Devo confessar que este filme não me convenceu quando surgiu. Estava a estudar marketing digital e esta obra televisiva sobre o mundo digital pareceu uma péssima ideia. Mais recentemente, enquanto percorria a carreira de Daniela Love, calhou ter uma tarde livre que decidi aproveitar para ver os filmes dela que ainda não conhecia. Seria um longo caminho, pois à data apenas tinha visto três. “Offline” está disponível no site da RTP por isso foi a escolha imediata. A minha única garantia é que também lá veria a Sara Barros Leitão que tem primado nas suas escolhas profissionais. Vê-la como Navegante da Lua no trailer deixou-me muito receoso – todos tomamos decisões das quais nos arrependemos – mas tinha de ser. Estes filmes tendem a desaparecer e quando saísse do site da RTP, talvez não tivesse nova oportunidade de o ver.
Os créditos iniciais e os efeitos escolhidos são logo razão para desligar sem pensar duas vezes. Só que isso seria um erro. O filme rapidamente entre nos eixos e leva-nos numa odisseia de duas horas onde brinca com temas actuais de forma inteligente e expõe o ridículo da sociedade e das micro-tribos que surgem sem ridicularizar ninguém. Claro que entra em estereótipos e exageros, mas é de forma engraçada e não ofensiva.
A narrativa está dividida em várias estórias e tem diferentes focos. Por um lado tem o professor de História que não se rende às tecnologias do dia-a-dia. A vizinha é o oposto. Como tem problemas a socializar, conseguir refugiar-se e agora é tão dependente das tecnologias que não sabe viver doutra forma. Os restantes são os jovens que vemos. Os youtubers a fazerem vídeos ridículos para ganharem visualizações e seguidores. Os jovens que fazem um deslizar no Tinder em vez de saírem para conhecerem pessoas com gostos semelhantes. Pessoas que falam no Facebook em vez de construírem relações sólidas. E depois há o verso da moeda. Essas pessoas no mundo offline. Quem são os verdadeiros amigos? Quem está lá para eles? Quem é realmente o seu grupo?
Foi uma aposta arriscada. Por um lado nasce como a ideia de uma jovem sem currículo. Foi entregue a um realizador sem currículo que não teve medo de fazer um filme com umas invulgares duas horas de duração. Critica a plataforma televisiva sabendo que está condenado a só ser exibido lá. Faz pensar como os outros e sobre nós mesmos. Mostra que no fundo somos todos meros indivíduos perdidos na famosa e enorme aldeia global e que as hiperligações na verdade não nos unem, só nos afastam. Contudo, também diz que com a Internet do nosso lado podemos estar sempre em contacto com quem nos quer bem. Podemos encontrar pessoas com os mesmos gostos. Podemos continuar ligados aos nossos amigos mesmo que do outro lado do mundo. Mas as amizades e os amores, não se fazem online. É preciso trabalhar para isso de corpo e alma, não com ratos e teclados.
O elenco diversificado retrata as várias personagens que o mundo virtual tem. As estrelas oficiais são Iris Cayatte e Duarte Gomes. Ela tem momentos arrepiantes e ele deve ter tido dificuldades em fazer de tão info-excluído, mas a personagem mais incrível é a Sailorspoon. Sara Barros Leitão transfigura-se e dá-nos uma interpretação fiel das aberrações do YouTube, ao mesmo tempo que tira a peruca e é Carla, das pessoas mais sensatas e bondosas que este mundo tem. Seria um exagero dizer que seguiria o canal da Sailor Spoon, mas espreitaria de vez em quando.
É uma obra inteligente e plenamente conseguida. Uma comédia com pés e cabeça, que sabe ser absurda q.b.. Dos melhores filmes que já vi sobre o mundo digital e digno de vários visionamentos. É uma pena que não passe mais vezes na televisão e que o estigma de ser nacional mate a curiosidade dos que mais teriam a aprender.
Os créditos iniciais e os efeitos escolhidos são logo razão para desligar sem pensar duas vezes. Só que isso seria um erro. O filme rapidamente entre nos eixos e leva-nos numa odisseia de duas horas onde brinca com temas actuais de forma inteligente e expõe o ridículo da sociedade e das micro-tribos que surgem sem ridicularizar ninguém. Claro que entra em estereótipos e exageros, mas é de forma engraçada e não ofensiva.
A narrativa está dividida em várias estórias e tem diferentes focos. Por um lado tem o professor de História que não se rende às tecnologias do dia-a-dia. A vizinha é o oposto. Como tem problemas a socializar, conseguir refugiar-se e agora é tão dependente das tecnologias que não sabe viver doutra forma. Os restantes são os jovens que vemos. Os youtubers a fazerem vídeos ridículos para ganharem visualizações e seguidores. Os jovens que fazem um deslizar no Tinder em vez de saírem para conhecerem pessoas com gostos semelhantes. Pessoas que falam no Facebook em vez de construírem relações sólidas. E depois há o verso da moeda. Essas pessoas no mundo offline. Quem são os verdadeiros amigos? Quem está lá para eles? Quem é realmente o seu grupo?
Foi uma aposta arriscada. Por um lado nasce como a ideia de uma jovem sem currículo. Foi entregue a um realizador sem currículo que não teve medo de fazer um filme com umas invulgares duas horas de duração. Critica a plataforma televisiva sabendo que está condenado a só ser exibido lá. Faz pensar como os outros e sobre nós mesmos. Mostra que no fundo somos todos meros indivíduos perdidos na famosa e enorme aldeia global e que as hiperligações na verdade não nos unem, só nos afastam. Contudo, também diz que com a Internet do nosso lado podemos estar sempre em contacto com quem nos quer bem. Podemos encontrar pessoas com os mesmos gostos. Podemos continuar ligados aos nossos amigos mesmo que do outro lado do mundo. Mas as amizades e os amores, não se fazem online. É preciso trabalhar para isso de corpo e alma, não com ratos e teclados.
O elenco diversificado retrata as várias personagens que o mundo virtual tem. As estrelas oficiais são Iris Cayatte e Duarte Gomes. Ela tem momentos arrepiantes e ele deve ter tido dificuldades em fazer de tão info-excluído, mas a personagem mais incrível é a Sailorspoon. Sara Barros Leitão transfigura-se e dá-nos uma interpretação fiel das aberrações do YouTube, ao mesmo tempo que tira a peruca e é Carla, das pessoas mais sensatas e bondosas que este mundo tem. Seria um exagero dizer que seguiria o canal da Sailor Spoon, mas espreitaria de vez em quando.
É uma obra inteligente e plenamente conseguida. Uma comédia com pés e cabeça, que sabe ser absurda q.b.. Dos melhores filmes que já vi sobre o mundo digital e digno de vários visionamentos. É uma pena que não passe mais vezes na televisão e que o estigma de ser nacional mate a curiosidade dos que mais teriam a aprender.
Título Original: "Offline" (Portugal, 2016) Realização: Guilherme Trindade Argumento: Ivone Rodrigues, João Harrington Sena , Guilherme Trindade Intérpretes: Duarte Gomes, Iris Cayatte, Sara Barros Leitão, Daniela Love, João Nunes Monteiro, João Harrington Sena, Miguel Lemos, Emilia Silvestre, Ana Bustorff Fotografia: Mário Santos Género: Comédia Duração: 127 min. Sítio Oficial: https://www.facebook.com/OfflineFilme |
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