Chega de dramas e chega de ser previsível. A nova década iria começar com um novo estilo que marcou a diferença em relação à fase anterior, onde foram feitos alguns dos trabalhos mais dramáticos do cineasta. O género abordado desta vez é o mistério e o tema é um serial killer que assombra as noites de uma anónima cidade enevoada, matando todos os que se atrevem a andar sozinhos no escuro. Mas como não podia deixar de ser, é também uma comédia onde nem faltam os palhaços.
A escuridão da noite é complementada com um denso nevoeiro. Os poucos focos luminosos são interrompidos por vulgos que lançam sombras ameaçadoras. O melhor sítio para estar nessas noites frias é na cama como Kleinman bem sabe. Até que lhe invadem o quarto para que se junte à milícia na caça ao assassino que aterroriza a noite. Só que nem Kleinman sabe qual é a sua missão, como nem sequer sabe onde estão os outros vigilantes. Deambulará sozinho em busca de um assassino que não deseja encontrar e irá cruzar-se com um autêntico circo e com muitos sujeitos que não gostam nem um pouco dele. A noite pode ser mortífera, mas a cidade continua repleta de gente indiferente ao perigo.
Começaria por gabar o elenco deste projecto. A Allen (Kleinman), Mia Farrow (engolidora de espadas) e Julie Kavner (ex-noiva) juntam-se John Malkovich (palhaço), Madonna (equilibrista), Lily Tomlin, Jodie Foster, Kathy Bates (prostitutas) e John Cusack (estudante boémio) formando um dos mais sonantes grupos de estrelas que este cineasta nos trouxe até à data. O argumento também tem muito que se diga. É das mais complexas e mirabolantes criações de Allen, combinando o humor do próprio com a loucura de Kafka.
Ser filmado a preto e branco ajudou a criar uma atmosfera que não teria a mesma mística em cores. A ausência de cor mais do que uma escolha própria, era uma obrigatoriedade visto ter referências ao Expressionismo Alemão. O tom cómico contrasta de forma magnifica com a ideia induzida de que é um filme policial. E duplamente escondida está a já esperada moral sobre decisões e sobre a imprevisibilidade da vida.
Foi das produções mais caras de Allen (maior cenário jamais contruído em NY) e das que piores resultados fez na bilheteira. Uma daquelas doces ironias do destino. Não sendo um filme fabuloso, é um que se vê algumas vezes com gosto. Seja pela história, pelo ridículo da situação ou simplesmente como distracção.
Título Original: "Shadows and Fog" (EUA, 1991) Realização: Woody Allen Argumento: Woody Allen Intérpretes: Woody Allen, Mia Farrow, John Malkovich, John Cusack, Lily Tomlin, Jodie Foster, Kathy Bates, Madonna Fotografia: Carlo Di Palma Género: Comédia, Crime, Mistério Duração: 85 min. |
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