A nossa sociedade está a evoluir. Se antes o amor homossexual era algo reservado para personagens menores ou para detalhes do passado (existem exemplos de ambos em "Scott Pilgrim vs. The World"), cada vez é dado mais destaque. Isso não foi feito adaptando histórias heterossexuais existentes, mas pegando em material original escrito de propósito para esse fim. "Call Me By Your Name" funcionou muito bem com o grande público, mas apontava para adultos. 2018 está a ser um bom ano para a diversidade nos filmes para jovens adultos.
Em 2014 "The Fault In Our Stars" parecia que ia desviar a produção da normalidade, mas foi um caso quase isolado. "Paper Towns" do mesmo autor chegou logo depois e não conseguiu igual sucesso. Em 2017 o título mais disruptivo para esse escalão etário foi "The Space Between Us" onde a amizade e o amor não querem saber em que planeta se nasceu. Mas continuavam a ser humanos, brancos e heterossexuais num romance de cordel. E tivemos "Everything, Everything" onde um outro tipo de barreira separava dois jovens vizinhos.
Este ano já tivemos uma lésbica a enfrentar os dilemas da sua sexualidade em "Blockers" e a ser recebida com amor e compreensão pela família e amigos quando sai do armário. Tivemos uma história de amor entre duas pessoas em que uma delas muda de género e raça diariamente, dizendo que os sentimentos são cegos em "Every Day". E agora chega-nos um filme sobre como é ser homossexual no secundário. Uma fase crítica do desenvolvimento do adolescente onde faltavam exemplos com frontalidade. A televisão estava muitos anos à frente com desenvolvimento de personagens diversas ao longo de anos, mas o cinema, que tem de chegar às massas e impactar em cerca de hora e meia, ainda não tinha encontrado o rumo. Até chegar Simon.
Na verdade a televisão tem um grande peso no rumo deste filme. O realizador é Greg Berlandi das séries DC e a dupla de argumentistas já nos deu "This Is Us". Portanto, isto é quase batota. "Love, Simon" podia ser a história de um qualquer adolescente. Tem os seus amigos de sempre e alguns mais recentes. Tem colegas na escola e participa em actividades extra-curriculares. Tem uma família de primeiro grau em que todos se adoram. Tem os problemas normais de um jovem da sua idade e mais um segredo. É homossexual. Quando descobre que há outro não-assumido na escola, começa a corresponder-se e partilham sentimentos. Mas algo acontece e a vida de Simon fica muito mais complicada do que já era.
Ao princípio o trunfo do filme parecia ser o elenco. Vejamos. Nick Robinson é uma cara familiar da série "Melissa & Joey", esteve em "The 5th Wave", "Jurassic World" e em "Everything, Everything". Um jovem normal. A sua amiga de sempre Leah é interpretada pela australiana Katherine Langford que o mundo inteiro conhece como Hannah de "13 Reasons Why". A new girl é Alexandra Shipp, co-protagonista de "Tragedy Girls", a Storm na saga dos jovens X-Men. E o quarteto central é completado com Jorge Lendeborg Jr., ainda um relativo desconhecido com pequenos papéis no MCU e no Transformersverse. Como se estes não bastassem entre os secundários estão Keiynan Lonsdale (Kid Flash nas séries DC) e Logan Miller de "Scouts Guide to the Zombie Apocalypse" e "Before I Fall". Os pais do protagonista são Josh Duhamel (irreconhecível) e Jennifer Garner que é há vários anos a mãe ideal em imensos filmes.
No entanto o filme não tem sucesso por causa destas estrelas. É simplesmente porque trata uma situação normal como uma situação normal. Mostram Simon como um rapaz com os problemas normais, as dúvidas normais, as amizades normais. Não o tentam estereotipar como gay (há um desses no filme), mas como um adolescente. Ele próprio tem dificuldades em ver-se com "roupa gay", ou apenas a dançar. Simon é Simon e não vai deixar de ser ele mesmo só porque os outros sabem algo novo sobre ele.
É tão diferente do que se tem visto que surpreende e nos apanha desprevenidos. Tem momentos deliciosos de ilusões sobre quem será o seu amor secreto, tem momentos intensos onde é chantageado para fazer algo errado. E com tudo isso vai contando uma história como tantas outras. Algo tão simples que não se percebe porque não tinha sido feito antes. O segredo é que está a banalizar uma situação que já há muito devia ter sido banalizada. Tal como quando America Ferrera foi contratada para "Superstore" e se apercebeu que tinha conseguido um papel que não tinha sido escrito para uma latina. Os anos Trump estão a fazer com que o mundo das artes se rebele de todas as formas possíveis e a integração parece ser o caminho.
Tem uma moral como seria de esperar. O final era expectável e previsível. Daqui a uns anos talvez ninguém se lembre do filme. Ou talvez uns milhões digam que foi o filme que lhes mudou as vidas. Se aquele amor por correspondência vai funcionar ou durar não sabemos. Sabemos é que Simon tem de ficar em paz consigo mesmo e reafirmar o seu lugar no mundo. Nada mais nele tem de mudar, o mundo é que tem de o aceitar.
Em 2014 "The Fault In Our Stars" parecia que ia desviar a produção da normalidade, mas foi um caso quase isolado. "Paper Towns" do mesmo autor chegou logo depois e não conseguiu igual sucesso. Em 2017 o título mais disruptivo para esse escalão etário foi "The Space Between Us" onde a amizade e o amor não querem saber em que planeta se nasceu. Mas continuavam a ser humanos, brancos e heterossexuais num romance de cordel. E tivemos "Everything, Everything" onde um outro tipo de barreira separava dois jovens vizinhos.
Este ano já tivemos uma lésbica a enfrentar os dilemas da sua sexualidade em "Blockers" e a ser recebida com amor e compreensão pela família e amigos quando sai do armário. Tivemos uma história de amor entre duas pessoas em que uma delas muda de género e raça diariamente, dizendo que os sentimentos são cegos em "Every Day". E agora chega-nos um filme sobre como é ser homossexual no secundário. Uma fase crítica do desenvolvimento do adolescente onde faltavam exemplos com frontalidade. A televisão estava muitos anos à frente com desenvolvimento de personagens diversas ao longo de anos, mas o cinema, que tem de chegar às massas e impactar em cerca de hora e meia, ainda não tinha encontrado o rumo. Até chegar Simon.
Tem uma moral como seria de esperar. O final era expectável e previsível. Daqui a uns anos talvez ninguém se lembre do filme. Ou talvez uns milhões digam que foi o filme que lhes mudou as vidas. Se aquele amor por correspondência vai funcionar ou durar não sabemos. Sabemos é que Simon tem de ficar em paz consigo mesmo e reafirmar o seu lugar no mundo. Nada mais nele tem de mudar, o mundo é que tem de o aceitar.
Título Original: "Love, Simon" (EUA, 2018) Realização: Greg Berlanti Argumento: Elizabeth Berger, Isaac Aptaker (baseados no livro de Becky Albertalli) Intérpretes: Nick Robinson, Katherine Langford, Alexandra Shipp, Logan Miller, Keiynan Lonsdale, Jorge Lendeborg Jr., Jennifer Garner, Josh Duhamel Música: Rob Simonsen Fotografia: John Guleserian Género: Comédia, Drama, Romance Duração: 110 min. Sítio Oficial: https://www.foxmovies.com/movies/love-simon |
0 comentários:
Enviar um comentário