No ano de 2010 referi neste espaço a descontracção com que Luis Tosar encarou o facto de estar nos três filmes que Espanha considerava nomear a Oscar. Apesar de "También la Lluvia" ter sido o eleito, demorou a estrear aqui. E em 2012 tivemos oportunidades quase consecutivas de o ver, com a Cinefiesta em Novembro e a estreia comercial em Dezembro.
O tema aparente é Cristovão Colombo, mas na realidade é muito mais profundo. É sobre como nada mudou em quinhentos anos de civilização.
Uma equipa de filmagens está a trabalhar num filme sobre o famoso explorador que entregou as Américas a Espanha. Falará do desembarque, do contacto com os nativos, da religião e das vozes que se levantaram contra a escravatura nessas primeiras décadas. A grande ironia é que filmar nas Caraíbas (entre viagens, equipamento e mão-de-obra) ficava extremamente caro e por isso estão a filmar na Bolívia. Ter os Andes em vez de mal não é um problema. O momento é que não é o melhor. A população está revoltada porque o governo entregou as águas públicas a uma companhia estrangeira. Para recuperar o investimento os preços triplicaram e a conivência governamental chega a tal ponto que fecham por "razões sanitárias" qualquer poço que possa fazer concorrência à água canalizada. Uma guerra civil prestes a acontecer pode não ser motivo de preocupação para os espanhóis, mas quando o nativo principal do filme é o líder desse movimento e está constantemente preso ou a ser disfigurado à pancada, gera situações complicadas de resolver.
Este é um drama humano do século XX e com tendências a piorar no XXI. O equilíbrio frágil entre investimento e exploração não pode ser quebrado. Um povo que nunca teve problemas com a água, ser obrigado a pagar o que não pode por um serviço do qual não precisaria, é escandaloso. Noutros sítios a situação pode ser diferente, mas a metáfora é a mesma. Passados quinhentos anos, o tesouro dos estrangeiros mudou, mas continuam a ser explorados.
Apesar de toda a situação ser devidamente apresentada, muito falta para a história cativar. Um dos problemas é que os actores Bernal e Tosar são demasiado actores para ser vistos como director e produtor. Os restantes actores ficam muito bem, seja o estreante Juan Carlos Aduviri ou o veterano Karra Elejalde, mas as estrelas demoram a convencer como algo que não são.
O argumento está bem construído. Vai dando a devida importância a cada tema e dá o Antón (personagem de Elejalde) um papelão. Aliás, o filme dentro do filme é muito apelativo. E os momentos de convívio da equipa de filmagens captados pelo documentário são o mais reais que era possível inventar. Quando esse documentário salta para a Bolívia, é desperdiçado como possível fio condutor, como aconteceria na realidade. Onde faltam as grandes cenas é no filme principal. Muita indecisão e medo, mas sempre a vontade de fazer o correcto. É demasiado artificial e nem assim tem diálogos extraordinários.
Quanto à mensagem que pretende transmitir, estava conseguida quase desde o princípio. Era bom que todos os governantes vissem este filme antes de darem o seu país aos estrangeiros e venderem os cidadãos como mão-de-obra escrava. E que também o povo, veja para acreditar que nenhum governo pode agir contra os interesses da população. Senão qualquer dia, também nos querem tirar a chuva.
Porque opressão e revolução, não é só na Bolívia.
O tema aparente é Cristovão Colombo, mas na realidade é muito mais profundo. É sobre como nada mudou em quinhentos anos de civilização.
Uma equipa de filmagens está a trabalhar num filme sobre o famoso explorador que entregou as Américas a Espanha. Falará do desembarque, do contacto com os nativos, da religião e das vozes que se levantaram contra a escravatura nessas primeiras décadas. A grande ironia é que filmar nas Caraíbas (entre viagens, equipamento e mão-de-obra) ficava extremamente caro e por isso estão a filmar na Bolívia. Ter os Andes em vez de mal não é um problema. O momento é que não é o melhor. A população está revoltada porque o governo entregou as águas públicas a uma companhia estrangeira. Para recuperar o investimento os preços triplicaram e a conivência governamental chega a tal ponto que fecham por "razões sanitárias" qualquer poço que possa fazer concorrência à água canalizada. Uma guerra civil prestes a acontecer pode não ser motivo de preocupação para os espanhóis, mas quando o nativo principal do filme é o líder desse movimento e está constantemente preso ou a ser disfigurado à pancada, gera situações complicadas de resolver.
Este é um drama humano do século XX e com tendências a piorar no XXI. O equilíbrio frágil entre investimento e exploração não pode ser quebrado. Um povo que nunca teve problemas com a água, ser obrigado a pagar o que não pode por um serviço do qual não precisaria, é escandaloso. Noutros sítios a situação pode ser diferente, mas a metáfora é a mesma. Passados quinhentos anos, o tesouro dos estrangeiros mudou, mas continuam a ser explorados.
Apesar de toda a situação ser devidamente apresentada, muito falta para a história cativar. Um dos problemas é que os actores Bernal e Tosar são demasiado actores para ser vistos como director e produtor. Os restantes actores ficam muito bem, seja o estreante Juan Carlos Aduviri ou o veterano Karra Elejalde, mas as estrelas demoram a convencer como algo que não são.
O argumento está bem construído. Vai dando a devida importância a cada tema e dá o Antón (personagem de Elejalde) um papelão. Aliás, o filme dentro do filme é muito apelativo. E os momentos de convívio da equipa de filmagens captados pelo documentário são o mais reais que era possível inventar. Quando esse documentário salta para a Bolívia, é desperdiçado como possível fio condutor, como aconteceria na realidade. Onde faltam as grandes cenas é no filme principal. Muita indecisão e medo, mas sempre a vontade de fazer o correcto. É demasiado artificial e nem assim tem diálogos extraordinários.
Quanto à mensagem que pretende transmitir, estava conseguida quase desde o princípio. Era bom que todos os governantes vissem este filme antes de darem o seu país aos estrangeiros e venderem os cidadãos como mão-de-obra escrava. E que também o povo, veja para acreditar que nenhum governo pode agir contra os interesses da população. Senão qualquer dia, também nos querem tirar a chuva.
Porque opressão e revolução, não é só na Bolívia.
Título Original: "También la Lluvia" (Espanha, México, França, 2012) Realização: Icíar Bollaín Argumento: Paul Laverty Intérpretes: Luis Tosar, Gael García Bernal, Juan Carlos Aduviri, Karra Elejalde, Raúl Arévalo, Carlos Santos, Milena Soliz Música: Alberto Iglesias Fotografia: Alex Catalán Género: Drama, História Duração: 103 min. Sítio Oficial: http://www.tambienlalluvia.com/en/ |
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