23 de maio de 2011

"New York Stories" por Nuno Reis

O cinema “três em um” ou como tornar o genial ainda mais genial

Nova Iorque é pródiga a gerar cineastas como Martin Scorsese ou Woody Allen, ou a formá-los, como Francis Ford Coppola que nasceu em Detroit, mas cresceu na Big Apple. Todos estes filhos, biológicos ou adoptivos, são muito queridos pela indústria cinematográfica que compete numa luta financeiramente desigual contra a solarenga Los Angeles. Aqui reúne-se a elite da indústria da Costa Este numa inovadora apresentação conjunta de trabalhos dos três. Nenhum deles funcionaria por si só, mas juntos definem a alma de uma cidade tão grande como o mundo.
Entre os pequenos papéis podem ver a segunda de três colaborações Woody Allen/Larry David e a estreia em tela de Kirsten Dunst e Adrien Brody.

Life Lessons
Começa de forma muito forte este tríptico. Lionel Dobie (Nick Nolte) é um artista plástico com uma jovem assistente de nome Paulette (Rosanna Arquette). Ele está louco por ela e ela está a enlouquecer por causa dele. Só pensa em desistir da arte e da cidade e voltar para casa. Esta será a aventura deles numa relação pessoal e profissional, com muitas provocações de ambas as partes.
New York Stories

O título é suficientemente explícito. Estamos perante lições de vida. Não só do quarentão para a jovem de 22 anos, mas especialmente em sentido contrário. A rebeldia da juventude tem efeito nele levando-o a perder a compostura diversas vezes. Neste jogo de emoções ninguém sairá vencedor. Uma dupla de grandes estrelas no seu pico (sem exageros, foi dos melhores trabalhos que fizeram) dá vida a um argumento que exigia actores capazes de transmitir aquela crueldade.
Como habitual nos trabalhos de Scorsese a música é uma estrela por mérito próprio. As telas de Lionel nascem ao som de cassetes com sons que se tornaram eternos. O som dá vida à obra que nasce da tinta e isso dá sentido ao filme. A câmara percorre Paulette como o olhar sôfrego do mentor que a deseja. Visualmente é uma obra poderosa pelo uso de cores e contraste de ambientes.
Título Original: "Life Lessons" (EUA, 1989)
Realização: Martin Scorsese
Argumento: Richard Price
Intérpretes: Nick Nolte, Rosanna Arquette, Steve Buscemi
Fotografia: Néstor Almendros
Género: Drama
Duração: 45 min.

Life Without Zoe
Mais uma vez a vida faz parte do título, mais uma vez um realizador incontornável da história americana dirige, mas desta vez há uma pequena ajuda. Francis realiza, mas o argumento foi co-escrito pela filha Sofia. Não foram usados apelidos. Podemos pensar que é uma história saída do imaginário de uma criança, mas essa Sofia estava a fazer 18 anos quando o filme estreou e o apelido que não mostram é Coppola por isso nenhum deles estava a fazer o filme como brincadeira.
Zoe é uma criança com tudo. Os pais, em viagens constantes pelo mundo, deixam-na frequentemente ao cuidado de um mordomo, mas desde que haja dinheiro ela safa-se bem sozinha. Nesta aventura vai enfrentar assaltantes, vai conhecer um pequeno milionário, vai conviver com uma família real, fintar segurança apertada e realizar o seu sonho. Nada mau para um filme de meia hora.
New York Stories

É uma divertida aventura, com uma protagonista simpática (Heather McComb) e uma história infantil que agradará aos adultos por ser rica em pormenores e com muito humor. Contrasta com o filme de Scorsese por ser um projecto descontraído e informal como será também o de Allen. Porque esta operação conjunta não é para conquistar prémios, é uma simples brincadeira de amigos que adoram uma cidade.
Título Original: "Life Without Zoe" (EUA, 1989)
Realização: Francis Ford Coppola
Argumento: Francis Ford Coppola, Sofia Coppola
Intérpretes: Heather McComb, Talia Shire, Giancarlo Giannini
Música: Carmine Coppola
Fotografia: Vittorio Storaro
Género: Acção, Comédia
Duração: 30 min.

Oedipus Wrecks
Par fechar com chave de ouro a falsa longa-metragem, o eleito foi Woody Allen. Não é que seja melhor do que os outros dois, mas tem uma história com muito valor e cuja trama daria para um filme independente. É esta que perdurará na memória de quem assiste.
A mãe de Sheldon não aprova o noivado dele com Lisa, mas é forçada a conviver com a futura nora e os filhos. Quando vão a um número de magia a velha senhora é convidada ao palco para participar num número de magia. Para espanto de todos ela desaparece e não reaparece. Dias depois Sheldon desiste de a procurar por se sentir muito melhor sem ela e ao mesmo tempo sem a angústia de a ter perdido. Até que ela surge nos céus de Nova Iorque para o atormentar e perseguir enquanto o envergonha diante de todos. Desesperado, recorre a uma médium.
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Com as colaborações habituais de Mia Farrow (a noiva) e Julie Kavner (a bruxa), a história é tudo o que se pode esperar de uma comédia de Allen. Muito humor em torno dos comentários habituais de mãe, uma sátira aos judeus que mudam de nome (como Allen Konigsberg) e claro, aos vigaristas. Sejam os que se assumem como mágicos quando compram truques de ilusionismo na feira ou os que se assumem como videntes, ninguém sabe o que fazer quando verdadeira magia acontece. Foi um desejado mas inesperado intervalo para um filme ligeiro no meio de uma série de dramas e no mesmo ano do seu maior filme.
Título Original: "Oedipus Wrecks" (EUA, 1989)
Realização: Woody Allen
Argumento: Woody Allen
Intérpretes: Woody Allen, Mia Farrow, Julie Kavner, Mae Questel
Fotografia: Sven Nykvist
Género: Comédia, Drama
Duração: 45 min.




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