19 de janeiro de 2006

"Match Point" por Ricardo Clara


Paixão. Tentação. Obsessão. Estas três palavras, que definem o filme, definem também o meu estado de espírito horas depois de o visionar. Paixão pela película, tentação de a rever e obsessão pelos seus pormenores. E se alguém tinha dúvidas acerca da genialidade de Woody Allen, desengane-se de vez - esta é uma obra genial, saída da mente e capacidade de um génio.
Chris Wilton (Jonathan Rhys-Meyers) é um antigo profissional de ténis, e que agora se dedica a dar aulas deste mesmo desporto, num clube privado onde a alta sociedade londrina se reune. Chris, partilhando refeições com alguns dos homens mais abastados do Reino Unido, conhece Chloe Hewett (Emily Mortimer), com quem se viria meses depois a casar. Durante o tempo de noivado, é-lhe apresentada uma mulher, parceira do irmão de Chloe (Tom Hewett - Matthew Goode), que, num tom de femme fatale, o leva a instantaneamente apaixonar-se por ela - uma norte-americana, aspirante a actriz, com dificuldades de se impor na sua carreira - Nola Rice (Scarlett Johansson). Já casado, e meses depois de ver Nola pela última vez, Chris e ela desenvolvem uma relação de adultério que iria mudar para sempre as suas vidas.
"Match Point" é uma peça de perfeição. Diálogos perfeitos, temporizados com os silêncios perfeitos. Movimentos de câmara suaves mas intensos, recurso constante a planos fechados, de modo a que a nossa atenção esteja sempre focada no principal acontecimento (e não são raras as vezes onde Allen se alheia de quem está a falar, e foca exclusivamente as reacções de quem está a ouvir). Um argumento a todos os títulos delicioso, que parece inicialmente - fruto de um despertar lento e envolvente - uma banal história de paixão e traição, mas que acaba por, com um twist genial, desenrolar-se numa história com grande carga dramática, aliada a uma ponta de ironia que delicia o espectador. Ambientes como só Woody Allen sabe criar. Com uma banda sonora assente em Verdi, num registo de gravações antigas, o ambiente leva-nos desde a intimidade num apartamento criado especialmente para o efeito, com deliciosos pormenores de decoração, até Londres por si só. E, sendo este o primeiro filme que Woody Allen dirige em Londres, coloca-se um ponto final aos que diziam que o norte-americano só sabe filmar Nova Iorque. Errado. Ninguém filma a Big Apple como ele, mas nunca ninguém tinha visto pela lente Londres como Allen. E por fim, temos Scarlett Johansson. Definitivamente, alguém que nasceu para o cinema. E se já a havíamos visto pela mão de Soffia Coppola em "Lost in Translation", num registo de pureza e naif, agora dão-nos a conhecer a faceta de sensualidade e beleza, como duvido que alguém, nos próximos anos (a não ser o próprio Allen) consiga igualar. Traz, a par de Jonathan Rhys-Meyers (que, apesar de uma boa interpretação, não consegue estar brilhante), um tom de paixão e obsessão fantástico que, aliado à sua pureza angelical, torna delicioso de todos os pontos de vista. E, por justiça, sem deixar de mencionar o trabalho de edição e montagem, a cargo de Alisa Lepselter, que conferem a aura de perfeição que tenho defendido no texto.
É, indubitavelmente, uma obra deliciosa, inolvidável, e que merece, sem dúvida alguma, a ida ao cinema.


Título Original: "Match Point" (Reino Unido / Luxemburgo, 2005)
Realização: Woody Allen
Intérpretes: Scarlett Johansson, Jonathan Rhys-Meyers, Emily Mortimer e Brian Cox
Argumento: Woody Allen
Fotografia: Remi Adefarasin
Música: (não original) Giuseppe Verdi, Andrew Lloyd Webber (entre outros)
Género: Drama / Romance
Duração: 124 min.
Sítio Oficial: http://www.matchpoint.dreamworks.com


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