30 de abril de 2010

Colheita Seleccionada - "The Bridge On the River Kwai"


Este será o caso mais distinto de forma como um filme me conquistou. Alguns foram pela primeira situação/experiência, outros funcionaram ao primeiro visionamento, e este foi por insistência.
Em tempos idos quando o tempo livre era mais frequente e a televisão mais atraente, calhava passar finais de tarde ou fins-de-semana inteiros no modo zapping. O Canal Hollywood era onde frequentemente havia melhores coisas para ver. Um belo dia estava a passar por lá e reconheci a música. Era a marcha do Coronel Bogey. Claro que percebi qual era o filme, a música é inconfundível, mas não me apeteceu ver. Dias depois estava a dar novamente. Um dos defeitos - e vantagens - do canl é precisamente a repetição com que passa os filmes. Dessa vez vi outro pedaço e deixou-me confuso. Então o suposto herói é um preguiçoso? E o coronel inglês está do lado dos asiáticos? Algo estranho se passa! Decidi-me a vê-lo completo para procurar uma história com pés e cabeça. Não tardou muito até dar outra vez num horário em que conseguisse acompanhar por inteiro.

Se o filme tem um defeito é ser demasiado fiel à natureza humana. Os seus heróis são pessoas como nós. Não é por serem militares que gostam de lutar. Não é por serem escravos que vão fazer um mau trabalho. Não é por ser do interesse da pátria que vão destruir o seu maior motivo de orgulho. O Coronel Guinness, perdão, Nicholson, é inspirado num coronel real que fez precisamente o contrário. Também defendeu os seus homens até ao fim, mas atrasou ao máximo a construção da ponte sem os colocar em risco. Esta versão cinematográfica faz mais sentido. A prisão afecta a mente das pessoas, altera o comportamento, tolda o raciocínio. Tem menos mérito, mas ganha muita emoção.

Depois da primeira vez ainda vi mais algumas nas semanas seguintes. Rapidamente cheguei a uma fase em que neste canal queria ver apenas este filme ou o outro do costume. Quando estamos desejosos de ver sempre o mesmo há três situações possíveis: a) a programação é miserável; b) estamos a enlouquecer; c) o filme é muito bom. E sinceramente espero que seja o último porque a programação não era má.

29 de abril de 2010

"Iron Man 2" por César Nóbrega

Confesso à partida que achei o filme "Homem de Ferro" de 2008 o mais pateta dos filmes que transportou para o cinema super heróis de banda desenhada. Nem o malfadado "Batman e Robin" de Joel Schumacher, que em 1997 valeu a Alicia Silverstone um Razzie para pior actriz, tendo o filme sido nomeado para outros dez, sim leram bem, dez Razzies, me pareceu tão mau.

Curiosamente, o realizador de "Homem de Ferro", Jon Favreau participa como actor em "Batman e Robin" – faz de assistente – aqui também, além da realização.

Nunca percebi o que leva um bom actor como Robert Downey Jr. a entrar num filme tão ridículo. Nomeado para dois Oscares, em 1992 como actor principal em "Chaplin" de Richard Attenborough e já em 2008 como actor secundário de "Tropic Thunder", Downey Jr. tem tido uma carreira algo atribulada. A fama faz mal às pessoas e ele que o diga. O consumo de droga e álcool atiraram-no para a cadeia em 1997. Desde 1996 que andava às turras com a justiça. Ora era apanhado com droga e em excesso de velocidade, ora tentava a reabilitação. Desde 2000 que reclama estar "sóbrio e limpo". Logo nesse ano ganhou um Globo de Ouro por um papel em "Ally McBeal". A sua participação em filmes como o já citado "Tropic Thunder" (2008), bem como, "O Solista" de Joe Wright e "Sherlock Holmes" de Guy Ritchie, ambos de 2009, confirmam uma escolha atenta de trabalhos, onde "Homem de Ferro" destuou.

Apesar desta minha opinião muito pessoal, "Homem de Ferro" foi um filme de sucesso, sobretudo de bilheteira. Custou cerca de 150 milhões de euros e teve de receitas, só nos Estados Unidos, mais de 300 milhões. Ganhou, ainda, dois prémios da Academia de Cinema de Ficção Científica, Fantasia e Horror dos Estados Unidos da América – Melhores Actor e Realizador. Quando já está anunciado o terceiro filme da saga, estreia "Homem de Ferro 2".

Robert Downey Jr. e Jon Favreau juntaram-se para a parte dois de uma história inócua. Quando Stan Lee criou para a Marvel "Homem de Ferro" nunca imaginou que ele fosse reduzido à condição de "playboy génio" de que tanto se fala na história de há dois anos.

Para "Homem de Ferro 2" foram buscar Justin Theroux para escrever o argumento. Se bem se lembram, Theroux é aquele realizador "maniento" do filme de David Lynch – Mulholand Drive – Adam Kesher. Como argumentista Justin Theroux escreveu a história de "Tropic Thunder" em conjunto com Ben Stiller. A contratação compensou. Este filme parece bem melhor estruturado que o primeiro. Tony Stark, o tal milionário, playboy e génio que é o Homem de Ferro, continua presunçoso, no entanto, está a morrer. O dispositivo que tem ao peito e que lhe salvou a vida, também o está a matar – o paládio que lhe fornece energia está a envenenar-lhe o sangue. Stark parece ter chegado a um beco sem saída, não conseguindo arranjar substituto. Como se não bastasse, o governo norte-americano quer que ele entregue a tecnologia que lhe permitiu criar o super herói. E para piorar, um justiceiro russo vai-lhe pregar uma partida numa corrida de Fórmula 1 no Mónaco. Quando tudo parece perdido, uma divisão governamental de espionagem, a SHIELD, vai ajudá-lo.

Ao lado de Downey Jr. continua a loiríssima Gwyneth Paltrow. A actual mulher de Chris Martin da banda musical Coldplay, de quem tem dois filhos, é a assistente pessoal Pepper Pots. Na realidade é ela quem gere a "Stark Industries" a empresa do "Homem de Ferro". O facto da dupla ser a mesma só beneficia o filme. Tenhamos ou não gostado do primeiro, serve de elo de ligação. Depois, há uma mão cheia de vedetas. Começando pela sensual Scarlett Johansson. A norte-americana de 25 anos foi obrigada a emagrecer para ficar perfeita no fato de lycra que usa em metade do filme – a verdade é que lhe fica divinamente bem. Estejam atentos às cenas de acção com a "Viúva Negra" aka Natalia Romanova, uma agente secreta russa que vemos citada em várias histórias de super heróis da Marvel. Scarlett assenta-lhe bem, muito bem.

O vilão da história é o desfigurado Mickey Rourke. O outrora "sex simbol de "Nove Semanas e Meia" (1986) é Ivan Vanko, um físico russo, filho de um dos cientistas que terá ajudado o pai de Stark a criar a tecnologia usada pelo Homem de Ferro. Com a carreira reabiltada por Darren Aronofsky, no marcante "O Wrestler", Rourke continua a usar o seu aspecto para vingar num papel. Dantes era o principe encantado, agora é monstro das bolachas. As estrelas de Hollywood não se ficam por aqui. Destaque ainda para Sam Rockwell, como sempre desconcertante, Don Cheadle, um competente coronel Rhodes e Samuel L. Jackson, semelhante ao agente Augustus Gibbons que vimos em "xXx" ("Triplo X").

A banda sonora de "Homem de Ferro 2" é dos AC/DC, que aproveitaram e lançaram um best of encapotado de bando sonora. Chama-se "Iron Man 2" e tem uma música original escrita de propósito para o filme, o resto já se pode ouvir há muitos anos. No filme podem ouvir-se clássicos de outras bandas, como "Another One Bites the Dust" dos Queen.

Normalmente, as sequelas são bem piores que os primeiros filmes. Há excepções. Esta é uma delas. "Homem de Ferro 2" deve ser visto, se for num Domingo à tarde, com um grande balde pipocas e uma cola a acompanhar. O filme é divertido, tem acção, efeitos especiais fantásticos (Deus seja louvado que estes pelo menos não decidiram fazer em 3D – quem sabe o "Homem de Ferro 3") e tem a Scarlett Johansson, que apesar de só saber fazer o papel da mulher sedutora, o faz bem e é bonita. Se quer ver um filme inteligente deve procurar "Greenberg" que estreia na mesma semana.

Título Original: "Iron Man 2" (EUA, 2010)
Realização: Jon Favreau
Argumento: Justin Theroux (inspirado na Bd de Stan Lee e outros)
Intérpretes: Robert Downey Jr., Gwyneth Paltrow, Don Cheadle, Scarlett Johansson, Sam Rockwell, Mickey Rourke, Samuel L. Jackson
Fotografia: Matthew Libatique
Música: John Debney
Género: Acção, Aventura, Ficção-Científica, Thriller
Duração: 124 min.
Sítio Oficial: http://ironmanmovie.marvel.com/

Dia Mundial da Dança


A moda dos dias mundiais dá sempre ideias para novos posts. Hoje é o da dança por isso partilho convosco o nome incontornável do cinema que estará para sempre associado à dança. Muitos conhecem o filme, todos conhecem a música, mas acho que ninguém se cansa de rever.

Time Of My Life - The funniest videos clips are here

28 de abril de 2010

Gonna stay up late!


Estamos a três semanas da estreia do novo "Nightmare on Elm Street". Que tal rever os antigos numa bela maratona de terror?
Apenas 15€ e terão um pack de sete filmes em DVD (sem os óculos 3D). Em comparação os oito primeiros Jason custam 26€ e os sete primeiros Hellraiser 34€ e não estão completos.

Para encomendar bastar seguir o link.


Depois podem dizer
One, two, Freddy’s coming for me
Three, four, better open the door
Five, six, grab my dvd
Seven, eight, gonna stay up late
Nine, ten, and watch it again.

Saúde e Segurança no trabalho


Há dias para quase tudo. Dizem que hoje é o da Saúde e Segurança no trabalho pelo que me pus a pensar como poderia combinar essas vertentes. Uma série de médicos teria saúde, mas qual a mais segura? "Scrubs", obviamente.


Saúde e segurança são fundamentais, mas o mais importante é o bom ambiente. Diversão acima de tudo.

27 de abril de 2010

Galeria Inception


Mais algumas fotos do misterioso "Inception".

26 de abril de 2010

25 de abril de 2010

Fotos do Black & White 2010


Já que o Black & White é um festival que combina áudio, vídeo e fotografia, também o Antestreia decidiu cruzar artes distintas e exibir uma série de fotografias a preto e branco que para o ano vão vencer o festival.
As fotos são da Ana Alexandre e o tema é o próprio festival.


Bloggers na conversa
(da esquerda para a direita Tiago Ramos/Split Screen, Nuno Reis/Antestreia, Fernando Ribeiro/Antecinema, Filipe Coutinho/Cinema Is My Life)


Jaime Neves apresentando os vencedores


Stefan Le Lay a receber o segundo prémio em festivais do Porto

Palmarés do Black & White 2010

Mais uma edição terminou, mais 11 trabalhos de audio, fotografia e vídeo saem premiados. Este ano foi particularmente curioso visto que o público não concordou em nada com o júri e premiou três obras diferentes. Considerando que o júri considerou "Magicians" como melhor obra de ficção devo dizer que me sinto mais orgulhoso por ter sido parte do público do que poderia por ter estado no júri.
Aqui fica a lista para a posteridade.




"Expressão"
Pedro Machado











Prémio do Júri
Audio"O Dia do Baptizado do Nuno"
Nuno Cruz
Fotografia
Animação"Homeland"
Juan de Dios Marfil
Experimental"Last Message of Mr. Coguito"
Ana Woch
Documental"Traffic Jam"
Arthur Franck/Oskar Forstèn
Musical"Bottom of the River"
Alasdair Brotherston & Jock Mooney
Ficção"Magicians"
Andrey Getov
Ficção, Menção Honrosa"Ona"
Pau Camarasa
Melhor Filme"Traffic Jam"
Arthur Franck/Oskar Forstèn
Prémio do Público
Vídeo"La Carte"
Stefan Le Lay
Audio"Mostrengo - Interlude"
Rita Torres
Fotografia"Movimento dos Trabalhares Rurais Sem Terra"
Vanessa Rodrigues (blog)

Encontro de Blogues Abril de 2010


Quantos mais melhor, mas quanto menos melhor caberemos. Fomos menos do que no Fantas. Podia parecer uma desvantagem, mas permitiu uma confortável mesa redonda. Apesar dos microfones serem intimidadores por tradição, por ser um reencontro havia mais confiança e as pessoas foram falando. Do festival, do preto e branco, dos seus filmes favoritos, da importância da cor e da vantagem que o preto e branco traz por impedir o 3D.

Agendou-se um próximo encontro para Maio, em princípio dia 23 para que eu apresente em primeira mão novidades de Cannes, onde o tema será o 3D. Procura-se alguém com argumentos a favor para ser um debate com prós e contras.

Brevemente o vídeo (a cores) do evento.

Os blogs presentes foram os seguintes:
AnteCinema (organizador)
Antestreia
Bela Lugosi Is Dead
C7nema
Cinema as My World
Cinema Is My Life
Laxante Cultural
Maus da Fita
Portal Cinema
Split Screen

De destacar ainda a participação dos principais festivais locais, Black & White na pessoa do seu director e nosso anfitrião Jaime Neves, Fantasporto na minha pessoa, Porto7 também pelo seu director Francisco Lobo Ávila e a Take através do Filipe Coutinho.

Quem também aproveitou este encontro para se promover foi o Xigli que fornece serviços, ferramentas e tutoriais para blogs.

Após este encontro fez-se um rápido jantar da blogosfera e seguimos para a cerimónia de encerramento. Mais um encontro perfeito onde alguns realizadores e fotógrafos concorrentes se juntaram à discussão. Quem continua a faltar são os leitores. Sentem-se mal por não terem ido? Digam o que temos de fazer para vos convencer a ir.

24 de abril de 2010

Encontro do Black & White

Não faltem hoje ao grande, magnífico, fenomenal e espectacular Primeiro Encontro Mensal dos Blogues de Cinema! O local é o Black & White (mapa), a hora é 18:30, o tema é o cinema e o convidado é todo aquele que queira.
É fácil, é gratuito e dá milhões (de visitas).

Já temos confirmados o AnteCinema (organizador), Antestreia, Bela Lugosi Is Dead, Cinema Is My Life, Laxante Cultural e Split Screen. Que mais precisam para ir? Juntem-se à festa do cinema para uma tarde bem passada.

"La Vita è Bella" por Nuno Reis


Raros são os anos em que a Academia Americana reconhece haver filmes de qualidade noutra língua e os nomea em categorias menos marginais que documentário, curta-metragem ou a inevitável de filme em língua não-inglesa. Se houve um ano excepcional para isso foi 1999 em que "Central do Brasil" nomeou Fernanda Montenegro e um filme italiano foi nomeado um total de sete vezes, incluindo melhor filme, realizador, argumento e actor, a que se juntaram edição e música. Claro que ambos competiam ainda na secção de língua não-inglesa.
O arrasador candidato italiano era "La Vita É Bella" e saiu com três troféus dessa cerimónia para juntar aos imensos prémios conseguidos por toda a Europa (Cannes, BAFTA, César, Goya,...) por vários anos.

Guido é alegre e criativo. A caminho do tio para começar a trabalhar como empregado do restaurante, conhece Dora, uma maravilhosa mulher que lhe cai do céu. Após uma longa corte onde utilizará toda a imaginação e a sorte lhe é extremamente favorável, casam, têm um filho e são felizes para sempre. Só que o sempre é relativo. Com a chegada dos fascistas ao poder todos os judeus como Guido, o filho e o tio são levados para um campo de concentração. Cumprindo os deveres de pai como poucos conseguiriam transformará o maior pesadelo da Humanidade numa brincadeira de crianças para manter o filho animado. Reutiliza a imaginação e a sorte e mais uma vez é abençoado, pois entre os funcionários do campo está o doutor Lessing, seu velho conhecido e amante de adivinhas que se esforçará por lhe conseguir um tratamento especial.

É um filme extremamente cruel por nos amolecer o coração para depois o agredir. Mostra o impacto de acontecimentos globais em pessoas reais e mostra o poder do indivíduo nos que o rodeiam. Roberto Benigni marcou aqui o seu lugar no cinema com um argumento mágico, uma interpretação inesquecível e um humor sempre no tempo e magnificamente expressado nos gestos e nas palavras. Consegue fazer rir com gosto nas mais variadas situações. Pode-lhe faltar plausibilidade, mas a magia do cinema é que não tem de ser real desde que não o pretenda ser. É um daqueles casos em que o cinema só é suposto ser magia e fantasia.
Um homem pode fazer a diferença. A vida é bela, desde que olhemos da forma correcta. O final é americanizado, mas nem isso consegue estragar um filme perfeito.

Título Original: "La Vita è Bella" (Itália, 1997)
Realização: Roberto Benigni
Argumento: Roberto Benigni, Vincenzo Cerami
Intérpretes: Roberto Benigni, Nicoletta Braschi, Giorgio Cantarini
Fotografia: Tonino Delli Colli
Música: Nicola Piovani
Género: Comédia, Drama, Guerra
Duração: 116 min.
Sítio Oficial: http://www.miramax.com/lifeisbeautiful/

23 de abril de 2010

Colheita Seleccionada - "La Vita è Bella"

Explicando da forma mais simples possível quem tiver coração não fica indiferente a este filme.

Estamos perante novo exemplo de uma perfeita combinação entre comédia, romance, drama e guerra. Por um lado o palhaço Guido cativa espectadores de todos os tipos. Entre o humor fácil físico, a troca de adivinhas inteligentes e a repetição até ao limite de situações bastante engraçadas faz com que o arranque do filme seja memorável. É uma época em que tudo corre bem. Depois quando Dora e Guido loucos de amor acham que serão felizes para sempre... chega o fascismo. Capaz das maiores atrocidades, uma das piores coisas que fez foi separar famílias. Guido e o pequeno Giosué são levados para um campo de concentração onde a morte é a única certeza. Aí começa a parte mais marcante do filme. O amor de pai vai tornar o nosso herói num super-herói que, entre muita criatividade, sorte e ajuda dos companheiros de cativeiro vai conseguir o impossível: os mil pontos.
Se o comentário final não fez sentido o primeiro passo é ir ver o filme. "Buon giorno, Principessa!" e "Mille punti!" são daquelas frases que ninguém esquecerá. A primeira por simbolizar a simplicidade, espontaneidade, a paixão e a joi de vivre do protagonista. A segunda por libertar todo um mundo de fantasia no local mais negro da história da Humanidade. Se não fosse por momentos como esse nem pertenceria a essa História pois esta era a única réstia de Humanidade num autêntico inferno (que muitos tentaram convenientemente apagar da memória colectiva).

Dora é uma heroína normalmente esquecida nos textos sobre o filme. Combate a ignorância diariamente. Quando o confronto chega ao seu lar embarca sozinha num combate mortal que não era seu, ou podia não ser. Depois claro, temos Guido. Homem apaixonado e pai dedicado, capaz de brincar com o opressor, de fazer amizades com o inimigo, de sorrir perante a morte. Não será um exemplo a seguir? O problema é que esta personagem é demasiado perfeita para ser real. Finalmente o pequeno Giosué representa a inocência, aquilo que mais faltava entre as vítimas. É a única criança a escapar ilesa tanto fisica como psicologicamente dos campos. Infelizmente isso prova que também ele é pura ficção...
Enquanto os adultos podem e devem ser exemplos a seguir, o pequeno deve ser recordado como esperança. Há sempre alguém por quem vale a pena lutar, mesmo que seja impossível vencer.

Anos depois Benigni reutilizaria a receita pouco adaptada para a Guerra do Golfo, em "La Tigre e La Neve". Volta a funcionar, sem que aproveite a componente guerra, mas dando um enorme foco ao Amor.

22 de abril de 2010

3D em todo o lado


Depois dos filmes, também os posters ficaram a 3D com a adição do factor tempo. O formato vertical é agora utilizado para trailers no que chamam motion posters/cartazes animados.

Aqui estão dois dos exemplos mais recentes: "The Other Guys" e "Nightmare on Elm Street". É só seguir o link.

Aqui

Aqui

E quanto aos trailers, ainda muito está por dizer.

21 de abril de 2010

Posters e trailers

"The Bad Lieutenant: Port of Call - New Orleans" de Werner Herzog

Remake de um clássico de Abel Ferrara. Apesar de ter sido dos piores filmes que vi nos últimos tempos, a maioria das críticas são bastantes positivas.
Imdb


"Don McKay" de Jake Goldberger

Don McKay volta à cidade de onde partir há 25 anios a pedido da sau namorada da altura. Ela está a morrer e quer reviver os bons momentos que passaram juntos. Só que McKay acaba envolvido numa complicada trama que inclui mortes.
No elenco Thomas encontram-se Haden Church, Elisabeth Shue e Melissa Leo.
Imdb


"Dinner for Schmucks" de Jay Roach

Forte candidato a comédia do ano. Tem Stee Carell, Zach Galifianakis, Paul Rudd e o realizador das sagas Austin Powers e "Meet the Parents". É sobre uma empresa que tem como critério de selecção para promoção arranjar o maior idiota e levá-lo a um jantar. O vídeo é suficientemente explicativo.
Imdb


"Cyrus" de Jay e Mark Duplass

Repetindo o que disse aqui: John (John C. Reilly) estava muito em baixo, até que conhece Molly (Marisa Tomei) na festa de noivado da ex-mulher (Catherine Keener). Tudo na relação deles parecia perfeito até que aparece Cyrus (Jonah Hill), o filho dela. Este adolescente crescido não está disposto a abdicar da mãe.
Imdb

20 de abril de 2010

Posters

Trago-vos alguns pares de posters.






Primeiro dois blockbusters garantidos.
The Sorcerer's ApprenticeShrek Final Chapter
Depois dois heróis ingleses intemporais.
Robin HoodNowhere Boy
sinopse aqui
E finalmente dois filmes que causam nojo.
The Human Centipede
Quem não o viu no Fantas vai ter de esperar
Sex and the City 2

"Das Weisse Band" por Nuno Reis

Após o triunfo no mais competitivo festival de Cannes dos últimos anos, o filme de Haneke era aguardado com ansiedade. Correspondeu às expectativas com uma história negra, manipulada para um convincente e adequado preto e branco. Tal como nos trabalhos anteriores em que aprendemos a admirar o realizador, a violência marca presença. Só que neste não temos a crua violência visual do costume, temos uma muito mais requintada violência psicológica que raramente surge no ecrã. Uma aldeia inteira é atormentada por alguém que se diverte magoando os outros. Sejam armadilhas, ou raptos e espancamentos, há pessoas a sofrer.
A narração é feita pelo professor, um homem de trinta anos, educado, recatado e já acostumado às pessoas com quem lida. A povoação tem como figuras proeminentes o barão, o padre e o médico, patriarcas de lares austeros. Todas essas famílias vão sentir a morte bem perto, mas pior que a morte é a vida que levam. A repressão, o formalismo, a falsa moralidade, tudo peças que ajudaram a construir a odiada Alemanha dos anos 30 e 40.

Este é daqueles filmes que ou se gosta ou não se gosta. Por ser a preto e branco já afasta algum público mais ansioso por filmes-pipoca, mas todo o pouco marketing foi selectivo. É preciso ir ver o filme pelo filme e ter capacidade de abstracção. A narrativa é muitas vezes interrompida por planos silenciosos e desertos de gente precisamente para forçar a uma reflexão breve e permanente sobre o que acabou de acontecer. Ou o que está a acontecer e não mostram. Só com esses momentos de processamento se consegue acompanhar uma história onde o fundamental é invisível. Isso faz com que o filme tenho uma longa duração, maior do que a necessária para contar a história. Mas sem essas pausas mesmo mantendo os olhos perderia a atenção da mente do espectador.
Os incautos que por acidente entraram na sala, confrontados com as pausas terão saído bem cedo receando um novo Manoel de Oliveira. Os apreciadores de cinema, estando focados no filme e abstraídos do resto do mundo (por isso neste caso ver em cinema é bem melhor do que em casa) não dão pelo tempo a passar.

De destacar a fabulosa fotografia, gabada pelo narrador quando possível (cena da neve). Como se pudesse passar despercebida... A posterior passagem a dicromático em nada prejudicou o filme, que ganhou um renovado ar de autenticidade. Os actores fazem um trabalho curioso, em especial o jovem Leonard Proxauf que dá o rosto ao filme na maioria do material promocional.
É um filme de autor que exige muito do espectador, sem dar algo em troca. O que lhe falta é precisamente essa liberdade de cada um tirar a sua conclusão. Apesar do final supostamente em aberto não permite um leque variado de interpretações, a resposta tinha sido dada muito antes.

Título Original: "Das Weisse Band" (Alemanha, Áustria, França, Itália, 2009)
Realização: Michael Haneke
Argumento: Michael Haneke
Intérpretes: Christian Friedel, Leonie Benesch, Ulrich Tukur, Ursina Lardi, Fion Mutert, Burghart Klaußner
Fotografia: Christian Berger
Género: Crime, Drama, Mistério
Duração: 144 min.
Sítio Oficial: http://www.thewhiteribbonmovie.com/

19 de abril de 2010

Neil Patrick Harris

A 18 de Maio será transmitido um episódio de "Glee" com Neil Patrick Harris como convidado. Muitos se questionam se ele terá talento vocal para um papel no show musical do momento, mas a verdade é que tem feito musicais toda a vida.

A carreira de Harris começou em pequenas peças de teatro na escola. Aos quinze anos a família mudou-se para Albuquerque e aí fez imediatamente dois filmes seguidos. Em "Purple People Eater" (com Thora Birch) era o protagonista, em "Clara's Heart"(Whoopi Goldberg é a Clara) também. Já nesses dois se notava que o miúdo sabia cantar.



No ano seguinte conseguiu o papel com que entrou para a história da televisão. Como "Doogie Howser, M.D.", jovem médico, tinha licença para passar receitas, mas não para conduzir. Também aqui por vezes cantou.


Paciente: You're a kid.
'Doogie' Howser: True, but I'm also a genius. If you have a problem with that I can get you someone who's older but not as smart as me.


Quando a série terminou em 1993 voltou aos palcos, fez alguns episódios de várias séries e uns poucos tele-filmes. Em 1997 voltou ao cinema pelas mãos de Paul Verhoeven em "Starship Troopers".

No mesmo ano teve o papel principal na peça "Rent" em Los Angeles que lhe valeu resgados elogios e esteve em cena por alguns meses.


Em 2001 chega à famosa Broadway com "Proof". A sua carreira nos palcos incluiu também "Romeo and Juliet", "Cabaret", "Sweeney Todd", "Assassins" e "Amadeus".



De volta ao cinema não teve grande destaque como se pode ver abaixo.


O ponto alto da carreira de NPH foi novamente culpa da televisão. Em 2005 começava uma série com um elenco miserável. Alyson Hannigan era o nome mais sonante, os outros três tinham uma carreira com meia dúzia de episódios cada, com excepção de um actor vindo da "Freaks and Geeks". A série chamava-se "How I Met Your Mother" e tornou-se um sucesso imediato que ainda está em exibição. Os desconhecidos tornaram-se estrelas e Neil Patrick Harris pelo seu inimitável Barney Stinson - obcecado por fatos e mulheres - foi nomeado para Golden Globe (duas vezes), como nos tempos de "Clara's Heart" e "Doogie Howser, M.D.". Claro que canta, nesta série dão-lhes enorme liberdade e chegou a realizar um episódio. Talvez seja essa a razão do sucesso.

Neste segundo clip a imagem está invertida, mas mal se nota. A versão oficial da CBS é precedida por um anúncio desagradável...


Em 2008 Joss Whedon lançou uma curta musical online onde Harris era o vilão do título, "Dr. Horrible" (http://www.drhorrible.com). O sucesso foi enorme.


A sua reputação é tal que é sucessivamente convidado para apresentar eventos como o famoso programa "Saturday Night Live" e mais recentemente as cerimónias dos Emmy e dos Tony Awards.



Resumidamente, se tem Neil Patrick Harris e não é cinema corre bem. Se tiver cantoria ainda melhor. Aguardamos o que fará em "Glee", pela amostra pode ficar na série para sempre.

18 de abril de 2010

Onde ver filmes

Cada vez mais o Antestreia marca a diferença em relação aos restantes blogs.
Ontem entrou em funcionamento um novo serviço no gadget das estreias. Abaixo do trailer podem encontrar um link "Onde Ver". O que faz? Simplesmente indica as sessões do filme.

O programa permanente do blog aponta salas do Grande Porto por ser a localização do blog e da maioria dos leitores. O gadget para iGoogle permite que cada um defina a sua, inclusivamente fora de Portugal. É fácil configurar: na seta escolher Editar Definições e escrever na caixa de Localização.

A informação é actualizada via Google por isso podem contar com um serviço de qualidade.

17 de abril de 2010

Primeira sessão Black&White 2010



Arrancou hoje mais uma edição do Black & White. A primeira sessão apresentou os vencedores de 2009. Confiante num ano ainda melhor está o seu director, Jaime Neves, que nos promete um festival em grande, com ou sem tempestade. Aqui fica uma lista dos destaques indicados.

No primeiro dia há dois pontos fundamentais. Às 16 horas uma selecção documental proveniente da República Checa. Na sessão seguinte, 17:30, "The Forest" (IMDb) é a primeira longa-metragem do festival.

Quinta-feira novamente dois destaques. A tarde começa com Arezu Karubi, uma jovem fotógrafa iraniana que tanto captura flores como nus femininos. Para a noite a animação musical fica entregue aos croatas Kucni Teatar Skripzikl, caso consigam cá chegar...

Sexta-feira uma selecção de filmes trazidos pelo festival Era New Horizons é o grande destaque.

No último dia as três secções sucedem-se. Indeciso entre dar primazia a audio, video ou fotografia Jaime Neves optou pelo politicamente correcto e nomeou como ponto alto o Encontro de Blogues de Cinema. Depois do primeiro encontro nacional de blogues agora cabe ao Fernando Ribeiro/Antecinema organizar o primeiro dos encontros mensais. Os nossos leitores são os convidados de honra num evento que se deseja repetir eternamente.

Não se esqueçam que ainda temos um passatempo a decorrer para assistirem ao festival. Para o encontro não precisam de convite.

Passatempo Black & White - primeiros vencedores

Não se esqueçam que está a decorrer um passatempo que oferece bilhetes duplos para o Black & White!
Todos os dias um dos participantes ganhará um convite que pode ser levantado no secretariado do festival e usado para qualquer sessão competitiva de vídeo, música ou fotografia. O festival tem início a 21 de Abril.

Dia 15
João Barros - "Schindler's List"
Do filme a Lista de Schindler, a cena em que os judeus são "empilhados" nos combois de transporte ao julgarem que iam ser enviados para casa quando o que lhes acontece é serem enviados para as câmaras de gás. Uma cena que marca a vida de qualquer um... (e a preto e branco).

Usar preto e branco nos anos 90 foi ousado... E "Schindler's List" foi dos melhores filmes de sempre. A cena é muito perturbadora, mas deve ser vista.

Dia 16
Patrícia Dias - "Gone With the Wind"
Um filme que me marcou a preto e branco mas colorido foi "E Tudo o Vento Levou". Um Amor muito sofrido.

Um dos grandes títulos do cinema a cores foi produzido a preto e branco (os castings por exemplo) e depois filmado em Technicolor. No entanto o American Film Institute classifica-o como a preto e branco e, pela criatividade, a Patrícia merece o prémio.

Erupções e exibições


Nem de propósito esta erupção no vulcão que colocou a Europa em terra. Faz-nos pensar como estamos dependentes de um meio de transporte e do planeta-mãe.

A última vez que o espaço aéreo europeu esteve assim tão limitado foi durante a Segunda Grande Guerra. Então para se chegar de Paris à terra das oportunidades era preciso fugir pelo sul do Mediterrâneo, passar em Casablanca e, em Lisboa, finalmente voar.

Daqui a quatro semanas é suposto pessoas de todo o mundo reunirem-se em Cannes. O ano passado era a gripe A, este ano será o vulcão que assombrará o festival? Será que há festival sem convidados?
Como o Antestreia não pode faltar ao maior evento anual do cinema, já começamos a estudar alternativas de locomoção.

As principais rotas de Portugal para lá passam por Coimbra, seja carro ou comboio. De carro é mais rápido, mas deve-se fazer paragens a cada 2 horas e dormir ou revezar condutores.
O preço da viagem ferroviária é metade do preço da viagem rodoviária. Comprando bilhetes de ida e volta ainda fica mais barato, mas supondo que seja o fim do mundo Cannes é um bom local para morrer.



Então o que é preciso fazer para dia 12 estar em Cannes:

TransporteCarroComboio
Partidaà escolhaDia 10 18:55
Chegada15h30 de conduçãoDia 11 22:53
PercursoCoimbra
Vilar Formoso
Salamanca
Valladolid
Burgos
Victoria-Gasteiz
Baionne
Toulouse
Narbonne
Nimes
Aix-en-Provence
Cannes
(75€ portagens)
(150€ combustível)
Coimbra
(55€)
Hendaye
(17€)
Toulouse
(30€)
Marselle
(20€)
Cannes


Faço chuva ou faça sol, o Antestreia cumprirá sempre a sua missão!

"Casablanca" por Nuno Reis


Rick: I remember every detail. The Germans wore gray, you wore blue.
(excluindo as dez frases que todos conhecem de cor, esta é a minha predilecta)

"Casablanca" é o clássico dos Clássicos, daqueles com direito a maiúscula. Antigamente cada estúdio lançava com sorte um filme por mês e a preocupação principal não estava nos efeitos especiais, ou no 3D, mas sim na história. Havendo poucos títulos por onde escolher, o lucro só era feito levando as pessoas a rever o filme. Se agradasse podia ficar em exibição por meses como uma encenação teatral. Desagradando, as salas passariam para outro. Nessa época os filmes eram feitos com a intenção de render, mas também de durar.

Naquela época em que a Europa era controlada pelos alemães, a única esperança de chegar á terra da liberdade era passando pelo norte de África, de Casablanca voar para Lisboa e aí atravessar o Atlântico. Rick é um americano. Já esteve na Europa, não gostam dele nos EUA por isso está na incontornável Casablanca a assistir à passagem de pessoas. O seu café é o local da moda por onde todos passam. Desde o casino para os aventureiros, ao mercado negro de livres-trânsitos para os desesperados, é lá que o dinheiro circula. Até que um dia recebe a visita de um lider revolucionário e da mulher mais bonita que alguma vez esteve em Casablanca. Conseguirá Rick permanecer neutro quando tem o destino do mundo numa das suas mesas ou deixará a neutralidade para os suíços?

Enquanto a Europa vivia uma guerra, os EUA acompanhavam o desenrolar dos acontecimentos com preocupação. Era preciso moralizar toda a nação para um confronto que no final de 1941 se tinha alargado para mais um continente. Mostrar-lhes que o que se passava em Paris e em África também dizia respeito aos americanos. O símbolo desse povo é ninguém mais do que Humphrey Bogart. Não era um galã como o cinema estava habituado, até era mais frequente ser o vilão. Tinha acabado de fazer filmes como "High Sierra", "The Maltese Falcon" e "The Big Shot". Ainda não tinha feito "The Big Sleep", "The Treasure of the Sierra Madre", "The African Queen" (o seu Oscar) nem "Sabrina". Mas em 1942 Bogart tinha um encontro com o destino em "Casablanca". Seria o anti-herói que conquistaria voluntários para a causa. O sonho de Rick era lutar pelos fracos e oprimidos. Não era pelo dinheiro nem pela vitória, apenas porque era o correcto a fazer. A missão dele era proteger os europeus. Desde a bela e corajosa norueguesa (actriz sueca) ao destemido revolucionário checo (actor húngaro), a Europa precisava de ajuda. Os franceses são apresentados como uns traidores a soldo dos alemães que, claro, são os maus da fita. Portugal é brevemente referido porque Lisboa era o último ponto de uma rota clandestina para o abrigo seguro. É importante repetir o ano porque o filme foi feito sem se conhecer o desfecho da guerra. Estávamos em 1942 e a América fez uma incrível análise em tempo real do cenário bélico. Era um tudo ou nada da indústria cinematográfica e daqueles filmes que, mesmo havendo outro desfecho para o confronto, seriam sempre recordados como uma curiosidade.

Uma guerra que estava no pensamento de todos foi o suficiente para cativar os espectadores de então. Passaram quase setenta anos e continua a ser visto. É o humor refinado, é o patriotismo, é o Amor, é o sentido de dever. É o Sam a tocar "As Time Goes By", a fenomenal cena do hino e o clímax no aeroporto. É uma panóplia de frases que se repete por tudo e por nada porque há uma para cada situação. Na vida há poucas coisas garantidas, mas, aqui perdoem-me por usar inglês, No matter what the future brings... we'll always have "Casablanca".

Título Original: "Casablanca" (EUA, 1942)
Realização: Michael Curtiz
Argumento: Julius J. Epstein, Philip G. Epstein, Howard Koch (inspirados na peça de Murray Burnett e Joan Alison)
Intérpretes: Humphrey Bogart, Ingrid Bergman, Paul Henreid, Claude Rains, Peter Lorre
Fotografia: Arthur Edeson
Música: Max Steiner
Género: Drama, Guerra, Romance
Duração: 102 min.

16 de abril de 2010

Colheita Seleccionada - "Casablanca"


Como é costume nos textos de opinião no "Colheita Seleccionada" vou dizer o porquê de este ser um dos meus filmes fundamentais. Por ser o mais antigo é provavelmente aquele que menos gente viu. No entanto imagino que tenham ouvido falar e saibam do que trata, talvez saibam falas e cenas de cor mesmo sem saber que é deste filme. Sim, vou escrever uns spoilers que, como em todos os grandes filmes, não faz mal saberem. Perdoem-me se estão demasiado curiosos para esperar e isto vos vai estragar a surpresa, mas é inadmissível que ainda não tenham visto. Quando eu vi o filme sabia como ia acabar e não gostei menos por isso. Aliás, acabei e fui rebobinar para ver novamente. Se alguém tiver problemas com isso não leia antes de ver. Vão ver o filme para saberem a história toda e agradeçam-me quando voltarem aqui para ler.

Quando o vi sabia com o que contar. O que me interessava era ver Peter Lorre num filme "normal" e acabei como todos os outros rendido à intriga em reuniões secretas, ao romance impossível, ao humor contagiante numa época em que era difícil rir. Admirador dos heróis, fascinado pela heroína, citando frases a propósito de tudo e de nada. Foi daqueles casos em que o filme fez tudo o que era suposto, mesmo 60 anos depois. Apela à razão e à emoção e, pelos ideais dos anos 40, dá um magnífico festim para os olhos, ouvidos e mente. Os diálogos de Rick, Ugarte, Ferrari e Renault (dois carros, coincidência?) são de tal sagacidade que nunca deixam de parecer espontâneos.

Como devem ter reparado pela minha lista não sou facilmente convencido por filmes de um género só. Para ser um dos meus favoritos tem de entrar por vários géneros e ser superior em todos eles. "Casablanca" é dos exemplos mais felizes de cruzamento de géneros. A guerra é um mero tema de fundo não chegando a marcar de forma severa a narrativa. Cria tensão e concentra a acção em Casablanca, mas tem pouquíssima violência. É um filme de espionagem onde cada um tem em si mesmo um agente com poder para mudar o mundo. O equilíbrio entre drama, romance e comédia ligeira torna o que supostamente seria mera campanha militar num filme brilhante.

Em tempos ouvi dizer que todos querem ver filmes com finais felizes, mas são os tristes que ficam para sempre na memória. Em "Casablanca" há três finais num só. Temos o feliz representado pelo casal. Temos o triste na despedida. Temos o motivador com a partida do herói solitário para nova missão. Como pode algo assim ser esquecido? Recomendo que após verem, reverem e absorverem o filme, leiam o guião. É a única forma de compreender a verdadeira grandeza do filme por trás de todo o fascínio. E depois disso, vejam novamente.

Charlot ou Chaplin, sempre o maior




Como poderia falar do cinema a preto e branco sem falar do grande Charlies Chaplin? Hoje faria a bonita idade de 121 anos e esse é um magnífico pretexto para revisitar a filmografia do maior nome do cinema mudo. Por isso reservem uma hora para saborearem todos os excertos video.


A carreira dele começou no cinema mudo nos anos 10, atravessou a Grande Guerra, os Loucos Anos 20, a Grande Depressão, o cinema sonoro, nova guerra, o cinema a cores, e finalmente sucumbiu perante a caça às bruxas. Foram mais de quarenta anos de trabalho constante definindo o que era cinema.

Orfão desde muito jovem, teve no meio-irmão Sydney um enorme apoio. Juntos estudaram até em 1908 entrarem para a companhia de Fred Karno onde também actuava Stan Laurel (da dupla Laurel & Hardy). Daí passou para a Keystone Film Company onde após um primeiro filme muito criticado - "Making a Living" - quase perdeu o emprego. Para o segundo filme "Kid Auto Races at Venice" arriscou e foi com uma indumentária invulgar: Sapatos enormes, calças largas, casaco bem justo, um bigode ridículo, um chapéu de coco e uma bengala. Era apenas um vagabundo no meio da pista, mas a personagem que mais tarde amaremos com o nome de Charlot conquistou um lugar cimeiro no Cinema.

Uma pequena curiosidade, a personagem foi criada para o filme "Mabels Strange Predicament", mas esse saiu apenas dois dias depois. Sim, na altura fazer uma curta-metragem era rápido.


Rapidamente a sua forma de trabalhar enlouqueceu os realizadores e herdou o cargo. Os anos passaram e após muitas mudanças de estúdio fundou a United Artists que ainda hoje existe.

Apesar de ter sido considerado inapto para o serviço militar devido à estatura, esforçou-se ao máximo para apoiar o exército, inclusivamente fazendo campanha para vender obrigações e financiar as tropas.


Em 1923 começou a trabalhar para a própria companhia com "A Woman of Paris: A Drama of Fate". Em 1925 "The Gold Rush" (sobre prospecção de ouro) e em 1928 "The Circus" (com Charlot no circo) tornaram-se obras de referência. As longas-metragens já eram trabalhos mais refinados e, como realizador, era intransigente. Por vezes repetia uma cena dezenas de vezes até ficar satisfeito. Isso atrasava a produção e aumentava os custos, mas o tempo confirmaria que era um trabalho bem feito.




Como se isto tudo não fosse suficiente entrou numa fase em que tudo o que fazia era excelente: "City Lights", "Modern Times" (o meu favorito), "The Great Dictator", "Monsieur Verdoux" e "Limelight".
No primeiro recusou-se a adoptar o som. Afirmava que sonorizar matava a liberdade imaginativa do espectador. Em "Modern Times" filmou com som como se de um filme mudo se tratasse. Tem música de fundo, os objectos emitem som e ele próprio canta no final, mas é mudo em essência pois todo o som é secundário. Teve de fazer assim pois o público já não queria assistir a filmes mudos. E aqui morreu o cinema silencioso.

O tema destes filmes é muito variado. No primeiro Charlot tem de ajudar uma jovem cega por quem se apaixona.


No segundo tem de trabalhar numa sociedade industrializada sem misericórdia para os vagabundos.

Em "The Great Dictator" satirizou o regime de Hitler interpretando o ditador Adenoid Hynkel e o barbeiro judeu que é confundido com ele.

Depois desta adaptação de "O Príncipe e o Pobre" passou para uma modernização do conto de Barba Azul em "Monsieur Verdoux". A ideia original partiu de Orson Welles, um dos poucos de quem aceitou sugestões.


E finalmente chegou o cinema a cores. Para atacar o novo inimigo ia fazer o derradeiro filme a preto e branco. Aliou-se ao seu fã número um e o outro maior cineasta do género. Chaplin e Buster Keaton no mesmo filme é algo inédito pelo que este trabalho só deve ser visto quando se compreender a importância de cada um deles para o cinema. Isso significa que vos vão escorrer lágrimas pelo rosto quando souberem que podem ver ambos num só filme. De Keaton a obra fundamental e incontornável é "The General" que tem mais de 80 anos e ainda vejo como se fosse acabado de fazer. Se quiserem ver imediatamente "Limelight" pelo menos prometam que depois vêem alguns trabalhos de Keaton. Aqui os reis da comédia interpretam uma dupla macambúzia composta por um comediante falhado e um dançarino suicida.


Após a estreia deste filme foi proibido de regressar aos EUA sob acusação de ser comunista. Aproveitou para umas longas férias na Suíça e respondeu com "A King in New York" cinco anos depois. Um rei deposto emigra para os EUA onde se torna estrela televisiva e é acusado de ser comunista.


Finalmente em 1967, dez anos depois, dirige Marlon Brando, Sophia Loren e Tippi Hedren em "A Countess from Hong Kong" uma comédia romântica sobre uma princesa russa em mar alto.


Viria a falecer dez anos depois e o mundo do cinema nunca mais voltaria a andar nos eixos. Como não nos quereria ver tristes por causa dele recordemo-lo com um sorriso.

15 de abril de 2010

Filmes seleccionados para Cannes


Abertura
ROBIN HOODRidley SCOTT
Competição
TOURNÉEMathieu AMALRIC
DES HOMMES ET DES DIEUXXavier BEAUVOIS
HORS LA LOIRachid BOUCHAREB
BIUTIFULAlejandro GONZÁLEZ IÑÁRRITU
UN HOMME QUI CRIEMahamat-Saleh HAROUN
HOUSEMAIDIM Sangsoo
COPIE CONFORMEAbbas KIAROSTAMI
OUTRAGETakeshi KITANO
POETRYLEE Chang-dong
ANOTHER YEARMike LEIGH
FAIR GAMEDoug LIMAN
YOU. MY JOYSergei LOZNITSA
LA NOSTRA VITADaniele LUCHETTI
UTOMLYONNYE SOLNTSEM 2Nikita MIKHALKOV
LA PRINCESSE DE MONTPENSIERBertrand TAVERNIER
LOONG BOONMEE RALEUK CHAATApichatpong WEERASETHAKUL
Un Certain Regard
BLUE VALENTINEDerek CIANFRANCE
O ESTRANHO CASO DE ANGÉLICAManoel DE OLIVEIRA
LES AMOURS IMAGINAIRESXavier DOLAN
LOS LABIOSIvan FUND, Santiago LOZA
SIMON WERNER A DISPARU…Fabrice GOBERT
FILM SOCIALISMEJean-Luc GODARD
UNTER DIR DIE STADTChristoph HOCHHÄUSLER
REBECCA H. (RETURN TO THE DOGS)Lodge KERRIGAN
PÁL ADRIENNÁgnes KOCSIS
UDAANVikramaditya MOTWANE
MARTI, DUPA CRACIUNRadu MUNTEAN
CHATROOMHideo NAKATA
AURORACristi PUIU
HA HA HAHONG Sangsoo
LIFE ABOVE ALLOliver SCHMITZ
OCTUBREDaniel VEJA
R U THEREDavid VERBEEK
RIZHAO CHONGQINGXiaoshuai WANG
Fora de Competição
YOU WILL MEET A TALL DARK STRANGERWoody ALLEN
TAMARA DREWEStephen FREARS
WALL STREET - MONEY NEVER SLEEPSOliver STONE
Sessões da meia-noite
KABOOMGregg ARAKI
L'AUTRE MONDEGilles MARCHAND
Sessões especiais
INSIDE JOBCharles FERGUSON
OVER YOUR CITIES GRASS WILL GROWSophie FIENNES
NOSTALGIA DE LA LUZPatricio GUZMAN
DRAQUILA - L'ITALIA CHE TREMASabina GUZZANTI
CHANTRAPASOtar IOSSELIANI
ABELDiego LUNA

Jurado de Cannes


Aqui têm os nomes do júri para esta edição de Cannes.

Longas-Metragens


Tim BURTON - Realizador
Kate BECKINSALE - Actriz / Reino Unido
Giovanna MEZZOGIORNO - Actriz / Itália
Alberto BARBERA - Director do Museum Nacional de Cinema / Itália
Emmanuel CARRERE - Realizador, Argumentista / Francça
Benicio DEL TORO - Actor / Porto Rico
Victor ERICE - Realizador/ Espanha
Shekhar KAPUR - Realizador, Actor, Produtor / Índia

Cinefondation e Curtas-Metragens


Atom EGOYAN - Realizador / Canadá
Emmanuelle DEVOS - Actriz / França
Dinara DROUKAROVA - Actriz / Rússia
Carlos DIEGUES - Realizador / Brasil
Marc RECHA - Realizador / Espanha

UN CERTAIN REGARD
Claire DENIS - Realizador / France

"Nine" por Nuno Reis

Fellini era grande. Fellini era louco. Fellini era genial. Não se faz retrospectivas de cinema italiano sem Fellini e ele sempre o soube. Convencido do seu talento chamou ao que viria a ser a sua obra-prima "8 1/2" porque seria o seu oitavo-e-meio filme (um deles foi co-realizado por isso apenas conta como meio). Ao longo dos anos muitos o refizeram, adaptaram ou satirizaram. Na história recente um dos mais felizes foi "8 Femmes" de François Ozon, mas todas as adaptações foram vistas com alguma desconfiança. No teatro foi o contrário. O original venceu cinco Tony, o remake (revival na linguagem dos palcos) mais dois. Inspirado nisso o cinema arriscou novamente, adaptando o aclamado musical.

Guido Contini é o mestre do cinema italiano. Tudo o que faz é aclamado, se bem que os filmes mais recentes tenham sido um pouco fracos. Está prestes a fazer o seu nono filme de título "Italia" e para esse conta com a sua musa de sempre, Claudia. O único problema é que atravessa uma depressão, uma enorme crise de identidade e, cúmulo dos azares, não tem nenhum guião para filmar. Entre a mulher, a amante, a musa, a costureira, a jornalista, a prostituta da infância e o fantasma da mãe não sabe para onde se virar e por isso foge. Só que o produtor persegue-o com toda a equipa e farão o filme onde quer que seja. Já que nenhuma cidade lhe dá sossego, refugiar-se-á na própria mente.

Pelos nomes aparentemente seria difícil escolher melhor elenco. Pensemos em potências cinematográficas como Austrália, Espanha, França, Itália, Reino Unido. As actrizes escolhidas se não são cada uma a mais famosa do seu país serão de um top 3, top 5 no máximo. Estão todas muito bem, excepto a boneca de plástico italiana incapaz de tirar o sorriso ridículo perante as câmaras. Nos EUA seria impossível fazer uma lista tão curta, mas as escolhidas surpreenderam. Fergie por passar tão despercebida quando era suposto ser a mais profissional entre todas, e Kate Hudson por estar bem e linda. Aos anos que não podia dizer ambas as coisas dela num só filme. Finalmente o homem de todas estas mulheres. Daniel Day-Lewis é dos maiores actores da actualidade e quase tudo o que faz é arrasador. Aqui não.

Rob Marshall por muito que tente nunca será Fellini. O musical está demasiado enraizado neste trabalho para que a vertente cinematográfica tenha autonomia. A única coisa que ganha é poder alternar duas épocas durante uma só música, mas até isso faz de forma irregular. Num segundo visionamento atento ou com um bom background sobre a personagem Guido - ver o original - não é grave, mas como trabalho isolado fica quase incompreensível de tão solto. Posso dizer bem de uma coisa: a banda sonora está fenomenal, mas isso não foi ele a fazer.

Título Original: "Nine" (EUA, Itália, 2009)
Realização: Rob Marshall
Argumento: Michael Tolkin, Anthony Minghella (inspirados no musical)
Intérpretes: Daniel Day-Lewis, Nicole Kidman, Penélope Cruz, Marion Cotillard, Judi Dench, Kate Hudson, Sophia Loren, Fergie
Fotografia: Dion Beebe
Música: Andrea Guerra
Género: Drama, Musical ,Romance
Duração: 118 min.
Sítio Oficial: http://nine-movie.com/

Rainha do preto e branco

Como parte da celebração do cinema a preto e branco que se aproxima, recordemos o falecimento há exactamente vinte anos de Greta Garbo.



A carreira de Garbo foi relativamente curta (21 anos) e é fácil de resumir. Quando o pai morreu ela tinha apenas 14 anos e foi trabalhar numa agência de publicidade local (Estocolmo) para ajudar a família. Pela sua bela figura foi utilizada em diversas campanhas impressas e num anúncio filmado. Daqui passou para as curtas-metragens. Facilmente entrou numa escola dramática que abandonou quando lhe ofereceram um papel importante numa longa-metragem. Depois da segunda longa foi levada pela MGM para os Estados Unidos onde o cinema mudo facilitava a integração de estrangeiros. De 1926 a 1929 foi a rainha do cinema mudo.

Flesh and the Devil (1926)



O actor com quem contracena, John Gilbert, foi quem esteve mais perto de casar com ela. Foi deixado no altar...

Divine Woman (1928)



O filme está perdido, apenas sobra este pedaço.

Em 1930 começou a falar para as câmaras e os êxitos seguiram-se. No primeiro ano é duplamente nomeada para Oscar de melhor actriz. Entre os muitos êxitos encontram-se:

Mata Hari (1931)




Queen Christina (1933)




Anna Karenina (1935)





Ao longo da carreira foi nomeada para quatro Oscares tendo recebido um honorário em 1955. Após a Segunda Guerra Mundial achou que o cinema tinha mudado e a sua época tinha passado pelo que em 1941 fez o seu último trabalho.

Tentou retornar algumas vezes, mas o único projecto que lhe agradou foi cancelado por falta de financiamento. Como nos anos 30 cobrou mais de 2 milhões deu para viver despreocupadamente sem ter de envelhecer perante as câmaras. A lendária Garbo permanece jovem e bela.

14 de abril de 2010

"Shutter Island" por Nuno Reis

Em 2008 o Fantasporto teve a abertura oficial numa segunda-feira, apesar de as competições terem tido depois a abertura à Sexta como é habitual. O motivo era a homenagem a Max Von Sydow e a sua eminente partida para os EUA onde filmaria com Martin Scorsese. Passaram quase dois anos e entretanto muitos se esqueceram, mas finalmente podemos ver o filme que causou essa alteração.

Teddy Daniels e Chuck Aule são dois marshalls que desembarcam na ilha Shutter. Ali funciona um hospital psiquiátrico, centro de pesquisas e prisão de alta segurança que alberga os piores psicopatas A. sua missão é descobrir como conseguiu uma paciente escapar da sua cela e desaparecer sem deixar rasto. Chegados lá os guardas prisionais separam-nos das suas armas e a tempestade separa-os do continente. Os médicos pouco ajudam, o pessoal médico ainda pior e o que os outros pacientes dizem obviamente não é de fiar. Prisioneiros da meteorologia e sem pistas conclusivas, terão de resolver o caso ou fugir antes de enlouquecerem.

Quando Scorsese faz um filme, fá-lo em grande. Basta pensar que actores do calibre de Emily Mortimer, Elias Koteas, Jackie Earle Haley e Patricia Clarkson têm uma ou duas cenas. Não se pode dizer que seja um desperdício de talento, são personagens-chave (excepto a de Koteas) e ficaram muito bem entregues. Quando há essa atenção aos detalhes não é difícil fazer um grande filme. Com actores assim a segunda unidade anda sozinha e o mestre fica livre para fazer o resto.
Michelle Williams e Ben Kingsley fazem parte do desafio permanente que DiCaprio e Ruffalo enfrentam. A alucinação, o médico e os marshalls. Foi com estes quatro que o esqueleto do filme foi formado. Numa ilha em que a loucura e o crime estão sempre presentes e a própria natureza parece ter perdido o juízo, nem o espectador sai ileso. As pistas são suficientes para prever o que se passa, mas isso ainda torna o filme melhor. Ver isto com preconceitos é disparate porque se ir sem uma ideia formada obriga a ver segunda vez, ir à espera de algo obriga a ver três vezes. Neste filme o espectador fica rendido ao talento do realizador, ao desempenho dos actores e à fotografia. O argumento pode não se distinguir de muitos outros, mas está trabalhado de uma forma que poucos conseguiriam. É um constante desafio visual e mental que em nenhum momento ousa repetir cenas insultando a inteligência de quem vê. A única forma de realmente se compreender seria revendo do início e se é para ver 5 horas de cinema é justo comprar novo bilhete.

É um filme que vai ser muito falado quando começar a época dos prémios e de referência futura em ciclos de homenagem aos seus nomes principais. Daqueles raros trabalhos em que todos os envolvidos têm orgulho e recordarão por muitos anos como um ponto alto da carreira. Demasiado inteligente para o grande público, mas depois de tantos filmes sem substância por causa desse mesmo "grande público" sabe bem uma vingança ocasional.

Título Original: "Shutter Island" (EUA, 2010)
Realização: Martin Scorsese
Argumento: Laeta Kalogridis (baseado no livro de Dennis Lehane)
Intérpretes: Leonardo DiCaprio, Mark Ruffalo, Ben Kingsley, Max Von Sydow, Emily Mortimer, Patricia Clarkson, Michelle Williams, John Carroll Lynch, Jackie Earle Haley, Elias Koteas
Fotografia: Robert Richardson
Género: Drama, Mistério, Thriller
Duração: 138 min.
Sítio Oficial: http://www.shutterisland.com/

13 de abril de 2010

"Thirst" por César Nóbrega

Um dos fenómenos do Festival de Cinema de Cannes de 2009 estreia em Portugal. "Thirst – Este é o Meu Sangue"provoca o mais ateu dos espectadores. O currículo do realizador Park Chan-Wook ("Oldboy – Velho Amigo", "I’m a Cyborg, But That’s Ok") aconselha a um atento visionamento. O César Nóbrega já viu e confirma, o cinema sul-coreano está volta em grande forma, depois de uns anos de indefinição.

Os filmes de vampiros estão mais do que na moda. Muito graças ao clã Cullen da saga "Twilight" de Stephanie Meyer, os seres que vivem para sempre sugando o sangue dos humanos conquistam cada vez mais adeptos.

Mas, os filmes de vampiros têm um longo caminho percorrido – que dizer de "Nosferatu" de F.W. Murnau em 1922, ou de "Drácula" de Tod Browning (1931). Mais recentemente, Francis Ford Coppola realizou "Dracula de Bram Stroker" (1992), dois anos depois foi a vez de "Entrevista com o Vampiro" de Neil Jordan. Destaque, ainda, para "Blade" de Stephen Norrington e "Vampiros" de John Carpenter (1998).

Em 2008, "Crepúsculo" de Catherine Hardwicke veio dar visão aos livros da escritora mórmon norte-americana que idealizou um vampiro romântico que se apaixona por uma humana. O amor impossível, o protagonista saído de um catálogo de modelos e uma realização inspirada fizeram os vampiros renascer.

Com todo este fenómeno corremos o risco de perder outros filmes do género dignos de nota. "Deixa-me Entrar" do sueco Tomas Alfredson e produzido no mesmo ano é um desses exemplos. Um criança frágil é vítima do tão "agora famoso" bullying. Sonha com a vingança, o seu maior desejo é ter um amigo. Quando chega à escola uma nova miúda, as coisas vão mudar. Ela é uma vampira que vai despertar no rapaz não o habitual medo, antes o que se pode chamar de amor. O filme estreou em Portugal em Maio do ano passado e quase passou despercebido. O facto de ser cinema europeu pode explicar algum do desprezo, mas não todo.

De aceitação, ainda, mais dificil é "Thirst – Este é o Meu Sangue". Só agora o cinema sul-coreano começa a ser distribuído comercialmente nas salas de cinema portuguesas. Foi o Fantasporto – Festival Internacional de Cinema do Porto quem pela primeira vez arriscou mostrar este cinema ao seu público – e com resultados brilhantes. Em 2004, por exemplo, "A Tale of Two Sisters" de Kim Jee Woon arrecadou o Grande Prémio do festival.

Os mais importantes filmes do realizador Park Chan-Wook passaram no Fantas, com destaque óbvio para a trilogia dedicada à vingança iniciada em 2002 com "Sympathy for Mister Vengeance", desenvolvida no brutal "Oldboy – Velho Amigo" (2003) e encerrada em 2005 com "Lady Vengeance" (Prémio Melhor Filme da Secção Oficial Orient Express do Fantasporto 2006).

Em 2008, Park Chan-Wook voltou a ser distinguido com uma Menção Especial do Júri da Secção Oficial de Cinema Fantástico do Fantasporto pelo estranho mas belo e original "I’m a Cyborg, But That’s Ok". "Thirst – Este é o Meu Sangue", o seu mais recente filme, venceu a secção Orient Express do Fantasporto 2010, depois de ter arrecadado o Prémio Especial do Júri do Festival de Cinema de Cannes 2009.

O filme é sobre vampiros, mas não só! É muito mais do que isso – é um filme sobre sentimentos. À parte da polémica, uma vez que é um padre católico quem se vai transformar em "sugador de sangue", "Thirst" é sobre um homem bom, a quem roubam toda a dignidade. E este facto é muito importante. O tal padre oferece-se para uma experiência à volta da investigação de novos medicamentos. Quando tudo corre mal, uma transfusão de sangue infectado vai transformá-lo em vampiro. Daí em diante, o apelo do sangue, mais – da carne – vão tentar destruir o que de bom existiu no coração daquele religioso. Incluindo a primeira cena de nu masculino frontal num filme mainstream sul-coreano, "Thirst – Este é o meu Sangue" peca por gula. A fome de cenas de sexo e violência podem parecer demasiadas, mas no final há a redenção. Contudo, encontramos os sete pecados mortais em "Thirst": a inveja – o homem que só queria praticar o bem e não consegue; a ira – a raiva que sente e a necessidade de vingança por algo que não controla; a vaidade – o sentimento de imortalidade que um vampiro "pode ter" (uma vez que um verdadeiro vampiro não seria nada bonito de se ver, porque seria parecido com um toxicodependente em último grau); a preguiça – a facilidade com que consegue tudo depois de se transformar em figura das trevas; a avareza – o desejo de ter tudo para ele/ela; e a luxúria – o simples toque num corpo feminino e todas as emoções que isso pode despertar num homem que jurou fidelidade a Deus.

Seja pela polémica de um padre se tornar no maior dos pecadores, seja pela crueldade da vida impossível e condenada à morte que, contraditoriamente, se apresenta, "Thirst – Este é o meu Sangue" deve ser visto. Eles falam todos (ou quase todos) sul coreano, mas as legendas existem para traduzir...


Título Original: "Bakjwi/Thirst" (Coreia do Sul, EUA, 2009)
Realização: Chan-wook Park
Argumento: Chan-wook Park e Seo-Gyeong Jeong (baseados num livro de Émile Zola)
Intérpretes: Kang-ho Song, Ok-bin Kim, Hae-sook Kim, Ha-kyun Shin, In-hwan Park
Fotografia: Chung-hoon Chung
Música: Young-ook Cho
Género: Drama, Horror, Romance
Duração: 133 min.
Sítio Oficial: http://www.thirstmovie.com/

Passatempo Black & White

Estamos a pouco mais de uma semana do arranque da sétima edição do Black & White. O Antestreia e o Black&White têm 5 convites duplos para oferecer para uma sessão do festival: áudio, vídeo ou fotografia.

Para concorrer têm apenas de mandar um mail para o Antestreia com nome, BI e uma frase a dizer uma cena a preto e branco que vos tenha marcado. Diariamente sortearemos um convite duplo, sendo o vencedor e o seu filme divulgados no blog. Cada pessoa e filme é elegível apenas uma vez por cada edição do festival.
Mesmo que não ganhem podem sempre aparecer por lá e assistir às sessões. Dia 24 de Abril não se esqueçam de aparecer no primeiro encontro mensal com os blogs de cinema.

12 de abril de 2010

"Les Herbes Folles" por César Nóbrega

Estreou a 8 de Abril nas salas de cinema portuguesas (Medeia King e Medeia Cidade do Porto) o mais recente filme de um dos mestres da Novelle Vague: Alain Resnais. Exactamente meio século depois do brutal e avassalador “Hiroshima, Meu Amor”, com argumento da escritora e realizadora Marguerite Duras, chega “As Ervas Daninhas” – vencedor dos prémios Especial e Especial do Júri de Cannes 2009. É excelente cinema francês. Quem só vê cinema norte-americano devia passar os olhos por este drama recheado de comédia, para ver como se filmam as emoções. O César Nóbrega, fã confesso de Resnais, viu o filme em Cannes, conversou com o protagonista André Dussollier (na "Plage des Palms" antes da festa de apresentação da obra) e aconselha vivamente o visionamento destas ervas daninhas.

Deixem-me usar um chavão para definir a minha opinião de Alain Resnais: é como o vinho do Porto. Quanto mais velho melhor. Não há outra maneira de lhes explicar o quanto admiro o cinema deste francês e o que vão ver em "As Ervas Daninhas".

Vencedor de quase meia centena de prémios em festivais de cinema, como Cannes, Berlim e Veneza, Alain Resnais com 88 anos não sabe fazer filmes monótonos e repetitivos. Toda a sua obra é diversa e excitante.

"As Ervas Daninhas" ganhou os merecidos prémios Especial e Especial do Júri do Festival de Cinema de Cannes 2009, mas Resnais já ganhava prémios há 50 anos. "Hiroshima Meu Amor" de 1959, conquistou vários prémios e em 1961, "O Ano Passado em Marienbad", onde um homem tenta convencer uma mulher casada que viveram um tórrido affair, arrecadou o Leão de Ouro de Veneza.

Podíamos escrever várias páginas sobre os prémios para os filmes de Resnais, mas vamos citar apenas alguns: "Muriel ou o tempo de um regresso" (1963) deu a oportunidade à actriz Delphine Seyrig de ganhar o prémio de melhor actriz do festival de Veneza, num filme onde nada é o que parece, tudo é ilusão; "A Guerra Acabou" (1966), um dos poucos filmes de Resnais com uma narrativa linear foi nomeado para Óscar de Melhor Argumento Adaptado; "Providence" (1977) que conta a história de Dick Bogarde, um homem amargo que se recorda da família de uma maneira que pode não ser a mais verdadeira, ganhou 11 prémios; "O Meu Tio da América" (1980) considerado um dos melhores filmes do mestre da Novelle Vague levou uma nomeação para Óscar de Melhor Argumento Original (que perdeu para o filme de Jonathan Demme, "Melvin and Howard") e ganhou três prémios em Cannes, incluindo o Grande Prémio do Júri; provavelmente o filme mais difícil de Resnais, "Smoking/No Smoking" (1993), onde dois actores desempenham vários papeis, venceu o Urso de Prata de Berlim; o drama demasiado real "Corações" (2006) ganhou cinco prémios, incluindo o Leão de Prata de Veneza.

Como bom realizador francês que é, Alain Resnais centra os seus filmes no relacionamento entre seres humanos. O amor, a paixão, a raiva, o ódio, o desprezo são tudo peças de um puzzle construído com muito cuidado. Ao invés de deixar o público adivinhar o que faz alguém amar ou odiar, Resnais baralha e dá de novo, quem ama devia odiar e vice-versa. As personagens do francês andam sempre à procura de qualquer coisa: quase sempre amor. Ao fim e ao cabo o que todos nós procuramos e que os filmes românticos parecem todos transmitir. Só que Alain Resnais não conta história lineares. Não esperem encontrar um início, um meio e um fim. Às vezes as coisas parecem não fazer sentido – e a vida faz algum sentido? Nós nascemos, andamos 20 anos à procura de qualquer coisa, quando achamos que a encontramos já chegamos aos 40 e quando nos preparamos para viver, morremos! Os filmes de Resnais são assim.

Em "Corações" o veterano actor francês André Dussollier (um dos habituais de Resnais) era uma agente imobiliário manchado pela tentação da carne, depois da colega de trabalho lhe entregar uma cassete de vídeo que deveria conter mensagens cristãs, mas que em vez disso continham "shows strip" da própria. Em "As Ervas Daninhas" o mesmo Dussolier é um homem, aparentemente, comum, que encontra uma carteira num parque de estacionamento de um centro comercial. Pretendendo tomar a atitude correcta liga para a dona – a brilhante actriz Sabine Azéma, actual companheira de Alain Resnais, mais de 25 anos mais nova – que lhe pede que a entregue na polícia, para ela a recuperar. Georges e Marguerite (assim se chama as personagens) vão envolver-se num confuso jogo amoroso, sem pés nem cabeça, mas deliciosamente envolvente e irresistível.

Se em alguma altura de "As Ervas Daninhas" achar que sabe o que vai acontecer a seguir, é muito provável que erre. Deixe-se de advinhas e goze o filme em pleno. Este drama do quotidiano não podia acontecer nas nossas vidas, se fosse verdade, era porque só podia ser mentira. Lindo e tocante, mais que "Corações", com a mesma linha temática.


Título Original: "Les Herbes Folles" (França, Itália, 2009)
Realização: Alain Resnais
Argumento: Alex Reval e Laurent Herbiet (adaptação do livro de Christian Gailly)
Intérpretes: André Dussollier, Sabine Azéma, Emmanuelle Devos, Mathieu Amalric
Fotografia: Eric Gautier
Música: Mark Snow
Género: Drama
Duração: 104 min.
Sítio Oficial: http://www.lesherbesfolles-lefilm.com/