Crise financeira. O petróleo a subir. Terroristas nas notícias todas as semanas. Alienação de capitais para o estrangeiro. Televisão de lixo. Não falo de 2011, mas de 1973. Isto é "Network" (1976) o profético filme de Sidnet Lumet sobre um hipotético quarto canal chamado UBS, que desenhou as linhas para o que seria a filosofia do verdadeiro quarto canal (Fox) criado em 1987.
Howard Beale é um pivot televisivo. Devido às baixas audiências demitem-no o que lhe causa um colapso nervoso. Ao anunciar a sua saída em directo começa a falar de suicídio e é retirado à força do ar. No dia seguinte vai-se retractar e faz um discurso ainda mais inflamado. Depressa tem um programa só seu para ser profético e maldizente. Mas mais do que um filme sobre um homem louco, é uma poderosa caricatura dos bastidores televisivos e dos interesses comerciais que se sobrepõem à necessidade de informar com qualidade.
O que são as notícias? Nas palavras de Diane Christensen são apenas lixo e ela pretende ser arrojada e torná-las em lixo televisivo. "I watched your 6 o'clock news today; it's straight tabloid. You had a minute and a half of that lady riding a bike naked in Central Park; on the other hand, you had less than a minute of hard national and international news. It was all sex, scandal, brutal crime, sports, children with incurable diseases, and lost puppies. So, I don't think I'll listen to any protestations of high standards of journalism when you're right down on the streets soliciting audiences like the rest of us. Look, all I'm saying is if you're going to hustle, at least do it right." Este filme combina a crítica ao negócio com o retrato social.
Um grandioso elenco (cinco deles foram nomeados para Oscares, um feito inédito) dá vida a pessoas dos mais variados géneros, apenas com a televisão em comum. Max Schumacher (William Holden) é o centro. O chefe da direcção noticiosa é o único amigo de Beale e tenta protegê-lo do aproveitamento mediatico. Além de ser um veterano da TV é a única personagem com sentimentos num meio onde apenas o share importa. Os restantes - grandes performances de Faye Dunaway, Robert Duvall, Ned Beatty - vivem obcecados pelos números e não são humanos, são meras peças do monstro sem rosto. Num mundo só seu vive Howard Beale (Peter Finch) que prega a desgraça e dirá muitas verdades inconvenientes aos tele-espectadores do programa e aos espectadores do filme. As papas na língua são para quem ainda tem algo a perder e o colérico Howard já não tem nada, nem sequer a sanidade. Contudo, no meio da desilusão pela vida, diz coisas acertadas sobre a sociedade, política e economia, factos que o público geral só três décadas depois percebeu. O mundo precisa de uma voz como Howard Beale, e precisa o mais depressa possível. Os tempos mudaram e a televisão não tem tanta força manipuladora como dantes, mas a existir precisaria de uma consciência, alguém com o alcance de um Twitter ou Facebook e o conhecimento de uma Wikileaks. Alguém capaz de mobilizar o povo contra o que está errado e causar uma mudança radical em 24 horas.
Ao longo de duas horas acompanhamos um dos melhores argumentos jamais escritos. Sejam frases com meia dúzia de palavras ou discursos de cinco minutos, o que é dito pelas pessoas da televisão fica na memória. Infelizmente por ser tão verdade é um filme que dificilmente se conseguirá ver em TV pelo que a compra é necessária (e justificável pois será visto várias vezes).
Quem não viu o filme é favor fazê-lo perto de uma janela, porque sensivelmente a meio terão uma súbita vontade de pôr a cabeça de fora e dizer que não aguentam mais. "I'm as mad as hell, and I'm not going to take this anymore!" é um daqueles momentos cinematográficos que se for analisado a cru tem muito de implausível, mas visto com o coração é dos pontos mais altos da sétima arte. E acreditem que até ao final ainda consegue melhorar...
Howard Beale é um pivot televisivo. Devido às baixas audiências demitem-no o que lhe causa um colapso nervoso. Ao anunciar a sua saída em directo começa a falar de suicídio e é retirado à força do ar. No dia seguinte vai-se retractar e faz um discurso ainda mais inflamado. Depressa tem um programa só seu para ser profético e maldizente. Mas mais do que um filme sobre um homem louco, é uma poderosa caricatura dos bastidores televisivos e dos interesses comerciais que se sobrepõem à necessidade de informar com qualidade.
O que são as notícias? Nas palavras de Diane Christensen são apenas lixo e ela pretende ser arrojada e torná-las em lixo televisivo. "I watched your 6 o'clock news today; it's straight tabloid. You had a minute and a half of that lady riding a bike naked in Central Park; on the other hand, you had less than a minute of hard national and international news. It was all sex, scandal, brutal crime, sports, children with incurable diseases, and lost puppies. So, I don't think I'll listen to any protestations of high standards of journalism when you're right down on the streets soliciting audiences like the rest of us. Look, all I'm saying is if you're going to hustle, at least do it right." Este filme combina a crítica ao negócio com o retrato social.
Um grandioso elenco (cinco deles foram nomeados para Oscares, um feito inédito) dá vida a pessoas dos mais variados géneros, apenas com a televisão em comum. Max Schumacher (William Holden) é o centro. O chefe da direcção noticiosa é o único amigo de Beale e tenta protegê-lo do aproveitamento mediatico. Além de ser um veterano da TV é a única personagem com sentimentos num meio onde apenas o share importa. Os restantes - grandes performances de Faye Dunaway, Robert Duvall, Ned Beatty - vivem obcecados pelos números e não são humanos, são meras peças do monstro sem rosto. Num mundo só seu vive Howard Beale (Peter Finch) que prega a desgraça e dirá muitas verdades inconvenientes aos tele-espectadores do programa e aos espectadores do filme. As papas na língua são para quem ainda tem algo a perder e o colérico Howard já não tem nada, nem sequer a sanidade. Contudo, no meio da desilusão pela vida, diz coisas acertadas sobre a sociedade, política e economia, factos que o público geral só três décadas depois percebeu. O mundo precisa de uma voz como Howard Beale, e precisa o mais depressa possível. Os tempos mudaram e a televisão não tem tanta força manipuladora como dantes, mas a existir precisaria de uma consciência, alguém com o alcance de um Twitter ou Facebook e o conhecimento de uma Wikileaks. Alguém capaz de mobilizar o povo contra o que está errado e causar uma mudança radical em 24 horas.
Ao longo de duas horas acompanhamos um dos melhores argumentos jamais escritos. Sejam frases com meia dúzia de palavras ou discursos de cinco minutos, o que é dito pelas pessoas da televisão fica na memória. Infelizmente por ser tão verdade é um filme que dificilmente se conseguirá ver em TV pelo que a compra é necessária (e justificável pois será visto várias vezes).
Quem não viu o filme é favor fazê-lo perto de uma janela, porque sensivelmente a meio terão uma súbita vontade de pôr a cabeça de fora e dizer que não aguentam mais. "I'm as mad as hell, and I'm not going to take this anymore!" é um daqueles momentos cinematográficos que se for analisado a cru tem muito de implausível, mas visto com o coração é dos pontos mais altos da sétima arte. E acreditem que até ao final ainda consegue melhorar...
Título Original: "Network" (EUA, 1976) Realização: Sidney Lumet Argumento: Paddy Chayefsky Intérpretes: William Holden, Peter Finch, Faye Dunaway, Robert Duvall, Ned Beatty, Beatrice Straight Música: Elliot Lawrence Fotografia: Owen Roizman Género: Drama Duração: 121 min. |
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