Recomendações
Quando fui ver o filme sabia que o livro existia. De forma a não prejudicar o visionamento adiei a leitura por algum tempo. Só passou um ano.
De onde veio
Foi-me emprestado no início de 2012. Quando recebi mais uma dezena de livros este Natal achei que era chegada a hora de começar a devolver os emprestados que tinha em casa. Este era o mais grosso, tinha de ir embora depressa.
A história
No início dos anos 60, a segregação era prática corrente nos Estados Unidos (o banco de Rosa Parks foi em 1955, "I Have a Dream" de Martin Luther King Jr. foi 1963). Apesar de não existir escravatura, Os estados do sul tinham um sistema informal de castas em que pessoas de cor não se conseguiam emancipar. Trabalhavam toda a vida para os brancos, eram agredidos ou mortos sem motivo, tinham de usar casas de banho diferentes dos seus patrões, eram assediados moralmente, os que conseguiam estudar contavam-se pelos dedos. Para toda uma geração isso era normal. Mas começavam a surgir vozes descontentes entre os mais jovens. Demasiadas para serem caladas.
Esta é a história de duas criadas e de uma patroa em Jackson, Mississipi. Aibileen, cinquentona, perdeu o único filho. Os dias são um sofrimento constante e espera amargurada pelo fim da vida. Minny também é uma criada. Mas é quinze anos mais nova e, apesar de ser a melhor cozinheira do mundo, responde demasiado o que faz com que lhe seja difícil arranjar trabalho. Depois há Eugenia Phelan. Skeeter para as amigas. De boas famílias, foi educada por uma criada negra que não encontra ao regressar da universidade. Ter vindo com uma mentalidade diferente das mulheres da terra e ter de recorrer a Aibileen para perceber o básico das lides domésticas são o detonador para querer fazer algo. Quer mudar o mundo, começando pelo lugar onde vive. Mas estará Jackson preparada para mudar, ou sequer para a ouvir? Não, de forma alguma. Só o anonimato a protegerá.
Interesse
O filme no geral agradou a todos e como o livro costuma ser melhor, as expectativas eram enormes. As mais de 400 páginas podem assustar os menos treinados, mas pensando como três diários, são histórias curtas.
Narrativa
Ver o filme antes de ler o livro ajuda a criar uma imagem mental das personagens. A escolha das actrizes foi criteriosa e em pouco se distinguem das personagens no papel. Sem grandes spoilers, Skeeter no livro só se torna ela mesma quando parte para o encontro, enquanto Emma Stone vestia essa faceta de início. Já a Aibileen de Viola Davis é sempre tristonha, ao passo que o livro refere numa passagem sobre a igreja, que ao sorrir o rosto dela se iluminava e parecia mais jovem.
A personagem de Celia foi trabalhada de forma parecida, sendo que no filme Chastain a realça para além do imaginável, e Hilly no livro é guardada para mais tarde. Não tem as explosões regulares que vemos. Pequenos detalhes em que o filme foi mais rápido e o livro demora a desenvolver, sem prejuízo de um ou outro.
Talvez devido ao incómodo que o tema é, não é uma leitura viciante de começar e acabar no mesmo dia. No entanto é um livro que se vai lendo com prazer, muito de cada vez, sempre procurando mais e mais. A gestão de expectativas está muito bem conseguida com todo este jogo de trocar a narradora para termos pontos de vista diferentes, o que dá um câmbio emocional vastíssimo e permite chegar fundo no coração do leitor.
O sacrifício de personagens secundárias e alguns que nem sequer conhecíamos se não fosse realidade seria um artifício para fazer chorar as pedras da calçada. Assim serve para mostrar que o dia-a-dia de um grande número de pessoas pode ser destruído pelo simples ódio ou medo de outros.
Especial destaque para uma fabulosa sobre as armas invísíveis das mulheres. É quase arrepiante.
Edição
Houve algumas falhas mínimas na tradução para português. Por duas vezes a frase que lia soou-me estranha e pensando em inglês depressa cheguei ao que pretendia a autora. No entanto o que está em português entende-se, só se perde alguma naturalidade do pensamento ou discurso. São mesmo casos menores que não prejudicam a leitura. Erros dignos desse nome só a falta de um ponto numa frase.
A eterna questão - Livro ou Filme?
Normalmente não hesito quando se chega a esta questão. Como pode um resumo de duas horas comparar-se a um livro onde se mergulha durante dias ou semanas? Neste caso particular a história no livro é muito mais completa e é construída com uma subtileza que compensa a escrita menos envolvente. No entanto o filme consegue ultrapassar muito bem os obstáculos mais óbvios de quem não tem o suporte do papel, como por exemplo, dar o contexto histórico. Também a narração tri-partida foi dispensada sem prejuízo da diversidade (aqui o cinema tem vantagem) e se é verdade que muito se perdeu, tudo o que ficou era fundamental. O argumento foi brilhantemente adaptado.
Ler e ver de forma seguida fará com que se note as diferenças. Mas isso são meros detalhes. A essência da história está em ambos e quem preferir cinema vão muito bem servido com a versão em filme. Se servir de incentivo para mais tarde lerem, melhor.
Quando fui ver o filme sabia que o livro existia. De forma a não prejudicar o visionamento adiei a leitura por algum tempo. Só passou um ano.
De onde veio
Foi-me emprestado no início de 2012. Quando recebi mais uma dezena de livros este Natal achei que era chegada a hora de começar a devolver os emprestados que tinha em casa. Este era o mais grosso, tinha de ir embora depressa.
A história
No início dos anos 60, a segregação era prática corrente nos Estados Unidos (o banco de Rosa Parks foi em 1955, "I Have a Dream" de Martin Luther King Jr. foi 1963). Apesar de não existir escravatura, Os estados do sul tinham um sistema informal de castas em que pessoas de cor não se conseguiam emancipar. Trabalhavam toda a vida para os brancos, eram agredidos ou mortos sem motivo, tinham de usar casas de banho diferentes dos seus patrões, eram assediados moralmente, os que conseguiam estudar contavam-se pelos dedos. Para toda uma geração isso era normal. Mas começavam a surgir vozes descontentes entre os mais jovens. Demasiadas para serem caladas.
Esta é a história de duas criadas e de uma patroa em Jackson, Mississipi. Aibileen, cinquentona, perdeu o único filho. Os dias são um sofrimento constante e espera amargurada pelo fim da vida. Minny também é uma criada. Mas é quinze anos mais nova e, apesar de ser a melhor cozinheira do mundo, responde demasiado o que faz com que lhe seja difícil arranjar trabalho. Depois há Eugenia Phelan. Skeeter para as amigas. De boas famílias, foi educada por uma criada negra que não encontra ao regressar da universidade. Ter vindo com uma mentalidade diferente das mulheres da terra e ter de recorrer a Aibileen para perceber o básico das lides domésticas são o detonador para querer fazer algo. Quer mudar o mundo, começando pelo lugar onde vive. Mas estará Jackson preparada para mudar, ou sequer para a ouvir? Não, de forma alguma. Só o anonimato a protegerá.
Interesse
O filme no geral agradou a todos e como o livro costuma ser melhor, as expectativas eram enormes. As mais de 400 páginas podem assustar os menos treinados, mas pensando como três diários, são histórias curtas.
Narrativa
Ver o filme antes de ler o livro ajuda a criar uma imagem mental das personagens. A escolha das actrizes foi criteriosa e em pouco se distinguem das personagens no papel. Sem grandes spoilers, Skeeter no livro só se torna ela mesma quando parte para o encontro, enquanto Emma Stone vestia essa faceta de início. Já a Aibileen de Viola Davis é sempre tristonha, ao passo que o livro refere numa passagem sobre a igreja, que ao sorrir o rosto dela se iluminava e parecia mais jovem.
A personagem de Celia foi trabalhada de forma parecida, sendo que no filme Chastain a realça para além do imaginável, e Hilly no livro é guardada para mais tarde. Não tem as explosões regulares que vemos. Pequenos detalhes em que o filme foi mais rápido e o livro demora a desenvolver, sem prejuízo de um ou outro.
Talvez devido ao incómodo que o tema é, não é uma leitura viciante de começar e acabar no mesmo dia. No entanto é um livro que se vai lendo com prazer, muito de cada vez, sempre procurando mais e mais. A gestão de expectativas está muito bem conseguida com todo este jogo de trocar a narradora para termos pontos de vista diferentes, o que dá um câmbio emocional vastíssimo e permite chegar fundo no coração do leitor.
O sacrifício de personagens secundárias e alguns que nem sequer conhecíamos se não fosse realidade seria um artifício para fazer chorar as pedras da calçada. Assim serve para mostrar que o dia-a-dia de um grande número de pessoas pode ser destruído pelo simples ódio ou medo de outros.
Especial destaque para uma fabulosa sobre as armas invísíveis das mulheres. É quase arrepiante.
Edição
Houve algumas falhas mínimas na tradução para português. Por duas vezes a frase que lia soou-me estranha e pensando em inglês depressa cheguei ao que pretendia a autora. No entanto o que está em português entende-se, só se perde alguma naturalidade do pensamento ou discurso. São mesmo casos menores que não prejudicam a leitura. Erros dignos desse nome só a falta de um ponto numa frase.
A eterna questão - Livro ou Filme?
Normalmente não hesito quando se chega a esta questão. Como pode um resumo de duas horas comparar-se a um livro onde se mergulha durante dias ou semanas? Neste caso particular a história no livro é muito mais completa e é construída com uma subtileza que compensa a escrita menos envolvente. No entanto o filme consegue ultrapassar muito bem os obstáculos mais óbvios de quem não tem o suporte do papel, como por exemplo, dar o contexto histórico. Também a narração tri-partida foi dispensada sem prejuízo da diversidade (aqui o cinema tem vantagem) e se é verdade que muito se perdeu, tudo o que ficou era fundamental. O argumento foi brilhantemente adaptado.
Ler e ver de forma seguida fará com que se note as diferenças. Mas isso são meros detalhes. A essência da história está em ambos e quem preferir cinema vão muito bem servido com a versão em filme. Se servir de incentivo para mais tarde lerem, melhor.
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