11 de abril de 2010

"An Education" por Nuno Reis


Muito se falou da fantástica conquista de Kathryn Bigelow nos principais prémios do ano. Afinal foi a primeira mulher a vencer Directors Guild, BAFTA e Oscar, nunca antes uma mulher tinha conseguido algum deles. A raridade do fenómeno é tal que já desde Sofia Coppolla e "Lost in Translation" uma mulher não era nomeada para melhor filme/realização e, como curiosidade, é preciso recuar até "The Piano" de Jane Campion para ver outra mulher nomeada. Com o novo formato adoptado este ano a categoria de realização continua restrita, mas para melhor filme vão começar a surgir mais mulheres. Este ano havia outra mulher na corrida para melhor filme: Lone Scherfig com "An Education".

Jenny é uma jovem inglesa que sonha ser francesa. A única coisa que a separa de Oxford é o latim e depois de tirar o curso irá para Paris vestir-se de preto, fumar pensativos cigarros e não falar jamais. Tem 16 anos e o mundo é um mar de rosas. Até que conhece David e o mundo fica totalmente diferente. Vai começar a ir a concertos, leilões, corridas, vai visitar cidades, vai ser feliz. Até os pais aprovam o amigo mais velho e a lufada de ar fresco. Cabe a Jenny decidir se vai continuar a investir no latim ou se prefere a escola da vida.

A vida é uma estrada dura e são as encruzilhadas que ela nos apresenta que definem quem somos. Ambos os trilhos são possíveis, mas enquanto por um é fácil, pelo outro será preciso penar. Enquanto por um se diz que temos tudo "de mão beijada" no outro "aprendemos pelos erros". Na juventude e com influências externas é mais fácil fazer escolhas erradas. Aqui estamos perante um caso clássico. Uma jovem doce e ingénua, um homem charmoso e persuasivo, pais que só querem o melhor para a única filha... tinha de correr mal. É surpreendente histórias como esta repetirem-se continuamente ao longo dos anos. Seja o desvio para uma vida de crime, uma influência quanto ao futuro escolar/profissional ou casos de pedofilia, haverá sempre jovens levados por maus caminhos.
Nesta obra é de saudar a curta duração. Uma trama que poderia desenrolar-se eternamente é contada em hora e meia sem prejuízo da narrativa. O final pode ter sido um pouco acelerado, mas já não fazia parte da história principal. Os actores estão fenomenais, sejam os pais (Cara Seymour, Alfred Molina), as professoras (Olivia Williams, Emma Thompson) ou a dupla de protagonistas. Peter Sarsgaard é um incrível actor que aqui saltita entre o encantador e o vigarista de forma magnífica. Carey Mulligan está perfeita para o papel, parecendo ingénua quase sempre, transfigurando-se em adulta quando é preciso. Tem dois momentos fascinantes que valem pelo filme. Há ainda dois secundários que lamentavelmente não aparecem tanto como deviam: Dominic Cooper que carrega um segredo e Rosamund Pike como loira burra fazem papéis maravilhosos.

Londres no início dos anos 60 era uma cidade conformada e inerte, precisamente o oposto de Paris, cidade viva, luminosa, cosmopolita e excitante. Jenny quer fugir de Londres (escola) para Paris (David), mas enquanto mudar de cidade pouco trará de mal, mudar de educação afecta a vida. É um retrato da sociedade que via e criticava, mas deixou uma jovem sozinha numa situação em que precisava de algo mais do que conselhos. Ou porque acreditavam no conto de fadas ou porque não era da sua competência não a impediram. É uma história comum, mesmo no século XXI, mas não é um filme banal. Obriga a ver com sentimentos e a reflectir sobre a podridão da natureza humana.

Título Original: "An Education" (Reino Unido, 2009)
Realização: Lone Scherfig
Argumento: Nick Hornby (adaptando as memórias de Lynn Barber)
Intérpretes: Carey Mulligan, Peter Sarsgaard, Afred Molina, Cara Seymour, Emma Thompson, Olivia Williams, Rosamund Pike, Dominic Cooper, Sally Hawkins
Fotografia: John de Borman
Música: Paul Englishby
Género: Drama
Duração: 100 min.
Sítio Oficial: http://www.sonyclassics.com/aneducation

2 comentários:

Tiago Ramos disse...

Este realismo recheado de simplicidade agrada-me bastante. O cinema britânico anda cada vez melhor. E para mim Carey Mulligan era a melhor actriz na corrida aos Óscares este ano.

Nuno disse...

O cinema britânico anda muito preso ao drama social. Este distingue-se por também ser de época.
Ainda não vi a Helen Mirren, mas das outras quatro era claramente a melhor.