29 de janeiro de 2008

Quando os filmes se transformam em séries


Invertendo a tendência actual de fazer filmes inspirado em séries, o oscarizado "Crash" vai ser convertido em série. A série terá 13 episódios de uma hora cada e não será um prolongamento do filme. A ideia é utilizar novos actores e novas histórias cruzadas no mundo de Los Angeles.

Paul Haggis revelou que quando pensou na história de conflitos raciais e mal-compreendidos retratada em "Crash", a sua ideia original era o mercado televisivo. Esta oportunidade vai permitir ao argumentista/realizador criar novas histórias que decerto vão melhorar ainda mais o já competitivo mundo da produção televisiva.

Recorde-se que Haggis tem nomeações consecutivas para Oscar pelos argumentos de "Million Dolar Baby", "Crash" (o único que venceu) e "Letters From Iwo Jima". Também escreveu "Casino Royale", "Flags of Our Fathers" e o prestes a estrear "In the Valley of Elah". Entre as dezenas de prémios conquistados destaque-se que o filme venceu três (Melhor Filme, Argumento Original, Montagem) das seis nomeações a Oscar (perdeu nas categorias de Realização, Actor Secundário, e Canção Original).

28 de janeiro de 2008

Bardem soma e segue


O sindicato de actores norte-americanos premiou Javier Bardem como Melhor Actor Secundário pelo seu papel em "No Country For Old Man", confirmando cada vez mais o seu favoritismo para os Óscares que aí se avizinham.
O filme dos irmãos Cohen somou mais alguns prémios, destacando-se no rol ontem anunciado Daniel Day-Lewis em "There Will Be Blood", Julie Christie por "Fiona", Ruby Dee em "American Gangster" e "The Sopranos" na categoria de Televisão. Consultar aqui a lista de premiados.


(Foto: EFE)


27 de janeiro de 2008

"3:10 to Yuma" por Nuno Reis

Nas décadas de 50 e 60 os westerns tiveram dos seus maiores títulos. Realizadores como Sergio Leone, John Ford e Howard Hawks tornaram este género o rei da sétima arte e actores como John Wayne e Clint Eastwood definiam um novo tipo de herói. Depois de um intervalo interrompido por "Silverado", "Blazzing Saddles" e "Unforgiven" o tema parecia ter esgotado e apenas voltou em formato choque com "Brokeback Mountain". James Mangold que já tinha provado a sua mestria em vários géneros arriscou e fez um remake do clássico "3:10 To Yuma". Os perigos de fazer um remake são muitos. Ou se mantém fiel ao original ou tenta fazer algo diferente, e em ambos os casos acaba por ser comparado ao primeiro.

Dan Evans é um rancheiro azarado. A seca destruiu as plantações, está a matar o gado e prazo para pagar o empréstimo que contraiu está a expirar. Para piorar as coisas queimaram-lhe o estábulo e a manada fugiu. Quando tenta recuperar os animais cruza-se com o bando de Ben Wade - o mais perigoso assaltante da região - que lhe leva os cavalos. Só falta referir que Dan perdeu um bocado da perna na Guerra Civil e usa uma perna de pau. Farto da vida difícil que leva e pressionado pela necessidade de sustentar a família, ajuda a capturar o perigoso Wade e oferece-se para o acompanhar à prisão. Um grupo de três homens tem de o levar até ao comboio para Yuma enquanto os outros bandidos, sete magníficos e sanguinários criminosos, o tentam libertar.

Este duelo chapéu branco/chapéu preto tem todos os ingredientes que agradam aos fãs. Pelo lado dos bons está um simples rancheiro. Não é um pistoleiro invencível e nem sequer é muito corajoso, mas é honesto e fortemente motivado. Pelos maus temos um assassino imparável, sempre disposto para fugir ou matar e nada propenso a erros. A teimosia combinada destes dois homens vai manter a tensão no filme até ao final. Com o desenrolar do filme a persistência de Dan vai perdendo argumentos e o hipnotizante discurso de Ben consegue arrastar torcedores para o seu lado. Vai ficando mais difícil escolher o lado a tomar e o desfecho será sempre uma incógnita. Posso adiantar que os últimos minutos estão recheados de revelações surpreendentes que se aproximam do brilhantismo. Se não tivesse tantos exageros habituais dos westerns seria um dos grandes filmes do ano.





Título Original: "3:10 To Yuma" (EUA, 2007)
Realização: James Mangold
Argumento: Michael Brandt , Halsted Welles e Derek Haas, baseados no livro de Elmore Leonard
Intérpretes: Christian Bale, Russell Crowe, Ben Foster, Peter Fonda
Fotografia: Phedon Papamichael
Música: Marco Beltrami
Género: Crime, Drama, Western
Duração: 122 min.
Sítio Oficial: http://www.310toyumathefilm.com/

"Rendition" por Ricardo Clara

Fases políticas norte-americanas já foram, por várias vezes ao longo da história, alvo de retrato e denúncia pelo cinema. Actualmente, todo o clima que se gerou após a invasão dos EUA ao Iraque, despoletou consciências cinematográficas no sentido de mostrar o desagrado, e muitas vezes denunciar casos de abuso de direito e prepotência estadual. Filmes como "Redacted" e "In the Valley of Elah", por exemplo, são fruto dessa moda, tal como a fita que agora abordamos.

O regresso de Anwar El-Ibrahimi (Omar Metwally) aos EUA, vindo directamente de Cape Town (África do Sul), que se esperava normal, acabou por se revelar atribulado. Ao entrar em território americano, foi abordado, vendado e transportado do aeroporto por alguns operacionais da CIA, por existirem provas de contactos telefónicos entre ele e um terrorista islâmico.

Entretanto, algures fora do país, um jovem prepara um ataque suicida, visando Abasi Fawal (Yigal Naor), chefe da polícia local, que anda com dois problemas entre mãos: o afastamento da filha Fatima (Zineb Oukach), e o interrogatório de Anwar, coadjuvado por um analista da CIA, Douglas Freeman (Jake Gyllenhaal), estacionado naquele país à 5 meses. Entretanto, em terras do tio Sam, a esposa de Anwar, Isabella Fields El-Ibrahimi (Reese Witherspoon), desespera com o desaparecimento, e pede ajuda a Alan Smith (Peter Sarsgaard), um antigo namorado, agora assessor de um poderoso senador (Alan Arkin), que descobre uma íntima ligação entre o bizarro desaparecimento e Corrine Whitman (Meryl Streep), uma das mentes por detrás dos serviços secretos. Com o adensar da trama, as dúvidas de Isabella aumentam, bem como as de Freeman, que começa a ver os seus princípios completamente deitados por terra.

"Rendition" / "Detenção Secreta" marca a estreia do sul-africano Gavin Hood em Hollywood, depois de vencer o Óscar em 2006 para Melhor Filme de Língua Não Inglesa por "Tsotsi". E é uma promissora aposta, até porque assistimos a uma interessante união entre um argumento claramente desafiador do establishment norte-americano e uma realização fugaz, que recorre amiúde a planos escondidos, como se nos estivesse a contar algo proibido e encapotado. Com um ritmo muito interessante, e uma interpretação de Jake Gyllenhaal ao nível do que nos tem habituado, falha na construção das realidades paralelas, mas desviadas temporalmente, até porque, ainda que interessante, sobra como prolongamento narrativo e nunca como um paralelismo que se explica no final.
A fotografia revela-se medíocre, desaproveitando todo o ambiente do Norte de África e das cenas nocturnas, ganhando corpo e expressão o processo narrativo com o evoluir da trama.

Negativamente, destaca-se a sempre (e por vezes cansativa) manipulação dos factos e das verdades, que era escusada, até porque uma apresentação factual isenta beneficiava de sobremaneira o filme e patrocinava uma conclusão justa ao cinéfilo.





Título Original: "Rendition" (EUA, 2007)
Realização: Gavin Hood
Argumento: Kelley Sane
Intérpretes: Reese Witherspoon, Jake Gyllenhaal, Meryl Streep e Alan Arkin
Fotografia: Dion Beebe
Música: Paul Hepker e Mark Kilian
Género: Drama / Thriller
Duração: 120 min.
Sítio Oficial: http://www.renditionmovie.com

26 de janeiro de 2008

Óscares 2008 - Melhor Argumento Original

"Little Miss Sunshine" e o argumentista Michael Arndt foram os vencedores desta categoria na cerimónia realizada em 2007. Para lhes suceder, são cinco os nomeados: "Juno" de Diablo Cody; "Lars and the Real Girl" de Nancy Oliver; "Michael Clayton" de Tony Gilroy; "Ratatouille", de Brad Bird, baseado numa história de Jan Pinkava, Jim Capobianco, Brad Bird; e, por fim, "The Savages" de Tamara Jenkins.


"Juno" (Diablo Cody)



A estrear a 21 de Fevereiro em Portugal, "Juno" é uma das grandes descobertas deste ano. Realizado por Jason Reitman (autor do interessante "Thank You for Smoking"), o argumento ficou a cargo de Diablo Cody (nascida Brooke Busey em 1978), uma mulher cuja história pessoal parece saída de um filme: conheceu o actual marido nos chats da internet, mudou-se de Chicago para Minnesota com ele, começou a trabalhar numa agência de publicidade, tendo acabado por se tornar stripper amadora, até chegar à profissionalização, tendo ainda feito uma perninha numa linha de sexo por telefone. Pouco tempo depois desistiu desta profissão, acabando por se casar e por ir viver para os subúrbios (a la "Desperate Housewifes")

Estórias pessoais à parte, "Juno" conta a história de uma adolescente que engravida, decidindo dar um rumo muito particular ao seu futuro. No papel principal está Ellen Page ("Hard Candy" - 2005), nomeada na categoria de Óscar para Melhor Actriz (falaremos dela com maior expressão quando abordarmos essa respectiva lista), contando o restante elenco com nomes como Michael Cera ("Superbad" - 2007) e Jennifer Garner ("Elektra" - 2005).
Está nomeado para 4 Óscares: Melhor Filme, Melhor Realizador, Melhor Argumento Original e Melhor Actriz Principal. Tem colecionado prémios atrás de prémios, notabilizando-se as 3 nomeações no Golden Globes 2008, bem como as 4 nomeações e 3 prémios da Chicago Film Critics Association Awards. É a grande aposta para a vitória.


"Lars and the Real Girl" (Nancy Oliver)



Estreia do realizador de publicidade Craig Gillespie na realização de longas-metragens, o argumento foi idealizado por Nancy Oliver, uma das produtoras e argumentistas por detrás de "Six Feet Under", a multi-premiada série televisiva norte-americana.
"Lars and the Real Girl" conta-nos a história de um homem que desenvolve uma estranhíssima relação amorosa com uma... boneca. Uma peça de non-sense com Ryan Gosling ("Half Nelson" - 2006), Emily Mortimer ("Match Point" - 2005) e Patricia Clarkson (nomeada para Óscar em 2004 por "Pieces of April"), e que tem nesta categoria a sua única oportunidade de levar a estatueta para casa.


"Michael Clayton" (Tony Gilroy)



Outra aposta firme para a vitória. Escrito e realizado por Tony Gilroy (argumentista de, por exemplo, "The Bourne Identity" - 2002), outro debutante na realização, "Michael Clayton" aborda a vida de um advogado a braços com o maior desafio jurídico da sua vida, ao mesmo tempo que se encontra com a vida praticamente estilhaçada.
Com George Clooney (Óscar em 2006 por "Syriana"), Sydney Pollack (uma surpresa na interpretação, vencedor de dois Óscares em 1986 por "Out of Africa"), Tom Wilkinson (nomeado para Óscar em 2003 por "In the Bedroom") e Tilda Swinton (que está nomeada para Melhor Actriz Secundária), é um dos maiores nomeados da edição deste ano: 7 nomeações (Melhor Filme, Melhor Realizador, Melhor Actor Principal - George Clooney - Melhor Actor Secundário - Tom Wilkinson - Melhor Actriz Secundária, Melhor Argumento Original e Melhor Banda Sonora).


"Ratatouille" (Brad Bird, Jan Pinkava e Jim Capobianco)



Uma deliciosa fábula de animação, saído da mente de Brad Bird ("The Incredibles" - 2005, pelo qual venceu a estatueta). "Ratatouille" é a história de Remy, um rato cozinheiro que preparou uma das mais belas refeições: um sonho para todos os que viram o filme.
Nomeado para 5 galardões (Melhor Banda Sonora, Melhor Som, Melhor Edição de Som, Melhor Longa Metragem de Animação e Melhor Argumento Original), tem a seu favor a inovação, mas o contra (em termos de Academia) de ser um filme de animação.


"The Savages" (Tamara Jenkins)



Último desta lista, marca a incursão de Tamara Jenkins em grandes projectos cinematográficos. Com "The Savages" assistimos ao declínio de um homem, pai de família, e à reaproximação de dois irmãos na árdua tarefa de tratar dele.
Com (vénia) Philip Seymour Hoffman no papel principal (Óscar em 2006 por "Capote", nomeado este ano para Melhor Actor Secundário em "Charlie Wilson's War"), Laura Linney (veterana nestas andanças, nomeada para Melhor Actriz Principal por este filme, depois de já o ter sido na mesma categoria em 2001 por "You Can Count on Me", e para Melhor Actriz Secundária por "Kinsey" - 2005) e Philip Bosco (m veterano das séries televisivas). Com as duas nomeações referidas, "The Savages" correrá por fora nesta categoria.


24 de janeiro de 2008

"Atonement" por Nuno Reis

Vencedor do Golden Globe e nomeado para muitos Oscares, "Atonement" é um dos filmes mais apelativos que temos nas salas. Como muitos filmes antes dele inspira-se num livro, e como para muitos deles é aconselhável uma leitura antes do visionamento.

Estamos nos anos trinta. A Inglaterra é um país rico e poderoso, a viver os últimos tempos de paz antes da Segunda Guerra Mundial. A família Tallis é rica e priva frequentemente com industriais poderosos. Briony, a mais jovem das duas filhas da família, é possuidora de uma enorme imaginação que converte em peças teatrais. Motivada por ciúmes ou por incompreensão do que viu e leu, acusa Robbie - um jovem amigo da família desde sempre – de um crime que viu ser cometido. Injustamente acusado e condenado à prisão, é afastado do sonho de seguir medicina e da sua amada Cecília, irmã de Briony. A sua única esperança de estar com ela é alistar-se para a guerra.

Para quem não leu o livro a versão cinematográfica pode ser confusa. Os frames que Briony presencia da relação entre Robbie e Cecília levam-na a pensar as piores coisas do jovem. O espectador tem logo em seguida oportunidade de assistir ao desenrolar dos acontecimentos que levaram a essa imagem perdida. Momentos com tensão sexual, mas de forma alguma criminosos. Estes flashbacks repetem-se meia dúzia de vezes ao longo do filme e destroem as ideias já formadas, e é aqui que o filme perde por se enrolar um pouco sem necessidade.

A primeira hora do filme visita o ambiente familiar em festa. Os Tallis acolheram uns primos do norte e todos esperam a chegada do filho mais velho e do seu importante convidado. Enquanto isso Robbie, visita constante da casa, vai cedendo aos sentimentos que nutre por Cecília. Subitamente o crime é cometido e tudo muda de rumo. A harmonia familiar quebra-se e a divisão é imediata. A partir desse instante iremos assistir ao drama de três indivíduos cujas vidas foram marcadas por uma mentira. Robbie em solo francês, Cecília à espera do seu regresso, e Briony numa adolescência de solidão e sofrimento para expiar o seu pecado. Nessa primeira parte há cenas muito bem conseguidas e a jovem Saoirse Ronan arranca de forma brilhante com uma personagem belissimamente interpretada por três actrizes. Na segunda metade apesar das interpretações femininas continuarem a ser as mais memoráveis é com a história do protagonista que nos fascinamos. As cenas com o exército em Dunkirk são surpreendentes a nível de fotografia, som, direcções artística e cénica e tudo o resto. É uma mudança de estilo que revitaliza o filme e prende os espectadores. No final uma entrevista convertida em monólogo faz com que tudo encaixe e torna o filme simplesmente arrebatador!




Título Original: "Atonement" (França, Reino Unido, 2007)
Realização: Joe Wright
Argumento: Christopher Hampton baseado no livro de Ian McEwan
Intérpretes: Keira Knightley, Saoirse Ronan, James McAvoy, Romola Garai, Brenda Blethyn, Vanessa Redgrave
Fotografia: Seamus McGarvey
Música: Dario Marianelli
Género: Drama, Guerra, Romance
Duração: 130 min.
Sítio Oficial: http://www.atonementthemovie.co.uk/

Óscares 2008 - Prólogo


A cerimónia dos Óscares 2008 aproxima-se a passos largos (24 de Fevereiro) e o Antestreia vai acompanhar essa caminhada. Assim, até aos premiados, desvendaremos, categoria por categoria, os nomeados e respectivo buzz sobre uma possível vitória. Por outro lado, continuaremos a dar atenção à greve dos argumentistas dos EUA, e as possíveis implicações na cerimónia final (ou noutra inssossa conferência de imprensa).
Por cá, basta ir à barra lateral aqui à direita e clicar no poster do certame para consultar tudo sobre o evento mais badalado do início do ano.

"Daqui P'rá Frente" por Nuno Reis

Catarina Ruivo marcou o seu lugar no cinema português com "André Valente". Infelizmente para uma realizadora em início de carreira fazer um filme tão bom é demasiado arriscado, coloca a fasquia demasiado alta.

"Daqui P’rá Frente" começa de forma enganadora, uma mulher deambula à noite pelas ruas. Por não ter as chaves senta-se na soleira, adormece, e horas depois é levada para dentro por um polícia. Não são as festas que a fazem chegar tarde a casa, é a actividade partidária. Dora é massagista de dia e à noite tem reuniões de um partido de esquerda. O marido é polícia e tem muitos turnos de noite. Esse desencontro de horários e a dedicação de ambos ao que fazem irá causar uma ruptura no casal e ao longo do filme acompanhamos os rumos que as duas vidas seguem. Enquanto Dora progride na hierarquia do "Esquerda Unida", um pequeno partido local, António vai arriscando a vida em ruas problemáticas.

Como seria de prever o filme desenrola-se no Montijo. Suficientemente perto de Lisboa para ser um retrato do país, mas além-Tejo para ser em território propenso a partidos comunistas. Foi pena não ter estreado algumas semanas antes para aproveitar a publicidade feita ao "deserto" da margem sul. Neste filme o Montijo dá essa imagem de local tranquilo e isolado de onde Dora apenas escapa em algumas viagens de cacilheiro e escutando música brasileira. Esse fascínio pelo Brasil é um dos pontos de discórdia do par e a música é ouvida tantas vezes que acaba por fazer parte da identidade de Dora. Essa música destoa duplamente primeiro porque não se espera ver sentimentos numa pessoa dedicada à política, e segundo por parecer ter sido colocada à força apenas para dar um ar doce e frágil à personagem. Para relembrar que no fundo é apenas uma mulher, mas daquelas que luta todos os dias por um mundo melhor. A personagem masculina contrasta com tudo isso. Como arrisca a vida todos os dias, na vida doméstica é menos responsável e mais aproveitador do momento. Faz a diferença imediata e não compreende como a mulher pode querer viver de outra forma.

Pode ser dos ares alentejanos ou por muitas das cenas serem nocturnas, mas o filme é tão lento e monótono que não consegue cativar e nem a alternância entre as duas estórias consegue quebrar esse efeito. Algumas surpresas conseguem despertar interesse temporário, mas além de Adelaide de Sousa não há nada na tela para prender o espectador.




Título Original: "Daqui P'rá Frente" (Portugal, 2007)
Realização: Catarina Ruivo
Argumento: António Figueiredo, Catarina Ruivo
Intérpretes: Adelaide de Sousa, António Figueiredo, Luís Miguel Cintra
Fotografia: Rui Poças
Música: Vasco Pimentel
Género: Drama
Duração: 87 min.
Sítio Oficial: http://www.clapfilmes.pt/daquiprafrente

23 de janeiro de 2008

"The Darjeeling Limited" por Ricardo Clara

O cinema de Wes Anderson pauta-se, em exemplos como "The Royal Tenenbaums" ou "The Life Aquatic with Steve Zissou", pela construção de cenários e linhas narrativas assentes no burlesco, dispensando uma especial atenção aos tempos no momento da realização.

Em "The Darjeeling Limited" observamos a reunião de três irmãos que durante um ano perderam contacto, altura em que em que se juntaram para chorar a morte do pai. Francis (Owen Wilson), coberto de ligaduras e curativos, em virtude de um acidente (propositado) de mota, é o dinamizador de uma viagem pela Índia, num comboio, o Darjeeling Limited. Com ele vai Peter (Adrien Brody), atormentado por um casamento na altura em que sabe que vai ser pai; e Jack (Jason Schwartzman), viciado em ouvir, em puro voyeurismo, as mensagens do atendedor da ex-namorada.

Os propósitos da viagem, simples: o primeiro, descoberto logo no início, uma união espiritual dos irmãos. Uma jornada que os ligará pelo mais alvo fio da fraternidade. Para tal, contam com a ajuda de Brendan (Wallace Wolodarsky), braço direito de Francis, que se instalou numa carruagem junto aos trabalhadores do comboio, munido de um computador, de uma impressora e, inclusive, uma máquina de plastificar, para fazer os cartões com o roteiro diário. Com eles viaja uma pilha de malas Louis Vuitton, um misto de acessório e de personagem.

O roteiro será, simplesmente, visitar os principais templos e lugares de culto indianos, com o objectivo de reforçar os ditos laços. Mas Francis havia programado um propósito ainda maior: reencontrar a mãe Patricia (Angelica Huston), agora uma freira numa ordem religiosa indiana.

Todo o comportamento dos três irmãos é escalpelizado ao longo do filme: Francis é um obssessivo compulsivo, que decide o que todos fazem, desde a viagem, até às refeições. Peter também padece do mesmo mal, mas com os pertences do falecido pai: usa os seus óculos de sol (graduados), entre inúmeros outros objectos, e fala constantemente dele. Jack, para não ficar atrás, aponta a sua obsessão para a sua ex-namorada e para as mulheres - não fosse, aliás, envolver-se com Rita (Amara Karan), uma estranha empregada indiana que fala num fluentíssimo inglês e que luta com a sua vontade de sair do país. A sua obessão será, aliás, uma fuga.

Do encontro com a mãe ao processo de salvamento e morte de uma criança num rio indiano, que culmina com a participação nas exéquias fúnebres, os irmãos multiplicam-se em catarses e lembranças passadas.

É, aliás, o único ponto onde o fio narrativo ganha expressão. Até porque "The Darjeeling Limited" é um argumento perdido em corpo de filme. Não tenhamos ilusões: Wes Anderson filma, actualmente, como poucos. A ligação entre o ambiente indiano, uma mistura quente de cores e de locais exóticos, onde a natureza assume papel preponderante enquanto personagem e os três irmãos (num casting feliz), aliado uma realização assente em respirações é irrepreensível. Mas enquanto vamos assistindo a um desfilar de planos e cenas luxuosamente abordadas, Anderson não faz a interpretação correcta do conceito narrativo e perde-se (tal como nos perdemos e distanciamos) em situações de burlesco que não se reforçam (por independentes) umas às outras. Por outro lado, o realizador opta por ignorar a criação de música de raiz e investe (com muito sucesso) pelas bandas sonoras do imperador do cinema indiano, Satyajit Ray.

Temos passagens de enorme mistério. Quando o homem de negócios (ou, como nos créditos, the businessman) perde o comboio, perderá Bill Murray o contacto com o cinema de Anderson? Quando os irmãos desistem e largam as malas Louis Vuitton, cortam com o passado. Com que passado corta o realizador? Quando Patricia fecha a porta do quarto dos filhos, anuncia às escuras: to be continued (continua). Com que futuro conta Wes Anderson? É um filme de questões e sem respostas, de procura, de obsessões e de cortes com o passado. Mas que raramente se definem convenientemente e isso ressalta do próprio argumento, errático e inconstante.

Previamente ao filme, vemos uma curta-metragem, "Hotel Chevalier" de seu nome onde Francis se encontra com uma das suas paixões (papel interpretado por Natalie Portman). A opção da realização é a de criar perguntas que só se respondem no filme. Surgirá algo para unir as (muitas) pontas que ficam soltas? Rumos seriamente duvidosos e que continuam a adensar o cinema de Anderson.





Título Original: "The Darjeeling Limited" (EUA, 2007)
Realização: Wes Anderson
Argumento: Wes Anderson, Roman Coppola e Jason Schwartzman
Intérpretes: Owen Wilson, Adrien Brody e Jason Schwartzman
Fotografia: Robert D. Yeoman
Género: Comédia / Drama
Duração: 90 min.
Sítio Oficial: http://www.foxsearchlight.com/thedarjeelinglimited

Jornalismo?


A capa do diário Correio da Manhã de hoje afirma peremptoriamente: "Actriz que imita papel de Kate McCann nomeada para Óscar". Delicioso o título: segundo o(a) jornalista, Kate McCann interpreta um papel de representação no caso Maddie; por outro lado, "esquece-se" de referir que "Gone Baby Gone" (filme realizado por Ben Affleck, onde Amy Ryan está nomeada para Melhor Actriz Secundária) resulta de um argumento com 10 anos. Portanto: ou Ben Affleck e Aaron Stockard (argumentistas) possuem dons de futurologia, ou escreveram, e passaram as fases todas da produção em 6 meses. Ou então são sensacionalistas. Parei para pensar um pouco. Aposto na última.

Nomeados para os Oscares 2008


Não houve muitas surpresas nos nomeados, aceitam-se palpites para os vencedores e para a existência ou ausência da cerimónia. Será que finalmente o espectáculo fica terminado em meia hora?







Categorias-chave




Melhor Filme


"Atonement"
"Juno"
"Michael Clayton"
"No Country for Old Men"
"There Will Be Blood"

Melhor Realizador


Julian Schnabel por "Le Scaphandre et le Papillon"
Jason Reitman por "Juno"
Tony Gilroy por "Michael Clayton"
Joel e Ethan Coen por "No Country for Old Men"
Paul Thomas Anderson por "There Will Be Blood"

Melhor Actor Principal


George Clooney por "Michael Clayton"
Daniel Day-Lewis por "There Will Be Blood"
Johnny Depp por "Sweeney Todd The Demon Barber of Fleet Street"
Tommy Lee Jones por "In the Valley of Elah"
Viggo Mortensen por "Eastern Promises"

Melhor Actriz Principal


Cate Blanchett por "Elizabeth: The Golden Age"
Julie Christie por "Away from Her"
Marion Cotillard por "La Vie en Rose"
Laura Linney por "The Savages"
Ellen Page por "Juno"

Melhor Actor Secundário


Casey Affleck por "The Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford"
Javier Bardem por "No Country for Old Men"
Philip Seymour Hoffman por "Charlie Wilson’s War"
Hal Holbrook por "Into the Wild"
Tom Wilkinson por "Michael Clayton"

Melhor Actriz Secundária


Cate Blanchett por "I’m Not There"
Ruby Dee por "American Gangster"
Saoirse Ronan por "Atonement"
Amy Ryan por "Gone Baby Gone"
Tilda Swinton por "Michael Clayton"

Melhor Argumento Adaptado


Christopher Hampton por "Atonement"
Sarah Polley "Away From Her"
Ronald Harwood por "Le Scaphandre et le Papillon"
Joel e Ethan Coen por "No Country For Old Men"
Paul Thomas Anderson "Paul Thomas Anderson"

Melhor Argumento Original


Diablo Cody por "Juno"
Nancy Oliver por "Lars and the Real Girl"
Tony Gilroy por "Michael Clayton"
Brad Bird, Jan Pinkava, Jim Capobianco por "Ratatouille"
Tamara Jenkins "The Savages"




Os outros melhores filmes



Melhor Filme de Animação


"Persepolis"
"Ratatouille"
"Surf's Up"

Melhor Filme em Idioma Não Inglês


"Beaufort" Israel
"The Counterfeiters" Áustria
"Katyń" Polónia
"Mongol" Cazaquistão
"12" Rússia

Melhor Curta de Imagem Real


"At Night" de Christian E. Christiansen e Louise Vesth
"Il Supplente" de Andrea Jublin
"Le Mozart des Pickpockets" de Philippe Pollet-Villard
"Tanghi Argentini" de Guido Thys e Anja Daelemans
"The Tonto Woman de Daniel Barber e Matthew Brown

Melhor Curta de Animação


"I Met the Walrus" de Josh Raskin
"Madame Tutli-Putli" de Chris Lavis e Maciek Szczerbowski
"Même Les Pigeons Vont au Paradis" de Samuel Tourneux e Simon Vanesse
"Moya Lyubov" de Alexander Petrov
"Peter & the Wolf" de Suzie Templeton e Hugh Welchman

Melhor Documentário


"No End in Sight"
"Operation Homecoming: Writing the Wartime Experience"
"Sicko"
"Taxi to the Dark Side"
"War/Dance"

Melhor Curta Documental


"Freeheld"
"La Corona"
"Salim Baba"
"Sari’s Mother"



Outras categorias



Melhor Direcção Artística


"American Gangster"
Direcção Artística: Arthur Max
Decoração Cénica: Beth A. Rubino
"Atonement"
Direcção Artística: Sarah Greenwood
Decoração Cénica: Katie Spencer
"The Golden Compass"
Direcção Artística: Dennis Gassner
Decoração Cénica: Anna Pinnock
"Sweeney Todd The Demon Barber of Fleet Street"
Direcção Artística: Dante Ferretti
Decoração Cénica: Francesca Lo Schiavo
"There Will Be Blood"
Direcção Artística: Jack Fisk
Decoração Cénica: Jim Erickson

Melhor Fotografia


Roger Deakins por "The Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford"
Seamus McGarvey por "Atonement"
Janusz Kaminski por "Le Scaphandre et le Papillon"
Roger Deakins por "No Country for Old Men"
Robert Elswit por "There Will Be Blood"

Melhor Banda Sonora


Dario Marianelli por "Atonement"
Alberto Iglesias por "The Kite Runner"
James Newton Howard por "Michael Clayton"
Michael Giacchino por "Ratatouille"
Marco Beltrami por "3:10 to Yuma"

Melhor Música Original


"Falling Slowly" "Once"
"Happy Working Song" em "Enchanted"
"Raise It Up" em "August Rush"
"So Close" em "Enchanted"
"That’s How You Know" em "Enchanted"

Melhor Som


Karen Baker Landers e Per Hallberg por "The Bourne Ultimatum"
Skip Lievsay por "No Country for Old Men"
Randy Thom e Michael Silvers por "Ratatouille"
Matthew Wood por "There Will Be Blood"
Ethan Van der Ryn e Mike Hopkins por "Transformers"

Melhor Edição de Som


Scott Millan, David Parker e Kirk Francis por "The Bourne Ultimtum"
Skip Lievsay, Craig Berkey, Greg Orloff e Peter Kurland por "No Country for Old Men"
Randy Thom, Michael Semanick e Doc Kane por "Ratatouille"
Paul Massey, David Giammarco e Jim Stuebe por "3:10 To Yuma"
Kevin O’Connell, Greg P. Russell e Peter J. Devlin por "Transformers"

Melhor Caracterização


Didier Lavergne e Jan Archibald "La Vie en Rose"
Rick Baker e Kazuhiro Tsuji por "Norbit"
Ve Neill e Martin Samuel "Pirates of the Caribbean: At World’s End"

Melhor Guarda-Roupa
Albert Wolsky por "Across the Universe"
Jacqueline Durran por "Atonement"
Alexandra Byrne por "Elizabeth: The Golden Age"
Marit Allen por "La Vie en Rose"
Colleen Atwood por "Sweeney Todd The Demon Barber of Fleet Street"

Melhor Montagem


Christopher Rouse por "The Bourne Ultimatum"
Juliette Welfling por "Le Scaphandre et le Pappillon"
Jay Cassidy por "Into the Wild"
Roderick Jaynes por "No Country for Old Men"
Dylan Tichenor por "There Will Be Blood"

Melhores Efeitos Visuais


Michael Fink, Bill Westenhofer, Ben Morris e Trevor Wood por "The Golden Compass"
John Knoll, Hal Hickel, Charles Gibson e John Frazier por "Pirates of the Caribbean: At World’s End"
Scott Farrar, Scott Benza, Russell Earl e John Frazier por "Transformers"

22 de janeiro de 2008

Heath Leadger (1979-2008)


Choque em Hollywwod! Heath Leadger, actor australiano, estrela em filmes como "The Patriot" e "Brokeback Mountain" foi encontrado morto hoje no seu apartamento. O corpo foi descoberto por um empregado, quando este ia anunciar uma visita, tendo encontrado, a seu lado, um frasco de pastilhas (desconfiando a polícia de Nova Iorque que a morte tenha sido o resultado do consumo de drogas).
Leadger ia estrear muito proximamente "The Dark Night", o último trabalho de adaptação da BD de Batman, onde interpreta o papel do arqui-inimigo Joker. Depois de Brad Renfro, mais um jovem actor a desaparecer neste trágico início de ano para o mundo do cinema.


21 de janeiro de 2008

Wes Anderson e a modelação









A remodelação dos arquétipos sociais em comédias de costume e do burlesco devem (quase) obrigatoriamente ser acompanhadas de uma construção sólida de base do processo narrativo. Quando desequilibradas, as peças sabem sempre a menos do que, na realidade, são; e quando Wes Anderson afinar a balança, teremos a certeza que um visionamento será sempre uma celebração dos sentidos.


20 de janeiro de 2008

Bigger, Stronger, Faster* - posters

Integrado na selecção do Festival de Sundance, e com algum hype à mistura, "Bigger, Stronger Faster*" é um documentário do norte-americano Chris Bell sobre o uso e abuso de substâncias dopantes e que melhoram o rendimento daqueles que muitos consideram como heróis. A estrear este ano, ficam aqui os posters do filme.



16 de janeiro de 2008

Brad Renfro (1982-2008)


Brad Renfro, jovem actor norte-americano, foi encontrado morto na sua casa, em Los Angeles. Renfro começou a ficar famoso aos 12 anos, quando contracenou com Susan Sarandon e Tommy Lee Jones em "The Client" (1994), tendo igualmente participado em películas como "Sleepers (1996) e "Ghost World" (2001).
Actualmente encontrava-se a rodar "The Informers", baseado no romance homónimo de Bret Easton Ellis, com Winona Ryder, Mickey Rourke, Brandon Routh, Billy Bob Thornton e Kim Basinger no elenco. O constante abuso de drogas e álcool, acrescido de delitos menores como compra de estupefacientes e roubos terão, concerteza, patrocinado este trágico destino de Brad Renfro.