dos rostos dos seus actores e actrizes, o espaço “Fantas Previews” com a exibição de duas dezenas de filmes inéditos comercialmente em Portugal cujos direitos pertencem à Cinema Novo CRL, o já tradicional “Fantas em Curtas”, eventos especiais, exposições, conferências e homenagens várias.
A edição de 2013 que vai celebrar em antestreia absoluta em Portugal o mais recente e mais criativo cinema do Mundo, homenageará também a dupla Michael Powell e Eric Pressburger, relembrando os 65 anos da sua obra prima “The Red Shoes” (1948) que será exibida em cópia restaurada pelo BFI (British Film Institute) e com honras de abertura do Festival, numa inédita sessão dupla na qual poderemos ver a antestreia da última produção de Guillermo del Toro “Mama”. Outra homenagem será feita ao falecido realizador belga, um dos mais importantes realizadores de cinema de animação Mundiais e grande amigo do Fantasporto, René Laloux. Será exibido para celebrar a sua realização há 40 anos da obra prima “O Planeta Selvagem” e numa outra sessão que abrirá o pré Fantas na noite de 25 de Fevereiro o Grande Auditório do Rivoli receberá os...

“BEAUTIFY JUNKYARDS” FAZEM AO VIVO A BANDA SONORA DE “O PLANETA SELVAGEM”

Um filme emblemático e marcante que reúne uma série de elementos inspiradores e que atraem. Desde as paisagens surrealistas-alienígenas, até às reflexões sobre a condição humana e seus desequilíbrios para com o meio envolvente, passando pela vastidão cósmica e suas múltiplas realidades. Os Draags, raça superior dominante, subjugam e perseguem os humanos (Oms). Com traços de ironia entre a sua evolução tecnológica e espiritual e o seu comportamento selvático, espelhando de forma brilhante algumas vicissitudes da própria humanidade. Um filme belíssimo e intemporal para o qual os Beautify Junkyards exploraram a sua vertente mais espacial da sua sonoridade, mas sempre em comunhão com a natureza, arriscando atravessar portões de espaço e tempo numa viagem sem regresso.
2012 vê nascer os Beautify Junkyards, uma banda que é um pouco fruto do acaso. Alguns elementos dos Hipnótica juntam-se a outros músicos e decidem fazer uma série de retiros da cidade com o objectivo de fazer sessões de gravação ao ar livre, no campo, em comunhão com toda atmosfera sonora e visual envolvente.
Munidos de um estúdio móvel resgataram ideias e músicas dos anos 60 e 70 e adaptaram-nas aos tempos que se vivem, século XXI com sociedades e criação artística em ebulição como há muito não se assistia. As músicas gravadas são recriações de originais dos anos 60 e 70 na sua maioria da “folk outunal” inglesa mas também com extensões à música electrónica e ao tropicalismo.
LITERATURA É TEMA PARA PROGRAMA ESPECIAL

O Programa Especial de 2013 será dedicado ao Cinema e a Literatura, onde não faltarão conferências, apresentações de livros e outras iniciativas. Programa a anunciar.

BAILE DOS VAMPIROS REGRESSA AO HARD CLUB


Na noite de 9 para 10 de Março o Baile dos Vampiros, a tradicional festa de encerramento do Festival volta ao Hard Club. Sobre este evento serão fornecidas informações brevemente.

DE KIM KI DUK A GUILLERMO DEL TORO, UM MUNDO DE NOVOS FILMES PARA VER

2013 é um ano cheio de grandes regressos. A secção oficial e competitiva Orient Express volta com filmes de altíssima qualidade e de grandes autores conhecidos do público do Fantasporto. O sul coreano Kim Ki Duk que arrepiou o público do nosso festival com filmes como “O Bordel do Lago” e “O Arco” apresenta Pieta. Uma das mais famosas esculturas de Michelangelo inspirou Kim Ki-Duk. Aliás, o cartaz do filme é uma representação do original, Jesus morto nos braços de Maria, após a crucificação. Já o japonês Takahsi Miike olha para um popular jogo de computador “Ace Attorney”. Depois de “Ichi the Killer”, um outro herói a fazer justiça pelas próprias mãos.
Outro dos regressos ao festival, mesmo que seja como produtor e não como realizador, é o do mexicano Guillermo del Toro. Depois do ter vencido com “O Labirinto do Fauno”, retomou a sua faceta de produtor e trabalhou com Andrés Muschietti que tinha trazido ao Fantasporto em 2008 a curta-metragem “Mama”. Del Toro achou que havia muito mais naquela história para contar e a longa-metragem que é distribuída em Portugal pela Zon Lusomundo, vai abrir o Fantasporto 2013 de forma oficial, numa sessão dupla com o “The Red Shoes” o clássico de Michael Powell e Emeric Pressburguer que celebra 65 anos.
Como sempre, o bom cinema espanhol marca presença no Fantasporto, nesta caso,. Uma co-produção Espanha, Portugal e França. “Insensíveis” de Juan Carlos Medina conta uma história que começa na véspera da guerra civil espanhola. Um grupo de crianças insensíveis à dor é internada num hospital no coração dos Pirenéus. Nos dias de hoje, David Martel, neurocirurgião, tem de encontrar os seus pais biológicos para se submeter a um transplante indispensável à sua sobrevivência. Nesta procura vital, vai reanimar os fantasmas da sua infância.
Com um dos melhores papeis do ano, a actriz Rachel Weisz (não foi por acaso que foi nomeada para melhor atriz nos Globos de Ouro) passa pela tela do Teatro Rivoli em “The Deep Blue”. O drama britânico de Terence Davies conta a história da mulher de um juiz britânico apanhado numa teia amorosa de auto-destruição.
Para fechar o Fantasporto 2013 nada melhor que um a história futurista mas com um tom muito irónico e dramático. Outra das distribuidoras portuguesas, a Prisvideo, junta-se ao festival a traz-nos "Robot & Frank" de Jake Schreier com Frank Langella, Susan Sarandon e Peter Sarsgaard.

20 de janeiro de 2013

"Mercado de Futuros" por Nuno Reis

Se formos muito poéticos, podemos dizer que quando uma casa é demolida, as memórias que ela contém são libertadas no mundo. É precisamente esse acontecimento que vai despoletar este filme. Uma casa com uma extensa biblioteca vai ser demolida e, partindo desse ponto, vamos percorrer o mundo através do mercado imobiliário. Enquanto na casa antiga temos bonecas e livros, símbolos de uma era terminada, nos mercados temos negociações cheias de promessas, falam de milhões como se fossem trocos, prometem retorno em cinco anos e oferecem condições de sonho.

Quando um documentário tem duração de 110 minutos, espera-se que seja bastante completo. Neste caso não foi bem assim. Em 45 ou 50 minutos diriam o mesmo, o resto está apenas a encher. Há momentos bons. Destacaria a caminhada por cima dos livros onde títulos como "Anna Karenina" e "A Condição Humana" são pisados sem qualquer respeito; a lenga-lenga nos mercados que é um autêntico canto das sereias (no Dubai não há impostos, 0%!) e mesmo no final quando um senhor de idade diz que quer ser cremado e porquê. Tudo mais são sequências de planos quase imóveis, em silêncio, onde nos inundam sem informar e sem sequer fazer uma ponte entre dois mundos tão distintos. O único momento em que há alguma proximidade é quando, na deslocação de uma estátua, os homens têm o cuidado de proteger o braço para que não se parta. Não é por razões sentimentais, é para assegurar que se conserva intacta e valiosa.
Se a um filme se pede que seja envolvente, neste caso em particular podia perfeitamente jogar com isso. Era quente ao mergulhar nas memórias, frio ao falar do mercado. Se fosse para não tomar posições, que se mantivesse distante e imparcial. O que se vê é que é um mero retalho de planos. Sem emoção, sem fio condutor, sem novidade, sem interesse.

Será útil para quem pretender manter-se afastado desse mundo das altas finanças, mas tem uma visão tão crua de tudo, que nem o espectador consegue sentir algo além de tédio. Se a ideia era dar tempo para pensar no que se está a ver, faziam-no mais curto. Quem quisesse pensar, pensava, quem não quisesse, ia ver outra coisa. Era escusado tirar tanto tempo a todos.
Mercado de FuturosTítulo Original: "Mercado de Futuros" (Espanha, 2011)
Realização: Mercedes Álvarez
Argumento: Mercedes Álvarez, Arturo Redín
Narradora: Elvira Prado
Música: Sergio Moure
Fotografia: Alberto Rodríguez
Género: Documentário
Duração: 110 min.
Sítio Oficial: http://futuresmarket.es/

19 de janeiro de 2013

"Arrugas" por Nuno Reis

Enquanto nós jovens nos preocupamos com o dia-a-dia e com a vida que passa a correr, quem está na terceira idade costuma ter dúvidas um pouco mais importantes. Do género “viverei até amanhã?” e “o que ainda faço aqui?”. O cinema tem vindo a abordar este tema cada vez mais e melhor, e uma das últimas grandes obras sobre isso é "Arrugas".

Esta começa por ser a história de Emilio. Um homem que, como tantos outros, a família colocou num lar por não conseguir lidar com o seu estado. Nesse lar vai conhecer Miguel, Antónia, e muitos outros idosos que lá estão porque é a ordem natural das coisas. Um destino que tem tanto de inacreditável como de inevitável.
A primeira metade do filme desenrola-se normalmente. Vamos ver como estas dezenas de pessoas ultrapassam cada dia, por entre recordações de um passado que já lá vai, e sonhos por realizar de uma vida que termina. A segunda metade vai mais além. Vamos conhecê-los na doença. As condições mudaram. Ninguém está preparado. Só os mais fortes sobreviverão.

É preciso dizer que apesar de encontrarmos na equipa muitos nomes sonantes da animação galega, a técnica aqui foi uma das menores preocupações. Foram fiéis ao estilo do comic em que se baseia levemente, mas o importante era a história e conseguir passar uma mensagem. Em imagem real talvez o efeito fosse igual, mas através dos desenhos é dado um ritmo ainda mais controlado às cenas. Rápido ou lento de acordo com a etapa da vida que estas personagens atravessam. A mensagem é sobre amizade, confiança, angústia, aproveitar as coisas boas da vida e lidar com as más. Mas o principal de tudo é saber viver. Não querendo com isso dizer que se deve fazer loucuras até que nos mate, mas que se deve saborear cada dia e o que ele nos traz. Mesmo que o corpo não nos queira levar, teremos sempre as asas da imaginação. É só uma questão de a saber usar.

Um filme de ritmo muito pausado, mas que a qualquer momento nos consegue levar às nuvens e fazer repensar as prioridades. Porque ninguém está imune à velhice e temos de o aceitar, para a podermos aproveitar.
A sociedade moderna já conseguiu prolongar a vida para além do que se imaginava possível. Está na hora de começar a torná-la melhor. Até lá, deixem filmes assim fazerem o que é possível.
ArrugasTítulo Original: "Arrugas" (Espanha, 2011)
Realização: Ignacio Ferreras
Argumento: Angel de la Cruz, Ignacio Ferreras, Rosanna Cecchini e Paco Roca (também autor do comic)
Intérpretes: Tacho González, Álvaro Guevara, Mabel Rivera
Música: Nani García
Fotografia: David Cubero
Género: Animação, Drama
Duração: 85 min.
Sítio Oficial: http://www.arrugaslapelicula.com/

"También la Lluvia" por Nuno Reis

No ano de 2010 referi neste espaço a descontracção com que Luis Tosar encarou o facto de estar nos três filmes que Espanha considerava nomear a Oscar. Apesar de "También la Lluvia" ter sido o eleito, demorou a estrear aqui. E em 2012 tivemos oportunidades quase consecutivas de o ver, com a Cinefiesta em Novembro e a estreia comercial em Dezembro.
O tema aparente é Cristovão Colombo, mas na realidade é muito mais profundo. É sobre como nada mudou em quinhentos anos de civilização.

Uma equipa de filmagens está a trabalhar num filme sobre o famoso explorador que entregou as Américas a Espanha. Falará do desembarque, do contacto com os nativos, da religião e das vozes que se levantaram contra a escravatura nessas primeiras décadas. A grande ironia é que filmar nas Caraíbas (entre viagens, equipamento e mão-de-obra) ficava extremamente caro e por isso estão a filmar na Bolívia. Ter os Andes em vez de mal não é um problema. O momento é que não é o melhor. A população está revoltada porque o governo entregou as águas públicas a uma companhia estrangeira. Para recuperar o investimento os preços triplicaram e a conivência governamental chega a tal ponto que fecham por "razões sanitárias" qualquer poço que possa fazer concorrência à água canalizada. Uma guerra civil prestes a acontecer pode não ser motivo de preocupação para os espanhóis, mas quando o nativo principal do filme é o líder desse movimento e está constantemente preso ou a ser disfigurado à pancada, gera situações complicadas de resolver.

Este é um drama humano do século XX e com tendências a piorar no XXI. O equilíbrio frágil entre investimento e exploração não pode ser quebrado. Um povo que nunca teve problemas com a água, ser obrigado a pagar o que não pode por um serviço do qual não precisaria, é escandaloso. Noutros sítios a situação pode ser diferente, mas a metáfora é a mesma. Passados quinhentos anos, o tesouro dos estrangeiros mudou, mas continuam a ser explorados.
Apesar de toda a situação ser devidamente apresentada, muito falta para a história cativar. Um dos problemas é que os actores Bernal e Tosar são demasiado actores para ser vistos como director e produtor. Os restantes actores ficam muito bem, seja o estreante Juan Carlos Aduviri ou o veterano Karra Elejalde, mas as estrelas demoram a convencer como algo que não são.
O argumento está bem construído. Vai dando a devida importância a cada tema e dá o Antón (personagem de Elejalde) um papelão. Aliás, o filme dentro do filme é muito apelativo. E os momentos de convívio da equipa de filmagens captados pelo documentário são o mais reais que era possível inventar. Quando esse documentário salta para a Bolívia, é desperdiçado como possível fio condutor, como aconteceria na realidade. Onde faltam as grandes cenas é no filme principal. Muita indecisão e medo, mas sempre a vontade de fazer o correcto. É demasiado artificial e nem assim tem diálogos extraordinários.

Quanto à mensagem que pretende transmitir, estava conseguida quase desde o princípio. Era bom que todos os governantes vissem este filme antes de darem o seu país aos estrangeiros e venderem os cidadãos como mão-de-obra escrava. E que também o povo, veja para acreditar que nenhum governo pode agir contra os interesses da população. Senão qualquer dia, também nos querem tirar a chuva.

Porque opressão e revolução, não é só na Bolívia.
También la LluviaTítulo Original: "También la Lluvia" (Espanha, México, França, 2012)
Realização: Icíar Bollaín
Argumento: Paul Laverty
Intérpretes: Luis Tosar, Gael García Bernal, Juan Carlos Aduviri, Karra Elejalde, Raúl Arévalo, Carlos Santos, Milena Soliz
Música: Alberto Iglesias
Fotografia: Alex Catalán
Género: Drama, História
Duração: 103 min.
Sítio Oficial: http://www.tambienlalluvia.com/en/

"Las Aventuras de Tadeo Jones" por Nuno Reis

Uma das maiores lendas do cinema de acção e aventura é Indiana Jones. Como os direitos sobre essa personagem está bem protegidos, a alternativa era fazer alguém totalmente diferente. Usar o nome para fins promocionais, mas apresentar um indivíduo que nunca pudesse ser o herói e galã interpretado por Ford. Ele é Tadeo Jones, arqueólogo amador, trapalhão profissional e anti-herói de ocasião.
”Tadeo
Tadeo sempre sonhou ser um arqueólogo. Idolatrando um pai que não conheceu, vai fazendo a sua vida comum, sempre alegre e esperançoso, mesmo que sem grandes possibilidade de alguma vez conseguir o que quer. Até que um dia, uma descoberta nas obras o vai levar ao museu. As visitas de Tadeo ao museu são frequentes, e são todas descobertas inglórias, mas desta vez é diferente. Pela primeira vez na vida, está no lugar certo à hora certa e vai partir numa enorme aventura em busca do tesouro mais desejado do mundo.
”Tadeo
Com muita franqueza, toda a trama é mais do que previsível. Há algumas situações inesperadas (“homenagens” ao Indy que tiveram muita lata em fazer) e algumas das personagens são deveras divertidas, mas para quem estiver fora do escalão etário do filme, vai ser menos apelativo. O seu grande trunfo é a múmia guardiã do tesouro que, essa sim, vai ser diferente de tudo o que se possa imaginar. Após 80 minutos de aventuras a bom ritmo, temos o final feliz que se queria, aberto para muitas sequelas.
Do ponto de vista técnico o genérico inicial é logo uma boa surpresa e a animação não desilude. A animação espanhola continua a dar trunfos num mercado competitivo. Só faltam as ideias novas.
Las Aventuras de Tadeo JonesTítulo Original: "Las Aventuras de Tadeo Jones" (Espanha, 2012)
Realização: Enrique Gato
Argumento: Javier López Barreira, Gorka Magallón e outros
Vozes: Óscar Barberán, Fiona Glascott, Carles Canut, Pep Anton Muñoz, Mac Macdonald
Música: Zacarías M. de la Riva
Género: Animação, Aventura, Comédia
Duração: 90 min.
Sítio Oficial: http://www.tadeojones.com/

18 de janeiro de 2013

Inscrições abertas para Porto7 2013

As submissões para o Porto 7 estão abertas até 15 de Março.

O festival decorrerá entre dias 12 e 16 de Junho de 2013 no Porto.

O Porto7 é um festival dedicado à Curta-metragem. O seu propósito é promover a produção e exibição de curtas-metragens e servir de intermediário entre as culturas e nacionalidades que participam no festival. É um evento cultural aberto a produtores, realizadores, actores, entusiastas e apreciadores da sétima arte.
Este festival é um local de intercâmbio cultural entre artistas, realizadores, empresas do audiovisual e público, onde diferentes actividades promocionais tomarão lugar. (Exibição de filmes, Festas, Concertos, Cerimónias, Apresentações de produtos, etc.)

Secções Competitivas

1. Competição International de Curtas-Metragens – Ficção
2. Competição International de Curtas-Metragens – Animação
3. Competição International de Curtas-Metragens – Vídeos musicais
4. Competição National de Curtas-Metragens – Ficção Nacional
5. Competição International de Curtas-Metragens – Documentário

Prémios

Melhor curta-metragem internacional
Melhor argumento original em curta-metragem internacional
Melhor actor/actriz em curta-metragem internacional
Melhor animação internacional
Melhor vídeo musical internacional
Melhor curta-metragem nacional
Melhor curta-metragem documental

17 de janeiro de 2013

Ainda a Casa do Cinema

Concentrar festivais geograficamente é mau. Numa cidade que já tem tudo enquanto o resto do país não tem nada, é pior. Mas a fazê-lo, pelo menos que estejam no mesmo edifício para terem as mesmas condições.

Quando for a Lisboa já sei por onde vou passar obrigatoriamente.

16 de janeiro de 2013

Melhores filmes de Dezembro

Top CCOP Dezembro
No último mês do ano o filme favorito dos blogger não foi uma surpresa. "Amour" venceu muito isolado.
No final do mês sairá o top 2012 com os devidos ajustes.

1

Amour

Amour
Michael Haneke8,7
2

The Life of Pi

A Vida de Pi
Ang Lee7,43
3

My Sister's Sister

Entre Irmãs
Lynn Shelton7,2
4

Holy Motors

Holy Motors
Leos Carax7,17
5

The Hobbit: An Unexpected Journey

O Hobbit: Uma Viagem Inesperada
Peter Jackson6,6
5

Anna Karenina

Anna Karenina
Joe Wright6,56
7

También La Lluvia

Também a Chuva
Icíar Bollaín6,5
8

On the Road

Pela Estrada Fora
Walter Salles6
9

The Paperboy

The Paperboy - Um Rapaz do Sul
Lee Daniels5,8
10

Hotel Transylvania

Hotel Transilvânia
Genndy Tartakovsky5,75
11

Jack Reacher

Jack Reacher
Christopher McQuarrie5

15 de janeiro de 2013

Lisboa tem uma Casa do Cinema

A Casa do Cinema será inaugurada já dia 17 de Janeiro, às 11h, com a presença do presidente da Câmara Municipal de Lisboa, António Costa, e da Vereadora da Cultura, Catarina Vaz Pinto.

O edifício na Rua da Rosa, 277 (Bairro Alto, Lisboa), foi cedido e adaptado às novas funções pela Câmara Municipal de Lisboa, em resposta às inúmeras solicitações por parte de vários festivais e instituições ligadas ao cinema, que há muito tempo se debatiam com dificuldades para encontrarem espaços adequados ao funcionamento das suas estruturas.

A partir de 17 de Janeiro, a Casa do Cinema passará a ser habitada e partilhada por nove entidades: Academia Portuguesa de Cinema; APORDOC – Associação pelo Documentário, Associação Portuguesa de Realizadores; DuplaCena; FESTin – Festival de Cinema Itinerante da Língua Portuguesa; IndieLisboa - Festival Internacional de Cinema Independente; MOTELx – Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa; Monstra - Festival de Animação de Lisboa; e Queer Lisboa – Festival Internacional de Cinema Queer.

Será já na nova sede que o FESTin irá ultimar a sua 4ª edição, que acontecerá de 3 a 10 de Abril, no Cinema São Jorge. Encerradas as inscrições, decorre atualmente a fase de seleção de filmes que irão integrar as seções competitivas, bem como a programação das Mostras de Cinema de Angola – o país a ser homenageado em 2013 -, Cinema Brasileiro e de Inclusão Social.


Fabulosa iniciativa que não se imagina com pernas para andar noutra cidade visto que nenhuma tem a quantidade de grandes festivais de Lisboa. Aguardamos com expectativa as iniciativas que daqui sairão.

14 de janeiro de 2013

Lendas do cinema francês no Fantas

Apenas na tela!

O cinema francês marca presença na 33ª edição do Fantasporto com uma retrospectiva dedicada aos grandes nomes dos anos dourados daquela cinematografia, realizada com o apoio do Institut Français Portugal. As estrelas do cinema francês vão assim "encher" os écrans do Teatro Rivoli de 1 a 9 de Março. De Sandrine Bonnaire a Simone Signoret, passando por Jeanne Moreau, Jean Marais, Jacqueline Bisset ou Isabelle Huppert. Será tempo para ver e recordar grandes clássicos e grandes interpretações.

Se não há Cinema sem paixão e se não há paixão sem glamour, as estrelas são a face mais visível da 7ª Arte. Ainda que muitas vezes se confunda o star system com o cinema americano, no panorama europeu o cinema francês tem sido o que ao longo das décadas melhor tem trabalhado o glamour e as "vedetas" na promoção dos seus filmes.
O Fantasporto 2013 recupera grandes rostos do período dourado do cinema gaulês, numa retrospectiva onde eles abundam. Sete filmes dos mais conceituados realizadores - de Agnés Varda a Claude Chabrol, de Alain Resnais a Jacques Demy - em sete géneros cinematográficos que confirmam a diversidade desta cinematografia. Mas muito mais do que sete serão as estrelas que ilustram esta significativa retrospectiva que será complementada com uma belíssima exposição de fotos da colecção de Jean Loup Passek ex-director do departamento de cinema do Centro George Pompidou.
Rostos de uma fotogenia excepcional, que marcaram o imaginário de milhões de espectadores como Jean Marais, Jeanne Moreau, Simone Signoret, Delphine Seyrig, entre os mais veteranos, dão lugar a uma nova geração onde pontuam Isabelle Huppert ou Sandrine Bonnaire, demonstrando que as vedetas são uma constante e um suporte de excelência para o cinema francês.
Sendo as estrelas quem dão corpo e voz aos filmes, esta é também uma oportunidade rara para se reverem clássicos em tela grande, cumprindo assim uma missão fundamental dos festivais que é a de recuperar as melhores memórias do cinema.


Filmes
Isabelle Huppert/Sandrine Bonnaire/ Jacqueline Bisset
La Céremonie- Claude Chabrol- 112’-1995 – Fra/Alem

Simone Signoret
Casque D’Or- Jacques Becker- 96’-1952- Fra

Delphine Seyrig
L’Année Dernière à Marienbad- Alain Resnais- 94’- 1961- Fra/Ita

Catherine Deneuve / Jean Marais/Jacques Perrin/ Micheline Presle
Peau D’Âne- Jacques Demy- 90’-1970- Fra

Jeanne Moreau/ Maurice Ronet
Ascenseur pour L´Échafaud- Louis Malle- 88’- 1958- Fra

Michèle Morgan
Quai des Brumes - Marcel Carne – 91’ - 1938 - Fra

Sandrine Bonnaire
Sains Toit et Loi (Vagabond) - Agnés Varda – 105’ - 1985 – Fra

13 de janeiro de 2013

12 de janeiro de 2013

"Pitch Perfect" por Nuno Reis

Há duas formas de fazer um grande filme. A tradicional é fazer com que nos cole à cadeira, nos aperte o coração e nos leve numa viagem emocional inesquecível. Para isso é preciso tratar bem um tema que nos diga muito e torná-lo numa obra de arte. A outra forma é envolver o espectador e levá-lo numa experiência interactiva. Esta pode parecer mais fácil, mas, novamente, é preciso apelar ao lado emocional. Tanta emoção e tão pouca razão... Talvez por isso se diga que o cinema é uma arte, porque secundariza o raciocínio para nos conquistar por onde somos mais fracos. E uma excelente forma de o fazer é por via de outra arte. Um musical tem sempre boas hipóteses de se sair bem porque a música envolve. E se não for com originais não só nos recordará momentos passados, como nos acompanhará muito depois da projecção terminada. Claro que há sempre o lado negativo desta situação. Quando se fala de cinema mainstream é que sabendo do sucesso de uma receita, a vai repetir. Sendo uma das séries do momento a musical Glee - logo imitada por Smash - não surpreendeu que aparecessem filmes com a mesma fórmula.

"Pitch Perfect" segue de forma perfeitamente irritante tudo o que se esperaria de um filme destes. Rapariga pouco sociável conhece rapaz pelo qual não admite sentir algo. É forçada pelo pai a integrar-se em algo e por isso junta-se ao grupo feminino de canto à capela onde vai derrubar as tradições e levá-las ao campeonato nacional para logo descobrir o amor. Ups, mais um spoiler que saiu sem aviso prévio. Escusam de agradecer, mas se o que querem ver não for exactamente isto, então não comprem o bilhete. E se querem mesmo ver, não é isto que os vai impedir. Acreditem que ao verem os primeiros segundos do filme percebiam depressa que ia ser assim pois não há qualquer esforço em ser diferente disso. Na verdade até há um esforço e pode bem ser o que conquistará aquele importante segmento dos 12 anos de idade. Vem mesmo antes do générico inicial e dá muitas esperanças em que seja um filme ousado, já que pedir originalidade é demasiado.

Passando aos pontos fortes e fracos do filme as listas têm tal desproporção que tenho de exagerar nos primeiros. Positivo é ter músicas, é ter Anna Kendrick, e é quase a vermos nua. Negativo é ela não estar propriamente esforçada no papel. O resto do elenco foi bem escolhido, tem alguns nomes interessantes (como Brittany Snow, Rebel Wilson, Ester Dean) e dão a obrigatória diversidade étnica e cultural.
Na componente técnica haveria muito a apontar. O mais grave foi na realização/edição pois, sem meios termos, em comparação com os rivais mais directos, "Pitch Perfect" não sabe mostrar interpretações musicais. Jason Moore confia demasiado no som e esquece que a imagem tem de ser igualmente espectacular. Pelo menos a selecção musical foi bem conseguida, assim como as situações não-oficiais em que cantam. Essas sim, os pontos altos do filme.
Uma nota final para os comentadores da competição. Esse par de caricaturas de muitos dos seus semelhantes é tão despropositado que dá um toque alucinogénico ao concurso. Nem bom, nem mau, mas seguramente polémico.

Quanto termina cumpriu o seu dever de entreter e animar. Não tanto como podia e devia, e não dá para cantar a acompanhar, mas é o suficiente para não ser tempo perdido. Veremos se a sequela enche melhor as medidas.
Pitch PerfectTítulo Original: "Pitch Perfect" (EUA, 2012)
Realização: Jason Moore
Argumento: Kay Cannon (baseado no livro de Mickey Rapkin)
Intérpretes: Anna Kendrick, Skylar Astin, Ben Platt, Brittany Snow, Anna Camp, Rebel ,Wilson, Alexis Knapp, Ester Dean, Hana Mae Lee,
Música: Christophe Beck, Mark Kilian
Fotografia: Julio Macat
Género: Comédia, Musical,Romance
Duração: 112 min.
Sítio Oficial: http://www.pitchperfectmovie.com/

11 de janeiro de 2013

"Gangster Squad" dentro de dias

"Gangster Squad" de Ruben Fleischer

Era suposto "Gangster Squad" ter estreado em Setembro, mas devido a uma cena de tiroteio numa sala de cinema e as semelhanças com o atentado no Colorado, decidiram adiar para Janeiro de forma a substituirem essa cena por algo menos polémico. Este fim-de-semana vai estrear um pouco por todo o mundo, tendo Portugal de aguardar mais quatro semanas. Mas aproveitemos para ver alguns motivos pelos quais deve valer a espera.

Sinopse: Los Angeles, 1949. O implacável Mickey Cohen (Sean Penn), domina o submundo, através de negócios que vão da prostituição ao tráfico de droga ou armas. Mickey tem ao seu serviço muitos criminosos, mas principalmente a polícia e os políticos, todos umas marionetas corruptas. O seu poder intimida todos excepto uma equipa especial e muito secreta da polícia de Los Angeles, liderada pelo Sargento John O’Mara (Josh Brolin), e Jerry Wooters (Ryan Gosling), que reúnem esforços para derrubar o maior império a oeste de Chicago.
O filme é inspirado num trabalho de investigação do jornalista Paul Lieberman.
Gangster Squad
Imdb

10 de janeiro de 2013

Mistério revelado!

Quem viu as versões melhoradas da Guerra das Estrelas (como este fim-de-semana) deve ter reparado que o Anakin Skywalker que aparece no final é o interpretado por Hayden Christensen que na altura do filme era um bebé.

Esta alteração de George Lucas caiu mal a muitos fãs, mas nem todos tiveram criatividade para isto.

9 de janeiro de 2013

Irish Film and TV Awards 2013 - os nomeados

Por entre tantas cerimónias nacionais de prémios, os da Irlanda poderiam ficar um pouco esquecidos. No entanto para mim são os de maior relevância pois entre os nomeados a Melhor Curta está "Rhinos" para a qual contribuí em crowdfunding.
Pode ser o prémio mais importante que um filme meu alguma vez ganhou por isso vamos lá fazer figas e esperar por 9 de Fevereiro.

Nomeados

Filme

"Death of a Superhero"
"Good Vibrations "
"Grabbers "
"Shadow Dancer "
"What Richard Did "

Melhor Realização - Cinema

Lenny Abrahamson em " What Richard Did "
Pat Collins em " Silence "
Ian Fitzgibbon em " Death of a Superhero "
Martin McDonagh em " Seven Psychopaths "

Melhor Argumento - Cinema

Malcolm Campbell em " What Richard Did "
Kevin Lehane em " Grabbers "
Martin McDonagh em " Seven Psychopaths "
Kieron J Walsh em " Jump "

Melhor Actor - Cinema

Richard Dormer em " Good Vibrations "
Colin Farrell em " Seven Psychopaths "
Martin McCann em " Jump "
Jack Reynor em " What Richard Did "

Melhor Actriz - Cinema

Ruth Bradley em " Grabbers  "
Anne Marie Duff em " Sanctuary  "
Roisin Murphy em " What Richard Did "
Seana Kerslake em " Dollhouse "

Actor Secundário - Cinema

Domhnall Gleeson em " Anna Karenina "
Ciaran Hinds em " The Woman in Black "
Michael McElhatton em " Death of a Superhero "
David Wilmot em " Shadow Dancer "

Melhor Actriz Secundária - Cinema

Bríd Brennan em " Shadow Dancer "
Bronagh Gallagher em " Grabbers "
Charlene McKenna em " Jump "
Gabrielle Reidy em " What Richard Did "

Filme em irlandês

"Bernard Dunne's Bród Club"
"Congo 1961"
"Lón sa Spéir – Men at Lunch"
"Rasaí na Gaillimhe"

Prémio GEORGE MORRISON para Longa Documental

"Barbaric Genius "
"John Ford: Dreaming the Quiet Man "
"Mea Maxima Culpa: Silence in the House of God "
"Skin in the Game "

Curta Metragem

"The Girl with the Mechanical Maiden "
"Fear of Flying "
"Morning "
"Rhinos "

Animação

"After You "
"Fear of Flying "
"Macropolis "
"Peter Rabbit’s Christmas Tale "


Melhor Drama - TV

"The Borgias "
"Game of Thrones "
"Love/Hate "
"Titanic: Blood and Steel "

Realização - TV Drama

David Caffrey em " Love Hate "
Ciaran Donnelly em " Titanic: Blood and Steel "
Declan Lowney em " Moone Boy "
Aisling Walsh em " Loving Miss Hatto "

Melhor Argumento - TV Drama

Stuart Carolan em " Love/Hate "
Colin Heber-Percy & Lyall Watson em " Saving the Titanic "
Neil Jordan em " The Borgias "
Chris O’Dowd & Nick Vincent Murphy em " Moone Boy "

Melhor Actor - TV

Gabriel Byrne em " Secret State "
Colm Meaney em " Hell on Wheels "
Robert Sheehan em " Love/Hate "
Tom Vaughan Lawlor em " Love/Hate "

Melhor Actriz - TV

Orla Brady em " Sinbad "
Carrie Crowley em " Rasai na Gaillimhe "
Amy Huberman em " Threesome "
Charlie Murphy em " Love/Hate "

Melhor Actor Secundário - TV

Peter Coonan em " Love/Hate "
Allen Leech em " Downton Abbey "
Chris O’Dowd em " Moone Boy "
Andrew Scott em " Sherlock "

Melhor Actriz Secundária - TV

Cathy Belton em " Roy "
Susan Loughnane em " Love/Hate "
Ruth Negga em " Secret State "
Deirdre O’Kane em " Moone Boy "

Categorias Técnicas - Cinema

Melhor Guarda-roupa

Maggie Donnelly em "Good Vibrations"
Alison Byrne em "Loving Miss Hatto"
Joan O’Cleary em "King of the Travellers"
Lorna Marie Mugan em "Ripper Street"

Melhor Direcção de Fotografia

Seamus McGarvey em " Anna Karenina "
PJ Dillon em " Game of Thrones "
Tim Fleming em " Citadel "
David Grennan em " What Richard Did "

Melhor Edição - Cinema/Drama

Nathan Nugent em " What Richard Did "
Dermot Diskin em " Love/Hate "
Mick Mahon em " Saving the Titanic "
Helen Chapman em " Ripper Street "

Melhor Caracterização

Morna Ferguson, Dee Corcoran em "Loving Miss Hatto"
Sharon Doyle, Eileen Buggy em "Ripper Street"
Lynn Johnston, Eileen Buggy em "Shadow Dancer"
Tom McInerney, Dee Corcoran em "Titanic Blood & Steel"

Melhor Desenho de Produção

Mark Geraghty em " Ripper Street "
Tom Conroy em " Titanic: Blood & Steel "
Stephen Daly em " Love/Hate "
Ray Ball em " Saving the Titanic"

Melhor Música Original

Niall Byrne em " Loving Miss Hatto "
Ray Harman em " Love/Hate "
Steve Lynch em " Saving the Titanic "
Stephen Rennicks em " What Richard Did "

Melhor Som - Cinema/Drama

Garret Farrell, Hugh Fox, Steve Fanagan em "Citadel"
Ronan Hill, Mervyn Moore em "Game of Thrones"
Dan Birch, Jon Stevenson Garret Farrell em "Titanic Blood & Steel"
Paddy Hanlon, Steve Fanagan, Niall Brady em "What Richard Did"


Programas Televisivos

Infantil/Juvenil

"The Octonauts "
"OMG! Jedward "
"Roy "
"Ó Tholg go Tolg "

Assuntos actuais

"Midweek: Rural Ireland Fights Back "
"Prime Time - Profiteering from Prostitution "
"Spotlight: Sean Quinn’s Missing Millions "
"Vincent Browne Tonight "

Documentário

"A Time to Die? "
"Congo 1961 "
"MND: The Inside Track "
"WB Yeats – No Country for Old Men "

Séries documentais

"24 Hours to Kill "
"Bullyproof "
"The New Irish After the Bust "
"Ray D’Arcy: How to Beat Depression "

Entretenimento

"Moone Boy "
"Mrs Brown’s Boys "
"The Savage Eye "
"The Voice of Ireland "

Factos

"Dead Money "
"The Radharc Squad "
"Room to Improve "
"The Zoo "

Realidade

"Masterchef "
"Jockey Eile "
"ICA Bootcamp "
"Come Dine with Me "

Desporto

"Olympics "
"Paralympics "
"Jump Boys "
"When Ali Came to Ireland "


Categorias técnicas - TV

Melhor Realização - TV

Alison Millar em " The Shame of the Catholic Church "
Damien O’Donnell em " The Savage Eye "
Maurice Sweeney em " WB Yeats No Country for Old Men "
Lynda McQuaid em " Masterchef "

Melhor Direcção de Produção - TV

Michael O’Donovan em " Gaeil Nua Eabhrac "
Ronan Fox & Mick O’Rourke em " WB Yeats No Country for Old Men "
Kieran Slyne em " My Civil War "
Feargal O’Hanlon em " Lorg na gCos "

Melhor Edição - TV

Mick Mahon em " Gaeil Nua Eabhra "
Mick Mahon em " Chaplin the Waterville Picture "
Brenda Morrissey em " Inside the Department "
Zaini Darragh em " The West’s Awake "

Melhor Som - TV

Mark Henry, Conall de Cléir, John Brennan em "Am An Ghatár"
Paul Rowland, Niall O’Sullivan em "Sceal na Gaeilge"
Killian Fitzgerald, Fiachra O’Hanlon em "WB Yeats No Country for Old Men"
David O'Regan, Killian Fitzgerald, Zaini Darragh em "The West’s Awake"

8 de janeiro de 2013

Estudo de caso sobre a Blogosfera de Cinema

A blogger/jornalista Andreia Mandim do Cinema's Challenge realizou no âmito do seu mestrado um estudo sobre a blogosfera nacional na área do Cinema.

O resultado está a ser publicado por partes no blog referido. Cliquem no logótipo para visitarem.

Estudo de Caso: Blogosfera de Cinema

Ao longo deste ano, de modo a registar a existência, em particular, da blogosfera de cinema, decidi como tema de um estudo cientifico estudar o caso do papel dos blogues nacionais como meios de divulgação do cinema. Neste sentido, através do auxílio de um grande número de blogues, dos quais seleccionei alguns para incluir directamente neste trabalho, assim como a ajuda de vários órgãos do mundo do cinema - realizadores, distribuidoras de cinema, directores de festivais de cinema, jornalistas, etc - consegui executar este estudo de caso. Os dados foram reveladores por um lado, mas por outro vieram a confirmar muitas das minhas ideias primordiais. Como acho que este é um trabalho escrito não apenas para mim, mas para a blogosfera em geral, marcando assim a passagem de uma era, que provavelmente nunca mais voltará a repetir-se, deixarei, aqui, ao longo de várias semanas, extractos desse mesmo estudo cientifico, esperando da vossa parte um feedback. Espero que tenham em conta que foi feito em pouco tempo, relacionado com os velhos media e não isoladamente, portanto espero que sejam brandos nos julgamentos e apreciem este contributo que aqui partilho.

O Antestreia é um dos blogues referidos na secção dos dinossauros por isso passem por lá para nos conhecer por outro ângulo e para descobrir muitos outros blogues "concorrentes".

7 de janeiro de 2013

Por uma definição justa de pirataria

My One Thousand Movies
A pirataria é um mal que paira sobre a Humanidade. Todas as semanas, navios de praticamente todas as nacionalidades correm grandes riscos de serem abordados por piratas somalis nos Mares Arábico e Índico. Enquanto isso é um atentado à integridade física de pessoas e um roubo de produtos físicos - e a também antiga contrafacção de artigos coloca em risco a vida ou a saúde das pessoas - os governos e entidades mais ou menos oficiais preocupam-se principalmente com um tipo de pirataria bem mais ofensivo ou perigoso: a democratização do conhecimento cultural, através da partilha de conteúdos digitais.

Os conteúdos digitais foram uma invenção da indústria. Dando variedade de formatos e portabilidade, tencionavam vender mais, mais depressa e com maior lucro. E tal como no tempo dos gravadores de VHS, os consumidores contornaram as regras. Se há vinte anos as revistas apoiavam o consumidor fornecendo capas e códigos para gravar à hora certa, agora são os próprios fornecedores de serviços televisivos a permitir a gravação e visionamento posterior com um mínimo de esforço. E isso é legal porque, apesar de os fabricantes de conteúdo não gostarem, como são empresas que o fazem pagam impostos, continua a ser negócio. Os consumidores agradecem o serviço prestado.

Vender DVD contrafeitos é ilegal. Porque nesse cenário não ganha quem faz o conteúdo, nem quem o vende paga impostos sobre o seu trabalho. O consumidor agradece pagar menos do que por um bilhete de cinema ou uma cópia oficial e, como os tempos estão difíceis, já sente que é justo cortar numa despesa “supérflua” como é o entretenimento.
Disponibilizar conteúdos online equivale ao anterior porque, atingindo determinada escala, começa a arrecadar quantias consideráveis de dinheiro com a publicidade.

E se quem os coloca online não estiver a ter lucro, nem a roubar a ninguém? Esse era o caso do blog My One Thousand Movies. Os três mil filmes que tinha eram clássicos que não se encontram à venda nem passam na televisão. Pretendiam dar a conhecer o património cinematográfico da humanidade. Serviam para descobrir cineastas esquecidos e obras de culto, mas com pouca resolução para que ninguém se sentisse tentado a ficar com essa versão em vez de se dedicar a procurar no mercado convencional de importação uma versão melhor. Outra vantagem é que no My One Thousand Movies todos os filmes tinham legendas em português ou numa língua mais ou menos compreensível. Na importação não.

Dia 16 de Dezembro foi fechado pela Google sem qualquer aviso por incentivo à pirataria. Estamos a falar de filmes quase impossíveis de encontrar no mercado, que em nada rivalizavam com a versão comprada, se existisse uma, e que tinham no máximo uma centena de downloads provenientes de todo o mundo, não apenas de Portugal.
O que o My One Thousand Movies fazia era complementar (ou substituir) a missão da deficiente televisão pública de educar cinéfilos. Muitos bloggers recorreram a este repositório para rever um título acarinhado, ou, a partir do filme e da pequena resenha que o acompanhava, fazerem publicações com as quais muitas outras centenas de pessoas ficaram com vontade de descobrir um cinema marginal e esquecido.
Isto não é pirataria, é serviço público, e é preciso (re)definir o enquadramento legal adequado.

Se alguém errou no meio disto tudo foram as distribuidoras que não viram interesse em comercializar os filmes. Ninguém o pode ver porque não compensa comprar os direitos e fabricar para pouca gente? Sugeríamos que houvesse um videoclube online no qual, por um valor simbólico, se pudesse ver o filme contribuindo para a distribuidora.
A distribuidora não teria encargos com a manufactura de cópias físicas que ficariam a ocupar espaço em armazém.
Os consumidores exigentes encontrariam o que queriam imediatamente sem remexer em caixotes de promoções nas superfícies comerciais.
Os retalhistas não estão interessados em ter uma cópia única de milhares de filmes que poderão nunca vir a comercializar, mas estariam interessados em vender cartões pré-pagos de acesso a esse serviço, como fazem para as consolas.
Se o preço fosse suficientemente baixo toda a gente poderia espreitar e talvez descobrir algo único.

Enquanto este tipo de serviço não existir, estaremos sempre dependentes da boa vontade, dedicação e cultura de pessoas como o autor do MOTM. Mesmo que achem que isso vai contra a lei. De todos nós, obrigado.

Signatários
Ana Sofia Santos Cine31 / Girl on Film
André Azevedo BD no Sótão
André Marques Blockusters
António Tavares de Figueiredo Matinée Portuense
Armindo Paulo Ferreira Ecos Imprevistos
David Martins Cine31
Eduardo Luís Rodrigues EddyR Corner
Francisco Rocha My Two Thousand Movies
Gabriel Martins Alternative Prison
Inês Moreira Santos Hoje Vi(vi) um filme / Espalha-Factos
Johnny Kino O Desconhecido do Norte Expresso
Jorge Rodrigues Dial P for Popcorn
Jorge Teixeira Caminho Largo
Luís Mendonça CINEdrio
Manuel Reis Cenas Aleatórias / TV Dependente
Miguel Lourenço Pereira Cinema
Miguel Reis Cinema Notebook
Nuno Reis Antestreia
Pedro Afonso Laxante Cultural
Rita Santos Not a Film Critic
Samuel Andrade Keyzer Soze's Place / O Síndroma do Vinagre
Victor Afonso O Homem que Sabia Demasiado

6 de janeiro de 2013

5 de janeiro de 2013

Bill Plympton em Crowdfunding


Nas palavras do próprio:
CHEATIN' é um conto animado adulto sobre amor, ciúmes, vingança e assassinato, cheio de nudez e violência, mas também com o meu surreal sentido de humor. A história é inspirada pelo trabalho de James M. Cai ("Double indemnity", "The postman Always Rings Twice"). CHEATIN' é a minha sétima longa de animação.

O Crowdfunding vai com 54 dos 75 mil dólares precisos.

E hoje os primeiros cinco minutos do filme foram colocados online.

4 de janeiro de 2013

Tenham um videoclip feito em 48h

Uma bela oportunidade para bandas verem o seu trabalho divulgado. Uma excelente oportunidade para cineastas se divertirem.


48h Hour Film Festival para videoclips!

Pela primeira vez em Portugal, em Abril/Maio de 2013, desafiamos os cineastas e bandas portugueses a fazer um VideoClip musical em apenas 48 horas.
Descrição
O 48 Hour Music Video Project é um concurso criativo em que bandas/músicos fazem equipa com cineastas para criar um Videoclip de Música em apenas 48 horas. É um grande desafio de criatividade e cooperação.

Qualquer pessoa pode participar! Às bandas/músicos será pedida uma música original que tenham escrito e gravado (não se aceitam covers). Músicos de todas os géneros são bem vindos: bandas rock ou pop, cantores escritores de música, fadistas, rappers, etc.

No evento de arranque (Kick-Off), as equipas de filmagem vão retirar (por sorteio) 2 bandas e escolher uma delas com quem trabalhar. Cada banda deve fornecer uma gravação de uma música original, com boa qualidade. Os parceiros têm então 48 horas para conceptualizar, filmar e editar o Videoclip musical.

Os vídeos, uma vez terminados, devem ser entregues no local de drop-off, no Domingo até às 19h30 para serem elegíveis para os prémios.

Todos os Music Videos completados (tanto dentro como fora do tempo) serão exibidos no grande ecrãn para um público de cineastas, bandas, fãs, atores, amigos e família! O público, tal como no 48 Hour Film Project, pode votar no seu Videoclip favorito.

"Safe House" por Nuno Reis

O descontentamento com o emprego é um mal mais frequente do que se pode imaginar. Milhões de pessoas anseiam por uma oportunidade de mudar, que por vezes se limita à coragem de deixar aquilo que se tem, nem sempre tão mau como se diz que é. Quando se procuram postos onde a idade não ajuda, como desporto ou as que dependem da beleza, a urgência é ainda maior. Um ramo do qual não se fala e é igualmente mau é o dos serviços secretos. Costumamos ver que as mulheres são jovens (Nikita, Sydney Bristow, Annie Walker) e os homens um bocado entradotes (Ethan Hunt, James Bond), mas isso tem mais a ver com os gostos do público do que com a realidade. Qualquer um que tenha como profissão passear pelo mundo e conhecer gente interessante, quer começar o mais depressa possível. Nem que seja simplesmente para ganhar currículo e mudar de escalão para coisas ainda melhores.

Matt Weston (Ryan Reynolds) está na CIA. O que parecia um emprego de sonho depressa começou a esfumar-se pois tem como única missão guardar uma casa na Cidade do Cabo. Quando recebe visitas a transportar um perigoso prisioneiro (Denzel Washington) para interrogatório, vibra com a novidade e emoção, mas quando atrás deles surge um exército armado, vai ter de fugir para viver, e arrastar com ele um prisioneiro que não quer ser salvo. Oficialmente não pode pedir ajuda. Terá astúcia e sorte para escapar aos inimigos e para controlar o mais perigoso agente que alguma vez traiu a CIA?

Ryan Reynolds tem sido promovido como o menino bonito de Hollywood. No entanto, e mesmo louvando a variedade de género e produtoras com que trabalha, ainda não teve nenhum trabalho realmente convincente. Aquele em que mais lhe aplaudiram o desempenho foi o discreto "Buried", e onde mais visibilidade teve foi "Green Lantern". Em "Safe House" tinha a concorrência directa de Denzel Washington que costuma ofuscar os demais actores. A verdade é que há um equilíbrio. Reynolds tem mais tempo em ecrã para cativar os espectadores. Washington aparece de vez em quando para desestabilizar. Por entre tanta e tão variada acção (temos perseguições a pé, de carro, tiroteios, explosões, romances, execuções, traições, momentos de comédia...) o que menos importa é a interpretação de cada um.

Chegamos ao fim sabendo que Weston é um agente capaz de se desenrascar e que se cumprisse melhor a regra de não se envolver sentimentalmente tinha melhor futuro.
Cumpre plenamente filme pipoca. Tenta ser mais do que isso nos vinte minutos finais - até para justificar os nomes sonantes que estava a subaproveitar - mas torna-se demasiado confuso. Tirando uma ou outra cena, é esquecido muito depressa.
Safe HouseTítulo Original: "Safe House" (EUA, África do Sul, 2012)
Realização: Daniel Espinosa
Argumento: David Guggenheim
Intérpretes: Ryan Reynolds, Denzel Washington, Vera Farmiga, Brendan Gleeson, Sam Shepard, Nora Arnezeder
Música: Ramin Djawadi
Fotografia: Oliver Wood
Género: Acção, Crime, Mistério, Thriller
Duração: 115 min.
Sítio Oficial: http://www.nooneissafe.com/

3 de janeiro de 2013

"Man on a Ledge" por Nuno Reis

O que é preciso para dar o golpe perfeito? Até onde estão dispostos a ir?

O cinema tem sido pródigo em assaltos brilhantes. O último grande exemplo foi “Inside Man”, mas o heist é um estilo que ninguém se importa de tentar. A proposta de Asger Leth foi uma das melhor sucedidas no ano passado. Combina o sofrimento de um homem acusado de um crime que não cometeu, a angústia de quem quer roubar esse mesmo item, e o medo da suposta vítima em ser realmente roubada. Pelo meio há a polícia, que concentra a investigação numa pessoa, quando devia estar alerta para o verdadeiro criminoso.

Vertigens. Nem toda a gente as sofre na forma mais conhecida, mas absolutamente ninguém se sente confortável com a permanência num parapeito estreito num vigésimo primeiro andar. Pelo menos não alguém que queira viver. Jack Cassidy está ali porque quer provar algo. Quer provar à polícia que não roubou aquele diamante. Quer roubá-lo. E quer usar a população de Nova Iorque como testemunha de que não o fez. A questão é como o conseguirá fazer ali no alto, à vista de todos. Especialmente se nunca o fez. Se a segurança aumentou desde o roubo original. Se o diamante realmente foi roubado e não está lá...

Filme com uma ideia base bastante comum, tem um elenco acima da média. Sam Worthington é o protagonista, Jamie Bell (sim, o de Billy Elliot e Tintin) é o irmão dele, Genesis Rodriguez é a namorada do segundo, Ed Harris o alvo, Elizabeth Banks a negociadora, Antonhy Mackie o ex-parceiro, e ainda há cameos de Kyra Sedgwick, Edward Burns e alguns outros.
Não é um grande filme de acção. É algo como um faça-você-mesmo de “Missão impossível”, com a mesma dose de sorte (excessiva), bastante menos equipamento (ainda mais do que aquilo que um comum mortal encontra em lojas de conveniência) e muita vontade de o fazer, ou talvez morrer tentando. Com o tempo aprendemos a gostar destes exageros que fazem com que os bons consigam levar a sua avante e pelo menos não é uma simples sucesão de eventos improváveis/impossíveis. Nota-se que houve um esforço em dar profundidade às personagens, dar-lhes um passado e histórias secundárias para animar a narrativa. Será do agrado de quem procura um heist moderno, mas não tem o suficiente para cativar novos públicos. Pode-se dizer que não compromete. Hoje em dia isso quase é bom que chegue.
Man on a LedgeTítulo Original: "Man on a Ledge" (EUA, 2012)
Realização: Asger Leth
Argumento: Pablo F. Fenjves
Intérpretes: Sam Worthinton, Elizabeth Banks, Jamie Bell, Genesis Rodriguez, Ed Harris
Música: Henry Jackman
Fotografia: Paul Cameron
Género: Acção, Crime, Thriller
Duração: 102 min.
Sítio Oficial: http://www.manonaledge.com/

2 de janeiro de 2013

"The Double" por Nuno Reis

Todas as semanas surge um trailer demasiado revelador. Seja uma comédia onde antecipam todas as piadas, um filme de acção onde mostram todos os efeitos especiais, ou um thriller onde acabam com qualquer mistério. Um dos mais divertidos passatempos que se pode ter numa sala antes da projecção, é medir que percentagem do filme conhecido está a ser exposta. Ou a que ponto é esse teaser fiel à longa que representa. Pois mesmo quem não pratica essa actividade (só recomendável a quem vê tudo o que chega às salas) deve ter ficado chocado quando o trailer de "The Double" revelou que o protagonista Richard Gere, além de investigador, é o assassino que a CIA quer capturar. Zangados com o trailer por dizer isso? Zangados comigo por o revelar sem pré-aviso de spoiler? Foi de propósito, pois o filme é muito mais do que um banal twist.

No tempo da Guerra Fria, agentes como Paul Sheperdson travavam confrontos no dia-a-dia, eliminando de forma discreta alvos seleccionados e os agentes do inimigo. Sheperdson reformou-se com uma carreira exemplar, tendo como única mancha o fracasso na captura de alguém conhecido como Cassius. Se se reformou, foi por acreditar na morte do seu némesis, mas a CIA associa a morte de um senador ao Modus Operandi dessa figura. Chamado para analisar as provas, vai conhecer um jovem agente também obcecado por Cassius e juntos, um dizendo que Cassius morreu e outro dizendo que está vivo, vão tirar a limpo o que se passou.

É verdade que no trailer se vê Gere a matar impunemente. É um assassino. Mas será ele Cassius? Ao longo do filme vão surgindo várias provas que podem ser interpretadas como tal. No entanto sabemos que não podemos confiar ou acreditar em espiões. Nada é o que parece. Cassius ou não Cassius, a interpretação de Gere está muito boa e Grace (Ben Geary, o tal jovem da CIA) tem momentos bons.
É um filme com muita intriga, onde realização, música e edição jogam a favor da acção. Os momentos mortos da investigação, como a vida familiar de Geary, supostamente contribuiriam para mostrar uma faceta humana, mas depressa se revelam um remendo para compensar a falta de mais adrenalina. Essa é a maior falha.
É um filme interessante ao qual se deve dar uma oportunidade. Depois daquele tremendo spoiler as expectativas já devem estar baixas, por isso só pode impressionar positivamente.
The DoubleTítulo Original: "The Double" (EUA, 2011)
Realização: Michael Brandt
Argumento: Derek Haas, Michael Brandt
Intérpretes: Ricahrd Gere, Topher Grace, Martin Sheen, Odette Yustman
Música: John Debney
Fotografia: Jeffrey L. Kimball
Género: Acção, Crime, Drama, Mistério, Thriller
Duração: 98 min.
Sítio Oficial: http://www.thedoublemovie.com/

"Cave of Forgotten Dreams" por Nuno Reis

O mundo perdido de Chauvet

Werner Herzog é um documentarista. Pode ser um director galardoado por obras de ficção em cinema e por grandes óperas em palco, mas é no contacto com a pura das realidades que se mexe mais confortavelmente. Claro que além de realizador é uma pessoa singular, quase uma lenda de tantas histórias estranhas que o rodeiam. Por tudo isso não é de estranhar que tenha sido esta figura a escolhida para documentar as inacessíveis grutas francesas de Chauvet, detentoras das mais antigas gravuras rupestres da humanidade.

Logo ao início somos prevenidos que a captação de imagem foi feita com o mínimo de material possível. Ou melhor, com o máximo de material permitido. Portanto, esqueçam os planos muito trabalhados, a fotografia excelente e a selecção entre centenas de horas de filmagem para fazer 90 minutos de filme. Vai ter um aspecto amador, quase como um vídeo de férias que se faz com a família ao visitar uma qualquer caverna com gravuras. Isso é desculpável, pois de outra forma não veríamos nada.
No entanto a mini-equipa de cinema que parte nesta exploração inclui Herzog. Os seus comentários não são para ignorar. Enquanto nos revela pinturas mais do que antigas e a história da caverna, ou melhor, a História na caverna, vai deixando opiniões sobre as pinturas de proto-cinema, sobre as pequenas pegadas, sobre cada um dos vestígios de Humanidade que encontra pelo caminho.
Nem é um discurso inocente de um turista perdido num local desconhecido, nem é um arqueólogo ou historiador a falar da sua paixão com ignorantes. É um pensador a exprimir as suas ideias, a fantasiar sobre o que eramos e aquilo em que nos tornamos. Os pontos em que divergimos e aqueles em que continuamos iguais a cem mil anos antes.

Não é um filme para qualquer um. Nâo é para quem gosta de documentários nem para quem gosta dos videos das férias. É para quem gosta de explorar a nossa geologia e história ouvindo - sem interromper - um guia que partilhe dessa paixão. E esta viagem única que temos o privilégio de acompanhar, pode ser repetida vezes sem fim.
Cave of Forgotten DreamsTítulo Original: "Cave of Forgotten Dreams" (Alemanha, Canadá, EUA, França, Reino Unido, 2010)
Realização: Werner Herzog
Argumento: Werner Herzog (com base num artigo de Judith Thurman)
Intérpretes: Werner Herzog, Jean Clottes, Julien Monney, Jean-Michel Geneste, Michel Philippe
Música: Ernst Reijseger
Fotografia: Peter Zeitlinger
Género: Documentário
Duração: 90 min.
Sítio Oficial: http://www.caveofforgottendreams.co.uk/

1 de janeiro de 2013

"Lawless" por Nuno Reis

Forrest Bondurant: I'm a Bondurant. We don't lay down for nobody.

A proibição de vender álcool vai surgindo de vez em quando nos Estados Unidos. O período mais famoso foi a Lei Seca que reinou nos anos 1920. Começou no final da década anterior de forma a combater o poder da cerveja alemã, esó terminou na década de 1930 quando o governo percebeu que enquanto esse comércio estivesse nas mãos dos criminosos estaria a perder muitas receitas fiscais. Enquanto a maioria dos filmes se concentra nos grandes nomes como Al Capone e nas grandes cidades como Chicago, “Lawless” prefere seguir outro rumo e falar dos irmãos Bondurant. Quem? Os maiores fabricantes da sua terra.

Numa época em que todos eram ou fabricantes/distribuidores, ou consumidores, o álcool era um dos segredos mais mal guardados de Franklin, Virginia. Quando chega um novo procurador com a missão de destruir o álcool, todos esses pequeno negócios são fechados um a um. Todos excepto o dos Bondurant, três irmãos que tinham a fama de imortais. Mas nem só do álcool se construiu a lenda dessa família. Este filme vai narrar todos os aspectos dessa história que tem jovens apaixonados, gananciosos e com uma terrível propensão para fazer o correcto.

O elenco reunido é de enorme qualidade. Tom Hardy, Shia LaBeouf, Jessica Chastain, Guy Pearce,, Mia Wasikowska, Jason Clarke e uma pequena participação de Gary Oldman. Se da maioria deles uma boa interpretação não é novidade (Clarke é o único que ainda não é famoso), a grande surpresa será que mesmo LaBeouf encaixa na personagem sem a tornar em algo cómico. O seu Jack é a personagem principal. São principalmente os seus erros de jovem que colocam a família em problemas, mas é também a sua inocência e imaginação que os ajuda muitas vezes. Sem revelar mais do filme, tem bastante drama, algum romance, mais violência do que seria expectável (pode ser um pouco perturbador) e o inevitável tiroteio. Ah, e um pouco de alcatrão com penas para quem andava esquecido de como isso era. Incrível que há menos de cem anos ainda houvesse esta mentalidade de farwest sem lei!

É um filme mais intenso do que o esperado. Tem boas interpretações e mostra uma visão diferente do que se costuma ver. Não só mais rural, como mais humana, revelando o lado bom dos criminosos, as suas fragilidades como pessoas. Demora demasiado nessa vertente menos interessante, o que torna o visionamento algo complicado a quem não estiver apaixonado pela época, mas as interpretações são tão cativantes que depressa se entra no ritmo. Merece ser visto com a disposição certa.

Atentem na música de Nick Cave que também foi argumentista.
LawlessTítulo Original: "Lawless" (EUA, 2012)
Realização: John Hillcoat
Argumento: Nick Cave (baseado no livro de Matt Bondurant)
Intérpretes: Shia LaBeouf, Tom Hardy, Jason Clarke, Guy Pearce, Jessica Chastain, Mia Wasikowska, Gary Oldman
Música: Nick Cave, Warren Ellis
Fotografia: Benoît Delhomme
Género: Crime, Drama
Duração: 116 min.
Sítio Oficial: http://lawless-film.com

"Conviction" por Nuno Reis

Hilary Swank construiu uma carreira sólida por escolher muito bem as personagens que fazia. Desde "Boys Don’t Cry" (1998) até hoje, apareceu em menos de vinte filmes. A maioria deles são conhecidos e muitos de reconhecida qualidade. Em 2009 deu um passo em falso. Aquele que era apontado como próxima nomeação a Oscar, "Amelia", foi um directo para video em muitos mercados. Seguiu-se um trio de filmes. "New Year's Eve", comédia romântica nomeada a 5 Razzies, "The Resident", thriller da Hammer directo para video, e este "Conviction", um drama baseado em factos reais que só foi feito por sorte. Sorte pode ser um termo exagerado, mas a corrida aos direitos de adaptação começou em 2002, em 2004 perdeu o apoio e em 2007 surgiu uma oportunidade de o fazer independente. Ora como só saiu em 2010....

O mote do filme é a fragilidade dos critérios usados pela justiça. Kenny é acusado de um crime e devido ao seu historial marginal, e por vezes violento, era um bom candidato. Ele nega totalmente os factos, repudia quem tenha cometido tal atrocidade, mas as testemunhas apontam para ele e não há nada que diga o contrário. A sua única esperança é a irmã, Betty Anne. O que pode uma só pessoa sem estudos fazer contra o sistema? Nada. Mas se estudar direito e seguir advocacia, pode ser que tenha um outro prisma do caso, começará a perceber o que dizem e talvez um dia consiga refutar as acusações. Só que isso vai demorar anos, aguentará o irmão tanto tempo na prisão sabendo que está inocente e tem todo o sistema contra ele? E entre família e trabalho terá Betty Anne hipóteses sequer de concluir o curso?


Vamos acompanhar duas lutas na primeira pessoa. A que vemos é a de Betty Anne, a sacrificar a vida pelo irmão em quem não pode deixar de acreditar. A que imaginamos é a de Kenny, que o sistema quer destruir. Ambas duram vários anos, sofrem revezes que derrubariam outros mais fortes.
Num filme isto seria uma história banal. Como é baseado em factos reais só podemos aplaudir quem teve esta dedicação. Mas qual a utilidade de filmar mais um caso entre tantos que existem? No fundo o que importa não é dar a conhecer um caso mal resolvido, ou limpar o nome de pessoas que já morreram. É mostrar ao máximo número de pessoas possível que não deixem de acreditar. Podem perder, mas pelo menos ficam de a consciência tranquila de terem feito tudo o que era possível.

Este tipo de história depende muito do elenco. As limitações orçamentais não se notaram pois a Hilary Swank e Sam Rockwell, os irmãos, juntaram-se Minnie Driver, Melissa Leo, Juliette Lewis e Peter Gallagher. Há um bom esforço de caracterização para os levar dos 20 aos 40. Faltaram diálogos mais marcantes para que deixassem uma impressão.
Nota-se a experiência de Tony Goldwin em televisão (especialmente em séries policiais) pois em vez de deixar as personagens crescerem ao longo do filme, como que as corta a meio para que recomecem no próximo acto. Se no seu trabalho anterior para cinema ("The Last Kiss") isso não se notava por a própria narrativa se prestar a isso, aqui já reduz valor ao filme que mais parece uma mini-série onde altos e baixos regulares fazem o espectador querer voltar no dia seguinte.
A espreitar para ver mais uma grande performance de Swank e lamentar não ver mais uma grande performance de Rockwell.
ConvictionTítulo Original: "Conviction" (EUA, 2010)
Realização: Tony Goldwyn
Argumento: Pamela Gray
Intérpretes: Hilary Swank, Sam Rockwell, Minnie Driver, Melissa Leo, Peter Gallagher
Música: Paul Cantelon
Fotografia: Adriano Goldman
Género: Biografia, Drama
Duração: 107 min.
Sítio Oficial: http://www.foxsearchlight.com/conviction/