28 de dezembro de 2014

"Unbroken" por Nuno Reis

Como em qualquer obra biográfica, partirei do princípio que já sabem bastante sobre a personagem e que portanto, não há spoilers. Caso não saibam quem é Louis Zamperini e queiram ser completamente surpreendidos, vejam o filme antes de ler este texto. è provável que não se arrependam e o homem merece. Se preferirem ir informados e pensar no assunto antes de gastar o dinheiro, então leiam.
A definição de herói diz que é uma “pessoa de grande coragem ou autora de grandes feitos”. A mitologia e a ficção estão recheadas de figuras assim que aprendemos a reconhecer. As da vida real costumam ser um pouco menos óbvias e ou demoramos muito a reconhecer, ou demoramos pouco a esquecer. Todavia, há alguns heróis que teimam em permanecer nos livros de História pelas suas variadas acções. Um daqueles que os Estados Unidos mais deviam aplaudir é o seu atleta, soldado, e orador inspiracional, Louis Zamperini.
A vida de Zamperini foi tão completa como a de qualquer criação imaginária que alguém tivesse num dia de muita inspiração. Não só ao nível dos desafios, como na forma como os superou, elevando-se a ele e aos que o rodeavam.


Não me alongarei a falar do homem. Para isso há vários livros escritos pelo próprio e por terceiros. Falando apenas do filme, estamos perante uma obra que nasceu para ser enorme. Escrita pelos irmãos Coen. Realizada por Angelina Jolie. Um elenco jovem e conceituado com nomes como Jack O'Connell, Domhnall Gleeson, Garrett Hedlund e Jai Courtney. Produzido por meia dúzia de pesos pesados de Hollywood com todo o género de backgrounds. Fotografia de Roger Deakins, onze vezes nomeado a Oscar, quase sempre em filmes assim, sobre pessoas. Música do seis vezes nomeado Alexandre Desplat, quatro delas por heróis reais. A posição da família assegurada pelo genro que faz parte da história do cinema, Mick Garris. O que podia correr mal com tal equipa de sonho? Foi mesmo a única coisa que não podiam mudar, a história ser demasiado grande para ser traduzida em filme.
Zamperini teve uma vida completa. O filme foca-se na juventude, ignorando a menos apelativa fase como orador, e mesmo com esse pouco não tem mãos a medir. Notam-se três partes distintas que funcionam quase como filmes independentes, não fossem retratos de uma só personagem.


A narrativa não é cronológica, mas a vida dele pode ser vista assim:

Acto I - o atleta
Italianos recém-chegados à terra das oportunidades, os Zamperini tinham dificuldades de expressão em inglês. Vendo que o irmão se metia em confusões, Pete decidiu pô-lo a fazer desporto. Ao ver que bem corria, levou-o mais longe, tornando-o o mais rápido atleta da cidade, do estado e um corredor olímpico (então o mais jovem na história do país). Alguns dos recordes feitos nos anos 30 permaneceram até aos anos 50.
Esta faceta é usada para dar o estatuto de herói/celebridade ao protagonista. É o retrato do sonho americano que vai ser destruido pela guerra.

Acto II - o soldado
Zamperini não pôde participar nos Olímpicos seguintes por causa da Guerra Mundial que suspenderam a competição e recrutaram todos os jovens fisicamente aptos para um outro tipo de confronto de nações menos pacífico. Como parte da tripulação de um bombardeiro, eram frequentes as missões sobre solo inimigo. Uma delas acabou em tragédia e apenas três soldados sobreviveram à avaria do avião. Zamperini e os colegas vão atravessar uma dura odisseia onde lhes faltam comida, água e esperança.
Será um entrar brusco na vida adulta. Com a morte a espreitar em cada esquina e onde a vontade de viver de cada um é testada ao limite.

Acto III - o prisioneiro
Como todos os tormentos são relativos, nada como ser salvo do alto-mar pelos japoneses e ir parar a um campo de concentração. E logo aquele gerido por um dos que viria a ser listado no top 40 dos piores criminosos de guerra de então, Mutsuhiro "Bird" Watanabe. É aqui que Zamperini se transcende. A sua resiliência e coragem serão uma inspiração para todos e relativirizarão o sofrimento que os seus camaradas de confinamento atravessariam ao seu lado. Pois ninguém sofreu mais do que o atleta olímpico que ele tentaram vergar. E sempre que tentavam, ele ficava ainda mais forte e brilhava mais intensamente, fazendo com que os opressores desesperassem.


Zamperini é isso e muito mais. O filme é incrível a mostrar tudo, faltando apenas uma melhor mistura das diferentes facetas. Foi como ver três bons filmes com a mesma personagem quando na verdade são a mesma história, dois dos acontecimentos foram consecutivos. Se é o mesmo filme, porque me senti como estando a rever “Chariots of Fire”, “Life of Pi” e “The Bridge on the River Kwai” em zapping?
Quando a etapa mais animada da vida de Louis termina, temos uns rápidos ecrãs a contar tudo o que não apareceu em tela. Era um tema mais delicado e não tão fácil de vender pelo que se percebe o cuidado com que se desviam da responsabilidade de o contar. Afinal, já iam com mais de duas horas e o público não ia querer ouvir uma história de redenção e de devoção. Assim pelo menos ficam com um filme sobre realização pessoal, sobre crença, sobre o quanto custa ser um herói e quais as vantagens de tudo isso. Pelo que o filme diz, os EUA renderam-se a este herói. Pelo que o filme não diz, é melhor ir ler o livro para saber tudo o que faltou contar sobre este homem.
UnbrokenTítulo Original: "Unbroken" (EUA, 2014)
Realização: Angelina Jolie
Argumento: Joel e Ethan Coen, Richard LaGravenese, William Nicholson (baseados no livro de Laura Hillenbrand)
Intérpretes: Jack O'Connell, Domhnall Gleeson, Garrett Hedlund, Takamasa Ishihara, Finn Wittrock, Jai Courtney
Música: Alexandre Desplat
Fotografia: Roger Deakins
Género: Biografia, Drama, Desporto, Guerra
Duração: 137 min.
Sítio Oficial: http://www.unbrokenfilm.com/

27 de dezembro de 2014

Aquele que salva o Natal todos os anos

Young Adult. Será talvez uma das expressões chave neste novo milénio. Foi essa categoria que tornou a leitura novamente fixe. Foram as adaptações desses mesmos livros que deram as novas franquias multi-milionárias ao cinema. É esse o público-alvo de grande parte dos vendedores.
Ao contrário dos géneros tradicionais, esta pseudo-classificação etária pode ser um pouco discriminatória para aqueles que já não encaixam na etiqueta. Quando compramos um livro infantil todos pensam que é para oferecer, mas quando compramos um Young Adult não passamos assim tão incólumes pelos olhares. O mesmo com os bilhetes para o cinema. Experimentem pedir só um bilhete para ir ver as aventuras da Sininho e vejam os olhares que vos lançam! Com os Jogos da Fome pode ainda não ser assim, mas lá chegarão quando tiverem quarenta ou cinquenta. Por isso os Harry Potter tinham capas alternativas mais sóbrias e sérias, para os seus leitores crescidos passarem despercebidos no autocarro. O mesmo não se passa com os novos livros da moda, mas não receiem. Estou aqui para vos descansar e dizer que há um Young Adult eterno que todos admiram por igual e que podem usar como argumento quando vos disserem para lerem algo mais adulto e não quiserem fazer piadas sobre a literatura erótica tão em voga.

Quando se trata de salvar o Natal - repetidas vezes - não há muita gente em quem possam confiar. Uma das opções mais referidas será McClane, mas deveríamos pensar mais no McCallister. Quem? Kevin McCallister. Aquele miúdo que por duas vezes derrotou uma dupla de ladrões com tanto de estúpidos como de preguiçosos.
Se acham que deter terroristas é mais importante, pensem em tudo o que aprenderam com Kevin e aquilo a que ele dá valor.
Aprendemos o significado do Natal, a dar valor à família, a tratar todos com respeito. Aprendemos a defender o que é nosso e o que é das crianças. Aprendemos a dar o que temos e o que somos para ajudar quem precisa. “Home Alone” pode ter sido um filme de enorme sucesso no seu tempo e agora estar na categoria dos filmes obrigatórios de Natal para ver com a família em frente à lareira numa fria tarde de feriado, mas não devemos nunca esquecer a sua mensagem intemporal.
Se removermos a camada mais cómica e observarmos Kevin, é uma criança sozinha em casa (e em Nova Iorque) que é obrigada a crescer para defender o que é seu e o que é correcto. Tem momentos em que é uma criança livre de responsabilidades que come porcarias e esbanja dinheiro, e tem momentos em que é o mais parecido com ser “o homem certo no local certo à hora certa”, faltando apenas a parte do homem. Como bem recordamos naquela icónica cena, ainda nem barba tem. Por isso é que deixa o lado infantil de lado para se transformar no herói que é preciso nesse momento. Olhando para o filme vinte e quatro anos depois, Kevin continua a ter as qualidades que eu quero ter quando for grande. Porque aquele criança é mais homem que todos os adultos que por aí andam. E os “Home Alone” são os únicos filmes de Natal que toda a família pode ver todos os anos. Nem são demasiado violentos para os mais novos (os acidentes são todos cartoonizados para que não pareçam graves) nem são um pesadelo ao ver pela vigésima vez para os adultos (vocês sabem, já devem ter visto umas cinquenta vezes cada ao longo dos anos).

16 de dezembro de 2014

Os melhores de 2014 para a OFCS


A Online Film Critics Society seleccionou "The Grand Budapest Hotel" como o Melhor Filme de 2014 e, tal como "Birdman", recebeu três prémios.
"Boyhood" e "Gone Girl" foram premiados em duas categorias.



Melhor Filme
The Grand Budapest Hotel

Melhor Filme de Animação
The LEGO Movie

Melhor Filme Estrangeiro
Deux Jours, Une Nuit (Bélgica)

Melhor Documentário
Life Itself

Melhor Realizador
Richard Linklater por Boyhood

Melhor Actor
Michael Keaton em Birdman

Melhor Actriz
Rosamund Pike em Gone Girl

Melhor Actor Secundário
Edward Norton em Birdman

Melhor Actriz Secundária
Patricia Arquette em Boyhood

Melhor Argumento Original
The Grand Budapest Hotel

Melhor Argumento Adaptado
Gone Girl

Melhor Montagem
Birdman

Melhor Fotografia
The Grand Budapest Hotel