31 de maio de 2011
"Don't Drink the Water" por Nuno Reis
Em 1969 uma peça escrita por Allen foi levada ao cinema. Era uma comédia da Guerra Fria sobre problemas diplomáticos. O filme não foi memorável e Allen deve ter ficado descontente, porque em 1994 o refez. Os remakes raramente são aplaudidos, mas um argumento pródigo que volta para o pai deve ser celebrado.
O Embaixador Magee foi chamado de volta aos EUA devido às eminentes eleições. Quando vai nomear o seu substituto temporário decide arriscar e em vez de deixar a tarefa ao competente Mr. Kilroy, vai confiar no seu irresponsável filho Axel que tem boas intenções, mas nenhum jeito. A única tarefa que teria em mãos seria a recepção a um Emir. Até que os Hollander, uma estranha família americana, causam um incidente internacional ao tirarem inocentes fotografias turísticas e se refugiam na embaixada. À medida que o Embaixador prolonga a ausência, os Hollander vão entrando em desespero e levando a paciência dos outros para mínimos históricos. Na eminência de uma catástrofe diplomática que se poderá tornar bélica, Axel terá de usar toda a sua imaginação para os tirar do país vivos.
Independentemente do insucesso da primeira versão, esta tinha tudo para funcionar. Como Axel tem um célebre Alex, Michael J. Fox, e os Hollander são Woody Allen e Julie Kavner, uma dupla que para fazer de casal cómico não tem paralelo. Mayim Bialik é a filha deles e a parte mais séria do filme. O eminente casamento a que poderá não chegar a tempo é uma preocupação, mas tirando isso consegue pensar nos outros e estar atenta ao que a rodeia.
A trama desenvolve-se com um bom ritmo e tem o equilíbrio certo entre comédia e intriga. O humor é rápido e arrojado, tornando a faceta política um mero detalhe contextual. Um quarto de século depois da peça a história continuava emocionante e muito mais interessante do que a maioria dos thrillers políticos que as pipocas trariam na década seguinte.
De forma resumida é "mais do mesmo" de Allen, com um grande Michael J. Fox a fazer o que faz melhor e antecipando o papel político-humorístico de "Spin City".
O Embaixador Magee foi chamado de volta aos EUA devido às eminentes eleições. Quando vai nomear o seu substituto temporário decide arriscar e em vez de deixar a tarefa ao competente Mr. Kilroy, vai confiar no seu irresponsável filho Axel que tem boas intenções, mas nenhum jeito. A única tarefa que teria em mãos seria a recepção a um Emir. Até que os Hollander, uma estranha família americana, causam um incidente internacional ao tirarem inocentes fotografias turísticas e se refugiam na embaixada. À medida que o Embaixador prolonga a ausência, os Hollander vão entrando em desespero e levando a paciência dos outros para mínimos históricos. Na eminência de uma catástrofe diplomática que se poderá tornar bélica, Axel terá de usar toda a sua imaginação para os tirar do país vivos.
Independentemente do insucesso da primeira versão, esta tinha tudo para funcionar. Como Axel tem um célebre Alex, Michael J. Fox, e os Hollander são Woody Allen e Julie Kavner, uma dupla que para fazer de casal cómico não tem paralelo. Mayim Bialik é a filha deles e a parte mais séria do filme. O eminente casamento a que poderá não chegar a tempo é uma preocupação, mas tirando isso consegue pensar nos outros e estar atenta ao que a rodeia.
A trama desenvolve-se com um bom ritmo e tem o equilíbrio certo entre comédia e intriga. O humor é rápido e arrojado, tornando a faceta política um mero detalhe contextual. Um quarto de século depois da peça a história continuava emocionante e muito mais interessante do que a maioria dos thrillers políticos que as pipocas trariam na década seguinte.
De forma resumida é "mais do mesmo" de Allen, com um grande Michael J. Fox a fazer o que faz melhor e antecipando o papel político-humorístico de "Spin City".
Título Original: "Don't Drink the Water" (EUA, 1994) Realização: Woody Allen Argumento: Woody Allen (baseado numa peça do próprio) Intérpretes: Michael J. Fox, Woody Allen, Julie Kavner, Mayim Bialik, Edward Herrmann, Dom DeLuise Fotografia: Carlo Di Palma Género: Comédia Duração: 100 min. |
"Krull" por Nuno Reis
Os anos 80 foram abundantes em fantástico. Um sub-género que resultou bastante bem foi o cruzamento de ambientes medievais e ficção-científica e entre esses um que marcou especialmente foi "Krull".
O planeta Krull foi invadido por uma espécie hostil. Num esforço desesperado de combater o invasor os reis das duas nações abdicam dos seus reinos a favor dos filhos que se deverão casar. Durante a cerimónia os slayers atacam o castelo e raptam a princesa. O príncipe terá de concentrar as forças do planeta, o que inclui recorrer a personagens míticas e objectos mágicos para expulsar os invasores, recuperar a miúda e ser feliz para sempre.
Há quase duas formas de ver o filme. Por um lado tem a componente medieval e de fantasia, onde se cruzam criaturas gigantescas e imaginárias. Aqui há muitas aventuras e combates através de diversas paisagens. Segundo um mito urbano este até seria o primeiro filme de uma colecção Dungeons and Dragons, apesar de oficialmente nunca ter pedido para usar esse título. Por outro lado há a parte alienígena. Os guerreiros são humanóides, mas o seu líder é uma besta sem forma fixa. A fortaleza móvel em que viajam é um labirinto espacial e visual de onde a princesa tenta inutilmente escapar. O príncipe não tem melhor sorte pois nem o mini-exército que forma parece capaz de resistir às armadilhas do inimigo e vão tombando um a um. Quanto às actuações a princesa (Lysette Anthony) que começa dinâmica e arrojada, revela-se mais uma boneca de porcelana que aguarda na torre pelo seu salvador. Em oposição o príncipe convencido (Ken Marshall) vai ganhando humildade e sentido de responsabilidade. Não havendo grandes actuações o melhor será ver o desempenho de uns jovens Liam Neeson e Robbie Coltrane como parte do grupo de ladrões.
Com quase trinta anos passados, este clássico já não é visto com o mesmo encanto. Os efeitos especiais ora são muito bons ou muito maus, e a história que desbravou caminho para muitos outros filmes nesta onda foi superada diversas vezes ao longo dos anos. O ciclope e a teia de aranha gigante não são convincentes, mas as ideias por trás desses seres eram boas se bem que demasiado sérias e mesmo obscuras para um filme que apontava para um público juvenil. Não fosse o medo de afugentar o público-alvo e talvez tivesse saído algo melhor desses dois.
As semelhanças com "Star Wars", o fenómeno do século, são imensas, mas é no entanto uma produção britânica de topo para a época (produção Broccoli) com uma grande banda sonora por James Horner ("Star Trek: The Wrath of Khan", "Braveheart", "Titanic"). Poderá não conquistar novos fãs, mas muitos dos antigos de certeza que vão remexer nas VHS à procura deste título para o rever novamente.
O planeta Krull foi invadido por uma espécie hostil. Num esforço desesperado de combater o invasor os reis das duas nações abdicam dos seus reinos a favor dos filhos que se deverão casar. Durante a cerimónia os slayers atacam o castelo e raptam a princesa. O príncipe terá de concentrar as forças do planeta, o que inclui recorrer a personagens míticas e objectos mágicos para expulsar os invasores, recuperar a miúda e ser feliz para sempre.
Há quase duas formas de ver o filme. Por um lado tem a componente medieval e de fantasia, onde se cruzam criaturas gigantescas e imaginárias. Aqui há muitas aventuras e combates através de diversas paisagens. Segundo um mito urbano este até seria o primeiro filme de uma colecção Dungeons and Dragons, apesar de oficialmente nunca ter pedido para usar esse título. Por outro lado há a parte alienígena. Os guerreiros são humanóides, mas o seu líder é uma besta sem forma fixa. A fortaleza móvel em que viajam é um labirinto espacial e visual de onde a princesa tenta inutilmente escapar. O príncipe não tem melhor sorte pois nem o mini-exército que forma parece capaz de resistir às armadilhas do inimigo e vão tombando um a um. Quanto às actuações a princesa (Lysette Anthony) que começa dinâmica e arrojada, revela-se mais uma boneca de porcelana que aguarda na torre pelo seu salvador. Em oposição o príncipe convencido (Ken Marshall) vai ganhando humildade e sentido de responsabilidade. Não havendo grandes actuações o melhor será ver o desempenho de uns jovens Liam Neeson e Robbie Coltrane como parte do grupo de ladrões.
Com quase trinta anos passados, este clássico já não é visto com o mesmo encanto. Os efeitos especiais ora são muito bons ou muito maus, e a história que desbravou caminho para muitos outros filmes nesta onda foi superada diversas vezes ao longo dos anos. O ciclope e a teia de aranha gigante não são convincentes, mas as ideias por trás desses seres eram boas se bem que demasiado sérias e mesmo obscuras para um filme que apontava para um público juvenil. Não fosse o medo de afugentar o público-alvo e talvez tivesse saído algo melhor desses dois.
As semelhanças com "Star Wars", o fenómeno do século, são imensas, mas é no entanto uma produção britânica de topo para a época (produção Broccoli) com uma grande banda sonora por James Horner ("Star Trek: The Wrath of Khan", "Braveheart", "Titanic"). Poderá não conquistar novos fãs, mas muitos dos antigos de certeza que vão remexer nas VHS à procura deste título para o rever novamente.
Título Original: "Krull" (Reino Unido, 1983) Realização: Peter Yates Argumento: Stanford Sherman Intérpretes: Ken Marshall, Lysette Anthony, Freddie Jones, Alun Armstrong, David Battley, Liam Neeson Música: James Horner Fotografia: Peter Suschitzky Género: Acção, Aventura, Fantasia, Ficção-Científica Duração: 121 min. |
30 de maio de 2011
Melhores Filmes: Sidney Lumet
O painel de cinéfilos Cinebulição em Maio deliberou sobre os melhores filmes do recentemente falecido Sidney Lumet.
A maior surpresa será "Before the Devil Knows You're Dead" num lugar cimeiro, mas no geral foi uma lista muito equilibrada e consensual.
O texto de "Network" foi publicado Sábado, outros se seguirão nas próximas semanas.
1. 12 Angry Men
2. Dog Day Afternoon
3. Network
4. Before the Devil Knows You're Dead
5. The Verdict
6. Serpico
7. Murder on the Orient Express
8. The Pawnbroker
9. Long Day's Journey Into Night
10. Fail-Safe
11. Running on Empty
12. Equus
13. The Hill
14. A Stranger Among Us
15. The Wiz
A maior surpresa será "Before the Devil Knows You're Dead" num lugar cimeiro, mas no geral foi uma lista muito equilibrada e consensual.
O texto de "Network" foi publicado Sábado, outros se seguirão nas próximas semanas.
1. 12 Angry Men
2. Dog Day Afternoon
3. Network
4. Before the Devil Knows You're Dead
5. The Verdict
6. Serpico
7. Murder on the Orient Express
8. The Pawnbroker
9. Long Day's Journey Into Night
10. Fail-Safe
11. Running on Empty
12. Equus
13. The Hill
14. A Stranger Among Us
15. The Wiz
"Bullets Over Broadway" por Nuno Reis
Sheldon Flender: I have never had a play produced. That's right. And I've written one play a year for the past twenty years.
David Shayne: Yes, but that's because you're a genius. And the proof is that both common people and intellectuals find your work completely incoherent. Means you're a genius.
Primeiro foi o Cinema na Rosa Púrpura. Depois a Rádio teve os seus dias. E finalmente a trilogia fica completa com uma homenagem ao teatro. Uma nova viagem no tempo leva-nos à era dourada da Broadway, os loucos anos 20. É nesse mundo que David, um jovem escritor, quer singrar. A peça que escreveu vai ser produzida por Nick Valenti, chefe da Máfia local, que como contrapartida quer a bimba da namorada Olive num papel importante. O dinheiro sujo permite a David contratar grandes estrelas como Helen Sinclair e Warner Purcell, mas aquela Olive é tão boa actriz como é inteligente, e não é nenhuma das duas. David vai ter de gerir o espectáculo e as vedetas, reescrever a peça, dar atenção à namorada e aturar o guarda-costas de Olive que, além de estar a assistir aos ensaios contrariado, é extremamente opinativo.
Mais uma vez Allen conseguiu. Conseguiu um elenco de topo onde todas as personagens estão muito bem entregues. Conseguiu musicar de forma a transportar-nos pelo canal auditivo para uma época setenta anos antes do filme. Conseguiu um argumento brilhante que começa frouxo e com apenas uma revelação desabrocha num dos melhores filmes que o cineasta nos trouxe.
No elenco o protagonismo teoricamente é de John Cusack, mas o filme está nas mãos dos secundários. Jim Broadbent está maravilhoso, Tracey Ullman divertidíssima, Jennifer Tilly irritante no ponto certo, e Dianne Wiest soberba. Joe Viterelli tem feito de mafioso desde sempre pelo que dispensa comentários, mas Chazz Palminteri foi uma descoberta. O actor tinha-se revelado no ano anterior através de um argumento escrito pelo próprio (e apadrinhado por De Niro) e aqui confirma o lugar na ribalta que o levará a fazer os mais variados papéis de italiano bom ou mau. Com todas estas estrelas Mary-Louise Parker fica um pouco apagada, é o que acontece quando a nossa personagem não é uma estrela de teatro num filme sobre teatro.
O retrato das estrelas e das suas manias é desconcertante. O actor com problemas de peso que não pára de comer. A actriz que arrasta sempre uma amostra de cão consigo e fala por e para ele. A candidata a actriz que só lá está por cunha e que envergonha todos. E finalmente a diva que a caminho dos 50 ainda se acha o maior sex symbol e se comporta como tal. “Don’t speak!” é a expressão que se imortalizou e o Oscar para Wiest (segunda nomeação e vitória em cinco filmes de Allen) foi muito bem entregue.
David Shayne: Yes, but that's because you're a genius. And the proof is that both common people and intellectuals find your work completely incoherent. Means you're a genius.
Primeiro foi o Cinema na Rosa Púrpura. Depois a Rádio teve os seus dias. E finalmente a trilogia fica completa com uma homenagem ao teatro. Uma nova viagem no tempo leva-nos à era dourada da Broadway, os loucos anos 20. É nesse mundo que David, um jovem escritor, quer singrar. A peça que escreveu vai ser produzida por Nick Valenti, chefe da Máfia local, que como contrapartida quer a bimba da namorada Olive num papel importante. O dinheiro sujo permite a David contratar grandes estrelas como Helen Sinclair e Warner Purcell, mas aquela Olive é tão boa actriz como é inteligente, e não é nenhuma das duas. David vai ter de gerir o espectáculo e as vedetas, reescrever a peça, dar atenção à namorada e aturar o guarda-costas de Olive que, além de estar a assistir aos ensaios contrariado, é extremamente opinativo.
Mais uma vez Allen conseguiu. Conseguiu um elenco de topo onde todas as personagens estão muito bem entregues. Conseguiu musicar de forma a transportar-nos pelo canal auditivo para uma época setenta anos antes do filme. Conseguiu um argumento brilhante que começa frouxo e com apenas uma revelação desabrocha num dos melhores filmes que o cineasta nos trouxe.
No elenco o protagonismo teoricamente é de John Cusack, mas o filme está nas mãos dos secundários. Jim Broadbent está maravilhoso, Tracey Ullman divertidíssima, Jennifer Tilly irritante no ponto certo, e Dianne Wiest soberba. Joe Viterelli tem feito de mafioso desde sempre pelo que dispensa comentários, mas Chazz Palminteri foi uma descoberta. O actor tinha-se revelado no ano anterior através de um argumento escrito pelo próprio (e apadrinhado por De Niro) e aqui confirma o lugar na ribalta que o levará a fazer os mais variados papéis de italiano bom ou mau. Com todas estas estrelas Mary-Louise Parker fica um pouco apagada, é o que acontece quando a nossa personagem não é uma estrela de teatro num filme sobre teatro.
O retrato das estrelas e das suas manias é desconcertante. O actor com problemas de peso que não pára de comer. A actriz que arrasta sempre uma amostra de cão consigo e fala por e para ele. A candidata a actriz que só lá está por cunha e que envergonha todos. E finalmente a diva que a caminho dos 50 ainda se acha o maior sex symbol e se comporta como tal. “Don’t speak!” é a expressão que se imortalizou e o Oscar para Wiest (segunda nomeação e vitória em cinco filmes de Allen) foi muito bem entregue.
Título Original: "Bullets Over Broadway" (EUA, 1994) Realização: Woody Allen Argumento: Woody Allen, Douglas McGrath Intérpretes: John Cusack, Dianne Wiest, Chazz Palminteri, Jennifer Tilly, Jim Broadbent, Tracey Ullman Fotografia: Carlo Di Palma Género: Comédia, Crime Duração: 98 min. |
"Young Einstein" por Nuno Reis
Não confundir com "Young Frankenstein"
Quando um tipo chamado Yahoo Serious co-escreve, realiza e protagoniza um filme sobre o jovem fruticultor tasmaniano Albert Einstein não se pode esperar nada sério. O problema é que esta proposta australiana de satirizar a ciência saiu um ano antes de "Bill and Ted Excelent Adventure" e por isso o público ainda não tinha os critérios mínimos de exigência definidos.
A família Einstein sempre plantou macieiras e essa fruta é o seu principal rendimento. Albert é um jovem sonhador que ao levar com uma maçã na cabeça começa a pensar de forma diferente.Quando diz ao pai que é um cientista este incumbe-o de uma missão fulcral: colocar bolhas na cerveja. Albert consegue e então parte para Sidney onde vai registar a patente das bolhas para ficarem ricos. Só que apesar do seu bom coração nem todos gostam dele e terá de enfrentar muitos desafios.
Entre os inventos de Einstein estão muitos de que é melhor nem falar, mas que são um sucesso entre os miúdos da vizinhança e os habitantes do "hotel" onde fixou residência.
Quem quiser ver um filme com gatinhos queridos, um ratinho de estimação, koalas e cangurus bebés pode espreitar este, mas eu que pensava ser impossível não se gostar de um filme com cangurus bebés começo a mudar de opinião. O problema é que quem escreveu isto não sabe nada de ciência e não se esforçou por saber. Se recorreu a consultores com habilitação científica é melhor que lhes retirem esse título pois o que se vê é uma atrocidade total.
Vendo isto sem a crítica científica tem alguns detalhes correctos do ponto de vista histórico como o emprego de Einstein no registo de patentes e o seu método extravagante pensar e descobrir. As personagens em torno dele são as óbvias da época em que se desenrola a história (Curie, Darwin, Edison, Freud, Kinsey, Lumiéres e Marconi) e estão reunidas numa Academia das Ciências que se reúne anualmente para premiar os melhores inventos. É triste quando um filme com boas intenções segue o caminho mais fácil.
É uma comédia que tenta ser delirante e não o é. Tenta fazer uma homenagem ao grande cientista, mas só consegue embaraçar. Quem procurar saber através do cinema o significado da vida, do universo e tudo mais, bem pode ter de esperar pelo minuto 42 porque a primeira meia hora é simplesmente para deitar fora. Depois do péssimo início o resto do filme nem parece mau, é só uma questão de ter má memória para apreciar o que for possível no meio de muito desperdício de filme. Nos pontos positivos a banda sonora foi muito bem escolhida (metade não é original) ou composta e os cenários criados são ricos em detalhes. A indústria da maçã bem que pode agradecer a publicidade descarada (a Tasmânia é a terra das maçãs) e, por falar em publicidade, para a cena de criação de espuma ser um magnífico anúncio cervejeiro só faltou o logotípo no copo.
Pessoas pelo mundo fora ficaram a saber que para ser genial basta estarmos atentos ao que nos rodeia, mas para tornar a verdadeira ciência acessível para todos, é mil vezes preferível um livro de Russell Stannard.
Quando um tipo chamado Yahoo Serious co-escreve, realiza e protagoniza um filme sobre o jovem fruticultor tasmaniano Albert Einstein não se pode esperar nada sério. O problema é que esta proposta australiana de satirizar a ciência saiu um ano antes de "Bill and Ted Excelent Adventure" e por isso o público ainda não tinha os critérios mínimos de exigência definidos.
A família Einstein sempre plantou macieiras e essa fruta é o seu principal rendimento. Albert é um jovem sonhador que ao levar com uma maçã na cabeça começa a pensar de forma diferente.Quando diz ao pai que é um cientista este incumbe-o de uma missão fulcral: colocar bolhas na cerveja. Albert consegue e então parte para Sidney onde vai registar a patente das bolhas para ficarem ricos. Só que apesar do seu bom coração nem todos gostam dele e terá de enfrentar muitos desafios.
Entre os inventos de Einstein estão muitos de que é melhor nem falar, mas que são um sucesso entre os miúdos da vizinhança e os habitantes do "hotel" onde fixou residência.
Quem quiser ver um filme com gatinhos queridos, um ratinho de estimação, koalas e cangurus bebés pode espreitar este, mas eu que pensava ser impossível não se gostar de um filme com cangurus bebés começo a mudar de opinião. O problema é que quem escreveu isto não sabe nada de ciência e não se esforçou por saber. Se recorreu a consultores com habilitação científica é melhor que lhes retirem esse título pois o que se vê é uma atrocidade total.
Vendo isto sem a crítica científica tem alguns detalhes correctos do ponto de vista histórico como o emprego de Einstein no registo de patentes e o seu método extravagante pensar e descobrir. As personagens em torno dele são as óbvias da época em que se desenrola a história (Curie, Darwin, Edison, Freud, Kinsey, Lumiéres e Marconi) e estão reunidas numa Academia das Ciências que se reúne anualmente para premiar os melhores inventos. É triste quando um filme com boas intenções segue o caminho mais fácil.
É uma comédia que tenta ser delirante e não o é. Tenta fazer uma homenagem ao grande cientista, mas só consegue embaraçar. Quem procurar saber através do cinema o significado da vida, do universo e tudo mais, bem pode ter de esperar pelo minuto 42 porque a primeira meia hora é simplesmente para deitar fora. Depois do péssimo início o resto do filme nem parece mau, é só uma questão de ter má memória para apreciar o que for possível no meio de muito desperdício de filme. Nos pontos positivos a banda sonora foi muito bem escolhida (metade não é original) ou composta e os cenários criados são ricos em detalhes. A indústria da maçã bem que pode agradecer a publicidade descarada (a Tasmânia é a terra das maçãs) e, por falar em publicidade, para a cena de criação de espuma ser um magnífico anúncio cervejeiro só faltou o logotípo no copo.
Pessoas pelo mundo fora ficaram a saber que para ser genial basta estarmos atentos ao que nos rodeia, mas para tornar a verdadeira ciência acessível para todos, é mil vezes preferível um livro de Russell Stannard.
Título Original: "Young Einstein" (Austrália, 1988) Realização: Yahoo Serious Argumento: Yahoo Serious, David Roach Intérpretes: Yahoo Serious, Odile Le Clezio, John Howard Música: Martin Armiger, William Motzing, Tommy Tycho Fotografia: Tommy Tycho Género: Comédia, Histórico Duração: 91 min. |
29 de maio de 2011
"Manhattan Murder Mystery" por Nuno Reis
Terminando a série de filmes com Mia Farrow, Allen regressou às origens. O tema ainda é o mistério que se começava a tormar cada vez mais frequente. Nos actores Diane Keaton reentrou como protagonista fazendo par com Allen e os secundários - Angelica Huston e Alan Alda - foram importados do grandioso “Crimes and Misdemeanours”. E é incrível como saiu um filme tão completo numa fase que teoricamente seria complicada devido às mudanças na vida pessoal. Sorte do espectador porque a ideia de haver um crime veio do argumento original de “Annie Hall” e devem ser Annie e Alvy a resolvê-lo.
Os Lipton são um casal de meia idade. Carol e Larry envelheceram acostumados um ao outro e há uma enorme empatia entre eles, apesar da diferença de mentalidade. Começam a falar com um casal vizinho no elevador e quando acham que têm novos amigos a senhora morre. Ao sentimento de perda junta-se a suspeita sobre o viúvo que parece estar a lidar demasiado bem com a perda. Enquanto Carol investiga a fundo na companhia do amigo Ted, Larry, um editor, prefere manter-se longe de confusões e passar tempo com a fascinante escritora Marcia Fox. As mentes criativas de Ted e Marcia levam Carol a acreditar que as suas suspeitas podem ter fundamento e vai-se aventurar bisbilhotando a vida do potencial assassino.
O tema é o envelhecimento e a necessidade de adrenalina que causa uma enorme vontade de arriscar, de fazer do mundo um lugar melhor, de viver ao máximo. O filme é todo de Keaton - que para variar é a neurótica - e funciona como um pedido de desculpas por lhe ter dado tão pouco trabalho na década anterior. Já o trabalho a quatro não parece ser uma primeira vez (e última) de tão naturais que são. Mérito para Allen que é um mestre na criação de diálogos e direcção de actores. Ainda mais incrível parece depois de ler entrevistas de Zach Braff (faz de filho deles) ao dizer que a maioria dos diálogos foram improvisados. Isto é arte.
O argumento está repleto de situações sobre o conforto do casamento, com alguns saudáveis ciúmes, e a parte policial é uma enorme surpresa. Porque depressa a comédia se torna apenas um acessório, parte de um empolgante thriller. Quanto às homenagens Allen é maior do que alguma vez foi. Pelas localizações (refiro-me à cena num armazém isolado) faz lembrar “Broadway Danny Rose” embora inverta as importâncias da comédia e da acção. As personagens assistem a Resnais e Wilder. O filme tem referências escondidas a Hitchcock (“Rear Window” e “Vertigo”) e uma cena roubada ao fenómeno da época “The Silence of the Lambs”. Tirando isso diz sempre onde vai buscar a inspiração, em seguida aplica a passagem roubada do livro ou filme e nem por um instante perde encanto. Culmina quando exibe a cena original de Orson Welles e a sua lado a lado num cinema. Para se equiparar a todos estes génios tem de se ter o ego muito elevado. E a melhor parte é que tem razão.
Os Lipton são um casal de meia idade. Carol e Larry envelheceram acostumados um ao outro e há uma enorme empatia entre eles, apesar da diferença de mentalidade. Começam a falar com um casal vizinho no elevador e quando acham que têm novos amigos a senhora morre. Ao sentimento de perda junta-se a suspeita sobre o viúvo que parece estar a lidar demasiado bem com a perda. Enquanto Carol investiga a fundo na companhia do amigo Ted, Larry, um editor, prefere manter-se longe de confusões e passar tempo com a fascinante escritora Marcia Fox. As mentes criativas de Ted e Marcia levam Carol a acreditar que as suas suspeitas podem ter fundamento e vai-se aventurar bisbilhotando a vida do potencial assassino.
O tema é o envelhecimento e a necessidade de adrenalina que causa uma enorme vontade de arriscar, de fazer do mundo um lugar melhor, de viver ao máximo. O filme é todo de Keaton - que para variar é a neurótica - e funciona como um pedido de desculpas por lhe ter dado tão pouco trabalho na década anterior. Já o trabalho a quatro não parece ser uma primeira vez (e última) de tão naturais que são. Mérito para Allen que é um mestre na criação de diálogos e direcção de actores. Ainda mais incrível parece depois de ler entrevistas de Zach Braff (faz de filho deles) ao dizer que a maioria dos diálogos foram improvisados. Isto é arte.
O argumento está repleto de situações sobre o conforto do casamento, com alguns saudáveis ciúmes, e a parte policial é uma enorme surpresa. Porque depressa a comédia se torna apenas um acessório, parte de um empolgante thriller. Quanto às homenagens Allen é maior do que alguma vez foi. Pelas localizações (refiro-me à cena num armazém isolado) faz lembrar “Broadway Danny Rose” embora inverta as importâncias da comédia e da acção. As personagens assistem a Resnais e Wilder. O filme tem referências escondidas a Hitchcock (“Rear Window” e “Vertigo”) e uma cena roubada ao fenómeno da época “The Silence of the Lambs”. Tirando isso diz sempre onde vai buscar a inspiração, em seguida aplica a passagem roubada do livro ou filme e nem por um instante perde encanto. Culmina quando exibe a cena original de Orson Welles e a sua lado a lado num cinema. Para se equiparar a todos estes génios tem de se ter o ego muito elevado. E a melhor parte é que tem razão.
Título Original: "Manhattan Murder Mystery" (EUA, 1993) Realização: Woody Allen Argumento: Woody Allen Intérpretes: Diane Keaton, Woody Allen, Alan Alda, Anjelica Huston, Jerry Adler Música: Fotografia: Carlo Di Palma Género: Comédia, Mistério Duração: 104 min. |
28 de maio de 2011
"Network" por Nuno Reis
Crise financeira. O petróleo a subir. Terroristas nas notícias todas as semanas. Alienação de capitais para o estrangeiro. Televisão de lixo. Não falo de 2011, mas de 1973. Isto é "Network" (1976) o profético filme de Sidnet Lumet sobre um hipotético quarto canal chamado UBS, que desenhou as linhas para o que seria a filosofia do verdadeiro quarto canal (Fox) criado em 1987.
Howard Beale é um pivot televisivo. Devido às baixas audiências demitem-no o que lhe causa um colapso nervoso. Ao anunciar a sua saída em directo começa a falar de suicídio e é retirado à força do ar. No dia seguinte vai-se retractar e faz um discurso ainda mais inflamado. Depressa tem um programa só seu para ser profético e maldizente. Mas mais do que um filme sobre um homem louco, é uma poderosa caricatura dos bastidores televisivos e dos interesses comerciais que se sobrepõem à necessidade de informar com qualidade.
O que são as notícias? Nas palavras de Diane Christensen são apenas lixo e ela pretende ser arrojada e torná-las em lixo televisivo. "I watched your 6 o'clock news today; it's straight tabloid. You had a minute and a half of that lady riding a bike naked in Central Park; on the other hand, you had less than a minute of hard national and international news. It was all sex, scandal, brutal crime, sports, children with incurable diseases, and lost puppies. So, I don't think I'll listen to any protestations of high standards of journalism when you're right down on the streets soliciting audiences like the rest of us. Look, all I'm saying is if you're going to hustle, at least do it right." Este filme combina a crítica ao negócio com o retrato social.
Um grandioso elenco (cinco deles foram nomeados para Oscares, um feito inédito) dá vida a pessoas dos mais variados géneros, apenas com a televisão em comum. Max Schumacher (William Holden) é o centro. O chefe da direcção noticiosa é o único amigo de Beale e tenta protegê-lo do aproveitamento mediatico. Além de ser um veterano da TV é a única personagem com sentimentos num meio onde apenas o share importa. Os restantes - grandes performances de Faye Dunaway, Robert Duvall, Ned Beatty - vivem obcecados pelos números e não são humanos, são meras peças do monstro sem rosto. Num mundo só seu vive Howard Beale (Peter Finch) que prega a desgraça e dirá muitas verdades inconvenientes aos tele-espectadores do programa e aos espectadores do filme. As papas na língua são para quem ainda tem algo a perder e o colérico Howard já não tem nada, nem sequer a sanidade. Contudo, no meio da desilusão pela vida, diz coisas acertadas sobre a sociedade, política e economia, factos que o público geral só três décadas depois percebeu. O mundo precisa de uma voz como Howard Beale, e precisa o mais depressa possível. Os tempos mudaram e a televisão não tem tanta força manipuladora como dantes, mas a existir precisaria de uma consciência, alguém com o alcance de um Twitter ou Facebook e o conhecimento de uma Wikileaks. Alguém capaz de mobilizar o povo contra o que está errado e causar uma mudança radical em 24 horas.
Ao longo de duas horas acompanhamos um dos melhores argumentos jamais escritos. Sejam frases com meia dúzia de palavras ou discursos de cinco minutos, o que é dito pelas pessoas da televisão fica na memória. Infelizmente por ser tão verdade é um filme que dificilmente se conseguirá ver em TV pelo que a compra é necessária (e justificável pois será visto várias vezes).
Quem não viu o filme é favor fazê-lo perto de uma janela, porque sensivelmente a meio terão uma súbita vontade de pôr a cabeça de fora e dizer que não aguentam mais. "I'm as mad as hell, and I'm not going to take this anymore!" é um daqueles momentos cinematográficos que se for analisado a cru tem muito de implausível, mas visto com o coração é dos pontos mais altos da sétima arte. E acreditem que até ao final ainda consegue melhorar...
Howard Beale é um pivot televisivo. Devido às baixas audiências demitem-no o que lhe causa um colapso nervoso. Ao anunciar a sua saída em directo começa a falar de suicídio e é retirado à força do ar. No dia seguinte vai-se retractar e faz um discurso ainda mais inflamado. Depressa tem um programa só seu para ser profético e maldizente. Mas mais do que um filme sobre um homem louco, é uma poderosa caricatura dos bastidores televisivos e dos interesses comerciais que se sobrepõem à necessidade de informar com qualidade.
O que são as notícias? Nas palavras de Diane Christensen são apenas lixo e ela pretende ser arrojada e torná-las em lixo televisivo. "I watched your 6 o'clock news today; it's straight tabloid. You had a minute and a half of that lady riding a bike naked in Central Park; on the other hand, you had less than a minute of hard national and international news. It was all sex, scandal, brutal crime, sports, children with incurable diseases, and lost puppies. So, I don't think I'll listen to any protestations of high standards of journalism when you're right down on the streets soliciting audiences like the rest of us. Look, all I'm saying is if you're going to hustle, at least do it right." Este filme combina a crítica ao negócio com o retrato social.
Um grandioso elenco (cinco deles foram nomeados para Oscares, um feito inédito) dá vida a pessoas dos mais variados géneros, apenas com a televisão em comum. Max Schumacher (William Holden) é o centro. O chefe da direcção noticiosa é o único amigo de Beale e tenta protegê-lo do aproveitamento mediatico. Além de ser um veterano da TV é a única personagem com sentimentos num meio onde apenas o share importa. Os restantes - grandes performances de Faye Dunaway, Robert Duvall, Ned Beatty - vivem obcecados pelos números e não são humanos, são meras peças do monstro sem rosto. Num mundo só seu vive Howard Beale (Peter Finch) que prega a desgraça e dirá muitas verdades inconvenientes aos tele-espectadores do programa e aos espectadores do filme. As papas na língua são para quem ainda tem algo a perder e o colérico Howard já não tem nada, nem sequer a sanidade. Contudo, no meio da desilusão pela vida, diz coisas acertadas sobre a sociedade, política e economia, factos que o público geral só três décadas depois percebeu. O mundo precisa de uma voz como Howard Beale, e precisa o mais depressa possível. Os tempos mudaram e a televisão não tem tanta força manipuladora como dantes, mas a existir precisaria de uma consciência, alguém com o alcance de um Twitter ou Facebook e o conhecimento de uma Wikileaks. Alguém capaz de mobilizar o povo contra o que está errado e causar uma mudança radical em 24 horas.
Ao longo de duas horas acompanhamos um dos melhores argumentos jamais escritos. Sejam frases com meia dúzia de palavras ou discursos de cinco minutos, o que é dito pelas pessoas da televisão fica na memória. Infelizmente por ser tão verdade é um filme que dificilmente se conseguirá ver em TV pelo que a compra é necessária (e justificável pois será visto várias vezes).
Quem não viu o filme é favor fazê-lo perto de uma janela, porque sensivelmente a meio terão uma súbita vontade de pôr a cabeça de fora e dizer que não aguentam mais. "I'm as mad as hell, and I'm not going to take this anymore!" é um daqueles momentos cinematográficos que se for analisado a cru tem muito de implausível, mas visto com o coração é dos pontos mais altos da sétima arte. E acreditem que até ao final ainda consegue melhorar...
Título Original: "Network" (EUA, 1976) Realização: Sidney Lumet Argumento: Paddy Chayefsky Intérpretes: William Holden, Peter Finch, Faye Dunaway, Robert Duvall, Ned Beatty, Beatrice Straight Música: Elliot Lawrence Fotografia: Owen Roizman Género: Drama Duração: 121 min. |
Ballet ao vivo nos cinemas Zon Lusomundo
O Teatro Bolshoi e os Cinemas ZON Lusomundo exibem, no próximo Domingo, às 16h o último dos quatro espectáculos de ballet em directo de Moscovo, a “Coppelia”, nos Cinemas ZON Lusomundo do CascaiShopping, Dolce Vita Coimbra, NorteShopping, Vasco da Gama, Braga Parque, Dolce Vita Porto e Amoreiras Shopping. Os bilhetes têm um preço de 10 euros.
A época 2010- 2011 do Teatro Bolshoi iniciou-se dia 19 de Dezembro com a exibição do “Quebra-Nozes”, um clássico de Natal. Seguindo-se a exibição de “Giselle” em Janeiro, “D. Quixote”, em Março e agora dia 29 de Maio de “Coppelia”.
Estes eventos são filmados especialmente para o grande ecrã, com mais de 10 câmaras, em alta definição e som 5.1. São transmitidos por satélite e em simultâneo para mais de 12 países, entre eles: Portugal. Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha, Bélgica, Dinamarca, Espanha, Holanda, Itália, Polónia, República Checa e Suíça. Em Portugal a transmissão é um exclusivo dos cinemas ZON Lusomundo
Fundado em 1776, o Teatro Bolshoi é um símbolo da cultura e tradições russas e reconhecido mundialmente pelas grandes produções de obras clássicas e de coreógrafos contemporâneos.
Recorde-se que a ZON Lusomundo Cinemas tem alargado os eventos das suas salas digitais, diversificando o público-alvo, com a exibição de concertos de bandas nacionais e internacionais e jogos de futebol em 3D e em HD. O último evento foi a transmissão da ópera “Carmen” em 3D.
Com mais de 380 mil sessões de cinema em 2010, a ZON Lusomundo é responsável pela gestão de 30 complexos e 217 salas e foi pioneira no processo de Digitalização e de plataformas 3D digital no cinema em Portugal. Foi ainda a primeira empresa de exibição cinematográfica do Mundo a ser certificada com a Norma ISO 22000:2005 (Sistemas de Gestão da Segurança Alimentar) no âmbito da confecção e comercialização de pipocas e bebidas.
BALLET BOLSHOI - ÉPOCA 2010-2011
“COPPELIA”- DOMINGO 29 DE MAIO,
16h00 – Cinemas ZON Lusomundo: CascaiShopping, Doce Vita Coimbra, Norte Shopping, Vasco da Gama, Braga Parque, Doce Vita Porto e Amoreiras Shopping.
"Husbands and Wives" por Nuno Reis
Quando o filme começa com um anúncio de divórcio pode parecer um regresso de Allen à comédia, no entanto apesar de ter uns traços de comédia é dos filmes mais sérios que jamais fez. Transcreveu para "Husbands and Wives" algumas das próprias discussões conjugais e entre a rodagem e a estreia terminou a relação com Mia Farrow que depois de treze filmes não voltou a trabalhar com ele. Isso foi uma excelente publicidade para o filme que estreou em quase 900 cinemas batendo todos os recordes do realizador de salas e de melhor primeiro fim-de-semana de bilheteira (no total ficou-se pelos 10 milhões).
Tecnicamente também marcou um ponto de viragem pois marcou a diferença desde a abertura onde filmou uma televisão. Câmara ao ombro, cenas cortadas quase ao calhas e uma tentativa de filmar em 16mm (foi obrigado a usar 35mm) foram esforçar arrojados para parecer documental. Só que ao contrário dos mockumentaries que fez anteriormente este tinha demasiada história.
Jack (Sydney Pollack) e Sally (Judy Davis) são o casal que anuncia o divórcio. Gabe (Allen) e Judy (Farrow) são o casal amigo que fica a pensar na notícia. Enquanto a crise de meia-idade de Jack lhe arranja uma namorada muito mais jovem (Lysette Anthony), Sally começa a criar laços com um colega (Liam Neeson) que podem levar a uma relação mais séria. Judy e Gabe começam a pensar na volatilidade das relações e a repensar a própria. Gabe começa a sentir-se atraído por uma jovem aluna (Juliette Lewis) que se orgulha de ser uma dor-de-cabeça para todos os homens.
"Husbands and Wives" é um retrato das relações quando esmorecem. Umas terminam, outras caminham para isso. O diálogo e as escapadelas (pensadas ou executadas) fazem parte da realidade e é disso que aqui se fala. Allen tem uma performance genial, assim como Judy Davis. Quanto a Lewis tem uma personagem complexa e de quem é fácil não gostar. Contrasta com a anterior Lolita, a dócil Tracy de "Manhattan", e tem um pouco da crueldade da invulgar femme fatale Tina Vitale ("Broadway Danny Rose"), mostrando que todos os grandes filmes de Allen são peças de uma gigantesca história da vida, da humanidade e da sociedade, que ninguém consegue explicar em duas horas, mas ele consegue resumir em quarenta anos de carreira.
Não é um filme para todos os públicos, mas é daqueles que se gostará mais com a idade à medida que se passa por situações idênticas e se compreende as personagens que Allen como é habitual tornou demasiado reais. Como diz Sally "It's the Second Law of Thermodynamics: sooner or later everything turns to shit.". É assim a vida e isso está aqui muito bem retratado.
Tecnicamente também marcou um ponto de viragem pois marcou a diferença desde a abertura onde filmou uma televisão. Câmara ao ombro, cenas cortadas quase ao calhas e uma tentativa de filmar em 16mm (foi obrigado a usar 35mm) foram esforçar arrojados para parecer documental. Só que ao contrário dos mockumentaries que fez anteriormente este tinha demasiada história.
Jack (Sydney Pollack) e Sally (Judy Davis) são o casal que anuncia o divórcio. Gabe (Allen) e Judy (Farrow) são o casal amigo que fica a pensar na notícia. Enquanto a crise de meia-idade de Jack lhe arranja uma namorada muito mais jovem (Lysette Anthony), Sally começa a criar laços com um colega (Liam Neeson) que podem levar a uma relação mais séria. Judy e Gabe começam a pensar na volatilidade das relações e a repensar a própria. Gabe começa a sentir-se atraído por uma jovem aluna (Juliette Lewis) que se orgulha de ser uma dor-de-cabeça para todos os homens.
"Husbands and Wives" é um retrato das relações quando esmorecem. Umas terminam, outras caminham para isso. O diálogo e as escapadelas (pensadas ou executadas) fazem parte da realidade e é disso que aqui se fala. Allen tem uma performance genial, assim como Judy Davis. Quanto a Lewis tem uma personagem complexa e de quem é fácil não gostar. Contrasta com a anterior Lolita, a dócil Tracy de "Manhattan", e tem um pouco da crueldade da invulgar femme fatale Tina Vitale ("Broadway Danny Rose"), mostrando que todos os grandes filmes de Allen são peças de uma gigantesca história da vida, da humanidade e da sociedade, que ninguém consegue explicar em duas horas, mas ele consegue resumir em quarenta anos de carreira.
Não é um filme para todos os públicos, mas é daqueles que se gostará mais com a idade à medida que se passa por situações idênticas e se compreende as personagens que Allen como é habitual tornou demasiado reais. Como diz Sally "It's the Second Law of Thermodynamics: sooner or later everything turns to shit.". É assim a vida e isso está aqui muito bem retratado.
A nota é provisória, sei que vou aprender a gostar do filme.
Título Original: "Husbands and Wives" (EUA, 1992) Realização: Woody Allen Argumento: Woody Allen Intérpretes: Judy Davis, Sydney Pollack, Woody Allen, Mia Farrow, Juliette Lewis Fotografia: Carlo Di Palma Género: Drama, Romance Duração: 108 min. |
27 de maio de 2011
"Shadows and Fog" por Nuno Reis
Chega de dramas e chega de ser previsível. A nova década iria começar com um novo estilo que marcou a diferença em relação à fase anterior, onde foram feitos alguns dos trabalhos mais dramáticos do cineasta. O género abordado desta vez é o mistério e o tema é um serial killer que assombra as noites de uma anónima cidade enevoada, matando todos os que se atrevem a andar sozinhos no escuro. Mas como não podia deixar de ser, é também uma comédia onde nem faltam os palhaços.
A escuridão da noite é complementada com um denso nevoeiro. Os poucos focos luminosos são interrompidos por vulgos que lançam sombras ameaçadoras. O melhor sítio para estar nessas noites frias é na cama como Kleinman bem sabe. Até que lhe invadem o quarto para que se junte à milícia na caça ao assassino que aterroriza a noite. Só que nem Kleinman sabe qual é a sua missão, como nem sequer sabe onde estão os outros vigilantes. Deambulará sozinho em busca de um assassino que não deseja encontrar e irá cruzar-se com um autêntico circo e com muitos sujeitos que não gostam nem um pouco dele. A noite pode ser mortífera, mas a cidade continua repleta de gente indiferente ao perigo.
Começaria por gabar o elenco deste projecto. A Allen (Kleinman), Mia Farrow (engolidora de espadas) e Julie Kavner (ex-noiva) juntam-se John Malkovich (palhaço), Madonna (equilibrista), Lily Tomlin, Jodie Foster, Kathy Bates (prostitutas) e John Cusack (estudante boémio) formando um dos mais sonantes grupos de estrelas que este cineasta nos trouxe até à data. O argumento também tem muito que se diga. É das mais complexas e mirabolantes criações de Allen, combinando o humor do próprio com a loucura de Kafka.
Ser filmado a preto e branco ajudou a criar uma atmosfera que não teria a mesma mística em cores. A ausência de cor mais do que uma escolha própria, era uma obrigatoriedade visto ter referências ao Expressionismo Alemão. O tom cómico contrasta de forma magnifica com a ideia induzida de que é um filme policial. E duplamente escondida está a já esperada moral sobre decisões e sobre a imprevisibilidade da vida.
Foi das produções mais caras de Allen (maior cenário jamais contruído em NY) e das que piores resultados fez na bilheteira. Uma daquelas doces ironias do destino. Não sendo um filme fabuloso, é um que se vê algumas vezes com gosto. Seja pela história, pelo ridículo da situação ou simplesmente como distracção.
Título Original: "Shadows and Fog" (EUA, 1991) Realização: Woody Allen Argumento: Woody Allen Intérpretes: Woody Allen, Mia Farrow, John Malkovich, John Cusack, Lily Tomlin, Jodie Foster, Kathy Bates, Madonna Fotografia: Carlo Di Palma Género: Comédia, Crime, Mistério Duração: 85 min. |
Que barrigada de filmes!
Nasceu ontem o melhor blog do mundo. Acreditem que é só vantagens!
Está escrito em português
Fala de excelentes filmes
Não obriga, mas motiva a ver esses excelentes filmes todos os dias
Falo do Ver Filmes Até Cair Pró Lado, um blog inspirado num filme, que foi inspirado num livro, que foi adaptado de um blog, que por sua vez foi inspirado num livro, que também deu origem a um programa de TV.
Para clarificar: Julia Child foi uma cozinheira, autora de livros e apresentadora de programas culinários. Baseada no trabalho dela Julie Powell escreveu um blo que se tornou livro e filme. Inspirados nesse filme o casal cinéfilo de Marta "Gema" Teixeira e Pedro Amorim decidiu fazer o mesmo e ao longo de 3 anos vão ver e comentar a lista actualizada dos "1001 filmes para ver antes de morrer".
É uma missão impossível que todos consideram perdida à partida, mas como qualquer desculpa para ver filmes serve, porque não sonhar alto? Eu vi 50 Woody Allen num mês por isso acredito que com vontade conseguirão. Neste diário partilharão a experiência de obter e de ver cada filme, sabendo à partida que a lista será alargada em Setembro pelo que as 1001 noites de cinema são apenas o início...
Sigam o blog e tentem imitar. Durante os primeiros meses tratam-se de filmes em domínio público. Aconselho as distribuidoras a aproveitarem esse tempo e irem preparando novos edições dos filmes recentes (de preferência pacotes económicos com vários).
Falo do Ver Filmes Até Cair Pró Lado, um blog inspirado num filme, que foi inspirado num livro, que foi adaptado de um blog, que por sua vez foi inspirado num livro, que também deu origem a um programa de TV.
Para clarificar: Julia Child foi uma cozinheira, autora de livros e apresentadora de programas culinários. Baseada no trabalho dela Julie Powell escreveu um blo que se tornou livro e filme. Inspirados nesse filme o casal cinéfilo de Marta "Gema" Teixeira e Pedro Amorim decidiu fazer o mesmo e ao longo de 3 anos vão ver e comentar a lista actualizada dos "1001 filmes para ver antes de morrer".
É uma missão impossível que todos consideram perdida à partida, mas como qualquer desculpa para ver filmes serve, porque não sonhar alto? Eu vi 50 Woody Allen num mês por isso acredito que com vontade conseguirão. Neste diário partilharão a experiência de obter e de ver cada filme, sabendo à partida que a lista será alargada em Setembro pelo que as 1001 noites de cinema são apenas o início...
Sigam o blog e tentem imitar. Durante os primeiros meses tratam-se de filmes em domínio público. Aconselho as distribuidoras a aproveitarem esse tempo e irem preparando novos edições dos filmes recentes (de preferência pacotes económicos com vários).
26 de maio de 2011
"Sister Act 3" acabou mal
Os filmes "Sister Act"/"Do Cabaré Para o Convento" foram um sucesso por todo o mundo e ainda hoje as músicas adaptadas rivalizam em popularidade com as originais.
A história acompanha uma corista que se esconde num convento num programa de protecção de testemunhas e acaba por revitalizar o convento e o bairro através da música.
Na vida real o mesmo parecia poder acontecer e durante dois anos existiu um convento com uma freira pouco convencional. A ex-dançarina criou um grupo de dança que usa o movimento do corpo para expressar a fé e actuou perante altos dignatários da Igreja. Até que este mês foi fechado devido a problemas financeiros, litúrgicos e falta de moral.
Ignorando o facto de terem seguido um caminho de pecado e falando apenas do dinheiro, algo de muito errado se passa. Quando nem uma bailarina profissional consegue motivar as massas e recolher fundos a religião está perdida.
Agora para dar alguma razão de ser ao post falemos mesmo do filme. Sabiam que o papel de Dolores foi escrito para Bette Midler e só porque ela o recusou é que passou para Whoopi Goldberg?
E repararam numa jovem Jennifer Love Hewitt no segundo capítulo? Isto foi 2 anos antes de série que a consagrou, "Party of Five" (quem pensou "Ghost Whisperer" é favor ir já ver este clássico dos 90).
Chega de aulas de história, passemos à música.
A história acompanha uma corista que se esconde num convento num programa de protecção de testemunhas e acaba por revitalizar o convento e o bairro através da música.
Na vida real o mesmo parecia poder acontecer e durante dois anos existiu um convento com uma freira pouco convencional. A ex-dançarina criou um grupo de dança que usa o movimento do corpo para expressar a fé e actuou perante altos dignatários da Igreja. Até que este mês foi fechado devido a problemas financeiros, litúrgicos e falta de moral.
Ignorando o facto de terem seguido um caminho de pecado e falando apenas do dinheiro, algo de muito errado se passa. Quando nem uma bailarina profissional consegue motivar as massas e recolher fundos a religião está perdida.
Agora para dar alguma razão de ser ao post falemos mesmo do filme. Sabiam que o papel de Dolores foi escrito para Bette Midler e só porque ela o recusou é que passou para Whoopi Goldberg?
E repararam numa jovem Jennifer Love Hewitt no segundo capítulo? Isto foi 2 anos antes de série que a consagrou, "Party of Five" (quem pensou "Ghost Whisperer" é favor ir já ver este clássico dos 90).
Chega de aulas de história, passemos à música.
"Scenes From a Mall" por Nuno Reis
Este filme tinha tudo para dar certo. Sendo Bette Midler e Woody Allen os protagonistas, qualquer um tinha o carisma, o humor e o sarcasmo para fazer uma relação funcionar. Juntos eram o casal perfeito. A história desenrola-se na Califórnia onde Nick, um vendedor de material desportivo , sempre em fato-de-treino e com rabo-de-cavalo, é ávido frequentador de centros comerciais e ocasionalmente insulta Nova Iorque. O verdadeiro nunca até à data tinha alguma vez visitado um centro comercial e o resto dispensa correcções pois é simplesmente a antítese de Allen. Bette Midler interpreta Deborah, a autora de um livro sobre os encantos do casamento. Só que também não é a pessoa indicada para escrever sobre o tema pois passam o décimo sexto aniversário da união num centro comercial a falar de traição.
Quanto à história em si por difícil que seja de acreditar é isso mesmo. Um casal a festejar o aniversário no shopping e um casamento a ir por água abaixo nesse tempo.
Mazursky tem andado no cinema por muitos anos. Quando fez este filme já era um reputado realizador e argumentista de comédias, dramas e romances. É por isso estranho ver o resultado desta experiência. "Scenes From a Mall" é uma homenagem a "Scenes From a Marriage" de Bergman, mas passado num centro comercial. Tem pouco de cinema e muito de teatro, mas é dos filmes mais autênticos que se poderia desejar. Isso porque assistir aos 89 minutos do filme ou ficar esse tempo sentado do shopping a ouvir as conversas que nos rodeiam, é uma experiência igualmente interessante e enriquecedora. Apenas um desejo vouyerista justifica que se possa ter interesse por algo que devia ficar na esfera íntima do casal. E apenas uma falta de senso e educação justifica que se leve isso para discussão em público.
A sátira social está muito datada. O fenómeno do centro comercial não tem a mesma dimensão e cada vez é menos visto como uma aberração, e mais como necessidade. Quanto ao género de pessoas retratadas de certeza que não verão o filme para se reconhecerem no estereótipo de azeiteiro. É um filme que vai perdendo encanto com o passar dos anos até que sirva apenas para estudar aquele fenómeno de época.
Como ponto alto do filme há um mimo - Bill Irwin - que consegue levar a paciência do casal até novos limites. Se eles saíssem do shopping o filme acabava e por isso o mimo tem todo o nosso apoio.
Quanto à história em si por difícil que seja de acreditar é isso mesmo. Um casal a festejar o aniversário no shopping e um casamento a ir por água abaixo nesse tempo.
Mazursky tem andado no cinema por muitos anos. Quando fez este filme já era um reputado realizador e argumentista de comédias, dramas e romances. É por isso estranho ver o resultado desta experiência. "Scenes From a Mall" é uma homenagem a "Scenes From a Marriage" de Bergman, mas passado num centro comercial. Tem pouco de cinema e muito de teatro, mas é dos filmes mais autênticos que se poderia desejar. Isso porque assistir aos 89 minutos do filme ou ficar esse tempo sentado do shopping a ouvir as conversas que nos rodeiam, é uma experiência igualmente interessante e enriquecedora. Apenas um desejo vouyerista justifica que se possa ter interesse por algo que devia ficar na esfera íntima do casal. E apenas uma falta de senso e educação justifica que se leve isso para discussão em público.
A sátira social está muito datada. O fenómeno do centro comercial não tem a mesma dimensão e cada vez é menos visto como uma aberração, e mais como necessidade. Quanto ao género de pessoas retratadas de certeza que não verão o filme para se reconhecerem no estereótipo de azeiteiro. É um filme que vai perdendo encanto com o passar dos anos até que sirva apenas para estudar aquele fenómeno de época.
Como ponto alto do filme há um mimo - Bill Irwin - que consegue levar a paciência do casal até novos limites. Se eles saíssem do shopping o filme acabava e por isso o mimo tem todo o nosso apoio.
Título Original: "Scenes From a Mall" (EUA, 1991) Realização: Paul Mazursky Argumento: Roger L. Simon, Paul Mazursky Intérpretes: Bette Midler, Woody Allen, Bill Irwin Música: Marc Shaiman Fotografia: Fred Murphy Género: Comédia Duração: 89 min. |
25 de maio de 2011
Xadrez para três
Quem se lembra deste episódio de "The Big Bang Theory"?
O tabuleiro para três existe e é comercializado a partir de Nashville, Tennessee. O resultado não é tão fantástico como parece no episódio, mas como desafio mental estabelece novos limites.
O difícil é arranjar adversários. Se para o segundo já há dificuldade, para três só mesmo em clubes.
O tabuleiro para três existe e é comercializado a partir de Nashville, Tennessee. O resultado não é tão fantástico como parece no episódio, mas como desafio mental estabelece novos limites.
O difícil é arranjar adversários. Se para o segundo já há dificuldade, para três só mesmo em clubes.
"Alice" por Nuno Reis
Muitos dos filmes de Woody Allen roçam o tema da auto-descoberta, mas alguns são mais específicos. Quem se quiser focar nesse tema e os for ver para pensar - cinema não é só entretenimento - tem dois títulos incontornáveis: "Another Woman" e "Alice".
Gosto de dizer que quem traduz os títulos aos filmes não sabe do que fala por não terem nada a ver que o que se passa na história. E por vezes acredito que quem baptiza os filmes realmente os viu. Especialmente no caso do americano "Alice" - renomeado no Brasil para "Simplesmente Alice" - porque este filme é muito mais do que apenas Alice, mas é também simplesmente ela.
Para Alice a vida é fácil. Come tudo do melhor e compra o que bem entende. Tem um marido rico, uns filhos encantadores, umas amigas snobes e uma paixão pelas causas humanitárias. Quando a tudo isso se junta uma dor de costas que os médicos mais caros não conseguem curar, vai consultar um terapeuta chinês que lhe administra um remédio natural. A essa consulta seguem-se outras. Por entre ervas e mezinhas, Alice vai despertar a sua verdadeira personalidade, que a segurança e estabilidade precoces a impediram de descobrir mais cedo, e vai-se apaixonar por outro homem.
Este é um filme de descoberta da identidade. As questões colocadas a Alice podem muito bem ser feitas a qualquer outra pessoa em busca de uma missão que justifique a existência. A história centra-se na personagem Alice e nos seus dilemas, mas os problemas que tem não são exclusivos da classe alta. Em oposição há Joe que é um simples músico e também tem problemas, se bem que seja mais terra-a-terra e tenha ambições a outro nível. Pode-se ser infeliz com ou sem dinheiro pois a riqueza material só define aquilo que cada um toma por garantido.
Eu não deveria ter gostado de "Alice". Por um lado porque veio depois de "Crimes and Misdemeanours" e as expectativas estavam no auge. Por outro era um mero veículo de promoção de Mia Farrow com quem tenho uma pequena tendência para implicar. Mesmo partindo com esses preconceitos consegui encontrar muitas razões para gostar do filme.
A mistura de géneros e sentimentos que tantas vezes foi e será usada pelo realizador está bem balanceada. O misticismo aliado à comédia não destoa num filme repleto de intriga e romance, com uns toques de comédia e de drama. O ponto mais fraco do filme é a mensagem que pretende transmitir, mas a forma de lá chegar compensa.
Gosto de dizer que quem traduz os títulos aos filmes não sabe do que fala por não terem nada a ver que o que se passa na história. E por vezes acredito que quem baptiza os filmes realmente os viu. Especialmente no caso do americano "Alice" - renomeado no Brasil para "Simplesmente Alice" - porque este filme é muito mais do que apenas Alice, mas é também simplesmente ela.
Para Alice a vida é fácil. Come tudo do melhor e compra o que bem entende. Tem um marido rico, uns filhos encantadores, umas amigas snobes e uma paixão pelas causas humanitárias. Quando a tudo isso se junta uma dor de costas que os médicos mais caros não conseguem curar, vai consultar um terapeuta chinês que lhe administra um remédio natural. A essa consulta seguem-se outras. Por entre ervas e mezinhas, Alice vai despertar a sua verdadeira personalidade, que a segurança e estabilidade precoces a impediram de descobrir mais cedo, e vai-se apaixonar por outro homem.
Este é um filme de descoberta da identidade. As questões colocadas a Alice podem muito bem ser feitas a qualquer outra pessoa em busca de uma missão que justifique a existência. A história centra-se na personagem Alice e nos seus dilemas, mas os problemas que tem não são exclusivos da classe alta. Em oposição há Joe que é um simples músico e também tem problemas, se bem que seja mais terra-a-terra e tenha ambições a outro nível. Pode-se ser infeliz com ou sem dinheiro pois a riqueza material só define aquilo que cada um toma por garantido.
Eu não deveria ter gostado de "Alice". Por um lado porque veio depois de "Crimes and Misdemeanours" e as expectativas estavam no auge. Por outro era um mero veículo de promoção de Mia Farrow com quem tenho uma pequena tendência para implicar. Mesmo partindo com esses preconceitos consegui encontrar muitas razões para gostar do filme.
A mistura de géneros e sentimentos que tantas vezes foi e será usada pelo realizador está bem balanceada. O misticismo aliado à comédia não destoa num filme repleto de intriga e romance, com uns toques de comédia e de drama. O ponto mais fraco do filme é a mensagem que pretende transmitir, mas a forma de lá chegar compensa.
Título Original: "Alice" (EUA, 1990) Realização: Woody Allen Argumento: Woody Allen Intérpretes: Mia Farrow, William Hurt, Joe Mantegna, Blythe Danner, Alec Baldwin Fotografia: Carlo Di Palma Género: Comédia, Drama, Romance Duração: 102 min. |
Selecção do festival de Valadares 2011
O festival como previamente divulgado terá lugar dias 3 e 4 de Junho pelas 21:30 no Cineteatro Eduardo Brazão. Os filmes são todos nacionais com uma duração entre 2 e 7 minutos. Eis a lista de curtas a concurso:
1 - "Money Comes To You" de Patrício Faísca
2 - "Gravity" de Teresa Silva
3 - "Boudoir" de Joana Linda
4 - "O Peregrino" de Nuno Mota
5 - "Viver" de Maria Silva e Mónica Vale de Gato
6 - "Seven" de Ângelo Magalhães
7 - "Livre Arbítrio" de Pedro @[1285068956:Sá]
8 - "Os Restos Do Dia" de Bruno Carnide
9 - "Os Teus Últimos Dias Como Criança" de Bruno Carnide
10 - "O Governante" de Walter Ferreira
11 - "Untitled" de Mónica Araújo
12 - "Crise" de Nelson Soares
13 - "Sonho" de Pedro Duarte e André Duarte
14 - "Life Strings" - de Hugo Fortuna e Élio Nogueira
15 - "Les Chats Dansants" de Nuno Almeida
16 - "Diz-me Se Vale A Pena" de Pedro Ferreira
17 - "Dreamer" de Pedro Ferreira
18 - "Infância Perdida" de Pedro Paiva
19 - "Europoupança" de Diogo Costa
20 - "Imigrantes Ilegais" de Marco Pereira
21 - "As Mulheres São Todas Iguais" de Gabriel Silva
22 - "Era Mesmo Fixe..." de Nilsa Ribeiro
23 - "Os Homens Do Destino" de Débora Madureira
24 - "O Mendigo" de Alex Carvalho
25 - "Bucha E Estica" de Fernando Pereira
26 - "Oliver E Benji" de Ismael Ferreira
27 - "Armando E Gisela" de Cátia Silva
28 - "With(out)" de Raquel Machado
29 - "Reversão" de Marcos Moreira
30 - "Cultura - A Teia Da Humanidade" de Diogo Lourosa e João Pires de Lima
31 - "Projecto 0711" de Bianca Morais
32 - "O Ovo, O Anel E Os Dois Amigos" de Bruno Barros e Filipe Barbosa
33 - "O Banquete" de Victor Carvalho, Albano Fernandes e Tiago Silva
34 - "Bed Trip" de Victor Carvalho, Carlos Leitão e João Judas
35 - "Litoral Do Interior" de Victor Carvalho
36 - "Making Of De Um Filme Noir" de Victor Carvalho e Ricardo Praça Costa
37 - "Suitcase Noir" de Victor Carvalho
38 - "Adrenalina E Bem-Estar" de Álvaro
39 - "Família Destruída" de Ana Rita Santos
40 - "Atenção!" de Ana Rita Chibante
41 - "A Traição" de André Oliveira
42 - "Retrospectiva" de Artur Amaro
43 - "Luta Contra Mutilação Genital Feminina" de Diana Cunha
44 - "Um Dia" de Diogo Fernandes
45 - "O Tempo" de Eduardo Marques
46 - "Brincadeiras Geracionais" de Margarida Dias
47 - "A Minha Primeira Vez" de Marta Vaz
48 - "007 - Salvem o Teddy" de Sadi Boa Nova
49 - "Tempus Fugit" de Sérgio Oliveira e Ivan Delval
50 - "Sentas-te E Vês" de Raquel Dias
51 - "Energia Do Dia-a-dia" de Nuno Cunha
Festival de Curtas de Valadares
1 - "Money Comes To You" de Patrício Faísca
2 - "Gravity" de Teresa Silva
3 - "Boudoir" de Joana Linda
4 - "O Peregrino" de Nuno Mota
5 - "Viver" de Maria Silva e Mónica Vale de Gato
6 - "Seven" de Ângelo Magalhães
7 - "Livre Arbítrio" de Pedro @[1285068956:Sá]
8 - "Os Restos Do Dia" de Bruno Carnide
9 - "Os Teus Últimos Dias Como Criança" de Bruno Carnide
10 - "O Governante" de Walter Ferreira
11 - "Untitled" de Mónica Araújo
12 - "Crise" de Nelson Soares
13 - "Sonho" de Pedro Duarte e André Duarte
14 - "Life Strings" - de Hugo Fortuna e Élio Nogueira
15 - "Les Chats Dansants" de Nuno Almeida
16 - "Diz-me Se Vale A Pena" de Pedro Ferreira
17 - "Dreamer" de Pedro Ferreira
18 - "Infância Perdida" de Pedro Paiva
19 - "Europoupança" de Diogo Costa
20 - "Imigrantes Ilegais" de Marco Pereira
21 - "As Mulheres São Todas Iguais" de Gabriel Silva
22 - "Era Mesmo Fixe..." de Nilsa Ribeiro
23 - "Os Homens Do Destino" de Débora Madureira
24 - "O Mendigo" de Alex Carvalho
25 - "Bucha E Estica" de Fernando Pereira
26 - "Oliver E Benji" de Ismael Ferreira
27 - "Armando E Gisela" de Cátia Silva
28 - "With(out)" de Raquel Machado
29 - "Reversão" de Marcos Moreira
30 - "Cultura - A Teia Da Humanidade" de Diogo Lourosa e João Pires de Lima
31 - "Projecto 0711" de Bianca Morais
32 - "O Ovo, O Anel E Os Dois Amigos" de Bruno Barros e Filipe Barbosa
33 - "O Banquete" de Victor Carvalho, Albano Fernandes e Tiago Silva
34 - "Bed Trip" de Victor Carvalho, Carlos Leitão e João Judas
35 - "Litoral Do Interior" de Victor Carvalho
36 - "Making Of De Um Filme Noir" de Victor Carvalho e Ricardo Praça Costa
37 - "Suitcase Noir" de Victor Carvalho
38 - "Adrenalina E Bem-Estar" de Álvaro
39 - "Família Destruída" de Ana Rita Santos
40 - "Atenção!" de Ana Rita Chibante
41 - "A Traição" de André Oliveira
42 - "Retrospectiva" de Artur Amaro
43 - "Luta Contra Mutilação Genital Feminina" de Diana Cunha
44 - "Um Dia" de Diogo Fernandes
45 - "O Tempo" de Eduardo Marques
46 - "Brincadeiras Geracionais" de Margarida Dias
47 - "A Minha Primeira Vez" de Marta Vaz
48 - "007 - Salvem o Teddy" de Sadi Boa Nova
49 - "Tempus Fugit" de Sérgio Oliveira e Ivan Delval
50 - "Sentas-te E Vês" de Raquel Dias
51 - "Energia Do Dia-a-dia" de Nuno Cunha
Festival de Curtas de Valadares
24 de maio de 2011
"Crimes and Misdemeanors" por Nuno Reis
Allen é muito bom na comédia, no drama, no romance e a falar da vida, seja com optimismo ou como frustrado. Quando combina tudo isso num só filme pode sair muito bom, mas só atinge o seu máximo se o fizer através de duas histórias distintas e complementares que se cruzam por casualidade numa Nova Iorque pujante e no pico da sua glória. "Crimes and Misdemeanours" é isso.
Judah Rosenthal (Landau) é um médico de alguma idade. Como oftalmologista já ajudou muita gente e viu outros a cegar lentamente sem que pudesse fazer algo para o evitar. Para aqueles que o conhecem é o exemplo de um homem bom, mas esconde um terrível segredo. Ele tem uma amante (Huston) que exige ser algo mais. As decisões vão persegui-lo, sejam pela necessidade de serem tomadas ou pela responsablidade de as cumprir.
Noutra parte da cidade Cliff (Allen), um cineasta, também é um traidor. Enquanto filma um documentário sobre o professor Levy, um filósofo desconhecido, faz outro sobre o cunhado Lester (Alda), um produtor de TV galardoado. A produtora (Farrow) que partilha o seu interesse pelo filósofo é desejada por Lester e, lentamente, Cliff também fica apanhado por ela.
O alerta só é dado no final por uma das personagens: "If you want a happy ending, you should go see a Hollywood movie". Neste filme combina-se o adultério, a insatisfação profissional e as amarguras da vida. Fala de crimes e arrependimento, obriga a pensar no impacto que temos na existência dos outros e nas consequências dos nossos actos. Não é uma comédia. Ou melhor, apesar de ser uma comédia a tensão dramática é imensa. Se não fosse o humor ocasional, provocado por pessoas alheias aos pensamentos de Judah e Cliff, existiram apenas as trevas da existência humana.
Conhecemos o que se passa na alma destes dois indivíduos através dos seus diálogos. Judah desabafa com um rabino que está a ficar cego. Esta metáfora diz que Deus não vê tudo e por isso devemos confessar-Lhe os nossos pecados. Por oposição a este diálogo com Deus, Cliff fala com a inocência humana, na pessoa da sobrinha que lhe serve de consciência.
O rabino e o filósofo apresentam diferentes perspectivas sobre a vida, apoiadas na sua crença/descrença em Deus. Também o irmão de Judah e a irmã de Cliff serão usados metaforicamente para ilustrar uma mudança nos valores, as falhas do indivíduo e dos outros que fazem com que a vida em sociedade seja por vezes quase impossível e degradante. Cada um tem o seu lugar e a sua missão nesta obra que engloba toda a sociedade e todo o género de pensamentos. Por toda a riqueza narrativa, pelas interpretações inesquecíveis, pelos diálogos extensos e repletos de sabedoria, pelo humor mais inteligente da carreira deste argumentista, pela plenitude do filme, é a obra máxima de Allen.
Judah Rosenthal (Landau) é um médico de alguma idade. Como oftalmologista já ajudou muita gente e viu outros a cegar lentamente sem que pudesse fazer algo para o evitar. Para aqueles que o conhecem é o exemplo de um homem bom, mas esconde um terrível segredo. Ele tem uma amante (Huston) que exige ser algo mais. As decisões vão persegui-lo, sejam pela necessidade de serem tomadas ou pela responsablidade de as cumprir.
Noutra parte da cidade Cliff (Allen), um cineasta, também é um traidor. Enquanto filma um documentário sobre o professor Levy, um filósofo desconhecido, faz outro sobre o cunhado Lester (Alda), um produtor de TV galardoado. A produtora (Farrow) que partilha o seu interesse pelo filósofo é desejada por Lester e, lentamente, Cliff também fica apanhado por ela.
O alerta só é dado no final por uma das personagens: "If you want a happy ending, you should go see a Hollywood movie". Neste filme combina-se o adultério, a insatisfação profissional e as amarguras da vida. Fala de crimes e arrependimento, obriga a pensar no impacto que temos na existência dos outros e nas consequências dos nossos actos. Não é uma comédia. Ou melhor, apesar de ser uma comédia a tensão dramática é imensa. Se não fosse o humor ocasional, provocado por pessoas alheias aos pensamentos de Judah e Cliff, existiram apenas as trevas da existência humana.
Conhecemos o que se passa na alma destes dois indivíduos através dos seus diálogos. Judah desabafa com um rabino que está a ficar cego. Esta metáfora diz que Deus não vê tudo e por isso devemos confessar-Lhe os nossos pecados. Por oposição a este diálogo com Deus, Cliff fala com a inocência humana, na pessoa da sobrinha que lhe serve de consciência.
O rabino e o filósofo apresentam diferentes perspectivas sobre a vida, apoiadas na sua crença/descrença em Deus. Também o irmão de Judah e a irmã de Cliff serão usados metaforicamente para ilustrar uma mudança nos valores, as falhas do indivíduo e dos outros que fazem com que a vida em sociedade seja por vezes quase impossível e degradante. Cada um tem o seu lugar e a sua missão nesta obra que engloba toda a sociedade e todo o género de pensamentos. Por toda a riqueza narrativa, pelas interpretações inesquecíveis, pelos diálogos extensos e repletos de sabedoria, pelo humor mais inteligente da carreira deste argumentista, pela plenitude do filme, é a obra máxima de Allen.
Título Original: "Crimes and Misdemeanors" (EUA, 1989) Realização: Woody Allen Argumento: Woody Allen Intérpretes: Martin Landau, Claire Bloom, Woody Allen, Mia Farrow, Alan Alda, Angelica Huston, Sam Waterson Fotografia: Sven Nykvist Género: Comédia, Drama Duração: 104 min. |
23 de maio de 2011
"Somewhere" por Nuno Reis
Vencedor polémico de Veneza, "Somewhere" foi a mais recente estreia da jovem Coppola. Mais do que tentar atingir o estatuto do pai, está a construir um nome para si própria, seguindo um novo caminho com novas conquistas e novos percalços. Sendo claramente diferente para não tornar a comparação linear a quem tentar algo do género.
Johnny Marco é um actor americano que está em fase de promoção de um projecto de acção em que esteve envolvido. A sua vida pessoal é o que esperam dele - uma colecção de vergonhas que vendem tablóides - e não costuma pensar nisso. Vai perceber que precisa de mais quando a filha vai passar algum tempo com ele. É com a filha que descobre os pequenos prazeres da vida como ir de férias e comer gelados a meio da noite.
Há filmes que parecem dividir o público por onde passam. É fácil dizer que se gosta ou desgosta e que os outros não perceberam o filme, mas por vezes não é uma questão de gostos ou de perceber mais ou menos de cinema, por vezes é o grau de intimidade que se tem com o tema. Filmes sobre Cinema costumam ou ser mal feitos, ou ser feitos à medida para ganhar festivais e ignorar o público. Felizmente também há aqueles como “Somewhere”. Este é um filme belíssimo e muito íntimo, feito por uma mulher que viveu rodeada por cinema e por vedetas toda a vida. Não o faz sobre a arte ou sobre filmes em particular, mas sobre o lado negro da fama. Como a celebridade e o dinheiro podem puxar qualquer um para o remoinho interminável do conforto sem limites, dos carros potentes, do sexo casual e do vazio na alma. E como apenas o amor mais puro pode servir de tábua de salvação e tornar a brilhante, eterna e monótona feira das vaidades numa série de acontecimentos com magia e encanto que se transfiguram a cada novo dia. Ter gémeas a fazer uma dança do varão privada pode ajudar a adormecer, mas a vida é tão mais do que isso…
Ver cinema ajuda a compreender cinema. Ler revistas cor-de-rosa ajuda a fazer pensar que se conhece a vida das estrelas. Por muito cinema que se veja, só conhecendo a intimidade destas pessoas é que se pode compreender tudo o que ficou por contar. Considero que estou um pouco mais próximo desse mundo do que a maioria dos leitores, mas nem assim posso imaginar quantas histórias verídicas estão escondidas nesta. Como um prédio com dezenas de apartamentos (um Chelsea Hotel dos tempos modernos) pode ser tão vazio e desumanizado até lá chegar uma menina. Pessoas com a mesma profissão única que se cruzam no elevador e sabem que pensam no mesmo, mas não fazem nada para se abrirem, guardando só para si os segredos e a solidão.
Este é um filme para os amigos. Com "Somewhere" Sofia não vai revelar segredos ou angústias de ninguém. Vai apenas tornar evidente a escuridão e que há uma luz no fundo do túnel. Quem perceber o recado que caminhe para lá.
Johnny Marco é um actor americano que está em fase de promoção de um projecto de acção em que esteve envolvido. A sua vida pessoal é o que esperam dele - uma colecção de vergonhas que vendem tablóides - e não costuma pensar nisso. Vai perceber que precisa de mais quando a filha vai passar algum tempo com ele. É com a filha que descobre os pequenos prazeres da vida como ir de férias e comer gelados a meio da noite.
Há filmes que parecem dividir o público por onde passam. É fácil dizer que se gosta ou desgosta e que os outros não perceberam o filme, mas por vezes não é uma questão de gostos ou de perceber mais ou menos de cinema, por vezes é o grau de intimidade que se tem com o tema. Filmes sobre Cinema costumam ou ser mal feitos, ou ser feitos à medida para ganhar festivais e ignorar o público. Felizmente também há aqueles como “Somewhere”. Este é um filme belíssimo e muito íntimo, feito por uma mulher que viveu rodeada por cinema e por vedetas toda a vida. Não o faz sobre a arte ou sobre filmes em particular, mas sobre o lado negro da fama. Como a celebridade e o dinheiro podem puxar qualquer um para o remoinho interminável do conforto sem limites, dos carros potentes, do sexo casual e do vazio na alma. E como apenas o amor mais puro pode servir de tábua de salvação e tornar a brilhante, eterna e monótona feira das vaidades numa série de acontecimentos com magia e encanto que se transfiguram a cada novo dia. Ter gémeas a fazer uma dança do varão privada pode ajudar a adormecer, mas a vida é tão mais do que isso…
Ver cinema ajuda a compreender cinema. Ler revistas cor-de-rosa ajuda a fazer pensar que se conhece a vida das estrelas. Por muito cinema que se veja, só conhecendo a intimidade destas pessoas é que se pode compreender tudo o que ficou por contar. Considero que estou um pouco mais próximo desse mundo do que a maioria dos leitores, mas nem assim posso imaginar quantas histórias verídicas estão escondidas nesta. Como um prédio com dezenas de apartamentos (um Chelsea Hotel dos tempos modernos) pode ser tão vazio e desumanizado até lá chegar uma menina. Pessoas com a mesma profissão única que se cruzam no elevador e sabem que pensam no mesmo, mas não fazem nada para se abrirem, guardando só para si os segredos e a solidão.
Este é um filme para os amigos. Com "Somewhere" Sofia não vai revelar segredos ou angústias de ninguém. Vai apenas tornar evidente a escuridão e que há uma luz no fundo do túnel. Quem perceber o recado que caminhe para lá.
Título Original: "Somewhere" (EUA, 2010) Realização: Sofia Coppola Argumento: Sofia Coppola Intérpretes: Stephen Dorff, Elle Fanning, Chris Pontius Música: Phoenix Fotografia: Harris Savides Género: Drama Duração: 97 min. Sítio Oficial: http://www.somewherethemovie.com/ |
"New York Stories" por Nuno Reis
O cinema “três em um” ou como tornar o genial ainda mais genial
Nova Iorque é pródiga a gerar cineastas como Martin Scorsese ou Woody Allen, ou a formá-los, como Francis Ford Coppola que nasceu em Detroit, mas cresceu na Big Apple. Todos estes filhos, biológicos ou adoptivos, são muito queridos pela indústria cinematográfica que compete numa luta financeiramente desigual contra a solarenga Los Angeles. Aqui reúne-se a elite da indústria da Costa Este numa inovadora apresentação conjunta de trabalhos dos três. Nenhum deles funcionaria por si só, mas juntos definem a alma de uma cidade tão grande como o mundo.
Entre os pequenos papéis podem ver a segunda de três colaborações Woody Allen/Larry David e a estreia em tela de Kirsten Dunst e Adrien Brody.
Life Lessons
Começa de forma muito forte este tríptico. Lionel Dobie (Nick Nolte) é um artista plástico com uma jovem assistente de nome Paulette (Rosanna Arquette). Ele está louco por ela e ela está a enlouquecer por causa dele. Só pensa em desistir da arte e da cidade e voltar para casa. Esta será a aventura deles numa relação pessoal e profissional, com muitas provocações de ambas as partes.
O título é suficientemente explícito. Estamos perante lições de vida. Não só do quarentão para a jovem de 22 anos, mas especialmente em sentido contrário. A rebeldia da juventude tem efeito nele levando-o a perder a compostura diversas vezes. Neste jogo de emoções ninguém sairá vencedor. Uma dupla de grandes estrelas no seu pico (sem exageros, foi dos melhores trabalhos que fizeram) dá vida a um argumento que exigia actores capazes de transmitir aquela crueldade.
Como habitual nos trabalhos de Scorsese a música é uma estrela por mérito próprio. As telas de Lionel nascem ao som de cassetes com sons que se tornaram eternos. O som dá vida à obra que nasce da tinta e isso dá sentido ao filme. A câmara percorre Paulette como o olhar sôfrego do mentor que a deseja. Visualmente é uma obra poderosa pelo uso de cores e contraste de ambientes.
Life Without Zoe
Mais uma vez a vida faz parte do título, mais uma vez um realizador incontornável da história americana dirige, mas desta vez há uma pequena ajuda. Francis realiza, mas o argumento foi co-escrito pela filha Sofia. Não foram usados apelidos. Podemos pensar que é uma história saída do imaginário de uma criança, mas essa Sofia estava a fazer 18 anos quando o filme estreou e o apelido que não mostram é Coppola por isso nenhum deles estava a fazer o filme como brincadeira.
Zoe é uma criança com tudo. Os pais, em viagens constantes pelo mundo, deixam-na frequentemente ao cuidado de um mordomo, mas desde que haja dinheiro ela safa-se bem sozinha. Nesta aventura vai enfrentar assaltantes, vai conhecer um pequeno milionário, vai conviver com uma família real, fintar segurança apertada e realizar o seu sonho. Nada mau para um filme de meia hora.
É uma divertida aventura, com uma protagonista simpática (Heather McComb) e uma história infantil que agradará aos adultos por ser rica em pormenores e com muito humor. Contrasta com o filme de Scorsese por ser um projecto descontraído e informal como será também o de Allen. Porque esta operação conjunta não é para conquistar prémios, é uma simples brincadeira de amigos que adoram uma cidade.
Oedipus Wrecks
Par fechar com chave de ouro a falsa longa-metragem, o eleito foi Woody Allen. Não é que seja melhor do que os outros dois, mas tem uma história com muito valor e cuja trama daria para um filme independente. É esta que perdurará na memória de quem assiste.
A mãe de Sheldon não aprova o noivado dele com Lisa, mas é forçada a conviver com a futura nora e os filhos. Quando vão a um número de magia a velha senhora é convidada ao palco para participar num número de magia. Para espanto de todos ela desaparece e não reaparece. Dias depois Sheldon desiste de a procurar por se sentir muito melhor sem ela e ao mesmo tempo sem a angústia de a ter perdido. Até que ela surge nos céus de Nova Iorque para o atormentar e perseguir enquanto o envergonha diante de todos. Desesperado, recorre a uma médium.
Com as colaborações habituais de Mia Farrow (a noiva) e Julie Kavner (a bruxa), a história é tudo o que se pode esperar de uma comédia de Allen. Muito humor em torno dos comentários habituais de mãe, uma sátira aos judeus que mudam de nome (como Allen Konigsberg) e claro, aos vigaristas. Sejam os que se assumem como mágicos quando compram truques de ilusionismo na feira ou os que se assumem como videntes, ninguém sabe o que fazer quando verdadeira magia acontece. Foi um desejado mas inesperado intervalo para um filme ligeiro no meio de uma série de dramas e no mesmo ano do seu maior filme.
Nova Iorque é pródiga a gerar cineastas como Martin Scorsese ou Woody Allen, ou a formá-los, como Francis Ford Coppola que nasceu em Detroit, mas cresceu na Big Apple. Todos estes filhos, biológicos ou adoptivos, são muito queridos pela indústria cinematográfica que compete numa luta financeiramente desigual contra a solarenga Los Angeles. Aqui reúne-se a elite da indústria da Costa Este numa inovadora apresentação conjunta de trabalhos dos três. Nenhum deles funcionaria por si só, mas juntos definem a alma de uma cidade tão grande como o mundo.
Entre os pequenos papéis podem ver a segunda de três colaborações Woody Allen/Larry David e a estreia em tela de Kirsten Dunst e Adrien Brody.
Life Lessons
Começa de forma muito forte este tríptico. Lionel Dobie (Nick Nolte) é um artista plástico com uma jovem assistente de nome Paulette (Rosanna Arquette). Ele está louco por ela e ela está a enlouquecer por causa dele. Só pensa em desistir da arte e da cidade e voltar para casa. Esta será a aventura deles numa relação pessoal e profissional, com muitas provocações de ambas as partes.
O título é suficientemente explícito. Estamos perante lições de vida. Não só do quarentão para a jovem de 22 anos, mas especialmente em sentido contrário. A rebeldia da juventude tem efeito nele levando-o a perder a compostura diversas vezes. Neste jogo de emoções ninguém sairá vencedor. Uma dupla de grandes estrelas no seu pico (sem exageros, foi dos melhores trabalhos que fizeram) dá vida a um argumento que exigia actores capazes de transmitir aquela crueldade.
Como habitual nos trabalhos de Scorsese a música é uma estrela por mérito próprio. As telas de Lionel nascem ao som de cassetes com sons que se tornaram eternos. O som dá vida à obra que nasce da tinta e isso dá sentido ao filme. A câmara percorre Paulette como o olhar sôfrego do mentor que a deseja. Visualmente é uma obra poderosa pelo uso de cores e contraste de ambientes.
Título Original: "Life Lessons" (EUA, 1989) Realização: Martin Scorsese Argumento: Richard Price Intérpretes: Nick Nolte, Rosanna Arquette, Steve Buscemi Fotografia: Néstor Almendros Género: Drama Duração: 45 min. |
Life Without Zoe
Mais uma vez a vida faz parte do título, mais uma vez um realizador incontornável da história americana dirige, mas desta vez há uma pequena ajuda. Francis realiza, mas o argumento foi co-escrito pela filha Sofia. Não foram usados apelidos. Podemos pensar que é uma história saída do imaginário de uma criança, mas essa Sofia estava a fazer 18 anos quando o filme estreou e o apelido que não mostram é Coppola por isso nenhum deles estava a fazer o filme como brincadeira.
Zoe é uma criança com tudo. Os pais, em viagens constantes pelo mundo, deixam-na frequentemente ao cuidado de um mordomo, mas desde que haja dinheiro ela safa-se bem sozinha. Nesta aventura vai enfrentar assaltantes, vai conhecer um pequeno milionário, vai conviver com uma família real, fintar segurança apertada e realizar o seu sonho. Nada mau para um filme de meia hora.
É uma divertida aventura, com uma protagonista simpática (Heather McComb) e uma história infantil que agradará aos adultos por ser rica em pormenores e com muito humor. Contrasta com o filme de Scorsese por ser um projecto descontraído e informal como será também o de Allen. Porque esta operação conjunta não é para conquistar prémios, é uma simples brincadeira de amigos que adoram uma cidade.
Título Original: "Life Without Zoe" (EUA, 1989) Realização: Francis Ford Coppola Argumento: Francis Ford Coppola, Sofia Coppola Intérpretes: Heather McComb, Talia Shire, Giancarlo Giannini Música: Carmine Coppola Fotografia: Vittorio Storaro Género: Acção, Comédia Duração: 30 min. |
Oedipus Wrecks
Par fechar com chave de ouro a falsa longa-metragem, o eleito foi Woody Allen. Não é que seja melhor do que os outros dois, mas tem uma história com muito valor e cuja trama daria para um filme independente. É esta que perdurará na memória de quem assiste.
A mãe de Sheldon não aprova o noivado dele com Lisa, mas é forçada a conviver com a futura nora e os filhos. Quando vão a um número de magia a velha senhora é convidada ao palco para participar num número de magia. Para espanto de todos ela desaparece e não reaparece. Dias depois Sheldon desiste de a procurar por se sentir muito melhor sem ela e ao mesmo tempo sem a angústia de a ter perdido. Até que ela surge nos céus de Nova Iorque para o atormentar e perseguir enquanto o envergonha diante de todos. Desesperado, recorre a uma médium.
Com as colaborações habituais de Mia Farrow (a noiva) e Julie Kavner (a bruxa), a história é tudo o que se pode esperar de uma comédia de Allen. Muito humor em torno dos comentários habituais de mãe, uma sátira aos judeus que mudam de nome (como Allen Konigsberg) e claro, aos vigaristas. Sejam os que se assumem como mágicos quando compram truques de ilusionismo na feira ou os que se assumem como videntes, ninguém sabe o que fazer quando verdadeira magia acontece. Foi um desejado mas inesperado intervalo para um filme ligeiro no meio de uma série de dramas e no mesmo ano do seu maior filme.
Título Original: "Oedipus Wrecks" (EUA, 1989) Realização: Woody Allen Argumento: Woody Allen Intérpretes: Woody Allen, Mia Farrow, Julie Kavner, Mae Questel Fotografia: Sven Nykvist Género: Comédia, Drama Duração: 45 min. |
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