Allen é muito bom na comédia, no drama, no romance e a falar da vida, seja com optimismo ou como frustrado. Quando combina tudo isso num só filme pode sair muito bom, mas só atinge o seu máximo se o fizer através de duas histórias distintas e complementares que se cruzam por casualidade numa Nova Iorque pujante e no pico da sua glória. "Crimes and Misdemeanours" é isso.
Judah Rosenthal (Landau) é um médico de alguma idade. Como oftalmologista já ajudou muita gente e viu outros a cegar lentamente sem que pudesse fazer algo para o evitar. Para aqueles que o conhecem é o exemplo de um homem bom, mas esconde um terrível segredo. Ele tem uma amante (Huston) que exige ser algo mais. As decisões vão persegui-lo, sejam pela necessidade de serem tomadas ou pela responsablidade de as cumprir.
Noutra parte da cidade Cliff (Allen), um cineasta, também é um traidor. Enquanto filma um documentário sobre o professor Levy, um filósofo desconhecido, faz outro sobre o cunhado Lester (Alda), um produtor de TV galardoado. A produtora (Farrow) que partilha o seu interesse pelo filósofo é desejada por Lester e, lentamente, Cliff também fica apanhado por ela.
O alerta só é dado no final por uma das personagens: "If you want a happy ending, you should go see a Hollywood movie". Neste filme combina-se o adultério, a insatisfação profissional e as amarguras da vida. Fala de crimes e arrependimento, obriga a pensar no impacto que temos na existência dos outros e nas consequências dos nossos actos. Não é uma comédia. Ou melhor, apesar de ser uma comédia a tensão dramática é imensa. Se não fosse o humor ocasional, provocado por pessoas alheias aos pensamentos de Judah e Cliff, existiram apenas as trevas da existência humana.
Conhecemos o que se passa na alma destes dois indivíduos através dos seus diálogos. Judah desabafa com um rabino que está a ficar cego. Esta metáfora diz que Deus não vê tudo e por isso devemos confessar-Lhe os nossos pecados. Por oposição a este diálogo com Deus, Cliff fala com a inocência humana, na pessoa da sobrinha que lhe serve de consciência.
O rabino e o filósofo apresentam diferentes perspectivas sobre a vida, apoiadas na sua crença/descrença em Deus. Também o irmão de Judah e a irmã de Cliff serão usados metaforicamente para ilustrar uma mudança nos valores, as falhas do indivíduo e dos outros que fazem com que a vida em sociedade seja por vezes quase impossível e degradante. Cada um tem o seu lugar e a sua missão nesta obra que engloba toda a sociedade e todo o género de pensamentos. Por toda a riqueza narrativa, pelas interpretações inesquecíveis, pelos diálogos extensos e repletos de sabedoria, pelo humor mais inteligente da carreira deste argumentista, pela plenitude do filme, é a obra máxima de Allen.
Judah Rosenthal (Landau) é um médico de alguma idade. Como oftalmologista já ajudou muita gente e viu outros a cegar lentamente sem que pudesse fazer algo para o evitar. Para aqueles que o conhecem é o exemplo de um homem bom, mas esconde um terrível segredo. Ele tem uma amante (Huston) que exige ser algo mais. As decisões vão persegui-lo, sejam pela necessidade de serem tomadas ou pela responsablidade de as cumprir.
Noutra parte da cidade Cliff (Allen), um cineasta, também é um traidor. Enquanto filma um documentário sobre o professor Levy, um filósofo desconhecido, faz outro sobre o cunhado Lester (Alda), um produtor de TV galardoado. A produtora (Farrow) que partilha o seu interesse pelo filósofo é desejada por Lester e, lentamente, Cliff também fica apanhado por ela.
O alerta só é dado no final por uma das personagens: "If you want a happy ending, you should go see a Hollywood movie". Neste filme combina-se o adultério, a insatisfação profissional e as amarguras da vida. Fala de crimes e arrependimento, obriga a pensar no impacto que temos na existência dos outros e nas consequências dos nossos actos. Não é uma comédia. Ou melhor, apesar de ser uma comédia a tensão dramática é imensa. Se não fosse o humor ocasional, provocado por pessoas alheias aos pensamentos de Judah e Cliff, existiram apenas as trevas da existência humana.
Conhecemos o que se passa na alma destes dois indivíduos através dos seus diálogos. Judah desabafa com um rabino que está a ficar cego. Esta metáfora diz que Deus não vê tudo e por isso devemos confessar-Lhe os nossos pecados. Por oposição a este diálogo com Deus, Cliff fala com a inocência humana, na pessoa da sobrinha que lhe serve de consciência.
O rabino e o filósofo apresentam diferentes perspectivas sobre a vida, apoiadas na sua crença/descrença em Deus. Também o irmão de Judah e a irmã de Cliff serão usados metaforicamente para ilustrar uma mudança nos valores, as falhas do indivíduo e dos outros que fazem com que a vida em sociedade seja por vezes quase impossível e degradante. Cada um tem o seu lugar e a sua missão nesta obra que engloba toda a sociedade e todo o género de pensamentos. Por toda a riqueza narrativa, pelas interpretações inesquecíveis, pelos diálogos extensos e repletos de sabedoria, pelo humor mais inteligente da carreira deste argumentista, pela plenitude do filme, é a obra máxima de Allen.
Título Original: "Crimes and Misdemeanors" (EUA, 1989) Realização: Woody Allen Argumento: Woody Allen Intérpretes: Martin Landau, Claire Bloom, Woody Allen, Mia Farrow, Alan Alda, Angelica Huston, Sam Waterson Fotografia: Sven Nykvist Género: Comédia, Drama Duração: 104 min. |
1 comentários:
Obra-prima incontestável, não é mesmo?
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