29 de dezembro de 2007

"Taxidermia" por Nuno Reis

A cinematografia húngara tem vindo a afirmar-se como dos exemplos de maior sucesso de cinema europeu, sobretudo numa vertente de um cinema à margem, que não sendo para grandes públicos é para públicos de gosto mais refinado. Poder-se-ia referir o caso de “Johanna” e “Taxidermia” - vencedores recentes do Fantas - e mais recentemente de “Dolina” e “Opium”, que têm a rara faculdade de provocar reacções contraditórias e de acender polémicas, o que só acontece com filmes de qualidade. Taxidermia tem tudo para ser, com o tempo, um filme de culto tal como “Delicatessen”. É provocador, chocante, irritante às vezes, perverso e perturbador. Esta ideia de um taxidermista– embalsamador – e família tem tudo para ser um dos filmes mais repulsivos, e dessa forma transgressora ficar como um marco na época cinematográfica.

Através de três gerações de uma família, vamos conhecendo indivíduos bastante estranhos. Um homem que dispara fogo pelo pénis, uma criança com rabo de porco que cresce para se tornar um comedor de velocidade, e um taxidermista cujo talento é apenas comparável à sua estranheza. A singularidade vai crescendo de geração para geração até ao clímax que termina o filme. O êxito e conforto que cada um destes indivíduos sente em profissões pouco populares, demonstra o seu problema de mentalidade e falta de objectivos reais. No fundo têm todos o mesmo problema de afirmação e falta de amor-próprio e isso causa uma não desejada auto-mutilação permanente. Uma realização atenta, interpretações desconcertante e um retrato sem pudor de comportamentos repugnantes muito rico em detalhes tornam este filme uma obra de arte assustadora.

As mortes - como tudo no filme - são simultaneamente criativas e nojentas, não incomodando apenas os estômagos melhor preparados. À semelhança dos embalsamados que exibe, esta obra impressiona e revolta, mas também atrai. Quando deixar de chocar é porque há algum problema com o espectador.



Título Original: "Taxidermia" (Áustria, França, Hungria, 2006)
Realização: György Pálfi
Argumento: György Pálfi, Lajos Parti Nagy, Zsófia Ruttkay
Intérpretes: Csaba Czene, Gergely Trócsányi, Piroska Molnár
Fotografia: Gergely Pohárnok
Música: Amon Tobin
Género: Drama
Duração: 91 min.
Sítio Oficial: http://www.taxidermia.hu/

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