30 de dezembro de 2015

Galardoados com o Prémio Egas 2015

Egas 2015 Avanca
Ontem tiveram lugar os Egas 2015, cerimónia onde o Cine-Clube de Avanca homenageou os cineastas locais que mais se distinguiram em 2014. Segundo a organização este prémio procura recordar, assinalar e distinguir os que, envolvendo a região, foram capazes de ter um sinal “mais” na produção cinematográfica nacional e de assim constituir um espaço crítico a que os Prémios EGAS 2015 Cinema procuram dar visibilidade.

Nesta primeira edição foram distinguidos os catorze realizadores que em 2014 viram os seus filmes produzidos em Avanca na selecção oficial de mais de cinco festivais estrangeiros. O Auditório da Junta de Freguesia de Avanca, recebeu Artur Correia, Bernardo Cabral, Carlos Silva, Cláudio Sá, Helena Caspurro, João Costa, José Miguel Moreira, Luís Diogo, Luís Oliveira Santos, Marco Miranda, Maria Raquel Atalaia, Nuno Fragata, Patrícia Figueiredo e Pedro Carvalho de Almeida.

Os Prémios EGAS tomam como patrono o nome da maior figura de Avanca e Prémio Nobel, Prof. Doutor Egas Moniz, na senda do que foi, como empreendedor e criador.

Com o apoio do IPDJ, este evento conta igualmente com a participação e apoio de várias entidades e empresas locais.

28 de dezembro de 2015

25 de dezembro de 2015

Nâo seria Natal sem um pouco de "Home Alone"


A série "Dryvrs" de Jack Dishel é com o próprio a fazer de passageiro de uma série de condutores estranhos. O episódio piloto é com um tal Kevin, interpretado por Macaulay Culkin, que revela ter tido uma infância complicada em que os pais por duas vezes se esquecem dele no Natal... Sim, esse Kevin. O episódio chama-se "Just Me In The House By Myself".

23 de dezembro de 2015

E depois dos TCN?

Chegou o Natal, época de ficar no conforto diante da lareira a escrever uns posts e a pensar no que é realmente importante: quando acabarem os TCN, o que se seguirá?

TCN 2015 Blog Awards Cinema/TV

No final dos anos noventa, os sites começaram a receber concorrência de uma nova força. Tal como viria a acontecer por muitas outras vezes na era da internet, alguns indivíduos sem quaisquer conhecimentos técnicos estavam a fazer-se ouvir acima dos média tradicionais. Eram os bloggers e se no início eram vistos como uma curiosidade, depressa começaram a ser vistos como uma ameaça. Pessoas informadas e com opiniões credíveis faziam a informação escapar aos crivos da censura e chegar a todo o lado. Então quando em 2003 a Google comprou o Blogger e tornou essa ferramenta completamente gratuita e amplamente conhecida, o movimento ficou imparável. Toda a gente que não conseguia fazer um site, optou por fazer um blog.
Apenas por isso, e antes de movimentos como a Primavera Árabe e pessoas como Julian Assange e Edward Snowden se tornarem notícia, a Time decidiu que a Pessoa do Ano eramos nós, todos aqueles que escrevem e lêem fora dos meios tradicionais, dando uma voz plural e verdadeiramente democrata ao mundo.

O nascimento

Portugal não ficou para trás e não só em 1999 tinha alguns blogues, como em 2003 teve um boom próprio, motivado pela plataforma Sapo. Nesse período surgiram os primeiros grandes blogs portugueses, principalmente na área política, mas também com vertentes lúdicas e culturais. Os blogs de cinema eram poucos, mas bons, e em 2004 foi fundada uma Academia. A juventude da plataforma e dos seus intervenientes ditou um fim precoce para uma iniciativa que podia ter moldado o meio que hoje conhecemos, mas o que podiam fazer uns miúdos deslumbrados que se faziam ouvir pela primeira vez? Como podiam definir um rumo se eles próprios estavam perdidos?

A fase Take

Os anos passaram, esses jovens tornaram-se adultos e entretanto foram chegando outros jovens. Por volta de 2007 e 2008 houve uma segunda onda. O que resta da dúzia original hoje em dia não se distingue entre as centenas de pessoas que se dedicam de corpo e alma ao meio, cada vez com mais informação, com mais meios e em mais plataformas. A qualidade não se manteve e muita gente sem qualquer jeito para a escrita e sem conhecimentos de cinema/televisão também achou que tinha o direito de se pronunciar. E têem. Quando nós, os dinossauros, começamos também não éramos detentores do conhecimento absoluto e até hoje me envergonho de algumas coisas que escrevi. Compete ao leitor seleccionar o que quer ler e decidir se acredita no que está escrito em bytes por algum desconhecido de uma outra parte do país ou mundo.
Os melhores entre os bloggers cinéfilos nacionais foram convidados para um projecto pioneiro, a revista Take (2008), onde as suas palavras era difundidas a nível nacional, como um produto coeso. Formou-se uma linha que separava o blogger comum, do de elite.
As distribuidoras perceberam que tinham de apostar nessa plataforma e mesmo não o fazendo da forma expectável (uma identidade fictícia a dizer maravilhas dos próprios títulos) deram muito apoio a vários blogs.

Blogs vs. Revistas

Em 2010 começou a terceira fase da blogosfera, a da web 3.0 onde as ferramentas complementares começavam a ofuscar o blog. Quem entra neste meio já se assume conhecedor de todas as ferramentas e potencialidades, e raramente o faz por prazer. Já deseja a notoriedade e mede os seguidores em gráficos que lhe são entregues em tempo real. Já não faz uma festa quando recebe o primeiro comentário num post, contudo preocupa-se quando fica minutos sem reacções do público.
Esta fase teve muito significado pois começaram outras iniciativas de interacção entre bloggers. Talvez motivado pelo ressurgimento das revistas de cinema que, de forma passageira, tentaram rentabilizar no que parecia interesse súbito em torno do cinema. O Encontro de Blogs de Cinema que o Antestreia fez no Porto terá sido o primeiro marco onde os principais bloggers ganharam uma cara. Logo depois os Globos de Prata do Cinema Notebook transformaram-se nos Prémios TCN e uma cerimónia presencial reuniu blogs de todo o país. Estava dado o pontapé de saída para uma nova era onde as iniciativas conjuntas aconteciam todos os dias e os blogs tinham visibilidade e causavam ruído:

2010 Encontro de Blogs de Cinema (Nuno Reis)
2010 Criação do grupo facebook dos Bloggers Cinéfilos (Samuel Andrade)
2010 Prémios TCN (Carlos Reis)
2011 Petição para José e Pilar ser o nosso filme nos Óscares (Tiago Ramos)
2012 Criação do Círculo de Críticos Online Portugueses (Tiago Ramos)
2012 Levantamento da blogosfera contra a imprensa escrita (Luís Mendonça, Samuel Andrade)
2013 Cinema Bloggers Awards (André Marques)

O Futuro

Nos últimos anos não tem acontecido nada de novo e nota-se algum cansaço, com várias desistências e pausas de destaque. Muitos profetizavam o fim da blogosfera e a verdade é que ela não é a mesma, mas as notícias da sua morte foram exageradas. É cada vez maior e mais profissional em todas as variantes (e inevitavelmente começam a surgir demasiados intermediários a tentar obter rentabilidade do trabalho dos bloggers). Tenho frequentado alguns encontros de blogs generalistas e além de se notar uma dinâmica completamente diferente, não sabem que este nosso grande nicho existe. Com a cerimónia deste ano aberta a todos os blogs, algo deve mudar. Se nos acham uns geeks estranhos que passam o dia colados a ecrãs, é lá com eles, mas será interessante mostrar que já estávamos por aqui muito antes deles saberem o que era a internet, que temos um espírito de grupo que nenhuma outra especialidade da blogosfera consegue imitar, e que estamos aqui para durar e acompanhar estes tempos modernos, em 2016 como em 2003. Dos cinco mais antigos, três continuam em actividade, e ainda que o Antestreia seja menos atualizado do que antes pelos motivos que conhecem, ninguém pode dizer que o CineBlog ou o CinemaXunga tenham perdido a sua identidade, pertinência ou irreverência.

O Carlos não abandonou os TCN sem aviso. Alertou a comunidade com tempo para que surja uma alternativa. Não desistiu da blogosfera nem desistiu do Notebook, só preferiu focar-se em algo diferente. E pelos resultados que o Nalgas do Mandarim tem conseguido, quem o pode censurar?
Vem aí uma fase quatro. Enquanto as outras transições foram graduais, esta será um corte abrupto com data marcada. A 9 de Janeiro termina uma era e dia 10 começará outra. Resta-me/nos agradecer ao Carlos por ter conseguido o impossível e ter distinguido os melhores entre os melhores, sempre em busca de uma forma mais justa. Apesar de todos os atritos e zangas que pudesse haver entre indivíduos, se houve algo que sempre nos uniu foi a cerimónia dos TCN onde, pelo menos uma vez por ano, conhecemos leitores de sempre e reencontramos amigos de longa data.
A qualidade reinou na blogosfera ao longo destes seis anos. O que se seguirá será um mundo pós-apocalíptico sem lei nem rei, onde a lei do mais popular voltará a reinar. E quando a poeira pousar, uma nova era tecnológica terá começado e não saberemos o que estará a tentar ocupar o lugar dos blogs, mas cá estaremos, mais ou menos unidos, para adoptarmos, enfrentarmos ou nos moldarmos a essa novidade, consoante os gostos de cada um.

TCN Blog Awards Cinema/TV 2015

Nota: Muitos dos dados, das datas e dos eventos são fruto da minha opinião e memória. Se querem uma história da nossa blogosfera como deve ser, leiam no Cinema's Challenge o único estudo existente.

14 de dezembro de 2015

‘Mad Max: Fury Road’ é o filme do ano para a Online Film Critics Society

Mad max Fury Road, Carol, OFCS
Mad Max: Fury Road venceu o prémio de Melhor Filme da Online Film Critics Society (OFCS), neste que é o décimo nono ano da organização.

Protagonizado por Tom Hardy como a personagem do título, acompanhado pela nomeada da OFCS Charlize Theron, Mad Max: Fury Road é sobre um mundo pós-apocalíptico onde a falta de água despoleta conflitos intensos. O filme teve três outros prémios da OFCS, sendo eles Melhor Realizador, Melhor Edição e Melhor Fotografia. A única das cinco nomeações recebidas que não se tornou em prémio foi a de Charlize Theron para Melhor Actriz. Isso porque com três prémios (em seis nomeações), Carol, um drama sobre uma mulher que se apaixona por uma mulher mais velha nos anos 50, levou os troféus de Melhor Actriz (Cate Blanchett), Melhor Actriz Secundária (Rooney Mara) e Melhor Argumento Adaptado.

Outro dos vencedores da edição foi a longa animada da Pixar Inside Out, que venceu a categoria. Os visionários da informática foram os melhores actores pois Michael Fassbender venceu melhor actor principal pela sua personificação de Steve Jobs, e Oscar Isaac venceu como Actor Secundário por Ex Machina. O prémio de Argumento Original foi para Spotlight, sobre os abusos sexuais de menores na Igreja Católica.
The Look of Silence recebeu o prémio de Melhor Documentário e The Assassin, candidato de Taiwan ao Oscar de Língua Não-Inglesa, ganha favoritismo vencendo a categoria nos OFCS.

Como a organização é composta por pessoas de todo o mundo, o grupo também avalia filmes ainda não estreados nos Estados Unidos. Este ano achou por bem destacar Aferim!, Cemetery of Splendor, The Club, Dheepan, The Lobster, Mountains May Depart, Mia Madre, Rams, Right Now, Wrong Then, e The Sunset Song.
A OFCS nomeou o eventual vencedor do Oscar de Melhor Filme em oito dos últimos dez anos; atribuindo a mesma distinção a 12 Years a Slave (2013), The Hurt Locker (2009), No Country for Old Men (2007) e Argo (2012), sendo o primeiro grande grupo de críticos de premiar o filme de Ben Affleck.

“A nossa organização está excitada por reconhecer tantos filmes únicos e interessantes” foram as palavras do Comité da OFCS, John Hanlon, Wesley Lovell e Cole Smithey sobre este ecléctico lote de vencedores.

Fundada em 1997, a Online Film Critics Society é a mais antiga e proeminente associação de críticos online de cinema, e tem 254 membros vindos de 22 países.

Lista completa de vencedores:



Melhor Filme:
Mad Max: Fury Road

Melhor Longa de Animação:
Inside Out

Melhor Filme em Língua Não-Inglesa:
The Assassin (Taiwan)

Melhor Documentário:
The Look of Silence

Melhor Realizador:
George Miller (Mad Max: Fury Road)

Melhor Actor:
Michael Fassbender (Steve Jobs)

Melhor Actriz:
Cate Blanchett (Carol)

Melhor Actor Secundário:
Oscar Isaac (Ex Machina)

Melhor Actriz Secundária:
Rooney Mara (Carol)

Melhor Argumento Original:
Spotlight (Josh Singer, Tom McCarthy)

Melhor Argumento Adaptado:
Carol (Phyllis Nagy)

Melhor Edição:
Mad Max: Fury Road (Margaret Sixel)

Melhor Fotografia:
Mad Max: Fury Road (John Seale)

Filmes não estreados nos EUA(ordem alfabética):
Aferim!
Cemetery of Splendor
The Club
Dheepan
The Lobster
Mountains May Depart
Mia Madre
Rams
Right Now, Wrong Then
The Sunset Song

9 de dezembro de 2015

Homenagem a Manoel de Oliveira no dia de aniversário

Nada melhor para homenagear Manoel de Oliveira que reflectir sobre o legado que é a sua obra. E ninguém melhor do que Fernanda Matos, a sua primeira estrela, da imensa galeria de actrizes consagradas que o realizador seleccionou, para nos dar o testemunho do mestre.

O Ateneu Comercial do Porto e a Replicantes - Associação Cultural uniram-se para, na data do aniversário de Manoel de Oliveira, manter viva a sua memória.


Sexta-feira dia 11 pelas 21:30 no Salão Nobre do Ateneu Comercial do Porto, Fernanda Matos partilhará as suas recordações da filmagem de "Aniki Bobó". Que seria desta obra-prima de Manoel de Oliveira, que tão bem tem resistido ao tempo e às mudanças de gostos, se não fosse essa personagem feminina que enche o ecrã? Apesar de esta ser a sua única aparição, Fernanda Matos tornou-se uma estrela do cinema português. Ao longo de várias gerações, novos e mais velhos, não resistem a um sorriso transbordante que ilumina o ecrã.


Um especial destaque para a sonorização de "Douro faina fluvial", um excepcional trabalho técnico do Professor Dr. Carlos Miguel sobre esta outra obra-prima de Manuel de Oliveira, que nos comentará o processo de recriação sonora. A sessão contará ainda com análise críticas da obra, o filme de cinema de animação orientado pela Anilupa/Associação de Ludotecas do Porto, realizado por alunos da EB1 do Bom Pastor, "O Álbum da Senhora Fernanda" e a entrevista realizada por Nuno Grilo "Esse olhar que é só teu".

A homenagem é complementada com uma selecção de fotos de rodagem de "Aniki Bobó" capturadas por um dos maiores fotógrafos portuenses, António Mendes, com a parceria da galeria Quadras Soltas. Esta tertúlia tem entrada gratuita e marca uma renovada aposta do Ateneu Comercial do Porto na dinamização cultural da cidade.


Evento Facebook

27 de novembro de 2015

Combater a pirataria, ajudar um pirata


A expressão "Hate the game, not the player" ganha um novo sentido quando ao se divulgar uma mensagem anti-pirataria estamos a ajudar um pirata.

A história de Jakub F., que nos chegou via Aberto Até de Madrugada, é a de um pirata que foi preso e condenado a uma multa a rondar os 350.000€. O tribunal, como sempre desconfiado dos números inflacionados que as empresas inventam e sabendo que Jakub não tinha dinheiro para as pagar, apresentou-lhe uma alternativa. Da prisão não se escapava, mas podia ver a multa perdoada, se fizesse um vídeo anti-pirataria e chegasse a 200.000 pessoas. O feito impossível foi muito fácil e, se ao terceiro dia ia em 80.000, ao fim de cinco dias tinha passsado o meio milhão.

Estando em checo, não será eficaz com a maioria das pessoas que viram o filme, mas sempre ajudaram um pobre pirata a escapar das garras das mega-corporações que ele hipoteticamente prejudicou.


Agora imaginem o que ele terá sentido enquanto gravava, ao pensar na possibilidade de alguém piratear o seu filme e lhe roubar visualizações... Não é agradável estar do outro lado, pois não?

Uma pena criativa e justa para um crime que é extrapolado ao ridículo. Era bom ver mais destas.

14 de novembro de 2015

Frase do dia - #TodosSomosParis

Rain Midnight in Paris
Esta rubrica não é diária, mas é apropriado voltar por uns momentos em homenagem a Paris. Podíamos recorrer a "Paris, Je t'Aime", a "Forget Paris" ou mesmo a "Casablanca". Mas como a tragédia chegou de noite, recordemos as noites mágicas de "Midnight in Paris".

Em 2002 Woody Allen aceitou aparecer nos Oscares para lembrar ao mundo que Nova Iorque continuava a existir e a precisar que filmassem lá.
Não é de estranhar que faça o mesmo pela sua igualmente estimada Paris. Enquanto isso não acontece, recordemos o que nos disse sobre ela.

Adriana:I can never decide whether Paris is more beautiful by day or by night.
Gil: No, you can't, you couldn't pick one. I mean I can give you a checkmate argument for each side. You know, I sometimes think, how is anyone ever gonna come up with a book, or a painting, or a symphony, or a sculpture that can compete with a great city. You can't. Because you look around and every street, every boulevard, is its own special art form and when you think that in the cold, violent, meaningless universe that Paris exists, these lights, I mean come on, there's nothing happening on Jupiter or Neptune, but from way out in space you can see these lights, the cafés, people drinking and singing. For all we know, Paris is the hottest spot in the universe.

Seja na Belle époque, nos saudosos anos 20, ou nesta década, Paris será sempre Paris, os seus ideais viverão para sempre como lema da Humanidade com que sonhamos, e a cidade do Amor vencerá o ódio. Paris não se vai reerguer porque não cairá. Não perante a estupidez. E quanto mais baterem na Europa - qualquer que seja a cidade - mais forte será o espírito europeu.

8 de novembro de 2015

Os fãs nunca esquecem o Pateta

Para muitos dos seguidores deste espaço, o primeiro filme visto sobre uma relação pai-filho - e provavelmente o primeiro road movie - foi "A Goofy Movie" (1995). Nesse inesperado caso de sucesso descobrimos que o nosso velho amigo Pateta é trapalhão, por vezes idiota, mas é ainda assim um excelente pai.
Enquanto a Disney não se lembra de fazer um live action dessa obra que acabou de celebrar 20 anos, uns fãs aproveitaram a música para dar um espectáculo musical com o icónico Powerline.


Caso não se lembrem, eis a cena original (atenção que se pode classificar como spoiler).

E se acham que a Disney já esqueceu, vejam o que fizeram na D23 deste ano.

Por muito que se tentem vender como a House of Mouse, para milhões pelo mundo fora a Disney conseguiu o seu lugar à custa do Pateta com as célebres curtas "How To..." que começaram por ser sobre desporto e a série "Everyman" nos anos 50 onde enfrentava os problemas do cidadão comum.
Nas palavras do seu criador, Art Babbitt, "Think of the Goof as a composite of an everlasting optimist, a gullible Good Samaritan, a half-wit, a shiftless, good-natured colored boy and a hick". Mais simples do que isso, recordem que é um cão e portanto o único companheiro que vos será sempre leal.

2 de novembro de 2015

Nomeações para os TCN 2015

O Cinema Notebook começou ontem a divulgar os nomeados aos tradicionais TCN.
Até ao final de Quarta-Feira ficaremos a saber todos os blogs candidatos aos prémios da blogosfera cinéfila/televisiva e este post terá actualizações ao longo da semana com o que devem ler.

Dia 1
Dia 2
Dia 3
Dia 4

19 de outubro de 2015

Sessão especial de "Regresso ao Futuro 2" dia 21

Aula Magna, Regresso ao Futuro 2
A Aula Magna em Lisboa irá celebrar o dia 21 de Outubro de 2015 com a única sessão dupla que devem ver nesse dia.

Para comemorar os 30 anos do filme e a data em que supostamente Marty visita a sua futura vida, será exibido o documentário "Back in Time" sobre a trilogia Regresso ao Futuro. O documentário conta com entrevistas com o actor Michael J. Fox, o realizador Robert Zemeckis, o produtor Steven Spielberg e outras estrelas do elenco, uma reportagem com os fãs e a icónica história da substituição de Eric Stoltz cinco semanas após começarem as filmagens.

A sessão especial na Aula Magna contará com a exibição do filme "Regresso ao Futuro II" e a estreia (e sessão única) do documentário "Back in Time" em Portugal.

A entrada é livre.

92 anos de Disney em 92 segundos

Com o passar do tempo, vamo-nos apercebendo da influência que a Disney teve em cada um de nós e dos cineastas que por aí andam. Neste breve vídeo a propósito do aniversário não estão as melhores cenas ou as mais memoráveis que já nos trouxeram, mas´é o suficiente para despertar memórias de muitas idas ao cinemas e de cassetes VHS que foram rodadas para trás e para a frentes vezes infinitas.

18 de outubro de 2015

Uma dupla de VJ's criou triciclos projectores


A dupla chama-se vjsuave e com os Suaveciclos, triciclos adaptados com computador, projector e bateria, levam as projecções para a rua e transmitem mensagens através de desenhos, animações e poesias.

Suaveciclo by Vj Suave


De momento têm quatro curtas-metragens: Trip (2013), La cena (2012), Homeless (2011) e Run (2011).
A criação é feita a partir de desenhos, transformados em animação digital, depois usando técnicas de projeção, os personagens voam e correm pela paisagem urbana, misturando história animada com a vida real.

Podemos aprender muito com os filmes

Há sempre clássicos que nos animam e nos dão vontade de enfrentar a vida. Mas quantas vezes nos sentamos perante um filme recente e damos o mesmo valor aos seus ensinamentos? Acreditando que "All of life's riddles are answered in the movies" como dito por Steve Martin em "Grand Canyon", esta lista do IMDb revisita algumas grandes lições dos últimos 25 anos.


"What we do know is that, as the chemical window closed, another awakening took place; that the human spirit is more powerful than any drug, and that is what needs to be nourished with work, play, friendship, family. These are the things that matter. This is what we'd forgotten the simplest things." Dr. Malcolm Sayer (Robin Williams), Awakenings (1990)

"Power is when we have every justification to kill and we don't." Oskar Schindler,
Schindler0s List (1993)

"Remember, Red, hope is a good thing — maybe the best of things — and no good thing ever dies." Andy Dufresne, Shawshank Redemption (1994)

"Wyatt, you ever wonder why we been a part of so many unfortunate incidents, yet we're still walking around? I have figured it out. It's nothing much, just luck. And you know why it's nothing much, Wyatt? Because it doesn't matter much whether we are here today or not. I wake up every morning looking in the face of Death, and you know what? He ain't half bad. I think the secret old Mr. Death is holding is that it's better for some of us over on the other side. I know it can't be any worse for me. Maybe that's the place for your Maddie. For some people, this world ain't ever gonna be right." Doc Holliday (Dennis Quaid) para Wyatt Earp (Kevin Costner), Wyatt Earp (1994)

"Guilt is like a bag of f--kin' bricks. All ya gotta do is set it down." John Milton (Al Pacino), The Devil's Advocate (1997)

"The more we all know about each other, the greater the chance we will survive." Bill Parrish (Anthony Hopkins), Meet Joe Black (1998)

"Fear is the path to the dark side. Fear leads to anger. Anger leads to hate. Hate leads to suffering. I sense much fear in you." Yoda (Frank Oz), Star Wars Episode 1: The Phantom Menace (1999)

"It's only after we've lost everything that we're free to do anything." Tyler Durden (Brad Pitt), Fight Club (1999)

"It is not the spoon that bends, it is only yourself." Spoon Boy (Rowan Witt), The Matrix (1999)

"I always tell the girls, never take it seriously. If you never take it seriously, you never get hurt. If you never get hurt, you always have fun. And if you ever get lonely, just go to the record store and visit your friends." Penny Lane (Kate Hudson), Almost Famous (2000)

"Courage is not the absence of fear, but rather the judgment that something is more important than fear. The brave may not live forever, but the cautious do not live at all." Príncipe de Genovia, The Princess Diaries (2001)

"To feel. 'Cause you've never done it, you can never know it. But it's as vital as breath. And without it without love, without anger, without sorrow breath is just a clock ticking." Mary (Emily Watson) a John Preston (Christian Bale), Equilibrium (2002)

"Someone has to die in order that the rest of us should value life more." Virginia Woolf (Nicole Kidman), The Hours (2002)

"When the planes hit the Twin Towers, as far as I know, none of the phone calls from the people on board were messages of hate or revenge they were all messages of love. If you look for it, I've got a sneaky feeling you'll find that love actually is all around." The Prime Minister (Hugh Grant), Love Actually (2003)

"We've all got both light and darkness inside us. What matters is the part we choose to act on. That's who we really are." Sirius Black (Gary Oldman), Harry Potter: The Prisoner of Azkaban (2004)

"He gets down to the end of his life and he looks back and decides that all those years he suffered, those were the best years of his life because they made him who he was. All those years he was happy, you know, total waste. He didn't learn a thing." Frank (Steve Carrell), Little Miss Sunshine (2006)

"Now you're looking for the secret. But you won't find it because of course, you're not really looking. You don't really want to work it out. You want to be fooled." Cutter, The Prestige (2006)

"Instead of telling our young people to plan ahead, we should tell them to plan to be surprised." Dan Burns (Steve Carell), Dan in Real Life (2007)

"It is only on the brink that people find the will to change. Only at the precipice do we evolve." Professor Barnhardt (John Cleese), The Day the Earth Stood Still (2008)

"You see, Doctor, God didn't kill that little girl. Fate didn't butcher her and destiny didn't feed her to those dogs. If God saw what any of us did that night, he didn't seem to mind. From then on I knew... God doesn't make the world this way. We do." Rorschach, Watchmen (2009)

"Perfection is not just about control. It is also about letting go." Thomas Leroy (Vincent Cassel) Black Swan (2010)

"It's not a bad thing finding out that you don't have all the answers. You start asking the right questions." Erik Selvig (Stellan Skarsgård), Thor (2011)

"There should be no boundaries to human endeavor. We are all different. However bad life may seem, there is always something you can do and succeed at. While there is life, there is hope." Stephen Hawking (Eddie Redmayne), The Theory of Everything (2014)

" makes you think that elves are any more magical than something like a whale? You know what I mean? What if I told you a story about how underneath the ocean, there was this giant sea mammal that used sonar and sang songs and it was so big that its heart was the size of a car and you could crawl through the arteries? I mean, you'd think that was pretty magical, right?" Dad (Ethan Hawke) on being asked if magic exists by his son Mason (Ellar Coltrane), Boyhood (2014)

"All cowardice comes from not loving or not loving well, which is the same thing. And then the man who is brave and true looks death squarely in the face, like some rhino hunters I know or Belmonte, who is truly brave... It is because they make love with sufficient passion, to push death out of their minds... until it returns, as it does, to all men... and then you must make really good love again." Ernest Hemingway (Corey Stoll), Midnight in Paris (2011)

Que outras acrescentariam?

17 de outubro de 2015

"Life" por António Reis

Há vidas que davam filmes. Biopics como "Walk the Line" ou "Evita" são dois marcos de abordagens distintas do género. Desiludam-se todavia os que pensam que em “Life” estamos perante um biopic sobre James Dean. De facto este é um filme sobre um fotógrafo freelancer da Life que coincide um período da sua vida com James Dean, um rebelde à procura de uma causa. Anton Corbjin já tinha abordado o biopic em "Control" não renega as suas origens de fotógrafo e nesse sentido "Life" é um exercício de estilo sobre fotografia. Resistindo à tentação de nos dar uma imagem de Dean mais convencional, percorre pedaços de vida do actor, ainda que a centragem do filme recaia sobre Dennis Stock. Não por acaso a Life era a Bíblia das revistas e quem teve a felicidade de folhear algum número da revista, reconhece o seu conceito de que a melhor maneira de contar histórias não era por palavras, era sobretudo por imagens.

A personagem Dean surge-nos retratada como insegura, inconstante, imatura, incapaz de lidar com sucesso com a sua fama precoce e a pressão omnipresente dos estúdios. Dane DeHaan por vezes exagera na representação que o aproxima perigosamente da caricatura de James Dean. O fotógrafo Dennis Stock aproxima-se perigosamente do cliché do autor em busca do seu scoop, um paparazzi avant la lettre, ele próprio em conflito com o seu mundo. Curiosamente "Life" passa discretamente sobre as personagens femininas, mesmo a belíssima Pier Angeli (interpretada por Alessandra Mastronardi) e por uma ainda mais discreta referência a Natalie Wood. Reconheça-se a inegável qualidade estética da fotografia o que não faz esquecer que o guião se perde num labirinto de pistas, deixando-as penduradas sem resolução. A figura de Jack Warner é demasiado estereotipada e caricatural, as passadeiras vermelhas das estreias são pouco aprofundadas, as mudanças de cenário entre Nova Iorque, Indiana e Los Angeles não permitem desenvolver a estrutura dramática da narrativa e os dramas pessoas e familiares dos dois centros do enredo não têm tempo cinematográfico para dar consistência às personagens.

Filme interessante sobre um dos temas caros à nostalgia cinéfila, mas que sabe a pouco.
LifeTítulo Original: "Life" (Canadá, Alemanha, Austrália, EUA, 2015)
Realização: Anton Corbijn
Argumento: Luke Davies
Intérpretes: Robert Pattinson, Dane DeHaan, Alessandra Mastronardi, Ben Kingsley,
Música: Owen Pallett
Fotografia: Charlotte Bruus Christensen
Género: Biografia, Drama, Histórico
Duração: 111 min.
Sítio Oficial: http://lifethefilm.com

"Life" por Nuno Reis

While there’s Life, there’s hope.

O lema da revista Life além de ser muito simples é bem verdadeiro pois desde cedo se tornou uma referência imperdível e inimitável. A sua ideologia era que as imagens não precisavam de palavras a acompanhar e portanto poupavam no texto e abusavam nas imagens - desenhadas ou fotografadas por alguns dos maiores artistas da época - e o seu período dourado prolongou-se por mais de um século. Mesmo tendo fechado portas, o seu acervo tem continuado a fazer história e no que ao século XX diz respeito, ainda é o maior banco de imagens.
Este filme de Anton Corbijn, um fotógrafo, pode parecer ser sobre James Dean. Não é. Pode parecer ser sobre Dennis Stock. Não é. Pode então ser sobre a revista Life? Também não. É sobre a outra life, a que traduzimos como vida. É sobre a vida de James Dean, a de Dennis Stock, a das suas famílias, a vida nos anos 50, e, muito levemente, sobre a revista.
Tudo começa com Dennis Stock, um fotógrafo que vai a uma festa do grande Nicholas Ray. Perdido num meio que não é o seu, encontra um jovem também meio desenquadrado, Jimmy. Acha-o diferente, enigmático e fotogénico. Ao ouvir que Jimmy é actor e entrou num filme de Elia Kazan, decide que o vai fotografar e que a Life teria interesse na peça. Só que enquanto Stock é um fotógrafo experiente à procura da sua oportunidade de singrar, Jimmy, apenas dois anos mais novo, não quer a fama, as obrigações ou as responsabilidades. Só quer saber de actuar. Dois artistas com forte personalidade e que não se adaptam à sua era, terão de trabalhar juntos para se tornarem imortais.
Sem spoilar quem não conhecer a história de Dean, Stock vai consegui tirar as suas fotos. Vai apanhar um momento chave da vida de James Dean - as semanas antes de o mundo o descobrir em "East of Eden" – e vai conhecer a vida do actor como poucos. Vai conviver com muitas outras futuras estrelas, mas foi Jimmy quem o marcou.
Neste elenco fabuloso Robert Pattinson como Dennis consegue ser digno do substantivo protagonista que tantas vezes recebeu sem merecer, ofuscando Dane DeHaan que tenta dar vida ao rebelde sem causa. Entre os secundários o destaque óbvio vai para a deslumbrante Alessandra Mastronardi que interpreta Pier Angeli e é tão bela como ela. Uma nota ainda para Ben Kingsley como uma espécie de vilão de serviço, o homem de negócios que está a matar a magia do Cinema e quer tornar Dean num Cagney ou Bogart. Quanto ao filme em si, desilude. É um belíssimo exercício visual que honra a arte da fotografia, mas nada mais do que isso. Falha ao mostrar o lado humano, desvaloriza a Life tal como ela desvalorizou Dean (se bem que graças a Stock foi a primeira a conseguir capturar o ícone sem movimento), mantém a história em terreno seguro e apenas insinua tudo o que aconteceu.
Depois de "Control", esperávamos que Corbijn já dominasse a arte do biopic, mas deixou-se levar pela magia da Hollywood e da New York dos anos 50 e, divivido entre as duas personagens, permitiu ao actor mais experiente desequilibrar para si uma história que tinha de ser balanceada com tacto. Merece uma espreitadela se reconhecerem os nomes da época. Quanto a louvores à Life, será melhor reverem Walter Mitty.
LifeTítulo Original: "Life" (Canadá, Alemanha, Austrália, EUA, 2015)
Realização: Anton Corbijn
Argumento: Luke Davies
Intérpretes: Robert Pattinson, Dane DeHaan, Alessandra Mastronardi, Ben Kingsley,
Música: Owen Pallett
Fotografia: Charlotte Bruus Christensen
Género: Biografia, Drama, Histórico
Duração: 111 min.
Sítio Nâo-Oficial: http://lifethefilm.com

Entrevista a Jaco Van Dormael

Dormael, o herói

Presente no Festival de Sitges para apresentar o seu mais recente filme "Le Tout Nouveau Testament", Jaco Van Dormael, concedeu ao Antestreia uma curiosa entrevista onde nos falou da sua visão do cinema. Realizador dos multipremiados "Toto, Le Héros" e "Mr. Nobody" regressa com uma nova e melancólica visão do mundo e uma crítica feroz aos burocratas da nossa Bruxelas europeia.

Afinal Deus existe. Mas como é um idiota, vive em Bruxelas "onde faz as leis estúpidas para nos lixar a vida". A sua primeira recordação marcante do cinema fantástico foi "Bambi" "uma experiência maravilhosa e aterradora" o que apenas confirma Walt Disney como um mestre incontornável do fantástico, ainda que os seus cineastas de referência sejam Fellini, Gilliam e Tarkovski. Cineasta de uma geração que ama o cinema com paixão, quando interrogado sobre os seus actores favoritos responde de imediato Michel Simon desse inolvidável "Boudu Sauvé des Eaux", e quanto a actrizes prefere a resposta politicamente correcta que as ama a todas, com um sorriso malicioso.

Se é certo que não há perguntas fáceis, Dormael reflecte longamente antes de cada resposta. Podendo escolher encarnar uma outra pessoa, a resposta é surpreendente “talvez Ingrid Bergman... não, não, Lauren Bacall por um dia” afinal, duas mulheres da vida desse sortudo que era Humphrey Bogart. Quando interrogado sobre que projecto gostaria de fazer se não tivesse limitações de tempo nem de orçamento, poderíamos esperar um projecto megalómano e impossível. O seu sonho já se realizou e “Mr. Nobody foi esse filme”, opção com que nós concordamos absolutamente. Para Dormael os maiores medos do fantástico "são os sapatos, porque quando a cena começa a meter medo desvio o olhar para os meus pés". E como um gentleman, recusa responder à questão sobre os piores filmes que viu na sua vida “desses já não me lembro”.

Depois de um embaraçoso silêncio, reconhece que o filme mais bizarro de que se recorda é ""Soy Cuba" de Mikhail Kalatozov, baseado no poeta Evgeniy Evtushenko, com estranhas paisagens e fluidos movimentos de câmara". Conversar com Dormael não é apenas uma lição de cinema. Com o humor tipicamente belga “nós os belgas preferimos rir mais de próprios do que os outros se riem de nós” confessa que actualmente vê mais cinema em casa do que em sala e que tem pouca paciência para ver televisão, até porque reconhece que o que lhe dá maior prazer é não fazer nada. Interrogado porque demora tanto tempo entre filmes, contraria a versão de ser preguiçoso porque "cada novo projecto demora-me a escrever, pelo menos dois anos, pode haver filmes que se façam mais rápido, mas não os meus." E porque estamos em Barcelona, nada melhor do que um exemplo catalão "Demora mais construir uma catedral do que uma casa e a Sagrada Família ainda está inacabada."

Para este autor algum fantástico tem fundamento e "provavelmente existe vida nos outros planetas", mas quanto a existir vida depois da morte, a ironia é evidente "espero que haja vida antes".

O seu mais recente filme confirma a vertente metafórica, imaginária do realismo mágico do cinema belga e a sua centragem em personagens juvenis que acompanham os seus grandes filmes. Não por acaso os seus heróis da literatura são “Ivanhoe”, “D. Quixote” e “Alice no País das Maravilhas”.

Quanto a esta nova adenda ao Novo Testamento, depois das polémicas versões do Evangelho de Saramago, ficamos a saber que “Deus existe, mas é um idiota. Todos falam do JC como seu único filho, mas finalmente é a sua filha Ea quem vai mudar o mundo. E o destino da humanidade fica bem melhor nas mãos de mulheres”.


António Reis

14 de outubro de 2015

"MacBeth" por António Reis


Porquê MacBeth?

Em três dias consecutivos, as secções oficiais de Sitges apresentaram três adaptações de clássicos da literatura, o que permite reflectir não apenas sobre as relações da literatura com o cinema, mas sobretudo do interesse em produzir versões de três textos alvo de inúmeras leituras cinematográficas.
Afinal o que é adaptar ao cinema um texto literário? Será reinventar por completo uma obra como Dormael faz em "Le Tout Nouveau Testament"? Será recriar e modernizar uma obra bicentária como o "Frankenstein" de Bernard Rose? Ou será transpor com a maior fidelidade possível neste caso um texto teatral como "MacBeth" dirigido por Justin Kurzel?
Confesso que sou mais sensível aos dois primeiros exemplos. "MacBeth", de um realizador que está agora a fazer a adaptação do videojogo "Assassin’s Creed" curiosamente com os mesmos actores, não assume o risco de inovar Shakespeare como por exemplo o fez Baz Luhrmann, e por isso, acaba-se sempre por comparar o seu trabalho com todas as inúmeras versões do Macbeth em cinema.
O que nos leva à reflexão sobre se vale a pena fazer remakes de filmes que contribuem muito pouco para novas visões. Classificado como Drama/Guerra, esta é uma redutora forma de publicitar esta obra-prima de Shakespeare. Nela o drama não aprofunda a dimensão trágica dos seus personagens e a guerra é apenas um adereço pouco significativo para a história. Poderíamos pensar que a base teatral de "MacBeth" implica sobretudo uma valoração das interpretações. Mesmo aqui Michael Fassbender tem um registo pouco expressivo e Marion Cotillard passeia discretamente a sua beleza ao longo do filme. Se de entre as mais de cem adaptações de MacBeth, a compararmos com os filmes de Orson Welles ou de Kenneth Branagh, a questão de qual o interesse em readaptar "MacBeth" torna-se ainda mais pertinente. Justin Kurzel também não resiste à tentação de copiar os grandes mestres como Kurosawa, Boorman ou Coppola com seus horizontes vermelhos. E copiar não se pode dizer que seja uma actividade muito criativa. Mesmo em termos de realização cinematográfica, cada vez mais assistimos a um predomínio dos grandes planos em detrimento de planos de conjunto. Até neste caso a televisão quer estandardizar o cinema.
Shakespeare já não recebe direitos de autor. Mas duvido que ficasse satisfeito com esta apropriação do seu universo trágico.
MacBethTítulo Original: "MacBeth" (Reino Unido, EUA, França, 2015)
Realização: JusTin Kurzel
Argumento: Jacob Koskoff, Michael Lesslie, Tod Louiso (baseados na obra de William Shakespeare)
Intérpretes: Michael Fassbender, Marion Cotillard, Sean Harris, David Thewlis, Jack Reynor, Paddy Considine, David Hayman, Elizabeth Debicki
Música: Jed Kurzel
Fotografia: Adam Arkapaw
Género: Drama,Guerra
Duração: 113 min.
Sítio Oficial: www.macbeth-movie.com

13 de outubro de 2015

"Frankenstein" por António Reis

Revisitar o mito de Frankenstein actualizando-o sem trair o texto original, é a proposta arriscada a que Bernard Rose se propôs. Realizador de um dos mais interessantes e injustamente esquecidos filmes do fantástico que é “Paperhouse” e bem conhecido dos fãs do terror por “Candyman”, Rose recria num ano em que se anunciam dois outros projectos: o filme “Victor Frankenstein” de Paul McGuigan, e a série “The Frankenstein Code” recentemente redenominada “Lookinglass”.
A originalidade maior desta versão reside na valorização de dois items em que as versões anteriores eram omissas. A primeira diz respeito a que Mary Shelley nunca escreveu que o Doutor Victor Frankenstein ressuscitava cadáveres. E a segunda que a criatura progressivamente humanizada, pensa e sente como um poeta romântico do século XIX. A estes dois pressupostos Bernard Rose acrescenta uma visão científica absolutamente contemporânea onde a bioengenharia e as tecnologias são capazes de criar vida. Mantendo-se fiel aos estereótipos mais comuns da temática de Shelley, como a cena do lago, o fogo libertador e a sua amizade com o cantor cego, renova completamente o ambiente urbano e laboratorial acentuando a importância da figura feminina, em particular na pessoa de Elizabeth Frankenstein.
Talvez o que mais impressione os espectadores é a sua aposta numa tendência gore. Curiosa esta obsessão do cinema fantástico por um dos seus mitos que melhor tem resistido ao avanço da ciência.
A lenda da criatura e do seu criador Frankenstein continua bem viva e a ocupar um lugar de destaque na galeria dos monstros.

FrankensteinTítulo Original: "Frankenstein" (EUA, Alemanha, 2015)
Realização: Bernard Rose
Argumento: Bernard Rose
Intérpretes: Xavier Samuel, Carrie-Anne Moss, Tony Todd, Danny Huston
Música: Halli Cauthery
Fotografia: Candace Higgins
Género: Horror, Thriller
Duração: 89 min.
Sítio Oficial: não tem