16 de novembro de 2016

Filmin chegou a Portugal











A Filmin existe há oito anos em Espanha e tinha uma versão mexicana. Agora a plataforma video-on-demand também tem versão portuguesa e é uma excelente fonte de cinema independente. Os filmes podem ser vistos por browser (computador, tablet, smartphone e brevemente nas Smart TV) e alugados à unidade ou através de uma mensalidade.

A vinda para Portugal teve o apoio do programa Media e o catálogo com 500 filmes – disponíveis na língua original e legendados em Português - inclui ciclos dedicados a Luchino Visconti, Jim Jarmusch e Isabelle Huppert, e foi alimentado por várias pequenas distribuidoras como Alambique Filmes, Midas Filmes, Outsider Filmes, Films4You, O Som e a Fúria, Ukbar Filmes, Terratreme, Rosa Filmes, Fado Filmes...

O lançamento em Portugal inclui a antestreia online no dia 19 de Novembro de um documentário por Werner Herzog, "Lo and Behold, Reveries of the Connected World". Como promoção de lançamento, até ao final do ano dois meses ficam pelo preço de um.

No modelo de mensalidade custa 6,95 euros/mês, sem fidelização obrigatória e ilimitado, e o aluguer à unidade é por 72 horas, com valores entre 1,95 e 3,95 euros.


12 de novembro de 2016

Distribuição cinematográfica decidida pelas pessoas

Se são daquelas pessoas que se queixam da oferta cinematográfica nacional, eis a vossa oportunidade de fazer algo quanto a isso.

O Scope 100 é uma iniciativa europeia de promoção e divulgação do cinema que pretende aprofundar a ligação entre os mais recentes e relevantes filmes independentes e os seus espectadores. A iniciativa envolve 10 países europeus através da colaboração de 10 distribuidoras locais, permitindo ao espectador ter uma última palavra na escolha de um filme que quer ver distribuído em Portugal.

O Scope 100 oferece aos seus membros uma experiência cinematográfica única: a oportunidade de participar na estreia de um filme, desde a sua escolha até ao acompanhamento de todo o processo.

As inscrições estão abertas a qualquer pessoa (maior de 18 anos), e o requisito mais importante é mesmo gostar muito de cinema.

100 Participantes. 7 Filmes. 1 Decisão.

Será constituído um grupo de 100 participantes que irão ter acesso exclusivo a 7 filmes recentes - obras já apresentadas nos principais festivais internacionais, e que representam algumas das mais ambiciosas e arrojadas propostas cinematográficas do ano.

Irão visioná-los, avaliá-los, discuti-los entre si e, no final, seleccionar aquele que julguem merecedor de chegar às salas de cinema nacionais. Os participantes estarão também envolvidos de forma activa na concepção da campanha de promoção, havendo prémios para os principais contributos.

O filme vencedor terá estreia em Março de 2017.

As inscrições são aqui.

6 de novembro de 2016

"Hello My Name is Doris" por Nuno Reis

Doris, a heroína que ninguém vê

"Hello, My Name is Doris" foi escrito e realizado por Michael Showalter, argumentista de "Wet Hot American Summer" em colaboração com Laura Terruso que criou a curta "Doris & the Intern" (2011). Tem algumas semelhanças com o “The Intern” que esteve nos cinemas há uns meses, na parte de ser uma crítica às empresas e ao ritmo do século XXI na perspectiva de quem trabalhou toda uma vida de forma diferente, mas foca-se principalmente no campo pessoal e no fosso entre gerações cada vez menor. É sobre uma mulher nos seus sessenta anos que após a morte da mãe se tenta adaptar ao mundo em que vive e se sente atraída pelo novo colega que tem menos de metade da sua idade. Com os conselhos da filha adolescente da sua única amiga, Doris vai entrar no mundo das redes sociais, do calão, da música electrónica, todas as modas da juventude.
A componente inter-geracional está bem explorada pois mostra uma geração com uma mentalidade mais aberta (a temática LGBT vem à baila três vezes) e que logicamente se integra bem com pessoas de outras culturas, nacionalidades e - porque não? - idades. Não é difícil conhecer alguém como Doris. Uma mulher que vive em função da mãe e quando fica sem ela, fica ainda mais desorientada do que já parecia. Alguém que só recomeça a viver muito tarde na vida e já não sabe interagir com a sociedade, muito menos com uma sociedade que tem metade da idade dela. Doris é também um pouco louca. E finalmente, Doris é adorável. Todos em volta dela a adoram e querem a companhia dela. O problema é que Doris é muito inconveniente e tudo o que faz tem consequências.
Este é um daqueles projectos com muito risco. O tipo de filme independente americano que passaria despercebido na maior parte do mundo. Claro que isso se torna diferente quando quem faz de Doris se chama Sally Field. Um papel tão pateta entregue a alguém menos talentoso arruinaria o filme, mas a enorme Field consegue explorar as diferentes camadas da personagem e a cada passo dar-nos um pouco mais para descobrir. À primeira vista Doris é tudo o que esperaríamos dela, mas a forma como se tenta integrar com pessoas com as quais não tem nada em comum está no ponto ideal. A relação com amigos e família que se vai degradando, os problemas pessoais, o facto de nunca ter tido amigos homens e confundir simpatia com interesse amoroso, ou o facto de ter como referências para a vida adulta um charlatão e uma adolescente... Doris é um mundo e o filme tem tanto de inesperado como de realista. Mesmo sabendo que só poderá acabar mal, somos levados pela excitação desta mulher que ficou com a vida em suspenso.
Estamos perante um daqueles casos em que uma ida ao cinema consegue providenciar uma verdadeira surpresa. Tem drama, tem romance, tem humor e tem muita coragem. É um filme criativo numa era em que todos parecem seguir a mesma fórmula, que se centra numa mulher de idade em vez de se focar em debutantes, e não é por falta de mulheres jovens e lindas na história, mas acontece que todas ficam por pouco tempo, só esta velhota aguenta o filme todo. E o actor principal simplesmente tem de sorrir, ser simpático, passear em tronco nu, basicamente o que as mulheres fazem em noventa por cento dos filmes. Max Greenfield (o Schmidt de "New Girl") está muito bem no papel.
Resta esperar para ver se estreará por cá.
Hello, My Name Is DorisTítulo Original: "Hello, My Name Is Doris" (EUA, 2015)
Realização: Michael Showalter
Argumento: Laura Terruso, Michael Showalter
Intérpretes: Sally Field, Max Greenfield, Tyne Daly, Elizabeth Reaser, Beth Behrs
Música: Brian H. Kim
Fotografia: Brian Burgoyne
Género: Comédia, Drama, Romance
Duração: 95 min.
Sítio Oficial: https://www.hellomynameisdorismovie.com

Festival Curtas de Vilagarcía renascido


Numa altura em que o nosso Cinanima festeja o quadragésimo aniversário destacando-se dos demais eventos nacionais, é preciso olhar para norte para encontrar um evento mais antigo. Em Vilagarcía de Arousa decorreu em Outubro e Novembro a quadragésima quarta edição do Curtas Film Fest, um evento nascido em 1973 que se tem celebrado ininterruptamente.
No início o Curtas era chamado Festival de Cine Aficionado de Vilagarcía pois foi criado pelos sócios do Liceo de Vilagarcia como fãs da arte. Caso o termo pareça confuso, Liceo não é uma escola, mas uma associação cultural e desportiva sem fins lucrativos. É um conceito muito em voga em Espanha e, tal como neste caso, são organizações centenárias que em muito dinamizam as actividades locais. O Liceo de Vilagarcía é a mais antiga sociedade da cidade, o festival de cinema é o mais antigo da Galiza. 2016 marcou um ponto de viragem pois Vilagarcía apercebeu-se que um dos seus habitantes era Luis Rosales e à data, além de dirigir a revista SciFiWorld, era director do festival de cinema fantástico de Madrid. Pois o filho pródigo da terra iria usar os seus poderes (e contactos) em prol da região e foi nomeado director do Curtas. Isso viria a mudar o rumo do festival e da terra, como poderão ler nos livros de história dentro de alguns anos.
A primeira mudança foi ligeira: uma simples viagem no tempo aos anos 80 para vários dos clássicos adorados do cinema. Batman, Ghostbusters, Robocop, Jack Burton, Conan, os Goonies, Gremlins, Marty McFly, Indiana Jones, Aliens, E.T. e muitos outros destacava-se num programa onde também havia espaço para Superman, V for Vendetta (que ontem fez 10 anos), 300, o Feiticeiro de Oz e a trilogia de Apu. Pode ter muito de cinema fantástico, mas apelando a todos os públicos. E tem muito de comic, o que se torna ainda mais evidente se disser que foi realizada a primeira edição do Salão de Comic de Vilagarcía. E para impressionar toda a gente, a primeira edição contou logo com os maiores da nona arte, como Juan Giménez, Alfonso Azpiri, Salvador Larroca ou Mo Caró que estiveram sentados na mesma mesa em várias ocasiões, feito que qualquer evento maior de comic desejaria.
A sala de exposições também impressionou com adereços de vários filmes desde Gremlins a MIB e estátuas em tamanho real de vários heróis como Spider-Man, Iron Man e The Hulk.
Falta falar das curtas, o tema do evento, e essa parte é igualmente difícil. Com 56 títulos em competição pelo prémio, a melhor curta foi “Titán” de Álvaro González, Javier Fesser venceu melhor realizador com “17 Años Juntos”, Nani Matos foi o melhor realizador galego por “Lurna” e “Einstein-Rosen” de Olga Osorio foi a melhor curta galega. Que dois dos quatro melhores sejam de género fantástico pode ser um sinal de como os contactos de Rosales o ajudaram a divulgar e a ampliar o festival, ou pode ser uma constatação da especialidade do cinema espanhol que alguns festivais generalistas teimam em não reconhecer.
Além do cinema e comic, o certame também apostou na tradição de Samaín fazendo os festejos assombrados como manda a tradição galega, desde abóboras e concurso de disfarces, até gincanas, houve um pouco de tudo. Como apenas estive dois dias lá, não deu para ver tudo, apenas ficar com uma ideia do porquê de uma terra com 35000 habitantes ter tido mais de 20000 presenças nos eventos. E já referi que foi tudo gratuito? E que todos os edifícios municipais têm wifi gratuita? Posso ser um pouco tendencioso, mas o Curtas está em boas mãos e o seu futuro é muito auspicioso.

"Café Society" por Nuno Reis

Woody Allen está de volta, mas qual deles?


Todos sabem que Woody Allen tem várias facetas. Não é só por ser actor, realizador, argumentista e músico, é porque tão depressa nos dá uma comédia como um drama, algo de época ou ficção-científica, tao depressa filma nas suas Nova Iorque ou Paris com amor, como faz um filme em piloto automático por razões claramente económicas. "Cafe Society" é um filme com algum piloto automático, mas é um quase regresso à Nova Iorque dos anos 30 que vimos em "Os Dias da Rádio" (passado em 1942), é uma visita à Hollywood glamorosa dessa época com um toque de "Broadway Danny Rose", é um refrescar dos actores com quem trabalha.
"Café Society" é sobre Hollywood e as festas do mundo do cinema. Não se foca naquelas cheias de estrelas e fotografias para as revistas, mas as dos homens de negócios que faziam acordos milionários e trocavam boatos. Phil Stern é o maior deles. Um homem tão ocupado que quase não consegue tempo para reunir com o sobrinho - cujo nome não recordava - para lhe arranjar emprego. E Bobby agradece pois não só tem liberdade para explorar a cidade, como acaba por conhecer Vonnie, uma das assistentes do tio e uma lufada de ar fresco numa sociedade maquilhada e vestida para impressionar. Ao fim de alguns meses, já farto dessa vida, Bobby volta para Nova Iorque com ideias sobre como a gente da alta sociedade quer ser vista e aplica essas ideias no clube do irmão que depressa se torna o lugar mais in da cidade.
Neste regresso ao que Allen já fez tão bem, tanto pela época como pelo tema e localização, o argumento de "Café Society" fica a dever muito aos seus irmãos mais velhos. Tem tudo o que vimos Allen fazer como ninguém, em especial aquelas personagens que tentam seguir em frente nas relações falhadas, ou as que estão a mudar para sempre o mundo em que vivem sem se aperceberem disso, mas não é um bom Allen. Vindo de um novo realizador ainda se aceitaria e aplaudiria, mas dele exigíamos mais. Está sempre na eminência de saltar para algo maior, mas depois há sempre um qualquer acontecimento que impede esse avanço e se volta a focar num individuo e aí prefere jogar com os sentimentos de culpa e arrependimento do que explorar todo o mundo que nos apresentou.
É de destacar a nova oportunidade de Jesse Eisenberg (depois de um fraco "To Rome With Love") que se volta a tentar esticar para fora do acting range que lhe imaginávamos. Não serve para tema único do filme como o realizador tentou, mas tem uma boa transformação de jovem entusiasmado e desorientado vindo da outra costa em sagaz homem de negócios. De notar a improvável aposta em Kristen Stewart com quem Eisenberg fez dupla em "American Ultra" (e ultimamente tem conseguido trabalhar com alguns dos maiores realizadores) numa personagem-chave que podia e devia ter sido mais explorada. Entre as confirmações, Steve Carell também não faz nada que ainda não o soubéssemos capaz e podia ter tido ou mais ou menos tempo, ficou numa posição ingrata em que parecia ser pivotal para depois ser descartado. Tal como a Stewart, foi-lhe dada uma personagem demasiado estereotipada para conseguir dar um cunho pessoal. Corey Stoll teve a sorte de ser o escape cómico e faz parte de muitas da melhores cenas. Exceptuando um momento de Bobby no hotel, diria que todos os bons gags do filme passam precisamente pelo Ben de Stoll. Falta ainda uma referência a Blake Lively que surge no filme por alguns minutos quase como uma figura angelical e, mesmo não sendo exigente para a actriz que simplesmente tem de sorrir e deslumbrar, tem o condão de subtilmente mudar o tom do filme.
Após ver um daqueles filmes que só Allen conseguiria fazer, a sensação é de ter sido um bom filme, com grande elenco, cenários e fotografia impecáveis, mas com o passar das horas a sensação de poder ter sido mais acaba por ganhar. Tem muitas cenas memoráveis (por quem não via igual antes noutros filmes dele) e uma ou outra frase que se poderá repetir no dia-a-dia, mas nada de extraordinário.

Café SocietyTítulo Original: "Café Society" (EUA, 2016)
Realização: Woody Allen
Argumento: Woody Allen
Intérpretes: Jesse Eisenberg, Kristen Stewart, Steve Carell, Corey Stoll, Blake Lively
Fotografia: Vittorio Storaro
Género: Comédia, Drama, Romance
Duração: 96 min.
Sítio Oficial: https://www.cafesocietymovie.com

Vamos lá a isso


O regresso

Não é bem um regresso porque não houve uma saída ou uma pausa programada. Simplesmente o tempo entre publicações começou a ficar demasiado grande para voltar a escrever sem uma justificação. Como muitos saberão além deste espaço também escrevo para a SciFiWorld. Para não ter conteúdo duplicado, não escrevo sobre o mesmo. Por isso a SFW ficou com a parte do fantástico, e o Antestreia ficaria com tudo o resto. Uma divisão simples. Só entre trabalho, mestrado e todas as coisas que surgem na vida pessoal, o tempo disponível não abundou. O tempo foi passando e desde os Óscares que não escrevia aqui. Sem querer, foi o maior hiato na história deste blog (o anterior foi quando comecei a trabalhar e tive de reinventar o horário de escrita).

O que tenho andado a fazer?

Como referido acima, tenho andado ocupado com aquilo que paga as contas, aulas a noite e trabalhos pela noite dentro, a escrita para a SciFiWorld, criar um novo blog… Sim, como se isto não bastasse ainda vem aí mais um. Quem me conhece como blogger é capaz de ter reparado que sempre houve uma afinidade com a criação de componentes fora do comum. Isso porque a minha formação é em Ciência de Computadores e o meu trabalho envolve muitos websites e outras coisas que nem vale a pena explicar. Ora a minha tecnologia preferida para o desenvolvimento web é nacional e chama-se OutSystems, e como o sentimento é recíproco e essa empresa também gosta de mim, nomearam-me Most Valuable Professional. Portanto, além de ter criado uma nova conta de twitter para os assuntos tecnológicos, quero criar um espaço para falar desses temas. Quais? Todos! Para já terá dez secções entre Informática e Social Media. Se com o tempo ficar proficiente em mais alguma coisa, também irá para lá. Enquanto o site não fica pronto (obviamente que o quero fazer eu, senão, qual era a piada?) estou a escrever conteúdos para publicar lá. Porque é que isso vos interessaria? Porque também estou a fazer definições “for dummies” de temas tecnológicos e estou a compilar dúvidas frequentes de bloggers sobre funcionalidades e formas de fazer as coisas nas principais plataformas de blogging. Se quiserem ir colocando as questões aproveitem.
Finalmente chegamos à parte do mestrado. É em marketing digital portanto também está ligado a estes temas. Se por um lado a parte de ter aulas quatro vezes por semana suavizou, chegou a altura de fazer projecto/dissertação e muito mais trabalho se avizinha. Nada que me assuste, mas o tempo livre não será nestes próximos doze meses. Assim que o tenha, será para voltar ao site do Antestreia que já anunciei há uns quatro ou cinco anos e cada vez faz mais sentido.

Próximos passos

Este post chega porque vêm aí dois artigos. Um para a rubrica Woody Allen que está de volta com "Café Society", e outro sobre o festival de Vilagarcia de Arousa. Em tempos escrevi sobre Ourense, o primeiro festival estrangeiro que cobri, pois agora estou de volta à Galiza para um festival que nasceu em 1973 e este ano ganhou nova vida com uma forte injecção de cinema fantástico. Não é um regresso às publicações diárias, mas as publicações serão mais regulares.