Um filme sobre duas gerações, onde a que tem mais tempo é a menos interessante.
As crianças podem crescer, podem até amadurecer, mas ninguém as pode obrigar a envelhecer. Cada adulto tem de manter o seu lado infantil vivo para não deprimir com as constatações da realidade que nos torturam a cada instante. Porque ser adulto é uma treta e a única coisa que se aprende com o passar dos anos é que a juventude faz falta. Por isso é que a nostalgia rende tanto. Todos querem voltar a quando foram jovens, felizes, apaixonados e despreocupados. O cinema sabe disso e foi-nos fisgando com remakes e sequelas de filmes desses outros tempos.
Enquanto esses sonantes filmes convenciam ou desiludiam, um outo nicho foi-se impondo. Aquele que retratava o problema como deve ser. Falo de filmes sobre conflitos inter-geracionais como "Freaky Friday ou "Neighbors". De filmes sobre as crises de quem envelhece como "Wild Hogs" e "Grown Ups". De filmes sobre a realidade do amor quando já não se trata apenas de hormonas e sexo, mas de ter uma parceria vitalícia com um amigo contra as amarguras da existência humana. E aí há grandes opções como "Crazy Stupid Love" ou a cena de abertura de "Up". Em todos estes títulos fiz uma coisa terrível: vi-os pelos olhos da geração mais velha. Nada nos faz envelhecer mais depressa do que perceber que já não nos identificamos nos adolescentes rebeldes, mas nos pais que os estão a tentar proteger e a ter momentos de insanidade.
Em "Blockers" isso não aconteceu. A geração mais velha é o foco da narrativa, mas a sua história é tão fraca que era preferível uma curta só com os momentos dos jovens. Isso dito por quem já não se identifica por eles. Nem quero imaginar a reacção de quem esperava ter alguém da sua idade por quem torcer.
Aqui acompanhamos três progenitores, todos com diferentes relações com a sua prole, no momento de viragem que é a noite de finalistas. As filhas são amigas desde que se lembram e fizeram um pacto: tencionam perder a virgindade nessa noite. Como em "American Pie", mas na perspectiva feminina. Julie tem um namorado estável e acha que é a altura ideal. Kayla tem uma curte e acha que é melhor agora do que na faculdade. E Sam não quer ser excluída pelo que o vai fazer com o seu par dessa noite. Só que ela é lésbica não assumida e está a ter algumas dúvidas. Quem não tem dúvidas são os pais que, ao saberem do pacto, se dirigem ao baile para impedirem que as suas meninas se tornem mulheres. O filme tenta mostrar as duas perspetivas, mas falha num ponto-chave. Vamos por partes pois o filme na verdade tem três histórias entrelaçadas.
Lisa (Leslie Mann) é a mãe solteira. Para ela a filha é tudo e sabe que essa relação vai mudar com a ida para a faculdade. Mitchell (John Cena) é casado e tem um bebé. Só agora começa a ver que a sua criança mais velha já é uma mulher e não gosta disso. Hunter (Ike Barinholtz) é o pai divorciado que foi excluído da vida da filha por problemas com o álcool. Foi trocado pelo padrasto e tenta fazer de cada momento juntos algo especial, mas corre sempre mal. Mann sabe fazer comédia e tem um papel decente, com algumas boas frases. Tentam fazer de Cena o protagonista, mas não se sai nada bem neste papel cómico tão físico como escatológico. Barinholtz é o elemento estranho. Por vezes contra a corrente, sempre um anti-herói, mas um pai dedicado. Por ter um estereótipo tão vincado e mau, acaba por superar as expectativas.
Entre as jovens encontramos Kathryn Newton, a jovem que motivou a colocação dos três cartazes a caminho de Ebbing, Missouri (e estrela televisiva em "Big Little Lies" e especialmente "Sobrenatural" onde teve direito a spinoff), Geraldine Viswanathan das séries "Miracle Workers" e "Janet King" que parece ter futuro na comédia, e Gideon Adlon que será a menos experiente (apena dois anos de trabalho regular), mas a quem deram a personagem mais complexa. O problema é que o filme podia ter um bom equilíbrio entre pais e filhas, mas por ter sido escrito por homens, ou talvez por não quererem afastar o público masculino jovem, não se esforça em mostrar estas personagens. São simplesmente os estereótipos referidos na sinopse quando era tão fácil fazer algo mais equilibrado, próximo de "Superbad". O mais grave é que retiram tempo de tela a este filão de talento por explorar, para nos darem humor brejeiro e por vezes mau. E a única vez que fogem ao convencional, é nas duas cenas de Gary Cole cuja descontracção contrasta imediatamente com os stressados pais protagonistas.
Um desperdício de tempo e dinheiro, que só se aproveita pela mensagem politicamente correcta incontornável. Já que o filme seguiu o caminho confortável das ideias recicladas, seria pedir muito, uma sequela na universidade estilo "Sisterhood of the Traveling Pants" onde não usassem os pais para pouparem no orçamento?
Ou, para ser polémico, porque não fizeram este filme com os pais a impedirem os filhos de terem sexo?
As crianças podem crescer, podem até amadurecer, mas ninguém as pode obrigar a envelhecer. Cada adulto tem de manter o seu lado infantil vivo para não deprimir com as constatações da realidade que nos torturam a cada instante. Porque ser adulto é uma treta e a única coisa que se aprende com o passar dos anos é que a juventude faz falta. Por isso é que a nostalgia rende tanto. Todos querem voltar a quando foram jovens, felizes, apaixonados e despreocupados. O cinema sabe disso e foi-nos fisgando com remakes e sequelas de filmes desses outros tempos.
Enquanto esses sonantes filmes convenciam ou desiludiam, um outo nicho foi-se impondo. Aquele que retratava o problema como deve ser. Falo de filmes sobre conflitos inter-geracionais como "Freaky Friday ou "Neighbors". De filmes sobre as crises de quem envelhece como "Wild Hogs" e "Grown Ups". De filmes sobre a realidade do amor quando já não se trata apenas de hormonas e sexo, mas de ter uma parceria vitalícia com um amigo contra as amarguras da existência humana. E aí há grandes opções como "Crazy Stupid Love" ou a cena de abertura de "Up". Em todos estes títulos fiz uma coisa terrível: vi-os pelos olhos da geração mais velha. Nada nos faz envelhecer mais depressa do que perceber que já não nos identificamos nos adolescentes rebeldes, mas nos pais que os estão a tentar proteger e a ter momentos de insanidade.
Aqui acompanhamos três progenitores, todos com diferentes relações com a sua prole, no momento de viragem que é a noite de finalistas. As filhas são amigas desde que se lembram e fizeram um pacto: tencionam perder a virgindade nessa noite. Como em "American Pie", mas na perspectiva feminina. Julie tem um namorado estável e acha que é a altura ideal. Kayla tem uma curte e acha que é melhor agora do que na faculdade. E Sam não quer ser excluída pelo que o vai fazer com o seu par dessa noite. Só que ela é lésbica não assumida e está a ter algumas dúvidas. Quem não tem dúvidas são os pais que, ao saberem do pacto, se dirigem ao baile para impedirem que as suas meninas se tornem mulheres. O filme tenta mostrar as duas perspetivas, mas falha num ponto-chave. Vamos por partes pois o filme na verdade tem três histórias entrelaçadas.
Um desperdício de tempo e dinheiro, que só se aproveita pela mensagem politicamente correcta incontornável. Já que o filme seguiu o caminho confortável das ideias recicladas, seria pedir muito, uma sequela na universidade estilo "Sisterhood of the Traveling Pants" onde não usassem os pais para pouparem no orçamento?
Ou, para ser polémico, porque não fizeram este filme com os pais a impedirem os filhos de terem sexo?
Título Original: "Blockers" (EUA, 2018) Realização: Kay Cannon Argumento: Brian Kehoe, Jim Kehoe Intérpretes: Leslie Mann, John Cena, Ike Barinholtz, Kathryn Newton, Geraldine Viswanathan, Gideon Adlon Música: Mateo Messina Fotografia: Russ T. Alsobrook Género: Comédia Duração: 102 min. Sítio Oficial: https://www.uphe.com/movies/blockers |
1 comentários:
Eu adorei Os Empatas: 4*
Com algumas cenas nojentas, mas com bons desempenhos do elenco.
Cumprimentos, Frederico Daniel...
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