20 de dezembro de 2007

"Redacted" por Nuno Reis

"Quem guardará os guardas"? Nunca a frase de Virgílio teve tanto significado como nesta época de guerra pelo ouro negro. Os EUA que se afirmavam como o braço armado da democracia são agora apenas um braço armado escudado pela democracia. Com a desculpa de defender povos oprimidos ficaram estrategicamente próximos do poder nos produtores de petróleo e o seu exército tenta ingloriamente obter o poder nos territórios ocupados que - à semelhança de uma conhecida aldeia - resistem ainda e sempre ao invasor.
Estar longos meses longe de casa, ver os amigos morrer, ter de passar dias inteiros fechado, sofrer sob altas temperaturas e ser desprezado por todos os que se "protege" deixa qualquer ser humano frustrado e os soldados americanos não são indiferentes a isso. Cada um deles tem a sua própria forma de lidar com o tédio e com as saudades, mas, interiormente, caminham todos para a loucura. Quando ultrapassam essa barreira da loucura cometem atrocidades com completa indiferença pelas pessoas que vitimam. A desculpa é que os árabes lhes fazem o mesmo.

Brian de Palma era, talvez por ser o dia do seu aniversário, dos poucos grandes realizadores que ainda não tinha tocado no tema 9/11. Quando o fez surpreendeu. O tema é o comportamento desumano dos polícias do mundo, desde o soldado ao governo.
Filmado com os aparelhos amadores de soldados e câmaras de vigilância, combinando entrevistas feitas pelo soldados, opiniões de civis publicadas no YouTube e momentos de bom cinema criou uma obra interessante.
Começa por ser um documentário frouxo sobre a guerra. Ajuda a conhecer as culturas e os soldados intervenientes na história. Subitamente uma explosão vitima um soldado (cena brutal e tecnicamente perfeita) e o filme gira 180 graus. Sem uma figura de comando os soldados começam a desviar-se do código de conduta e da Convenção de Genebra. Um crime cometido num momento de loucura vai ser motivo de orgulho para os transgressores, vai remoer um inocente que não o quis evitar, e vai revelar os podres de toda a hierarquia militar até um clímax que tem tanto de surreal como de verídico.

Este é daqueles filmes que não se consegue apreciar à saída da sala, precisa de ser digerido. É uma forte crítica à guerra e aos políticos que a instigam. É também um apelo à sociedade tecnológica para que continue a cumprir o seu papel de vigiar e informar. Os americanos protegem-nos do mal, a informação protege-nos dos americanos. Será isso suficiente para que os guardas se mantenham na linha?



Título Original: "Redacted" (Canadá, EUA, 2007)
Realização: Brian De Palma
Argumento: Brian De Palma
Intérpretes: Patrick Carroll, Rob Devaney, Mike Figueroa, Ty Jones, Daniel Stewart Sherman
Fotografia: Jonathon Cliff
Género: Drama, Guerra
Duração: 90 min.
Sítio Oficial: http://www.redactedmovie.com/

2 comentários:

Anónimo disse...

Paabéns pela visão realista, de um filme que tem como objetivo o alerta a socidade; onde noto que os arabes sãos os inimigos, os terroristas. Poém os americanos que invadem paises arabes, com a pseudo desculpa que estão protegendo o mundo, cometem o maior terrorismo de todos, onde matam crianças, violam mulheres, alegando que estão sobre o clima da guerra.
Agora, os irmãos palestinos, os arabes em geral, que foram usurpados pelos judeos/americanos são os violÕes o os Estados Unidos a vitima?

De Palma mais uma vez me impressiona com tal critica aos americanos neste filme, que o fez com muita genialidade tipica de um diretor de primeira qualidade.

rui.molina@hotmail.com

Abraços

Nuno disse...

Estes filmes são bons para nos recordar que, como parte da sociedade, somos responsáveis pela vigilância ao mundo.

Obrigado pela visita e pelo comentário.