28 de janeiro de 2006

O que ficou de 2005



O ano cinematográfico de 2005 terminou e os melhores começaram a ser premiados: os Golden Globes na semana passada e dentro de momentos os Lumière. Seria loucura fazer uma comparação destes troféus, enquanto que os Globes são uma referência mundial, equiparável aos maiores festivais e apenas suplantada pelos Óscares, os Lumiére são um galardão de somenos importância. Aquilo que têm em comum é fazerem uma selecção entre centenas de filmes para distinguirem os melhores do ano findado, para gravarem na história aqueles títulos que foram superiores, que convenceram um determinado público e os fizeram aplaudir. Quais são então os grandes títulos de 2005?
Seleccionei de entre as centenas de filmes estreados em 2005 cinquenta e dois títulos que marcaram a diferença pela qualidade, pelo número de espectadores ou apenas por serem diferentes, por recorrerem às técnicas mais avançadas ou por tocarem no coração. Ignorei alguns que eram apenas mais um episódio de uma saga ou que foram copiados directamente de um livro. Esta lista pretende ser o mais equilibrada possível, não pretende ser exclusiva nem melhor. Não referi alguns filmes de realizadores de culto tal como não referi alguns dos maiores êxitos de bilheteira. Não referi sequer alguns dos meus favoritos!
Não farei longos comentários a estes filmes. Na maioria foram analisados no blog ao longo do ano e decerto que o leitor conhecerá bastantes. Eis, então, 2005!

O ano em Portugal começou com um pacote de luxo: “Melinda e Melinda” de Allen, o regresso de Streisand em “Meet the Fockers” e uma das grandes revelações independentes “La Niña Santa”. “Ocean’s Twelve” de Soderbergh igualou o antecessor. Depois começaram a surgir os candidatos a Óscar de última hora: numa semana “Closer”, na seguinte “The Machinist”.

Com a mudança de mês surgiram “The Aviator” e “Vera Drake”, na semana seguinte “Kinsey” e “Ray” e ainda antes do Fantasporto “Hotel Rwanda” e “Million Dollar Baby”. Alguns dos leitores poderão já estar a dizer que isto seria suficiente para classificar 2005 como um grande ano… E se eu dissesse que na semana seguinte estrearam “Mar Adentro”, “Being Júlia” e “Sideways”? Fevereiro é sempre um mês de bom cinema.

Março teve dois títulos incontornáveis, “Saw” e “Oldboy”, onde a violência foi aplicada com mestria tendo convencido o público. Como estrelas menores desse mês destaco “Beyond the Sea” e “The Life Aquatic with Steve Zissou”, um dos filmes mais incompreendidos do ano.

Abril pode ser resumido a um título e esse é “Der Untergang”. “The Woodsman” e “Casa de los Babys”, apesar do baixo número de espectadores, foram também muito apreciados.

Em Maio estrearam o alemão “Sophie Scholl” e o final provisório da saga Star Wars, “Revenge of the Sith”. “Jeux d’Enfants” foi a grande surpresa e o prenúncio de uma onda de bom cinema francês. “The Upside of Anger” juntou um magnífico lote de actrizes a Kevin Costner e sagrou-se o melhor do mês.

Junho traria os primeiros blockbusters do Verão, “Sin City”, “Batman Begins” e, também com muitas estrelas mas sem o impacto mediático, “Crash”. Mais afastado das multidões ficou “The Ballad of Jack and Rose”.

Julho traz Spielberg com “War of the Worlds”, traz o cinema de terror “Dark Water” e do fantástico com “Fantastic Four” mas a ter de escolher um segundo filme para esse mês seria sem dúvida “Millions” onde Danny Boyle voltou a provar que não precisa de estrelas nem de fortunas para fazer bons filmes.

Em Agosto o bom cinema foi de férias e a única estreia mais apelativa que um banho de sol foi “Charlie and the Chocolate Factory”. Destaque ainda para “The Skeleton Key”, e a filosofia de “I Heart Huckabees”.

Setembro já não tem os blockbusters mas tem o regresso de Romero e Gilliam com “Land of the Dead” e “The Brothers Grimm” respectivamente. O prémio revelação vai para “The 40 Year Old Virgin”.

Outubro teve filmes menos maus que os meses anteriores. “Les Poupées Russes” é um filme genial e “Wallace and Gromit” tiveram uma estreia auspiciosa nas longas. Portugal não esteve nesta lista até ao momento mas tem agora em “Alice” e em “O Crime do Padre Amaro” representantes de peso.

Em Novembro “The Constant Gardener”, “Elizabethtown” e “Proof” são totalmente diferentes do outro grande filme do mês. Aqui o grande vencedor foi o mega-documentário “La Marche de l'Empereur”.

Dezembro tem “Broken Flowers” e “King Kong”, o regresso de Burton com “Corpse Bride” e uma agradável surpresa em “The Descent”.

Estão aqui 52 filmes, infelizmente não calhou um em cada semana do ano como seria desejável mas na sua maioria mantiveram-se nas salas tempo suficiente para se poder ver sem pressas.

Como sugestão para o décimo terceiro mês deixo “ “. Como quem não o viu pode não perceber deixo uma pista. Como é possível que o vencedor do Fantasporto ainda não tenha estreado? Ser o melhor filme no melhor festival português não deveria ser sinónimo de qualidade?

Um comentário tem de ser feito ao cinema português. “Alice” enfrenta um dos fantasmas sociais mais importantes do país. A história criada em torno do desaparecimento de uma criança, inspirados nos tristemente célebres casos reais, fez renascer a minha confiança no cinema luso. “O Crime do Padre Amaro” dentro e fora do cinemas já deve ter sido visto por meio milhão de portugueses. Apesar do método utilizado (muito sexo e pouca roupa) não ser o mais adequado está de parabéns por fazer com que se veja cinema português e pela enorme colecção de estrelas nacionais reunidas.

Sendo as datas de estreia em Portugal um pouco diferentes das datas de estreia nos seus países de origem é um pouco suspeito dizer que alguns destes filmes sejam de 2005. Em contrapartida alguns filmes de 2005 apenas estreados este mês (“Caché”) e outros já aplaudidos pela crítica internacional que chegam em breve (“Walk the Line”, “Munich”) deixaram alguma da qualidade desta colheita com o rótulo de 2006. As estreias muito atrasadas de “”, “Darkness” e “The Man From the Elysian Fields”, exibidos anos antes nos festivais de Porto e Gaia respectivamente, mostram que o bom cinema pode tardar mas aparece.
Seria bom que as distribuidoras portuguesas tentassem acompanhar mais de perto as estreias mundiais, o grande público pode apenas querer ver na hora (literamente) o último Senhor dos Anéis, Matrix ou Harry Potter mas sem dúvida que prefere ter nas salas “Darkness” a um “Control” ou “Absolon” que mesmo no devorador mercado americano foram straight to vídeo.


Passemos agora a prémios mais sérios e aos vencedores dos Lumière.

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