O cinema tem muitas estrelas que vão caindo no esquecimento. Seja porque se reformam ou porque não arranjam papéis, é normal vermos cada vez menos aqueles actores com quem crescemos. Para actrizes ainda é pior pois como ouvimos regularmente, há menos papéis femininos e os que há são para as jovens e bonitas. Ouvir dizer que um filme vai ter como estrelas de igual estatuto as veteranas Diane Keaton (não tem feito nada de jeito), Jane Fonda (está reformada), Candice Bergen e Mary Steenburgen (por vezes aparecem em televisão), é motivo para ficar curioso. Nos papéis masculinos Andy Garcia, Craig T. Nelson, Don Johnson, Richard Dreyfuss e o sempre risonho Wallace Shawn também não são para ignorar. Só que o filme é delas. Também entra Alicia Silverstone, mas é tão pouco tempo de ecrã que, para ser sincero, a confundi com Maggie Lawson até ver o nome no genérico.
Uma dica rápida para quem faz cinema: três oscarizadas, uma delas é também dos nomes mais repetidos nos Golden Globes, e a rainha dos Emmys, são capazes de actuar em qualquer idade e ainda conseguem atrair as multidões. Em especial se o público-alvo forem as mulheres dessa idade.
A história é sobre quatro amigas que cresceram juntas e fazem um clube de leitura com reuniões mensais há várias décadas. Quando uma delas traz “As 50 Sombras de Grey” para discussão, os ânimos vão aquecer. Vai despertar uma sexualidade latente que vai ter reflexos na vida de todas elas. A viúva Diane vai-se envolver com um homem enquanto as filhas a acham acabada e querem que ela mude de estado para ficar mais perto delas. Vivian que adora sexo, mas sempre se negou ao amor, vai reencontrar a sua única paixão. Carol vai continuar a tentar apimentar o seu casamento contrariando o marido que se vai acomodando e distanciando. Sharon está simplesmente irritada por o seu ex-marido estar com uma mulher mais nova e vai recorrer à internet para procurar homens. O sexo e o amor não têm limite de idade.
Então afinal sobre que é o filme? Não é sobre livros. É sobre viver até morrer. É sobre não aceitar o que a sociedade espera de nós. É sobre ter amizades que duram para sempre. É sobre relações que começam, se mantêm ou acabam com o passar dos anos. Em suma, pega nos temas dum filme para adolescentes, só que se foca em pessoas que deixaram a adolescência há meio século. E ao mesmo tempo é sobre mulheres. O que é mais surpreendente é que este primeiro projecto de Bill Holderman (tão simples que não compromete) não é a sua primeira exploração da terceira idade. Foi o produtor de “Old Man and the Gun”, o derradeiro filme de Robert Redford. Enquanto uns estúdios apostam na juventude com épicos de acção e romances, ou na exportação para territórios inexplorados, há quem trabalhe com a prata da casa. Uma decisão ajuizada e sem riscos que deu um filme fora do comum.
O mais difícil seria equilibrar estes egos, mas diria que a oportunidade de fazer algo deste género tornou toda a gente muito receptiva a partilhar ecrã. Em vez de haver uma história central e personagens secundárias que vão dando uma mãozinha, cada personagem vive uma história diferente e ajudam-se mutuamente. As mini-histórias vão-se complementando, dando origem a um produto completo e diferenciador ainda que previsível. “Book Club” não é a comédia do ano, mas é o filme repetido mais original do ano.
Título Original: "Book Club" (EUA, 2018) Realização: Bill Holderman Argumento: Bill Holderman, Erin Simms Intérpretes: Diane Keaton, Jane Fonda, Candie Bergen, Mary Steenburgen, Andy Garcia, Craig T. Nelson, Don Johnson, Richard Dreyfuss Música: Peter Nashel Fotografia: Andrew Dunn Género: Comédia, Drama, Romance Duração: 104 min. Sítio Oficial: https://www.paramount.com/movies/book-club |
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