Um longo respirar
A febre dos westerns regressa paulatinamente à vida cinematográfica actual, depois de quase três décadas onde a produção se afastou de forma quase radical do género. Definido por Andre Bazin como "o cinema americano por excelência", os westerns tiveram em John Ford, Howard Hawks e Clint Eastwood o seu expoente máximo, à parte de Sergio Leone, por exemplo, no que aos western-spaghetti concerne.
Este género, que se reporta a uma época contemporânea à da Guerra Civil Norte-Americana, ficou marcado por inúmeros pistoleiros e xerifes, sendo um dos mais conhecidos Jesse James, um fora-da-lei, que assassinou um grande número de pessoas, entre assaltos e outro tipo de violência física.
E é no declínio do gang de Jesse James (Brad Pitt) que somos apresentados aos seus colegas do crime: Charley Ford (Sam Rockwell), Dick Liddil (Paul Schneider), Ed Miller (Garret Dillahunt), Frank James (Sam Shepard), Wood Hite (Jeremy Renner) e um jovem aprendiz na arte de roubar, Robert Ford (Casey Affleck). Ao longo de quase três horas, observamos Jesse num ambiente familiar, enquanto marido, enquanto pai, enquanto vedeta aos olhos de um apaixonado Bob Ford. Até que (e por não sabermos, como Jesse não o sabia - «Do you want to be like me? Or do you want to BE me?», se Ford queria ser James) num momento de puro desespero e defesa da própria vida, Bob Ford mata Jesse James, pelas costas, morrendo a lenda e alterando a história.
"The Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford" / "O Assassínio de Jesse James pelo Cobarde Robert Ford" é um dos mais espantosos filmes norte-americanos deste século. Um quadro em movimento, diálogos e gestos coreografados até ao limite, de uma paz e lentidão deliciosa, um filme que pertence aquela classe dos que não se fazem actualmente. Andrew Dominik borrifou-se por completo para as necessidades modernas de velocidade e «fazer tudo para ontem», e montou uma obra profundamente clássica e lânguida, filmando com infinita paciência a mais simples cena e a mais desnecessária imagem. A fotogfrafia é assombrosa (honra a Roger Deakins). Planícies como poucas vezes a lente consegue mostrar, momentos de puro regozijo ao acompanhar Jesse James pelas pradarias em busca dos seus companheiros do crime. A música, luxuosa, não fosse assinada por Nick Cave e Warren Ellis. "The Assassination of..." é uma obra de tempos e de tempo. De tempos, porque é um lento respirar cinematográfico, de tempo, porque é cruelmente actual.
As personagens são de uma enorme profundidade. O Jesse James de Brad Pitt não consegue ser tão profundo e decalcado do Robert Ford de Casey Affleck. Este último tem uma interpretação fortíssima, confundindo-se amiude com a personagem. Aquele olhar embevecido, um jeito envergonhado, como um fã que conhece a sua vedeta, uma fortíssima carga homosexual na maneira como age e como persegue Jesse. Bob Ford é um mito que nos persegue para fora do filme, depois de uma interpretação como esta. Os diálogos, apesar de escassos, são riquíssimos, e duas cenas me assaltam constantemente: a da primeira visita de Jesse a casa, depois de Bob ter alvejado Hite, uma carga poderossíssima, uma iluminação riquíssima e tensão que cola à pele; e a da morte de James, dos 15 minutos que a antecederam, aos 5 que a sucederam: cinema no seu estado puro.
Sofre com a duração, mas ninguém disse que ver Cinema é fácil. Acima de tudo, peca pela interpretação de Pitt, que apesar de regular, é velozmente ultrapassado por Affleck. Uma obra de excelência que, até pelas suas imperfeições, nos fazem crer que a sétima arte é ainda a mais nobre delas todas.
A febre dos westerns regressa paulatinamente à vida cinematográfica actual, depois de quase três décadas onde a produção se afastou de forma quase radical do género. Definido por Andre Bazin como "o cinema americano por excelência", os westerns tiveram em John Ford, Howard Hawks e Clint Eastwood o seu expoente máximo, à parte de Sergio Leone, por exemplo, no que aos western-spaghetti concerne.
Este género, que se reporta a uma época contemporânea à da Guerra Civil Norte-Americana, ficou marcado por inúmeros pistoleiros e xerifes, sendo um dos mais conhecidos Jesse James, um fora-da-lei, que assassinou um grande número de pessoas, entre assaltos e outro tipo de violência física.
E é no declínio do gang de Jesse James (Brad Pitt) que somos apresentados aos seus colegas do crime: Charley Ford (Sam Rockwell), Dick Liddil (Paul Schneider), Ed Miller (Garret Dillahunt), Frank James (Sam Shepard), Wood Hite (Jeremy Renner) e um jovem aprendiz na arte de roubar, Robert Ford (Casey Affleck). Ao longo de quase três horas, observamos Jesse num ambiente familiar, enquanto marido, enquanto pai, enquanto vedeta aos olhos de um apaixonado Bob Ford. Até que (e por não sabermos, como Jesse não o sabia - «Do you want to be like me? Or do you want to BE me?», se Ford queria ser James) num momento de puro desespero e defesa da própria vida, Bob Ford mata Jesse James, pelas costas, morrendo a lenda e alterando a história.
"The Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford" / "O Assassínio de Jesse James pelo Cobarde Robert Ford" é um dos mais espantosos filmes norte-americanos deste século. Um quadro em movimento, diálogos e gestos coreografados até ao limite, de uma paz e lentidão deliciosa, um filme que pertence aquela classe dos que não se fazem actualmente. Andrew Dominik borrifou-se por completo para as necessidades modernas de velocidade e «fazer tudo para ontem», e montou uma obra profundamente clássica e lânguida, filmando com infinita paciência a mais simples cena e a mais desnecessária imagem. A fotogfrafia é assombrosa (honra a Roger Deakins). Planícies como poucas vezes a lente consegue mostrar, momentos de puro regozijo ao acompanhar Jesse James pelas pradarias em busca dos seus companheiros do crime. A música, luxuosa, não fosse assinada por Nick Cave e Warren Ellis. "The Assassination of..." é uma obra de tempos e de tempo. De tempos, porque é um lento respirar cinematográfico, de tempo, porque é cruelmente actual.
As personagens são de uma enorme profundidade. O Jesse James de Brad Pitt não consegue ser tão profundo e decalcado do Robert Ford de Casey Affleck. Este último tem uma interpretação fortíssima, confundindo-se amiude com a personagem. Aquele olhar embevecido, um jeito envergonhado, como um fã que conhece a sua vedeta, uma fortíssima carga homosexual na maneira como age e como persegue Jesse. Bob Ford é um mito que nos persegue para fora do filme, depois de uma interpretação como esta. Os diálogos, apesar de escassos, são riquíssimos, e duas cenas me assaltam constantemente: a da primeira visita de Jesse a casa, depois de Bob ter alvejado Hite, uma carga poderossíssima, uma iluminação riquíssima e tensão que cola à pele; e a da morte de James, dos 15 minutos que a antecederam, aos 5 que a sucederam: cinema no seu estado puro.
Sofre com a duração, mas ninguém disse que ver Cinema é fácil. Acima de tudo, peca pela interpretação de Pitt, que apesar de regular, é velozmente ultrapassado por Affleck. Uma obra de excelência que, até pelas suas imperfeições, nos fazem crer que a sétima arte é ainda a mais nobre delas todas.
Título Original: "The Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford" (EUA, 2007) Realização: Andrew Dominik Argumento: Ron Hansen (romance), Andrew Dominik Intérpretes: Brad Pitt, Casey Affleck, Sam Rockwell e Paul Schneider Fotografia: Roger Deakins Música: Nick Cave e Warren Ellis Género: Western Duração: 160 min. Sítio Oficial: http://jessejamesmovie.warnerbros.com/ |
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