17 de abril de 2010

"Casablanca" por Nuno Reis


Rick: I remember every detail. The Germans wore gray, you wore blue.
(excluindo as dez frases que todos conhecem de cor, esta é a minha predilecta)

"Casablanca" é o clássico dos Clássicos, daqueles com direito a maiúscula. Antigamente cada estúdio lançava com sorte um filme por mês e a preocupação principal não estava nos efeitos especiais, ou no 3D, mas sim na história. Havendo poucos títulos por onde escolher, o lucro só era feito levando as pessoas a rever o filme. Se agradasse podia ficar em exibição por meses como uma encenação teatral. Desagradando, as salas passariam para outro. Nessa época os filmes eram feitos com a intenção de render, mas também de durar.

Naquela época em que a Europa era controlada pelos alemães, a única esperança de chegar á terra da liberdade era passando pelo norte de África, de Casablanca voar para Lisboa e aí atravessar o Atlântico. Rick é um americano. Já esteve na Europa, não gostam dele nos EUA por isso está na incontornável Casablanca a assistir à passagem de pessoas. O seu café é o local da moda por onde todos passam. Desde o casino para os aventureiros, ao mercado negro de livres-trânsitos para os desesperados, é lá que o dinheiro circula. Até que um dia recebe a visita de um lider revolucionário e da mulher mais bonita que alguma vez esteve em Casablanca. Conseguirá Rick permanecer neutro quando tem o destino do mundo numa das suas mesas ou deixará a neutralidade para os suíços?

Enquanto a Europa vivia uma guerra, os EUA acompanhavam o desenrolar dos acontecimentos com preocupação. Era preciso moralizar toda a nação para um confronto que no final de 1941 se tinha alargado para mais um continente. Mostrar-lhes que o que se passava em Paris e em África também dizia respeito aos americanos. O símbolo desse povo é ninguém mais do que Humphrey Bogart. Não era um galã como o cinema estava habituado, até era mais frequente ser o vilão. Tinha acabado de fazer filmes como "High Sierra", "The Maltese Falcon" e "The Big Shot". Ainda não tinha feito "The Big Sleep", "The Treasure of the Sierra Madre", "The African Queen" (o seu Oscar) nem "Sabrina". Mas em 1942 Bogart tinha um encontro com o destino em "Casablanca". Seria o anti-herói que conquistaria voluntários para a causa. O sonho de Rick era lutar pelos fracos e oprimidos. Não era pelo dinheiro nem pela vitória, apenas porque era o correcto a fazer. A missão dele era proteger os europeus. Desde a bela e corajosa norueguesa (actriz sueca) ao destemido revolucionário checo (actor húngaro), a Europa precisava de ajuda. Os franceses são apresentados como uns traidores a soldo dos alemães que, claro, são os maus da fita. Portugal é brevemente referido porque Lisboa era o último ponto de uma rota clandestina para o abrigo seguro. É importante repetir o ano porque o filme foi feito sem se conhecer o desfecho da guerra. Estávamos em 1942 e a América fez uma incrível análise em tempo real do cenário bélico. Era um tudo ou nada da indústria cinematográfica e daqueles filmes que, mesmo havendo outro desfecho para o confronto, seriam sempre recordados como uma curiosidade.

Uma guerra que estava no pensamento de todos foi o suficiente para cativar os espectadores de então. Passaram quase setenta anos e continua a ser visto. É o humor refinado, é o patriotismo, é o Amor, é o sentido de dever. É o Sam a tocar "As Time Goes By", a fenomenal cena do hino e o clímax no aeroporto. É uma panóplia de frases que se repete por tudo e por nada porque há uma para cada situação. Na vida há poucas coisas garantidas, mas, aqui perdoem-me por usar inglês, No matter what the future brings... we'll always have "Casablanca".

Título Original: "Casablanca" (EUA, 1942)
Realização: Michael Curtiz
Argumento: Julius J. Epstein, Philip G. Epstein, Howard Koch (inspirados na peça de Murray Burnett e Joan Alison)
Intérpretes: Humphrey Bogart, Ingrid Bergman, Paul Henreid, Claude Rains, Peter Lorre
Fotografia: Arthur Edeson
Música: Max Steiner
Género: Drama, Guerra, Romance
Duração: 102 min.

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