25 de maio de 2011

"Alice" por Nuno Reis

Muitos dos filmes de Woody Allen roçam o tema da auto-descoberta, mas alguns são mais específicos. Quem se quiser focar nesse tema e os for ver para pensar - cinema não é só entretenimento - tem dois títulos incontornáveis: "Another Woman" e "Alice".

Gosto de dizer que quem traduz os títulos aos filmes não sabe do que fala por não terem nada a ver que o que se passa na história. E por vezes acredito que quem baptiza os filmes realmente os viu. Especialmente no caso do americano "Alice" - renomeado no Brasil para "Simplesmente Alice" - porque este filme é muito mais do que apenas Alice, mas é também simplesmente ela.
Alice

Para Alice a vida é fácil. Come tudo do melhor e compra o que bem entende. Tem um marido rico, uns filhos encantadores, umas amigas snobes e uma paixão pelas causas humanitárias. Quando a tudo isso se junta uma dor de costas que os médicos mais caros não conseguem curar, vai consultar um terapeuta chinês que lhe administra um remédio natural. A essa consulta seguem-se outras. Por entre ervas e mezinhas, Alice vai despertar a sua verdadeira personalidade, que a segurança e estabilidade precoces a impediram de descobrir mais cedo, e vai-se apaixonar por outro homem.

Este é um filme de descoberta da identidade. As questões colocadas a Alice podem muito bem ser feitas a qualquer outra pessoa em busca de uma missão que justifique a existência. A história centra-se na personagem Alice e nos seus dilemas, mas os problemas que tem não são exclusivos da classe alta. Em oposição há Joe que é um simples músico e também tem problemas, se bem que seja mais terra-a-terra e tenha ambições a outro nível. Pode-se ser infeliz com ou sem dinheiro pois a riqueza material só define aquilo que cada um toma por garantido.
Alice

Eu não deveria ter gostado de "Alice". Por um lado porque veio depois de "Crimes and Misdemeanours" e as expectativas estavam no auge. Por outro era um mero veículo de promoção de Mia Farrow com quem tenho uma pequena tendência para implicar. Mesmo partindo com esses preconceitos consegui encontrar muitas razões para gostar do filme.
A mistura de géneros e sentimentos que tantas vezes foi e será usada pelo realizador está bem balanceada. O misticismo aliado à comédia não destoa num filme repleto de intriga e romance, com uns toques de comédia e de drama. O ponto mais fraco do filme é a mensagem que pretende transmitir, mas a forma de lá chegar compensa.

AliceTítulo Original: "Alice" (EUA, 1990)
Realização: Woody Allen
Argumento: Woody Allen
Intérpretes: Mia Farrow, William Hurt, Joe Mantegna, Blythe Danner, Alec Baldwin
Fotografia: Carlo Di Palma
Género: Comédia, Drama, Romance
Duração: 102 min.

1 comentários:

Luiz Santiago (Plano Crítico) disse...

Eu também dei 4 estrelinhas para esse filme. Gosto muito. Essa coisa da descoberta de si mesmo e da vida é algo que gosto muito no cinema dos anos 90 do Woody Allen.